À Conversa com José Maria Eustáquio
Conhecido pelo seu trabalho junto da comunidade, José Maria Petinga Eustáquio emigrou para o Canadá ainda de tenra idade. Natural de Peniche em Portugal, cresceu na área da Davenport em Toronto e desde cedo ocupou lugares de destaque nas escolas por onde passou. A Universidade York foi só o passo seguinte numa carreira que o levaria na década de 90 a ingressar na empresa Labbat, ocupando o cargo de gerente territorial para a zona de Trinity/Spadina, permitindo-lhe condições ímpares para uma aproximação às comunidades étnicas, nomeadamente a portuguesa.
Depois de colaborar com direções anteriores, José Eustáquio é convidado para presidir à Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário no final da década de 90, mais concretamente em 1997.
No início do século ingressou nos quadros da LiUNA Local 183 e em 2012 vê reconhecido o seu trabalho em prol da comunidade portuguesa, com a condecoração da Ordem de Mérito pelo Governo Português. Com ligações a vários projetos comunitários, José Eustáquio foi também um dos fundadores do Sporting FC de Toronto, onde ocupa ainda nos dias de hoje o cargo de diretor, tendo ajudado na celebração do contrato para utilização do Brockton Stadium.
Em 2016 torna um sonho realidade. A Camões Entretainment Group é o resultado da sua paixão pelo entretenimento, os festivais, a cultura e a música, numa parceria com o Comendador Manuel da Costa.
Capaz de gerar sentimentos tão diversos na comunidade que o viu crescer para a liderança, José Eustáquio confessa ser uma pessoa de poucos mas bons amigos, rígida e auto-critica, e ter um gosto muito particular por verificar que os jovens de hoje, nomeadamente o seu filho Nicolas, têm orgulho nas suas raízes e no facto de terem pais de descendência portuguesa.
No ano em que se celebra 70 anos da emigração portuguesa no Canadá e a A.C.A.P.O. 30 anos de existência, a Revista Amar esteve à conversa com a pessoa que nos últimos 20 anos escreveu um pouco de história portuguesa neste país à frente dos destinos da Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário.
Revista Amar – Comecemos pelo início. O que levou os seus pais a emigrar? Com quem veio e que idade tinha, quando chegou em janeiro 1974?
José Eustáquio – O meu pai era um homem do mar, que abandonou a sua paixão para dar uma vida melhor à sua família, mas que a deixou durante muitos anos infeliz, e por outro lado tinha cá as irmãs com quem queria ter uma maior aproximação. Ele veio à frente, sensívelmente um ano depois chamou a minha mãe e o meu irmão e eu só vim mais tarde, sozinho, com 9 anos.
RA – Ficou lá com quem?
JE – Primeiro fiquei com os meus avós na Nazaré, mas depois acharam que eu dava muito trabalho e mandaram-me para os meus outros avós para Peniche.
RA – Vindo de uma cidade banhada por mar, como foi a adaptação a este país tão frio? Imagino, que se deve ter assustado quando viu tanta neve…
JE – Eu cheguei no dia 7 de janeiro, naquele tempo no CPR (Canadian Pacific Railway) e foi a primeira vez que vi neve. O meu primeiro dia de escola foi no dia 24 de janeiro, e levei uma tareia de um italiano e de um grego, a que eles chamavam de “iniciação”. Eu fugi e corri para casa e fiquei por casa por 2 meses seguintes, regressando só a 24 de março, obviamente que eu não gostava nada disto, e não gostei por muitos anos. Nunca considerei Toronto como a minha casa.
RA – Qual é a ligação do José com Portugal?
JE – Eu estive 17 anos sem lá ir, e não conhecia ninguém e passei a tentar recuperar o tempo perdido. Quando comecei a trabalhar na Labatt ía 5 a 7 vezes por ano a Portugal, quase que era mais barato passar um fim-de-semana na Nazaré do que era em Toronto. Como solteiro tinha um certo estilo de vida e o dinheiro não me preocupava, porque sempre tive vontade de lutar e trabalhar, daí que, sempre que tinha saudades de Portugal, lá ía eu. (risos)
RA – O que o levou a juntar-se à A.C.A.P.O. e com que cargo?
JE – Há pessoas que dirão que havia um interesse pessoal, como representante da Labatt que quisesse uma visibilidade para a mesma e para mim próprio, que até aquela altura não existia, que me daria uma certa presença que não tinha na comunidade. Mas não foi bem assim, a verdade é que quando entrei na Labatt, depois de ter saído uns meses antes da venda duma estrutura de lojas de roupas e Marketing, percebi que a interação de uma marca/empresa e uma comunidade específica dava resultado. Não era preciso muito a nível financeiro. Com uma estratégia constante resultaria em pouco tempo no consumo do produto ou compra e venda do que quer que seja. A nossa comunidade que já consumia os produtos da Labatt, por exemplo a cerveja Carlsberg era a mais consumida e depois estamos a falar da Labatt, que na época, isto em 1990, já apoiava muitos grupos étnicos, estava muito ativa nas diversas comunidades e eventos, como o Pride Parade, Caribana, CHIN Picnic ou Toronto Fiesta, mas não estava presente na comunidade portuguesa. Pensei “se está disposta a patrocinar eventos e ganhar visibilidade nestas comunidades, porque não também na minha?”, e foi assim que lutei, entrei na A.C.A.P.O., sem cargo, só como voluntário e trouxe o patrocínio da Labatt.
RA – Como tem sido o percurso? Difícil?
