Christina de Ávila
Um dia encontrei a Christina numa rede social. O facto de se identificar como @theportuguesenaturopath chamou-me a atenção. Quis saber quem era esta mulher que, vivendo no Canadá, faz questão de se colar às suas raízes no mundo virtual. É, sei agora, uma mulher jovem, de sorriso largo, confiante e que encara a sua profissão quase como uma missão de vida.
Christina de Ávila foi escrevendo o seu roteiro, enquanto pessoa e profissional, ao sabor do que ia acontecendo, sem que houvesse caminhos já pré-desenhados na sua mente. A única certeza que tinha é que a ciência seria a sua área de estudo, sem saber muito bem qual seria o percurso que iria tomar.
Hoje é naturopata, ajuda os outros a terem uma vida melhor, pelo menos, mais equilibrada e percebe que, em grande medida, deve essa escolha de profissão à sua avó e ao facto de ter crescido num ambiente muito virado para o alívio de dores físicas e da alma através de produtos naturais. A ervanária dos pais trouxe-lhe sabedoria que, mais tarde, resolveu consolidar com o seu curso em naturopatia. A doença da sua avó foi determinante nessa escolha. Ver a progressão da diabetes, que levou a avó à cegueira entre outras situações extremas da doença, mexeu com os seus sentimentos e impulsionou-a a tentar encontrar respostas para as muitas perguntas que lhe vinham à cabeça e que se podem resumir a uma só – porquê? Nesta conversa, Christina de Ávila explica-nos que, com a naturopatia, percebeu algo muito simples, mas ao mesmo tempo muito complexo – nós temos o poder de mudar o nosso destino e melhorar a nossa saúde.
Infância e adolescência
Christina de Ávila nasceu há 37 anos no Canadá. Os pais da Christina e das suas duas irmãs (uma mais velha e outra mais nova) haviam emigrado uns anos antes. A mãe da ilha Terceira e o pai de São Jorge. Desde sempre, Portugal e a cultura portuguesa fizeram parte da sua formação. Hoje sente muito orgulho nisso.
Que memórias tem da sua infância e da sua adolescência em Toronto?
É engraçado quando eu penso no facto de ser filha de imigrantes porque sim, eu senti isso muito quando entrei na escola, os meus pais exigiam que nós falássemos português em casa, porque quando entrássemos na escola seria tudo em inglês e por isso aprenderíamos lá, mas quando entramos na escola eu não sabia em inglês, só falava em português a julgar que todos iam perceber. Então, fiquei uma criança estranha, não é? Os outros pensavam “como é que ela não sabe?”. Por isso, eu senti essa diferença. Por exemplo, a música, nós em casa ouvíamos sempre música portuguesa, então quando eu entrei na escola e toda a gente falava de Spice Girls e Backstreet Boys, para mim aquilo não fazia nenhum sentido, porque em casa era tudo música portuguesa. Por isso, aí eu sentia que, sim, a minha família era diferente de uma certa maneira, mas também isso ajudou-me a perceber e a aceitar as culturas que são diferentes. Perceber que toda a gente tem a sua história, toda a gente tem a sua maneira de fazer as coisas. Eu tenho muito orgulho de ser filha de pais imigrantes e saber que tive a minha experiência e que, nessa altura, claro, eu podia sentir um pouquinho que não fazia muito parte da cultura canadiana, mas faz parte da minha história.
Podemos dizer que hoje percebe que na construção da sua personalidade houve valores que foram passados exatamente pelo facto de ser filha de portugueses?
Acho que sim. Eu diria filha de portugueses e de pais imigrantes. Eu acho que o valor mais forte que os meus pais passaram foi o trabalho, pôr o pé para a frente, para conseguir o que você quer na vida, sempre. Não ficar com medo do próximo passo, porque tudo se pode conseguir, seja com apoio de pais, de irmãos, de amigos. Essa vontade de trabalhar, de querer conquistar a vida que se quer, o seu sonho, eu acho que esse foi o valor mais forte. Como os meus pais, os dois, tiveram que fazer para eu e as minhas irmãs, termos a vida que temos hoje. Poupar, saber organizar a vida eu acho que esse é o valor mais forte que os meus pais nos passaram. E eu diria que eu vejo isto, muito, na cultura portuguesa, que é o valor da família, de nos amarmos uns aos outros, de estar presente, de construirmos memórias, juntos. A minha avó foi também muito importante nisso, todos nós morávamos na mesma casa. Ela queria a família toda unida e todos os domingos íamos à casa dela jantar. Era assim todos os domingos, íamos à missa às duas, íamos a casa da minha avó e jantávamos. Era sempre sim, sem falta. Essa conexão da família era um valor muito forte na nossa infância, que hoje, já adultos, permanece.
