Amor em dobro!
Crónicas

Amor em dobro!

avos - revista amar (1)

 

Os dias passam, os problemas vêm e vão, os factos se sobrepõem, trabalho para fazer, filhos para cuidar, curso para terminar, enfim, muita coisa para resolver ao mesmo tempo. E lá estão eles, geralmente numa vida pacata, com os ombros cansados depois de anos nessa mesma vida frenética que estamos tendo agora, torcendo por nós e revivendo lembranças.

Diante do exposto, aqui vai um alerta aos que me lêem: precisamos prestar homenagens enquanto eles estão conosco e voltarmos nosso olhar com mais carinho e atenção para aqueles que representam “amor em dobro”! E escrever, relembrando essas pessoas que estão tão longe de mim, me emociona, porque de alguma forma, sinto-me como se estivesse com eles, de novo.

Revisito momentos, lugares, infância, cheiros, aprendizados, texturas… é muito bom!
Meus avós cuidaram muito de mim, porque meus pais trabalhavam muito e às vezes, tinham que me deixar com eles, ou na época em que minha irmã mais velha, teve que fazer uma cirurgia de alto risco no coração e meus pais tiveram que contar com a ajuda dos avós nessa empreitada. Por isso, passei uma temporada com essas pessoas queridas.

E foi um período muito importante, porque eles fizeram de tudo para suprir a falta dos meus pais. Eu era muito pequena e apegada a minha mãe; filha caçula… imagina a dor que foi para ambas, essa separação?
Mas a vida tem dessas coisas e se não fossem meus avós amorosos, acho que seria um grande trauma para mim e eles conseguiram transformar essa situação difícil, em um grande reduto de amor com toda a simplicidade do mundo, isso porque, meus avós são pessoas humildes, simples e sem nenhum luxo, mas eles tinham uma riqueza imensa no olhar, nos seus ensinamentos, nas poesias que meu avô fazia e recitava para mim, na banana amassada com açúcar que minha avó preparava para fazer um docinho, com o intuito de me deixar feliz, na liberdade de me deixar brincar, inclusive, com o véu delicado que minha avó colocava na cabeça para rezar. Enfim, tantas coisas boas que eu tenho, aqui, guardadas no meu porta-jóias da alma, para recordar com alegria.
Relembrar tudo isso, me deu a oportunidade de trazer eles comigo, de novo. Essa vida corrida, essa busca incessante pelos nossos objetivos, nos afastam dessas pessoas que construíram parte de quem somos e fazer essa reflexão sobre a própria trajetória, nos dão a certeza de que os nossos avós merecem mais a nossa presença, respeito e amor em todos os dias da nossa existência.

Dedico esse texto à minha vozinha Nica, que nos deixou há poucos dias. Deixou saudade, deixou caráter, deixou um lindo legado, mas principalmente, deixou amor, um dos mais puros que já conheci.

Adriana Marques

 

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