JE – Muito difícil. Por várias razões, nomeadamente a Media e algumas individualidades da nossa comunidade que não gostam da forma que eu trabalho e quando dão conta que não me conseguem controlar, optam por boicotar. Nós já passamos por fases… Tivemos boicotes da CIRV Radio nos primeiros anos, da OMNI na maioria ou quase todos os anos no decorrer dos últimos 10 anos e também da CHIN Radio há uma longa década. Mas a Aliança e a Semana de Portugal continuam ativas, obviamente que preferíamos poder contar e trabalhar com todos, mas não temos conseguido isso.
A nível financeiro ou orçamental e patrocinadores, um pouco antes de eu ter deixado de trabalhar para a Labatt em 2000, perdemos o patrocínio deles, porque ficaram preocupados com a minha saída. Como não sai nas melhores condições eles ficaram apreensivos com a reação da comunidade portuguesa e tiraram o patrocínio em 2003. Este patrocínio representava 35% a 50% do nosso orçamento, e nós começámos logo a lutar para o cobrir. Também nesse período, entro em “guerra aberta” com António Dionísio da Local 183, infelizmente! Quem cá estava lembra-se disto porque foi uma situação que dividiu a comunidade… Hoje, refletindo sobre o que aconteceu, resolvia a situação de outra maneira, até porque eu tinha uma grande admiração por ele e continuo a ter, mas as diferenças eram demasiadas e na minha opinião, na época ou hoje, é de que nenhuma instituição sindical deve controlar uma organização comunitária. É uma combinação que não pode dar certo. Dar patrocínio não é comprar e controlar, nem eu aceito isso! Com isto também perdemos o apoio da união e de companhias filiadas àquela.
Foi nas instituições bancárias, quer canadianas como portuguesas que encontrámos o apoio e patrocínio que salvou a Semana de Portugal durante uns 6 anos. Resumindo foi uma época difícil e complicadíssima, mas serviu para abrirmos outra portas e criar outras bases, e por isso é que continuamos aqui. Temos tido muita sorte nos últimos anos, desde 2008, com um mercado da Construção Civil forte. Temos beneficiado com isso, tanto no empenho como no patrocínio.
RA – Nestes 20 anos, quais têm sido os maiores desafios em manter a A.C.A.P.O. unida?
JE – A A.C.A.P.O. foi sempre unida. O problema é que as pessoas opinam e falam muito sem conhecimento. Os nossos estatutos dão o controlo e poder da Aliança aos Clubes e Associações membros. É a Katia Caramujo como Presidente do Conselho dos Presidentes, que no fundo manda, pois é a voz de todos os Presidentes. A função da Direção é manter a atividade diária da Aliança, organizar e decidir a Semana de Portugal. O meu cargo, dentro dos estatutos não tem poder algum, porém a A.C.A.P.O. está de tal maneira estruturada que os Clubes e Associações não têm qualquer responsabilidade financeira ou preocupação. Obviamente que tem havido alturas em que alguns Clubes gostam ou não do nosso trabalho, Clubes que participam mais ativamente e outros que se afastaram, principalmente naquela tal época em que tivemos o desentendimento com a Local 183 em que houve a tal divisão. Hoje só falta voltar um. Costumo dizer que estamos cada vez mais fortes e unidos. Contudo, a Semana de Portugal está à disposição de todos os Clubes luso-canadianos, da Província de Ontário, mesmo daqueles que não são membros, podendo participar em quase tudo gratuitamente.
RA – Ouvimos por diversas vezes afirmações que entendem ser um erro a divisão da comunidade e que todos ficariam a ganhar se houvesse mais união, com menos Clubes e Associações? Concorda?
JE – Eu acho que a comunidade portuguesa é muito unida, muito mais do que nós pensamos ou damos valor. Quando e porquê? Quando se compara com as outras comunidades, como por exemplo a comunidade italiana que deixou de ter visibilidade desde dos anos 80, lembro-me que eles tinham imensos Clubes, inclusive aqui na área da Davenport, hoje em dia não há nenhum. Os gregos, culturalmente também estão a desaparecer. A nossa sorte tem sido a nova emigração, quer legal ou ilegal, que se dá todos os anos não só de Portugal, como de países lusófonos, que logo procuram os Clubes, principalmente os do norte. Não sei explicar concretamente porque é que estes são os mais procurados, talvez pela cultura ser mais diversificada. Facto é que a nossa comunidade é forte e lutadora. Claro que não somos perfeitos, mas nenhuma comunidade o é, entre altos e baixos temos sobrevivido. A única divisão que existe, tem a ver com os regionalismos e bairrismos que já vem de Portugal, com pena minha, porque podiam ser mais unidos e se ajudar mais uns aos outros sendo da mesma região de Portugal. Eu gostava que tivéssemos uma casa única como a Casa de Portugal, como existe na Venezuela, uma organização perfeita fundada no tempo certo, nós não aproveitámos e não o fizemos na altura certa e agora provavelmente vai ser mais difícil.
RA – Quando é que começaram as celebrações da Semana de Portugal do Dia 10 de junho, Dia de Portugal e das Comunidades, tal como a conhecemos hoje?
JE – Diz-se que antes de 1987 já havia um dia para a celebração do Dia de Portugal com uma Parada e se a memória não me falha começava no Dufferin Mall, e organizado por funcionários do Consulado Português, havia um Festival de Folclore, mas não havia concertos. Estes só começaram logo no primeiro ano da A.C.A.P.O. em 1987.