Os seus pais passavam-vos esses valores pelo exemplo, pela forma como estavam na vida, pela importância que davam ao trabalho… Eles trabalhavam em que área?
Quando os meus pais vieram cá, eles começaram em limpeza. E foram andando. Chegou uma certa altura, o meu pai começou a trabalhar numa companhia de limpeza e começou a fazer a sua própria companhia também. E eu acho que foi já em 2000, os meus pais abriram a sua loja, uma ervanária, com ervas e tudo o mais. E nós todos trabalhámos lá para ajudar.
Vida profissional
Bom, então já estou a entender um bocadinho a sua escolha de vida profissional, porque a Christina é naturopata. Uma das minhas curiosidades em relação a si era saber o que é que a tinha fascinado nesta área do conhecimento…
Eu sempre que penso no meu caminho, aonde eu cheguei… eu acho que foi como os portugueses falam: Deus escreve direito por linhas tortas. Eu já tinha esse conhecimento, essa proximidade com a ervanária e tudo mais e quando andava a estudar sempre adorei ciência. Eu sabia que queria entrar nesse caminho, mas em termos de profissão eu não sabia bem por onde é que eu ia entrar. Tentei entrar na faculdade de Medicina e não entrei e fiquei “ok… e agora, o que é que eu vou fazer?”. Nessa altura eu comecei a fazer de tudo, comecei a trabalhar, e fiz voluntariado num hospital. Aí eu percebi logo que esse não era o ambiente para mim. Eu saia de lá com o coração pesado, mas pesado. Chorava, às vezes, a sair do hospital, porque eu sabia que isso não era, não seria o lugar para mim. No entanto, nessa altura, a minha avó tinha diabetes. E começou a ter problemas. Ela ficou cega, os rins falharam. Pronto, ela já estava na cama da morte, de uma certa maneira. E eu comecei a perguntar, mas como? Como é que ela, com doutores de família, especialistas, medicinas? Como é que ela chegou a este ponto, não é? Entretanto, comecei a também trabalhar numa farmácia e comecei a perceber que havia muitas falhas no sistema de saúde, os medicamentos eram receitados, mas ninguém falava o porquê. Porque é que o açúcar está alto? Porque é que você tem a infeção urinária crónica? Porque é que ninguém estava a ter essas conversas importantes? Foi quando comecei a sentir que queria apoiar a saúde das pessoas, mas não era no caminho da medicina tradicional. E encontrei a faculdade de Medicina Natural. Fiz a entrevista, entrei e pronto, segui para a frente.
Antes de pedir para nos explicar de uma forma mais simples, para toda a gente entender, o que é naturopatia, queria saber… os seus pais sempre vos incentivaram, a si e às suas irmãs a prosseguirem os estudos?
Desde crianças. Sempre nos disseram, estudem para que tenham uma vida boa. Não importava o dinheiro para os meus pais, eles falavam para não escolhermos uma determinada área por causa do dinheiro. O dinheiro sempre se faz, sempre se ganha. Nós tínhamos o apoio deles, para estudarmos o que nós quiséssemos.
Pode agora explicar-nos, de uma forma que todos possamos entender, o que é ser naturopata?
Ser naturopata é como ser um médico de família, mas a minha maneira de tratar as pessoas é muito diferente. Quer dizer, comigo, nós vamos falar sobre tudo. Você não é o seu sintoma, você é uma pessoa na sua totalidade. E nós temos que falar de tudo. Temos que falar da alimentação, da digestão, do seu movimento físico, como é que você dorme e o seu nível de stress. Tudo o que faz parte do seu ser humano. Assim, quando uma pessoa está a ter um sintoma, seja cansaço, seja diarreia, seja estar preso dos intestinos, há algo que o corpo está a dizer-lhe que está a faltar, algo que está inflamado… eu adoro usar ervas e suplementos para que o seu corpo volte ao seu equilíbrio, para funcionar o melhor possível.
Portanto, um naturopata procura, de uma forma natural, encontrar o equilíbrio do ser humano. Mas essa visão holística obriga a que as consultas do naturopata sejam feitas com um olhar especial. Podemos dizer isso que a sua forma de olhar para as pessoas é diferente?
