O mistério de ser Mãe: uma história de amor e esperança
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O mistério de ser Mãe: uma história de amor e esperança

revista amar - O mistério de ser Mãe
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Porque a ocasião é especial, hoje vou contornar as regras ortográficas e atribuir letra maiúscula ao que celebramos: a Mãe. Ser Mãe é um mistério que ainda não descobri. Mesmo quando acontecer, não estou certa de que vá deixar de ser um mistério. Acredito que nem as mulheres que já são Mães de um, três ou seis filhos desvendaram completamente esse mistério até aos dias de hoje. É que ser Mãe parece ser uma daquelas magias que experienciamos vezes e vezes sem conta e, ainda assim, ela nunca perde o encanto. Mais, daquelas magias que nunca lhes descobrimos o segredo. Talvez seja essa a beleza de ser Mãe e, arrisco dizer, da própria vida. Sim, ser Mãe é ser e dar vida. Por isso nos referimos à Mãe Natureza, à Mãe Terra, representando a fertilidade, a maternidade e a criação, o grande ventre sagrado de onde viemos e para onde retornamos. Reconhecer a Terra como nossa Mãe traz um sentido de reverência a tudo o que recebemos dela, a sua nutrição e o seu acolhimento. Por isso, neste dia da Mãe, vamos lembrar-nos de agradecer por sermos fruto deste ciclo divino e de recebermos esse amor incondicional.

Além deste olhar na terceira pessoa sobre a figura materna, posso simplesmente falar na qualidade de filha. Foi à medida que fui crescendo que comecei a compreender todos os gestos que a minha Mãe fez por amor e entendi também o privilégio de ser em todas as horas e situaçōes a prioridade desta pessoa. Vou, em homenagem, partilhar convosco uma história muito pessoal.

Estamos agora perto do dia 13 de Maio, uma data duplamente especial para mim: é o meu aniversário de casamento e é também um segundo aniversário de vida, muito devido à minha Mãe. Em 1991, a senhora Maria Lurdes descobriu que estava grávida. Foi uma gravidez saudável e, nove meses depois, nasceu a sua bebé. Ela cresceu bem e feliz, mas aos três anos e meio, corria o ano de 1995, uma doença grave bateu à porta. Conta ela que a menina estava com rigidez no pescoço, febre, apática e sem conseguir segurar-se de pé. Já nas urgências, o pediatra fez o diagnóstico: era uma meningite bacteriana que estava a provocar septicémia. Esforçando-se para compreender todos aqueles conceitos, a senhora Maria Lurdes percebeu o veredito da questão: a sua filha ia morrer. Os recursos médicos naquele hospital não eram suficientes para oferecer os cuidados mínimos a estes casos, e ela sabia-o. “Por favor, mande a minha filha para o hospital de Coimbra” – pediu ela ao pediatra. Mas a doença era fatal para a maioria das crianças, e o médico proferiu aquelas que acredito terem sido as palavras mais difíceis de ouvir em toda a vida dela: “A verdade é que há pouca probabilidade de ela sobreviver. E se sobreviver, vai ficar com deficiências graves” – respondeu-lhe. Conta a senhora Lurdes que se ajoelhou ali mesmo e agarrou nos pulsos do médico, desesperada: “Por favor, doutor, leve-a para Coimbra! Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus!” E o médico, contrariando tudo o que estudou nos livros, debatendo-se com o seu lado cético, sensibilizou-se com o rosto daquela mulher em lágrimas e falou com os colegas para transferir a bebé.
Foi Maria Lurdes para Coimbra com o seu marido e a sua menina de três anos sem saber se ela de lá sairia com ou sem vida. Foi duro. Durante dias, a meningite abriu feridas pelo corpo, a febre era alta e o cenário não estava promissor. A criança recebeu várias tranfusōes de plasma, e as visitas apenas a podiam ver através da janelinha do quarto isolado, onde tinha sido internada para evitar contágios. O pai foi rezar a Nossa Senhora de Fátima na capelinha do hospital e, entretanto, a Mãe teve um ataque de pânico fortíssimo que a fez desmaiar num dos corredores do edifício, vieram as enfermeiras encontrá-la ali caída. Foi dias depois, contra todas as probabilidades, que a infeção começou a recuar. No dia 13 de Maio daquele ano, após melhoras notáveis, Maria Lurdes regressou a casa com a sua criança nos braços, curada. Essa criança tem hoje 29 anos e está a escrever-vos este artigo na Revista Amar. Pouco depois daquele ano, eu e a minha família participámos numa procissão em agradecimento pelo milagre. Quem me conhece não imagina que algo assim aconteceu na minha vida, pois não fiquei com qualquer deficiência ou sequela física nem cognitiva. Sempre tive boas notas na escola, formei-me em jornalismo, curiosamente, em Coimbra, hoje sou apresentadora de rádio, televisão e repórter/colunista. Nos tempos livres adoro fazer Yoga, meditação e cuidar de animais. O único vestígio que tenho deste episódio no meu corpo é uma ou duas pequenas cicatrizes, praticamente impercetíveis. Dou graças pelo amor e esperança incondicional da minha Mãe que acreditou no impossível, ao meu pai que rezou à Mãe Fátima e dou graças ao Dr. Pinhal, o médico que teve a nobreza de pôr uma Mãe e a sua criança à frente das suas crenças científicas. Sobretudo, obrigada à minha Mãe que lutou por mim e me deu vida duas vezes.

Nesta data quero ainda lembrar que nem todas as histórias de Mães e filhos têm um final ou mesmo um começo feliz. A vida é um constante improviso e desdobra-se em histórias e diferentes figuras de maternidade. Por isso um bem haja a todas as Mães: as biológicas, as adotadas, as avós, as tias, os pais que fazem papel de Mãe e tantas outras famílias chamadas não convencionais dos nossos dias.
Feliz dia a todas as Mães!

Telma Pinguelo

MDC Media Goup

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