RA – O Portugal Week em Toronto é uma das maiores celebrações do Dia de Portugal nos países com representação comunitária de expressão portuguesa, com a realização de várias atividades e eventos, um pouco para todos os gostos. Há algum que tenha mais significado para si?
JE – Às vezes esqueço-me de um ou outro ano, mas depois entro nesta sala, que tem todos os programas desde do início, como pode ver, e as memórias vêm ao de cima… cada uma delas é especial, mas a primeira é sempre a mais especial. Nenhuma foi perfeita e por isso todos os anos no último dia começam a nascer ideias para o ano seguinte. Dos espetáculos, por assim dizer, não tenho grandes memórias, eu ando tão ocupado a conferir, organizar, coordenar, etc. que não dá para assistir. Mas, sim é uma grande semana de comemorações, única e cada vez melhor.
RA – A culminação da semana de Portugal no Earslcourt Park e os 3 dias de concertos têm proporcionado muita alegria e animação aos luso-descendentes ao longo dos anos. Sabemos que em anos anteriores os desafios para poder utilizar os parques da cidade foram enormes. Continua a ter recetividade por parte das entidades políticas locais para a utilização do Earlscourt Park e encerrar as ruas para a realização da Parada?
JE – Nunca foi fácil. Eu respeito que os portugueses cheguem à festa a achar que está tudo bem e que tudo foi e é fácil, quando não o é. Hoje é feriado, estou aqui a dar uma entrevista, mas estou aqui desde da manhã com a preocupação das licenças para o Earslcourt Park, estamos a 3 semanas da Semana de Portugal e ainda há muito por fazer, resolver e finalizar. A burocracia é enorme, e os políticos que fazem muitas promessas na época de campanha eleitoral, quando estão lá não mandam nada porque é a Cidade que manda e tem departamentos com leis próprias, e diferentes departamentos preferiam acabar com estas celebrações nos parques da cidade, por estarem preocupados que os visitantes do mesmo destruam a relva, árvores… a natureza, e isso cada vez mais tem força, por isso é que nós fomos corridos do Trinity Bellwoods Park. Por mim nunca teríamos saído de lá, mas depois de uma luta de 7 anos com a comissão daquela área, fomos obrigados a mudar. E isso resultou que tivéssemos que mudar a Parada de sábado para domingo, que muitos não perceberam, mas como sabíamos que mais ano menos ano teríamos que procurar outro parque, decidimos mudar o dia da Parada antes e com isso estavam criados 2 eventos independentes. Agora, se devemos ou não continuar a fazer a Parada na Dundas St., acho que não. A partir do momento que fomos forçados a procurar outro parque, deixámos de ter um compromisso com a rua, inclusive o apoio do comércio português na Dundas nos últimos 10 anos tem sido mínimo. Foram poucos os que ajudaram a Semana de Portugal. Agora, das empresas portuguesas, só a Caldense Bakery é que apoia. Resumindo, tenho-o dito, que nada nos obriga a continuar lá e por isso no ano passado houve um grande movimento contra mim… Por parte da media e outros que me enviaram cartas a perguntar quem eu era para fazer essas afirmações. Pois bem, sou a pessoa que tem a força e o poder para tomar essa decisão. Cabe a mim decidir. Sou eu que estou aqui a trabalhar e não tenho problema nenhum em voltar a confirmar que preferia tirar a Parada da Dundas St.
RA – E para onde levava a Parada?
JE – Eu acho que a nossa Parada merece ser um evento de Toronto e não só dos portugueses e, para chegar a esse nível temos que lutar para chegar a uma das avenidas principais, quer seja a Bloor St. ou a Yonge Street. Aí automaticamente não vai interferir com o funcionamento do “streetcar”. Por outro lado ficamos na linha do “Subway” que atrai mais visitantes e participantes que vivam fora da cidade de Toronto.
RA – Este ano a A.C.A.P.O. organizou também as festas do Dia do Canadá no Earslcourt Park, a propósito da celebração dos 150 anos. É para manter nos próximos anos?
JE – Eu gostava muito de continuar e que fosse todos os anos… duplica o trabalho! Nos anos anteriores depois da nossa semana, eu tirava férias ou desaparecia por umas duas semanas para descansar e retomar a minha vida. Este ano não vou ter essa possibilidade e isso preocupa-me a nível pessoal. Por outro lado temos o orçamento, estamos a falar de 2 festivais e não um. Os custos são elevados, claro que soubemos que haveriam subsídios e apoios e fomos atrás deles e recebemos alguns, mas não pagam as despesas todas. Só ajuda a pagá-las. Mas este ano, mesmo que seja só este ano, eu acho que a comunidade deveria ter alguma coisa para mostrar durante a celebração do CANADA 150, e por isso é que lutamos. Eu gostava de ficar com essa data, mas na verdade já existe à muitos anos um evento nesta data, 1 de julho, no Earslcourt Park, que é organizado pelo Advisory Board com o Vereador Cesar Palacio. O evento é deles, mas deram-nos esta oportunidade de fazer o festival com eles. Se o voltamos ou não a fazer em 2018? Essa decisão terá que ser tomada por eles e se nos convidarem, nós aceitaremos.
RA – Quando começam os trabalhos de preparação da Semana de Portugal e quanto tempo demora a por este projeto anual em pé?
