Deus e eu
Crónicas

Deus e eu

deus e eu - catarina balça - revista amar

 

Sempre tive uma relação muito intrigante com Deus. Segui todos os passos da Igreja enquanto criança, frequentei a catequese, fui a missas. Mas também fui expulsa da catequese quando tinha 14 anos. Idade em que as perguntas chegaram e quem representava a Igreja, nessas reuniões com o meu grupo, não soube responder-me a nenhuma, achando ofensivo que para mim fosse complexo entender como é que, factualmente falando, alguém poderia morrer e voltar a nascer. Ou como é que três crianças viram uma imagem de uma pessoa nos céus. A minha voz, ao levantar todas as dúvidas naquela sala, criava desconforto, porque ali estava quem “tem fé” e não questiona – eu não podia continuar com dúvidas, pelo menos não ali, porque podia fazer com que alguém começasse a partilhar das mesmas incertezas. Aí senti que realmente a Igreja não era algo que fizesse sentido para mim e desconectei-me.

O meu pai, ateu de certificado passado depois de anos a ler mais sobre Jesus do que 90% dos cristãos, nunca me influenciou, não falava do assunto. A minha mãe, católica não muito praticante, mas de fé vincada, também me deixava acreditar no que fizesse mais sentido para mim. Uma liberdade que aprecio, nunca gostei de que me prendessem a ideais, gosto de refletir através de aprendizagens e experiências, tirando as minhas conclusões – e isso só foi possível porque não cresci cercada por paredes altas, perigosas, que não nos deixam ver outras paisagens.

Perdi-me dessa ligação ditada pela Igreja, mas várias vezes falava com “Ele”. Acho que nem sei rezar, por isso apenas falava. Falo. Entretanto, depois de ter perdido um dos homens mais importantes da minha vida, o meu avô, comecei a conversar com ele da forma que converso com Deus. Depois, anos mais tarde, não tive outra alternativa a não ser falar assim também um dos meus melhores amigos. Fui-me habituando a essa forma de contacto sem resposta, mas peço sinais. E tenho vários. Se não são sinais, então são coincidências que eu insisto em querer acreditar que são sinais e vou alimentar essa crença para que a minha sanidade mental permaneça intacta.

No entanto, eu acho que Deus para mim se transformou em algo diferente – são as nuvens, é um por do sol, é o som do riso do meu filho. Vejo-O em momentos. Recuso-me a acreditar que é uma entidade Toda Poderosa que nos retira da vida pessoas inocentes, crianças e faz tanta gente passar por momentos terríveis. Recuso-me a acreditar que “Deus sabe o que faz” e é Ele que acha melhor alguém passar por situações tão desesperadoras.
Deus vai ser sempre para mim a representação do lado positivo da vida, aquele a quem vou pedir atenção quando o lado negativo me assombrar, porque se me agarrar ao que acredito me traz bons momentos, a minha mente vai focar-se na meta bonita e não na sombria. No entanto, tenho aprendido, ultimamente, a agradecer pelo que de bom já tenho – não que Ele me vá dar algo por ser grata, por “obedecer às Suas ordens” ou porque rezei 10 Pais Nossos e 3 Avé Marias e sou, por isso, merecedora do melhor; mas porque acredito que posso atrair o melhor se acreditar que o melhor vem. E o melhor acaba por vir – pelo menos através do Deus que eu acredito, o melhor acaba sempre por vir.

Catarina Balça/MDC

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