O que eu digo é: eu tenho de ter tempo com os meus pacientes, de ter o luxo de ter tempo com os meus pacientes. Não é uma consulta de cinco minutos, nem de 15. Por exemplo, a minha consulta inicial é 90 minutos. Isto porque acho que a parte mais importante do meu trabalho é dar tempo a uma pessoa para falar sobre a sua história. Muitas pessoas não têm a possibilidade de sentir que alguém está a ouvir a sua história, a sua dor, não é? E o que é que acontece? Acontece que alguém vai ao doutor e ouve: “o que é que tens? Pronto, aqui está a tua receita. Até logo.” A pessoa fica com essa dor – “ninguém escutou o que eu tenho para falar?” e isso, na minha opinião, também faz parte do tratamento em si.
Há também um lado muito forte de psicologia em cada consulta?
Sim, sim… claro, eu sou doutora, treinei, estudei e tudo mais, mas eu não me vejo como doutora, eu sempre me vejo como parceira dos meus pacientes. Eu estou aqui para te apoiar, para te ajudar, para te escutar. Para que, quando saíres da minha consulta, saibas o que tens de fazer. Tu sabes a direção que tens que seguir para encontrar o teu equilíbrio, para encontrar a tua saúde. Esse é o meu trabalho como naturopata. E, ao longo do tempo que tenho trabalhado como naturopata, tenho tido momentos de particular alegria por conseguir atingir determinados objetivos com o meu “parceiro”. Aqui no Canadá não se paga para se ir a um médico, nós pagamos taxas para que tenhamos esse. Mas, como naturopata, eu não faço parte deste sistema. Por isso quem me procura tem que pagar. Claro que é uma decisão que obriga a pensar antes de marcar a consulta, não é? Então, às vezes, muitas das pessoas que eu vejo, são pessoas que já andaram em vários doutores, vários especialistas e ninguém encontra o problema. Tudo está bem, tudo está ótimo. Dizem que não há razão para você se sentir assim. por isso, quando as pessoas vêm para me consultar, já estão desanimados, não é? Ninguém encontra a razão do seu sofrimento. Há muitos casos. Por exemplo, uma rapariga já com 27 anos, que vivia cheia de espinhas na cara, mas diziam-lhe que era uma situação crónica. Fazia tratamento e ela sempre ficava com a cara com espinhas. E a cara, é a primeira coisa que nós mostramos ao mundo. Claro que a autoestima vai cair. Ela veio à minha consulta e falou: “eu acho que são as hormonas. Vamos fazer exames às hormonas, porque tem que ser, tem que ser.” E eu disse: “eu acho que não. Eu acho que é inflamação na pele”. Então fizemos os exames, fizemos o tratamento certo. O problema desapareceu por completo. Ela tem a pele belíssima. Foi espetacular. Ela ficou contente e eu fiquei contente. Adoro ver estas transformações.
A Christina é uma naturopata século XXI, não é? Porque as suas consultas são todas online…
Mas sabe eu fiquei com medo… eu comecei online com a pandemia, e fiquei com medo das pessoas não terem esse espaço para falar abertamente sobre a história, sobre a sua dor. Pensei que íamos perder essa ligação, não é? E foi completamente ao contrário. Eu acho que o facto de estar sentada na sua casa, que já é um lugar de conforto, e falar da sua história, faz com que as pessoas se abram até mais. E a ligação cria-se mais rápido. E nós continuamos muitos anos juntos porque eles sentiram esse conforto, não é? Eu adorei. Vejo agora que pensei mal ao não querer entrar mais cedo neste universo das consultas online. Mas sim, deu certo e eu acho que continua a dar certo. E até é melhor para as pessoas, que não têm que conduzir ou achar lugar para estacionar. Agora é só ligar online, fazer a consulta e regressar outra vez à sua vida normal.
O naturopata acaba por ter também a obrigação de estar em permanente formação, não é? Tem sempre que procurar respostas para as coisas que lhe surgem, porque cada ser humano tem, tem coisas distintas e isso obriga a estar a estudar permanentemente.
Todos os dias. Eu diria o meu melhor professor são os meus pacientes, porque eles exigem que eu saiba mais. Cada vez que uma pessoa vem com uma coisa que eu não posso explicar, eu penso “será que há algo que já saiu, que eu ainda não saiba?”. Então, estou a estudar todos os dias. É a nossa profissão também. De três em três anos, tenho que mandar um formulário a dizer o que eu estudei. O que é que eu aprendi… isso faz parte da minha profissão e faz parte de saber que eu estou a dar o melhor tratamento aos meus pacientes, que eu sei que vai dar resultado.
Quando se pensa na designação “naturopata”, isso quer dizer que é na natureza que está a cura. É a natureza que dá a cura?