JE – O trabalho é de um ano inteiro… logo que encerra a Semana de Portugal, voltamos para o escritório e começamos a pensar e a organizar o que é preciso para o ano seguinte. A parte da burocracia e das licenças começam a ser tratadas em setembro e tento ter tudo em ordem até meados de novembro. Mais ou menos neste período também temos que ir atrás de subsídios, caso os haja, entre outubro e dezembro… são imensas aplicações, que levam muito tempo e dão muito trabalho. Antes do Natal começamos a tratar e a decidir a parte artística e simultaneamente sai a lista com as propostas, mais ou menos 300, para os patrocinadores… não tenho fugido a esta minha maneira de trabalhar. Em janeiro, começamos a trabalhar nos detalhes e a partir de março o trabalho é diário.
RA – Até hoje, qual foi o ano que o marcou mais? Porquê?
JE – Foi o festival de 2003, porque tudo correu mal… Era para ser o maior festival até aquele ano, mas o nosso Primeiro-Ministro Durão Barroso estragou tudo, com o cancelamento da sua vinda. Portugal nunca assumiu ou aceitou a responsabilidade… foi muito complicado! Na altura ainda não havia aquela tal divisão, havia grandes ajudas e estávamos com condições brutais para sobreviver… depois os artistas principais do cartaz também optaram por não aparecer. À última da hora tivemos o cancelamento do João Pedro Pais e de todos os que vinham de Portugal, com todas as despesas pagas (viagens, estadia, caché, etc.). Imagine, nós numa sexta-feira à espera deles no aeroporto e não apareceu ninguém… o que se vê no cartaz, não foi o que aconteceu! Tivemos o espetáculo do Shawn Desman e numa tentativa de salvar o projeto, convidámos o Jorge Ferreira para o domingo. Mais uma despesa extra e infelizmente não conseguiu fazer o concerto porque tivemos uma tempestade… (risos)… foi um ano muito mau! Mas quem estava presente, para aí umas 200 pessoas, deve-se lembrar da chuva que caía e nós ficámos dentro da tenda a dançar e a cantar, e lembro-me também que quando as pessoas começaram a fugir do parque por causa da chuva intensa, decidi ir para o palco sozinho e comecei a dançar para ver se conseguia convencer as pessoas a lá ficar comigo… (risos)
RA – Quem ainda gostava de ver no palco, ou seja, trazer até nós?
JE – Em 1996, já era o maior patrocinador com a Labatt, mas eu fui egoísta e fui ver o Euro96 para a Inglaterra, durante a Semana de Portugal. O Quim Barreiros era o Cabeça de Cartaz e foi o ano de maior sucesso da Aliança. E ando a falar com o Quim há muitos anos para voltar, porque entendo que ele tem aquela capacidade de chamar um grande número de portugueses, muito mais do que temos tido. Outro seria o Tony Carreira. Já houve várias tentativas, mais uma vez acho que o nome puxa o povo e houve uma altura que achei seria interessante trazer o Tony e os filhos, o Mickael e o David. Mas agora isso já não faz sentido, pois o Mickael e o David estiveram aqui há pouco tempo. Para 2018, gostava de trazer o Luís Represas, gostei muito quando ele esteve cá em 1997 e porque os Trovante estão outra vez no ativo, assim trazendo o Luís a banda vem também, e os Trovante são uma banda fabulosa, que foram um sucesso enorme e ainda são uma referência em Portugal. O José Cid e os The Gift por mim podiam vir todos os anos, são dos que gosto mais e são os nomes que têm também dado resultado e que tem facilitado o meu trabalho. Adorava trazer bandas novas e mais jovens, tipo os D.A.M.A., o Agir, o Anselmo e outros num fim-de-semana, num espaço maior, mas isso acarreta um orçamento elevadíssimo e não poderia ser feito com entrada gratuita, e não sei se a comunidade portuguesa está disposta a isso. Para além disso ainda me iam chamar de ladrão. É o que se tem ouvido e não sei se vale a pena. É complicado, pelo facto da Aliança ter feito os concertos sempre com entrada livre.
RA – Ano após ano, a fasquia têm-se elevado, acha que poderá crescer ainda mais no futuro?
JE – Eu acho que a Aliança precisa de uma alteração na liderança com uma nova direção, precisa de sangue novo. Eu acho que a comunidade está cansada de mim e eu um pouco da comunidade. É isso que é preciso, novas pessoas com novas ideias, que tragam novos projetos e que consigam promover melhor. Nós neste momento não estamos a chegar a todo o público. Temos mais media, mas as relações não são as melhores.
RA – Falemos agora de finanças. Se tivesse que dar um número aos custos das celebrações da Semana de Portugal em Toronto, qual seria esse valor?
JE – Quem me conhece sabe que eu estou sempre em cima dos valores e números concretos, tenho mais responsabilidade com o dinheiro da Aliança do que pelo meu propriamente dito. Sempre tive dinheiro meu investido na Aliança. Sempre decidi tudo sobre a Semana de Portugal, do mais pequeno até ao maior pormenor. Só eu é que lido com pagamentos, quer entradas ou saídas, porque no fim das contas, eu é que tenho que lutar e arranjar o dinheiro. A Aliança não deve dinheiro a ninguém. Respondendo agora à questão, este ano vamos estar a rondar os $585.000.00. É um número alto mas tivemos sorte, pois conseguimos $261.240.00, para ser exato, em bolsas para os dois festivais. Agora, podem achar que nos deram muito dinheiro, mas a realidade é que 20% de cada bolsa tem que ser devolvida ao fim do projeto, ou seja, o Governo Provincial dá-nos $100.000.00, mas no fim da Semana de Portugal nós temos que devolver $20.000.00 e também temos que fazer um relatório detalhado com todas as despesas que foram feitas, e assim o Governo tem a possibilidade de cancelar algumas das verbas dadas. É definitivamente um evento caro.
