Magellan Community Charities: Um projeto que comprova que somos todos por um
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Magellan Community Charities: Um projeto que comprova que somos todos por um

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Não é só por nós, é pela nossa família (e tantas outras). O ato de mudar de país exige coragem e esperança, e apesar de abraçarmos o novo país como se sempre tivesse sido nosso, uma coisa é certa – não há nada como a nossa primeira casa, a nossa língua, as nossas tradições e o convívio com pessoas que nos compreendem e partilham de memórias semelhantes às nossas. Passem os anos que passarem, essas memórias e esses hábitos permanecem enraizados em nós. Para muitas pessoas, principalmente para aquelas que vieram há várias décadas, a língua portuguesa continua a ser a forma de comunicação que mais utilizam e com a qual se sentem mais confortáveis. E a velhice que tem tanto de bom – já que representa o acumular de vivências – também tem tanto de desafiante – a decadência natural do estado de saúde – e merece ser vivida em família. E família não tem necessariamente de ser de sangue, pode ser simplesmente um local que nos é familiar, onde reina o conforto e o cuidado.

Acho que raramente pensamos seriamente como serão os últimos anos da nossa vida, principalmente no que diz respeito à possibilidade de precisarmos de cuidados a tempo inteiro. Talvez seja quase um mecanismo de defesa do ser humano, talvez seja o medo do que essa realidade possa representar para cada um de nós ou por acharmos que temos sempre muito tempo até chegar essa fase, mas não podemos ignorar esse facto. A importância do Magellan Centre vai muito além de ser mais um lar para idosos. Apesar de contribuir para um dos grandes problemas da cidade de Toronto que é a escassez de camas de cuidados prolongados e unidades habitacionais a preços acessíveis… Não é só isso que está em construção. É uma casa onde as nossas tradições e a nossa língua estarão salvaguardadas. Além de garantir o conforto dos utentes, vai garantir o descanso da família. Sabermos que os nossos pais ou avós vivem num local que respeita a sua cultura, que compreende o seu passado e, principalmente, onde se podem comunicar. Nós, portugueses, tentamos cuidar da nossa família até ao fim. É comum que uma casa abrigue várias gerações. Queremos garantir que recebem o melhor cuidado, mas nos dias de hoje, com a correria da vida, empregos exigentes e a esperança média de vida a aumentar, é difícil garantir a nossa disponibilidade total para cuidar dos que mais amamos.

Pessoalmente ainda não enfrentei a realidade de ter de colocar um familiar num lar, mas conheço a aflição de deixar alguém que amo (neste caso, a minha filha) ao cuidado de terceiros e foi aí que me apercebi da importância do Magellan Centre. Cresci a ver os meus avós a tomarem conta dos meus bisavós, entre os seus irmãos dividem os cuidados e tarefas como se se tratasse de uma comunidade e os idosos o bem mais precioso. Os meus pais emigraram para o Canadá já com 40 anos, portanto não dominam totalmente a língua inglesa. Se por algum motivo, mais tarde, eles precisassem de cuidados eu sei que eles se sentiriam muito mais confortáveis se a comunicação fosse feita na sua língua materna e assim não viveriam isolados. Acho que essa é uma realidade com que a maioria da comunidade de primeiros imigrantes se pode relacionar, existe sempre uma preferência pelo que é português.

Juntei-me à equipa do Comité de Marketing do Magellan Community Charities por vários motivos. Primeiro, porque sempre tive interesse em contribuir para uma organização não-governamental. Licenciei-me em Ciência Política e Relações Internacionais, mas sempre tive mais interesse em trabalhar com ONG’s do que no setor político. Apesar de até agora ainda não ter trabalhado nessa área, sou uma pessoa que tem necessidade de se sentir útil e o meu objetivo de vida é trabalhar com um propósito. Se o que eu fizer, melhorar a vida de uma pessoa, então missão cumprida. Vim para o Canadá há quase cinco anos, com 21 anos, e desde que vim que me queria dedicar mais ao voluntariado, mas fui adiando, quando cheguei o meu foco era trabalhar e achava que não tinha tempo. Depois de ser mãe, além de descobrir que afinal tinha muito tempo livre antes e que até foi muito mal aproveitado, percebi que o tempo é uma questão relativa e que para aquilo que queremos, existe sempre tempo. E claro, quem dá o que pode a mais não é obrigado. Os voluntários são recebidos de braços abertos e há a plena consciência de que existe uma vida profissional e pessoal que não pode ser descuidada. Em segundo lugar, acredito honestamente que o Magellan Centre é um projeto feito a pensar no bem-estar da comunidade. É importante sermos capazes de sair da nossa bolha, analisar e perceber as necessidades de outras pessoas e tentar agir de forma a melhorar a sociedade e a qualidade de vida dos outros. A dedicação e entrega dos voluntários que em equipa rumam ao mesmo objetivo é prova disso. Gostaria de convidar todas as pessoas a descobrir mais sobre este projeto e a demonstrar o seu apoio. Existem muitas formas de contribuir, seja através de doações monetárias, seja a doação do seu tempo – e existem várias posições remotas – ou seja através da propagação da mensagem. Se for falando aos seus familiares e amigos sobre o projeto então já está a contribuir.

Quando cheguei a Toronto não esperava encontrar uma comunidade portuguesa tão forte. No entanto, percebi que dentro de uma comunidade tão generosa como a nossa também existe uma grande competição. Espero que o Magellan Community Charities além de uma casa para toda a comunidade lusodescendente seja um ponto de viragem, que seja o indício que realmente não existem diferenças que nos ceguem do bem coletivo – um projeto que comprova que somos todos por um.

Inês Carpinteiro

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