Essa é uma pergunta difícil. Cura… depende daquilo que a pessoa tem. Às vezes não há cura, não é? Mas é saber viver da melhor maneira possível com a sua doença. A palavra cura teria de ter uma definição diferente para cada pessoa.
Mas no seu entender o meio para conseguir o melhor possível para aquela pessoa será sempre através de produtos que resultam da natureza?
Eu tenho um mentor que diz: “a natureza é o que está mais perto do que o ser humano é”. O tratamento está à nossa beira. E a saúde é um direito do ser humano e nós temos de saber cuidar dela. Eu acho que tal como os meus pais que faziam tudo o que podiam e sabiam para ganhar o seu dinheiro e fazer o depósito no banco, nós não sentimos a mesma obrigação com a nossa saúde e de tudo fazer para fazer o “depósito” para termos uma melhor saúde. Eu não conheço ninguém que pergunte assim a si próprio: “qual foi o depósito de saúde que eu fiz hoje? Eu bebi oito copos de água. Sim ou não? Eu andei 10.000 passos por dia. Sim ou não.” Nós só falamos de quanto dinheiro eu ganhei e quanto dinheiro eu gastei. Mas nós não falamos do depósito de saúde. Por isso, nós temos os tratamentos em forma de planta ou o que seja for, mas nós também temos que saber que nós temos responsabilidade de cuidar a nossa saúde, com os hábitos do dia a dia. E sem isso, a saúde vai falhando devagarinho. Nós não chegamos aos 40 e os diabetes apareceram sem mais, sem menos. Não, não. Os diabetes estavam a aparecer lentamente. Nós é não percebemos o que estávamos a fazer para eles aparecerem.
Ser naturopata e ser portuguesa
Voltando ao facto de ser portuguesa. O que é que da nossa forma de comer, da nossa forma de estar na vida… tirou, digamos, de aprendizagem para a sua profissão?
Vamos começar com o lado bom. Eu acho que o lado bom da alimentação portuguesa é que nós comemos peixe, nós comemos muita verdura, nós comemos uma dieta mediterrânica. Acho que por onde os portugueses começam a entrar num caminho errado é ter num prato arroz, batata e pão. É muito. E eu digo isto porque sei que muita gente diz “antigamente as pessoas comiam assim”, sim, mas eles também trabalhavam na terra, gastavam os carboidratos que eles comiam. Eles precisavam dessa energia para o trabalho deles. Agora, o que é que fazemos? Comemos os carboidratos – arroz, pão, batata – e sentamo-nos. Por onde é que você acha que esse carboidrato vai? Vai transformar-se em gordura? E aí começamos a aumentar de peso. Nós continuamos a associar essa alimentação com a cultura, mas temos que perceber a forma de viver, que era diferente. Por isso, tal como o tempo passa, a alimentação, a cultura, também tem que mudar um pouquinho. E para mim não é o comer arroz e batata que faz a cultura portuguesa. Quando eu penso na cultura portuguesa, e gastronomia portuguesa, penso em sardinha assada, que é proteína ômega três, penso no azeite, penso nas coisas que dão mais saúde, do que só o pão, arroz e batata.
A alimentação é então um dos pontos essenciais nas suas consultas?
Para ser honesta, eu acho que sim, é o ponto mais importante que eu falo com a maioria dos pacientes, seja português, ou não, seja mulher, seja homem, não importa. Muitas pessoas não comem proteína suficiente, e quando nós não comemos proteína suficiente, temos sempre fome. Depois, quando começamos a entrar nos 40, 50, começamos a perder massa muscular. Por isso, teremos para prevenir ou diminuir essa perda. Temos que aumentar o músculo e comer proteína suficiente. Quando nós não comemos proteína suficiente, o açúcar começa a saltar, a descer e a subir… e aí a pessoa fica com ansiedade, fica com a energia baixa, aumenta o peso. Tudo isso… muitas vezes eu digo “vamos só aumentar a proteína” e faz uma diferença, de um momento para o outro. As pessoas já começam a notar uma diferença bem grande. Só isso.
Uma outra coisa que se encontra muito na cultura popular portuguesa, são as chamadas mezinhas, muitas curas com plantas. Antigamente não havia outra solução e tentavam encontrar a cura com chás e outro tipo de coisas desse género. Mas em Portugal ainda existe muita gente que cura, por exemplo, uma infeção urinária com determinado chá e usa uma série de chás para várias coisas. Existe alguma fundamentação científica para que realmente isso aconteça?