RA – Agora ficamos a saber que a A.C.A.P.O. tem ajuda financeira por parte das entidades canadianas para a realização da Semana de Portugal. E há alguma ajuda estatal portuguesa?
JE – Nós nunca pedimos dinheiro a Portugal, houve aquele incidente em 2003, no qual ele nos prometeram €25.000.00 pela vinda do Primeiro-Ministro Durão Barroso, e optou não vir e que nos deu um grande prejuízo. Para quem não sabe, nós tínhamos um Jantar de Gala esgotado para 800 pessoas, numa sexta-feira à noite no Liberty Grand onde ele era suposto estar presente e ele cancelou nesse mesmo dia, na parte da manhã. Na hora do Jantar, 80% da sala tinha sido cancelada. A isto juntou-se ainda a parte dos artistas… dos €25.000 que o Governo nos tinha prometido, recebemos um cheque no valor de $8.380.00 se a memória não me falha, o que na época correspondia mais ou menos a €5.000.00. Nós estávamos desesperados por causa das despesas, mas lembro-me muito bem que marquei uma reunião de emergência com os Presidentes dos Clubes e contei-lhes o que estava a acontecer e pedi para votaremos numa moção no sentido de enviar o dinheiro de volta para Portugal, que se calhar eles estavam a precisar mais dele do que nós, e foi o que aconteceu e fizemos. Depois disto nunca mais pensámos em pedir dinheiro a qualquer organismo do Estado Português, mas temos sido ajudados pelo Governo Provincial do Ontário com a ajuda do Charles Sousa, agora Ministro das Finanças, desde que ele entrou temos recebido as ditas bolsas quase todos os anos, mas houve anos complicados e até anos em que as aplicações foram rejeitadas, porém quem me conhece sabe muito bem que eu não desisto e que faço barulho e as coisas acabam por acontecer e uns dias antes da Semana de Portugal lá aparece um cheque.
RA – Ao longo dos anos como tem visto a participação do tecido empresarial, meios de comunicação luso-descendente e sindicatos nas atividades da A.C.A.P.O., nomeadamente na realização da Portugal Week?
JE – Isto é por épocas, uns entram e outros saem… as únicas que acho que deveriam ter uma responsabilidade em participar continuamente são as Instituições Bancárias que representam a nossa comunidade e eu vou explicar. O português é muito fiel ao Banco onde tem o seu dinheiro. É muito raro trocar de um Banco para outro. Se calhar acham que é uma dor de cabeça, mesmo que não gostem do serviço. Só por isso, as Instituições já deveriam reconhecer o nosso caráter. Eu sou muito crítico em relação ao que aconteceu com o BCP antes e depois da compra pelo BMO. O BCP lutou muito para ter um lugar na comunidade, com a Ana Bailão, Paula Oliveira entre outros e o patrocínio não foi um cheque, mas uma linha de crédito de $20.000.00, que dava muito jeito para pagar aquelas primeiras despesas entre abril e maio, enquanto não entrava o dinheiro dos outros patrocinadores. Um ano, depois da venda do BCP ao BMO, umas 3 semanas antes da Semana de Portugal cancelaram-me a linha de crédito, sem aviso prévio, sem nenhuma explicação ou razão e a saberem que estavamos naquela altura mais difícil. É que se eles reduzissem o valor da linha, eu aceitava, mas tiraram tudo sem mais nem menos… Aí eu perdi todo o respeito por essas pessoas. Pessoas essas que hoje estão onde estão porque nós contribuímos para isso. Há muitas pessoas que não o sabem, mas por mim deveriam saber e deviam tirar o seu dinheiro do BMO. Eles não merecem ter os portugueses como clientes.
RA – Como todas as lideranças, a do José à frente dos destinos da A.C.A.P.O. nem sempre foi pacífica e teve as suas controvérsias e polémicas. Como lida com a crítica?
JE – Eu sou o meu maior crítico. O resto não me “atinge”. Já passei por tudo, desde de rumores que era toxicodependente, que tinha relacionamentos com mulheres casadas e ao mesmo tempo que era homossexual (risos), ou seja, era tudo! Infelizmente foram tempos complicados para os meus pais. Quando o meu pai ainda estava entre nós, lembro-me das constantes chamadas telefónicas e baterem-lhes à porta de casa, etc. E foi aí, que se calhar criei um muro à minha volta e quem me conhece sabe que eu ignoro. Sei que não sou uma pessoa fácil, sou rígido, principalmente com aqueles de quem mais gosto, que sabem que podem sempre contar comigo e que não lhes volto as costas quando mais precisam. Não gosto de fazer ninguém perder o seu tempo comigo, porque o melhor que uma pessoa dá de si é o seu tempo e eu não gosto de abusar desse tempo das pessoas, da mesma forma que não gosto que abusem do meu.
RA – Se tivesse que se auto–criticar como líder da A.C.A.P.O., o que diria?
JE – A maior crítica que dava à liderança nos últimos 20 anos do José Eustáquio era que ele poderia teria sido mais dinâmico, se tivesse tirado do valor das bolsas 15% a 20% por ano e criado uma fundação ou uma conta para a tal Casa de Portugal. Vamos fazer contas… a Aliança tem em média por ano um gasto de $400.000.00. Em 20 anos já gastámos $8.000.000.00… e se tivéssemos agora 15% desse dinheiro guardado? Claro que temos muito boas memórias, mas não há nada palpável, que se veja, ALGO real. Isso foi uma grande falha. Teria sido a decisão mais apropriada…
RA – Olhemos agora para o futuro. Daqui a 20 anos. Onde acha que se encontrará a comunidade portuguesa?
JE – Com uma maior visibilidade, ativa e forte com muitas e excelentes memórias da sua cultura. Nós somos um grande povo, somos diferentes, temos a melhor cultura que existe e deveríamos ter muito orgulho de sermos filhos e descendentes de Portugal. Sinto-me confortável quando olho para o futuro, pois noto nos olhos do meu filho, Nicolas, que cada vez mais tem mais orgulho em ser filho de um português e também vejo isso nos muitos jovens com quem falo. Depois a maioria dos pais estão a fazer um excelente trabalho e a dar bons exemplos aos seus filhos. O português é único e merece ser respeitado e valorizado.
RA – No desenvolvimento da sua atividade como presidente da A.C.A.P.O. acompanha as atividades dos vários membros. Um dos comentários que se ouve amiúde é o da necessária participação mais ativa da juventude nas atividades da comunidade. Acha que existe essa participação e que é suficiente?
JE – Eu estou farto de ouvir Presidentes e diretores de Clubes, ao microfone durante as festas, a queixarem-se que os jovens não querem saber dos Clubes, que viram as costas, que não participam, que precisam dos jovens… E a minha pergunta é… o que é que eles fazem para contrariar isso? O que é que eles fazem pelos jovens? A Aliança tenta fazer alguma coisa, mas não é o suficiente e os Clubes têm que colaborar. A minha crítica é que eles querem o envolvimento dos jovens à maneira deles, de forma a que os possam controlar. Do género, querem que os jovens organizem eventos sem poderem tomar decisões financeiras. Quando toca a dinheiro argumentam que os jovens não têm responsabilidades suficiente para mexer nele. Eu compreendo que o peso de estar à frente de uma casa comunitária acarreta muitas responsabilidades. Por vezes ainda têm hipotecas. São as despesas mensais ou cada vez que se abre a porta. Não é fácil fazer esse trabalho voluntário ao fim de um dia de trabalho e deixar a vida pessoal para o bem de todos os sócios. Este trabalho deveria ser muito respeitado por toda a comunidade, e não o é! É muito mais fácil criticar do que lá ir e tentar fazer melhor. Nunca nada está bem! Há sempre algo a apontar. O evento nunca é perfeito ou porque o serviço não foi bom ou outra razão qualquer, e as pessoas acabam por perder o entusiasmo. Os jovens notam isso e não querem isso para eles. São muito poucos os que estão disposto a perder um feriado, como hoje, para trabalhar voluntariamente, como eu e a Katia. Ela é uma jovem como poucos, e eu preocupo-me com ela. Tenho receio que se perca neste meio, entre a Casa das Beiras e a A.C.A.P.O.. É uma jovem e merece ter uma vida para além do voluntariado. Mas acredito que se numa instituição o grupo for bem estruturado, organizado e ativo, podem ter futuro, porém temos que os deixar fazê-lo!
RA – Como líder da Aliança, entende que os portugueses recém-chegados ao Canadá se reveem no modelo de comunidade portuguesa que encontram?
JE – Bem, o recém-chegado, chega a uma grande cidade que em todos os cantos fala a língua a que ele está habituado a falar e a ouvir em casa… o português. É uma vantagem, até porque é no nosso meio que encontram os primeiros contactos de trabalho, de casas para morar, etc.. O único problema que existe, que já vem com eles e que trazem de Portugal, é o estigma à volta do emigrante, ou seja, que o emigrante é ignorante, sem cultura ou educação. Eu passei por isso quando regressei à Nazaré, mas hoje já me olham com outros olhos. Talvez não sejamos uma comunidade perfeita para receber e ajudar os recém-chegados, mas mesmo assim acho que facilitamos muito. Por outro lado nota-se que muitos também não se querem envolver e mantêm-se afastados desde a sua chegada por causa desse estigma.
RA – Verifica-se a diminuição da utilização da língua portuguesa no seio da comunidade, especialmente junto das camadas mais jovens. Acha que os Clubes e as Associações fazem o suficiente para divulgar e ensinar a língua de Camões junto dos seus?
JE – Em primeiro lugar quero deixar claro que qualquer programa do ensino de Português que existiu nos últimos 50 anos, tem sido da responsabilidade dos Clubes e das Associações. O Governo Português não tem feito quase nada para apoiar os programas. O que temos pode não ser suficiente, e posso garantir que este tema tem sido uma das maiores lutas do movimento associativo, mas o Governo Português voltou-nos as costas e não apoia. Numa época tinham disponibilizado 130 professores com ordenados pagos pelo Governo para lecionar em França e no Norte da América nem um! Quando estive no Conselho das Comunidades do Norte da América pedíamos explicações para esta discrepância e nunca a deram. Deviam pensar que as nossas comunidades eram fortes economicamente e que não precisávamos de ajuda. Em segundo lugar, nota-se cada vez mais que os nossos jovens se sentem orgulhosos das suas raízes, talvez por causa do Cristiano Ronaldo, ou por sermos Campeões Europeus, ou por causa do Shawn Mendes, nota-se um novo interesse entre os jovens para com a língua o que facilita mantê-los ativos e empenhados em aprender mais sobre a nossa cultura.
RA – Acha que a comunidade não lhe dá o devido valor e respeito pelo seu trabalho voluntário?