De certeza absoluta. Depende, outra vez, do ponto onde está a saúde da pessoa. Vamos falar de uma infeção urinária, se uma pessoa está no início, um chá, um tratamento com uma erva, sim, vai dar jeito. Apaga logo os sintomas e a pessoa fica bem. Mas se já é uma infeção avançada, que está a chegar ao rim, por exemplo, aí eu diria que não. Como naturopata, eu falo assim, dependendo do estado, ou planta, ou antibiótico, ou seja, tratamento de medicina mais tradicional. E os dois podem trabalhar juntos.
A ligação a Portugal
O que é que permanece da sua ligação a Portugal? Na sua juventude, já me disse, ouvia música portuguesa, toda a envolvência era muito portuguesa. Permanece assim?
Eu diria que a minha ligação à cultura portuguesa era muito mais forte na minha juventude. Agora acho que a minha ligação mais profunda é a língua em si. Para mim, falar a língua de um país é ter uma certa ligação à terra. A língua tem uma grande influência na cultura de um país. Acho que isso agora é a minha ligação mais forte à comunidade portuguesa. Outra ligação… eu agora entrei para o Federação dos Empresários e Profissionais Luso-Canadianos. Porque a minha missão é apoiar a saúde da comunidade portuguesa para que eles possam viver a sua melhor vida. É por isso que eu me liguei à Federação como a naturopata portuguesa, para que as pessoas possam encontrar-me.
Quando falámos sobre a forma como eu a encontrei, não lhe disse que uma das coisas que me chamou a atenção foi a Christina ter essa preocupação de associar todos os seus contactos online ao facto de ser portuguesa – @theportuguesenaturopath. Qual foi o objetivo de se identificar dessa maneira?
Muitos dos meus pacientes que entram em contato comigo, dizem-me: “eu estava à procura de uma naturopata e eu vi que você é portuguesa e eu sou portuguesa, então eu queria ter uma consulta consigo”. Só ter essa parte de “eu sou portuguesa e tu também és”, já a pessoa entra com mais confiança, não é? Por outro lado, eu também trabalho com muitos idosos, por isso os filhos de portugueses que querem ajudar os pais, mas que querem alguém que fale com eles em português, porque sabem que seria melhor para eles. Assim, eles sentem-se mais à vontade, sentem que podem contar melhor a sua história. Às vezes é muito difícil falar uma coisa em inglês que tenha a mesma força, a mesma expressão, que tem em português. Outros não conseguem mesmo falar inglês… Para mim é um orgulho poder proporcionar essa possibilidade das pessoas falarem o que têm que falar, à vontade.
O sonho e a avó
Christina há algum sonho por cumprir na sua cabeça?
Eu vou chorar um pouquinho. Sabe, quando a minha avó ficou cega, ela quase não se mexia. O rim parou… percebi que a minha missão e o meu dever como naturopata, é ajudar as pessoas. Consulto muita gente que me diz “isto que eu tenho é de família, não se pode fazer nada”, e eu digo-lhes que isso não é assim. Sim, a sua família pode ter tendência para ter diabetes, tensão alta, colesterol alto, pode ser o que for, mas a maneira como nós vivemos a nossa vida pode fazer uma grande diferença. Eu quero fazer com que toda a gente entenda essa mensagem. Não nos devemos sentir vítimas da nossa saúde, devemos sim perceber que nós temos o poder de mudar o nosso destino e melhorar a nossa saúde. Seja aos 20, aos 30, aos 40, aos 60, aos 100.
Já notei, por duas vezes, que a sua avó acabou por ser muito determinante na sua vida. Desde logo pela escolha da profissão. Mas que ligação profunda foi essa com a sua avó ao ponto de recorrer a ela até para falar do seu sonho?
A minha avó fez parte da nossa vida. Sempre, desde crianças. Ela era a luz e acho que mesmo depois de falecer, ela continua a ser a luz da nossa família. Ela era uma fonte de amor. Era uma pessoa que nos dizia: “vai atrás do teu sonho. Faz o que que tens que fazer. Estuda”. Como ela, não pode ir atrás do seu sonho, por várias razões, ela queria ver as netas ter a vida sonhada por elas. E ela era sempre uma pessoa de vontade, de festa, de tudo. Quando eu penso na minha avó, lembro-me da alegria que ela tinha, mesmo sofrendo, sem energia, cega… para mim, uma pessoa ficar cega, depois de poder ver, é bem duro, não é? Mas a mente dela era sempre para a frente, cheia de amor e alegria. Embora o seu corpo não conseguisse apoiá-la. Eu não quero que as pessoas fiquem assim. Eu quero que o corpo e a mente dos meus pacientes estejam a funcionar em pleno, para que, como eu falei, cada um possa ter a sua melhor vida, conforme o que isso é para cada indivíduo.
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