JE – Eu acho que a comunidade, aqueles que estão mais preocupados com as suas vidas, sim dá muito valor ao trabalho que tenho vindo a fazer e notam a minha dedicação. São raros os dias que não seja abordado na rua, padarias ou festas por pessoas que não conheço para me agradecer ou dar os parabéns pelo meu trabalho. Quem não dá valor são aqueles que me criticam, mas que não o querem fazer e alguns elementos dos media que vão aos eventos para fazer a cobertura e aproximam-se de todos para fazer perguntas mas ao Presidente da Aliança nem uma entrevista ou pergunta fazem. Se pergunto por que razão o fazem, respondem que é pelo facto de que ao fim de tantos anos não tenho mais nada de novo a acrescentar, o que no meu ver não faz sentido nenhum.
Vir às nossas festas e nem uma foto sai no jornal? Isso para mim, só pode ser explicado por motivos pessoais. Porque não gostam de mim como pessoa e não por pensarem que não tenho capacidade ou mereça este cargo. Eu tenho a certeza que a maioria da nossa comunidade está satisfeita com o trabalho que tenho desenvolvido nos últimos anos, pois sabem que eu não tenho muitas ajudas e isso facilita o meu argumento.
RA – Como consegue conciliar estas funções com as ocupadas na Camões Entretainment Group diariamente?
JE – Não tem sido nada fácil, e como é de conhecimento público este projeto é recente. Os dois cargos mais relevantes que tive na minha vida profissional, foram os 10 anos na Labatt de 1990 a 2000 e perto de 13 anos na Local 183 de 2003 a 2016. Esses cargos davam-me a possibilidade de conciliar as funções que tinha com as da A.C.A.P.O., tinha alguma flexibilidade ao fim do trabalho e aos fins-de-semana. Mas com a Camões Entertainment estou preocupado, porque é um investimento novo onde tenho uma percentagem, por causa da minha idade e tenho um filho com 12 anos e tenho que garantir que o posso ajudar no futuro e não quero por isso em risco! Mas tem sido muito cansativo, este ano está a ser muito pesado para mim, para ser honesto…
RA – Duas décadas de presidência é obviamente um caminho que não se percorre sozinho. Fale-nos um pouco das pessoas que o auxiliaram ao longo deste 20 anos. Há alguém que o tenha marcado em particular?
JE – Claro que quando se fala de uma coletividade com 30 e tal Clubes membros, tem que ser ter a sorte de trabalhar com pessoas dinâmicas, e é esse o meu caso. Pessoas entraram e saíram nestes 20 anos. Também tive muita sorte e agradeço a relação que ainda mantenho com o Fernando Rio que me continua a ajudar. É aquele grande amigo, a primeira pessoa que procuro quando preciso de um conselho, falar sobre uma ideia, etc. Obviamente que foram muitas pessoas que me ajudaram. Temos o Bernardino Nascimento da Casa das Beiras, que deve ser muito respeitado por tudo o que tem feito em nome daquela casa, ou o Carlos Sousa e a Srª Rosa, da Casa do Alentejo, ou o Augusto Bandeira, da Ass. Cultural do Minho, ou Zé Mafra, do Rancho da Nazaré, o Cesário Brás, do F.C. do Porto, etc.. O Cesário é daqueles que me critica quando é preciso e apoia quando é essencial. São pessoas assim que eu preciso, dinâmicas, excelentes e que mantêm a cultura viva.
RA – Fale-nos um pouco da atual direção.
JE – Eu tenho tido a sorte de ter criado uma relação mais próxima com o David Ganhão e a Katia Caramujo, que me permite ser quem sou. Arrogante, teimoso, chato e nada fácil para quem trabalha comigo. Mas eles conhecem-me muito bem. Sabem quais são os meus altos e baixos e por isso continuam aqui. Respeitamo-nos muito uns aos outros. Somos mais do que uma equipa de trabalho… somos uma família.
RA – Houve algumas figuras da comunidade que o marcaram ao longo dos anos? Quem?
JE – Sim, muitos… às vezes estamos mais próximos e outra vez mais afastados. Lamentavelmente isso acontece muito quando precisam da A.C.A.P.O.. Ainda hoje mantenho uma amizade com o Frank Alvarez, Manuel da Costa, Jack Oliveira, Jack Prazeres, etc.. Digamos que nestes últimos 20 anos tive pessoas que facilitavam, mas por vezes também complicavam as minhas tarefas.
RA – Nas suas intervenções públicas, ouvimos muitas vezes falar na importância do voluntarismo no desenvolvimento da nossa comunidade. Acha que é suficiente? Quer deixar um apelo à comunidade?
JE – Acho sim, que é muito importante e a comunidade portuguesa deve ser a que mais dá do seu tempo ao voluntarismo, e isso tem que ser respeitado e valorizado. O português luta por aquilo que gosta e por isso é que temos a visibilidade forte que temos, no que diz respeito ao movimento de Clubes.
RA – Para a comunidade portuguesa radicada no Canadá que queiram saber um pouco mais sobre o trabalho da A.C.A.P.O., onde podem encontrar essa informação?
JE – Temos o website, www.acapo.ca, que tem uma página dedicada a cada Club membro. O nosso trabalho a nível de “Social Media” deveria estar mais profissional e poderia se calhar estar mais completo, mas não temos o tempo necessário para cobrir essa parte.
RA – Dava jeito ter um voluntário que pudesse cobrir essa área?
JE – Na verdade nós precisamos de muitos voluntários para diversas áreas, mas essencialmente no que diz respeito ao “Social Media”, que cada dia que passa é mais importante.
RA – Com todos os cargos profissionais e voluntários, como fica a vida pessoal?
JE – Gostava de um dia casar, coisa que nunca aconteceu, ou ter uma relação que fosse mais longa do que 3 semanas a 4 semanas. Quem me conhece sabe que quando estou numa relação elas desaparecem entre os meses de abril e maio. Sem dúvida que o meu envolvimento com a Aliança tem prejudicado a minha vida pessoal. Eu não fui responsável com as pessoas com quem tive o privilégio de ter uma relação, porque não tinha e não tenho tempo para tudo. Estive perto de casar em 1997, mas não deu e hoje somos ainda grandes amigos. Mantenho, aliás, um bom relacionamento com todas as pessoas que passaram pela minha vida, mas nunca houve o tempo certo para casar.
RA – Como gosta de passar os seus tempos livres com o seu filho, o Nicolas?
JE – Onde ele quiser, quando estamos juntos ele é que decidi. Eu roubo muito do tempo que lhe pertence, como hoje. O maior peso que carrego é quando abro aquela porta lá em baixo e começou a subir as escadas… isto não deveria ser a minha vida! A minha vida deveria ser estar com ele e ter uma vida familiar em casa, mas não se pode ter tudo.
RA – Sendo o presidente executivo da A.C.A.P.O., tem uma ligação forte com a nossa cultura e bons costumes, tenta passar isso ao Nicolas? Ele gosta de falar português e de Portugal?
JE – Sim, sempre e ao mesmo tempo não o forço a aprender a língua. Sou muito criticado por isso, mas tenho fé que ele vai encontrar o caminho dele nesse sentido. O Nicolas adora tudo que tem a ver com Portugal e fala português, mas é tímido. E claro, adora Portugal!!!
RA – Algumas das pessoas que privam consigo no dia-a-dia, quer a nível pessoal como a nível profissional, dizem que o José é uma pessoa com um feitio muito particular. Acha que é uma pessoa com que é difícil de se lidar?
JE – Eu prefiro ter poucos amigos. Quando conheço pessoas novas sou muito frio. Tento mostrar logo o lado mais agressivo da minha personalidade. Se isso for motivo para não gostarem de mim, já é um sinal de vitória. E porquê? Se a pessoa ao fim de conhecer o lado menos bom, conhecer o lado bom e mudar de ideias sobre a minha pessoa, para mim já são pessoas que valem a pena conhecer.
RA – Será isso fruto dos longos anos à frente dos destinos da Aliança?
JE – Não. Eu acho é que qualquer um de nós é inseguro, e eu sou muito inseguro quando estou a entrar numa sala, num evento, etc. e transfiro e reverto essa insegurança para me proteger… como se fosse um “muro”. Normalmente é isso que as pessoas apanham. Não dou acesso à pessoa que sou na realidade. Esse muro que tenho construído ao longo dos anos facilita tudo. Agora quando alguém me toca e me entra no coração ou que tenha um certo carinho por ela, eu luto por ela até ao fim. Sou um grande amigo dos meus amigos. Os poucos que tenho podem confirmar isso, da mesma maneira que confirmarão que sou uma pessoa complicada.
RA – José é muito seletivo com as pessoas com quem cria relações pessoais e profissionais. Há alguma razão especial para que isso aconteça?
JE – Não há razões, simplesmente facilita tudo. Eu gosto de comparar isso com o facto porque só permitem 3 pessoas num Táxi. (risos) Se eu tiver 3 grandes amigos, sou um homem rico, não preciso de muitos mais.
RA – O José tem um lado que poucas pessoas conhecem, ajuda quem precisa, quer a nível pessoal como a nível institucional (leia-se Clubes e Associações). Porque esconde esse lado generoso?
JE – Porque acho que é uma coisa pessoal e privada. Não acho que deva ser reconhecido por isso. Não acho que esses factos devam determinar o resto do trabalho que tenho feito, o gesto de ajudar deve ficar no silêncio, na minha opinião.
RA – Mas não acha que isso poderia amenizar um pouco a imagem de rígido, agressivo e arrogante que certas pessoas têm sobre si?
JE – Não me interessa. Para mim não faz diferença nenhuma porque sei quem sou. Quem me conhece sabe que muitas vezes dou o que não tenho para dar e só complica a minha vida pessoal, porque eu nunca aprendi a dizer “não”, que é a minha maior fraqueza, e se não tivesse o tal, “muro” complicava-me muito a vida.
RA – Pretende ficar na presidência da A.C.A.P.O. nos próximos anos?
JE – Sinceramente não sei. Gostava de dizer que não, mas não sei… É interessante, mas o que seria da Aliança sem o Eustáquio, e o que seria do Eustáquio sem a Aliança? Nesta altura parece que as duas são sinónimas, e isso preocupa-me. Mas com 53 anos, o que mais posso fazer?!
RA – Arrepende-se de alguma decisão que tenha tomado ou de uma situação em que poderia ter feito melhor?
JE – Muitas até. Qualquer pessoa que tenha um cargo de liderança não pode estar satisfeito com tudo ou todas as decisões que tomou. Haveria muitas que alterava, apesar de na altura em que se deram essas situações, havia motivos para isso. Se calhar hoje não teria sido tão rígido, mas na altura era o mais adequado fazer e não tive outra opção.
RA – Quer deixar uma mensagem à comunidade?
JE – Eu gosto sempre de finalizar expressando o quanto admiro a nossa comunidade aqui na zona de Toronto. Eu tenho muito orgulho na nossa comunidade e, apesar de tudo, isso representa muitos dos momentos mais altos da minha vida. Sei que tenho tido muita sorte com a vida que a Aliança me proporcionou nos últimos 20 anos.
Redes Sociais - Comentários