Daniela Ruah
Entrevistas

Daniela Ruah

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Créditos © Daniela Ruah/Cliff Lipson/CBSWatch

 

Nasceu em Boston, Estados Unidos da América, há 38 anos, mas foi Portugal que lhe marcou a infância e juventude. Orgulhosamente portuguesa, partiu um dia à procura do futuro. Regressou ao país natal e encontrou o caminho, que desbravou com o seu talento, até se transformar na atriz portuguesa mais famosa em todo o mundo. Daniela Ruah – a atriz, a mãe, a filha, a mulher tal qual é, apresenta-se nesta conversa sem representação. Com a sua determinação, a sua força, com a simplicidade que a carateriza, mas com absoluta consciência do papel que desempenha hoje na vida.

Mesmo antes de subir ao palco do Providence Performing Arts Center, para apresentar a edição comemorativa dos 10 anos dos IPMA – International Portuguese Music Awards, desbravámos o seu percurso profissional, o que lhe construiu o passado, o que vive no presente e o que pretende seja o futuro, falámos da estreita ligação a Portugal, da vida familiar que une continentes e dá sentido à palavra saudade e percebemos como Daniela Ruah tem a consciência absoluta do muito que ainda há para fazer e aprender em todas as áreas da vida.

Conhecemos a mulher simples, mas forte, apaixonada pelo que faz e pelo homem que tem ao seu lado, a mãe extremosa, a filha dedicada e a estrela que adora Portugal e nunca deixou de ser apenas “a miúda reguila, cheia de energia, que adora a vida”.

Revista Amar: A Daniela Ruah sempre afirmou que teve uma infância feliz. O que mais contribuiu para isso? E que memórias tem e de que modo sente Portugal vincado na sua personalidade?
Daniela Ruah: Apesar de ser filha única, cresci rodeada de uma família grande e divertida. Tenho muitos primos que adoro, próximos da minha idade, e tias e tios que me são muito queridos. Tínhamos tradições semanais de jantares, ou almoços ao pé da praia, em que nos juntávamos todos. A minha felicidade vem do sorriso dos meus pais – do seu apoio incondicional em tudo o que queria fazer. De terem participado activamente na criação e concretização dos meus objectivos de vida e de terem sido lutadores pela vida fora. Os anos mais formativos foram passados em Portugal, por isso, culturalmente, sinto-me muito portuguesa.

RA: Para além das tradições religiosas judaicas que preserva, o que mais lhe transmitiu a sua família que considera verdadeiramente importante e que agora transporta para os seus filhos?
DR: O foco. Ser independente e trabalhadora. A habilidade de manter amizades para a vida. Respeitar os outros que acreditam ou vêem a vida de uma forma diferente. Ser flexível e aprender a colaborar com outros sem perder a nossa própria identidade. Entre muitas, muitas outras coisas!

 

 

RA: Por falar em filhos… como se sente como mãe? O que mudou na sua vida desde o nascimento do River e da Sierra?
DR: Adoro ser mãe. Faz grande parte da minha identidade e é o meu papel favorito. Sempre fui um pouco impaciente, por isso acho que a maior lição que aprendi foi ter de ser paciente – tanto com o ritmo de vida de uma criança, como com a aprendizagem emocional. Amadureci muito desde que nasceram… Aprendi o verdadeiro significado de “multi tasking” e descobri que funciono mesmo dormindo pouco! Hoje em dia, os meus filhos têm 5 e 8 anos e são bastante independentes, adoram-se e são muito cúmplices. Não falto a um evento desportivo, ou evento escolar. Adoro ver o entusiasmo pela vida que brilha nos olhos deles, de saciarem qualquer curiosidade. Adoro ser mãe.

RA: Sabendo que a família (e os seus pais em particular) e os amigos têm uma importância muito grande para a Daniela, como é viver longe deles e de Portugal?
DR: Viver longe é sempre muito difícil. Já faltei a tantos casamentos, ou eventos familiares, infelizmente… Tenho mesmo muitas saudades, mas ao longo dos anos aprendi a viver com essa sensação. Felizmente a tecnologia permite-nos manter uma proximidade quase diária com grupos de mensagens, facetime… E conseguimos viajar até Portugal, pelo menos uma vez por ano, para ver a familia. A minha mãe também passa bastante tempo nos EUA com os netos!

RA: Nas redes sociais a Daniela Ruah, normalmente, escreve os seus posts em inglês e português. Para não perder o contacto com os fãs portugueses ou para orgulhosamente afirmar a sua condição de portuguesa?
DR: Penso que são as duas coisas! Sei que tenho muitos seguidores portugueses que quero abraçar com a nossa língua, mas escrever em português também me traz orgulho.

 

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Créditos © Daniela Ruah/Cliff Lipson/CBSWatch

 

RA: O seu pai foi médico, professor universitário, a sua mãe audiologista… donde lhe veio a veia artística e quando é que percebeu que o seu caminho profissional seria o que tem hoje?
DR: Apesar de serem quase todos médicos ou estudantes de ciências, os meus pais sempre foram criativos também. A minha mãe escreve lindamente, o meu pai desenha muito bem e tem um toque musical. A criatividade também é ligada às línguas e tanto o meu pai como a minha mãe falam, pelo menos, quatro línguas. Ou seja, a veia criativa está no sangue!

RA: A sua carreira em Portugal começou pelas telenovelas (apenas com 16 anos), como aconteceu com tantos outros atores/atrizes. Considera que essa foi também uma escola importante na sua formação? Que memórias guarda desse tempo?
DR: Não tenho dúvidas de que as telenovelas foram a melhor escola. Aprende-se muito numa sala de aula, mas poder pôr em prática aquilo que aprendemos é muito gratificante e enriquecedor. Existe um “etiquette” de trabalho que só se absorve bem na prática. Apesar de não conseguir manter um contacto constante, fiz amizades para a vida e sinto-me mesmo muito feliz quando estou com os meus colegas dessa altura. O ritmo de trabalho é muito puxado e desgastante, mas ninguém se esquece da sorte que temos em ganhar a vida a fazer aquilo que mais gostamos. Cria-se uma sensação de equipa com muita risota e apoio.

RA: A sua formação académica de base foi toda feita em Portugal, até que decidiu ir estudar para Londres, para frequentar a London Metropolitan University. Depois de Londres, escolheu o Lee Strasberg Theatre and Film Institute, em Nova Iorque, para aprender mais sobre a arte da representação. De certo modo, o que podemos concluir é que a Daniela é das pessoas que acreditam que o talento tem de ser trabalhado – é isso? E sente que esses foram passos determinantes na construção da atriz/realizadora que é hoje?
DR: Todos seguem o caminho que têm de fazer. Pessoalmente, acredito muito na educação e dedicação à arte. Quer seja num curso, workshops, leitura, etc. É uma indústria difícil de penetrar e até de manter. Nada é garantido, por isso quanto mais nos educamos, maior é a possibilidade de sucesso. Pelo menos para mim tem funcionado. Em relação à realização – uma paixão que começou muito mais tarde, passei a usar o NCISLA como escola de cinema. Interajo com realizadores, editores, operadores de câmara, escritores, fazendo perguntas e percebendo o porquê de cada decisão. Procuro entrevistas online dos meus realizadores favoritos, leio biografias e vejo muitos filmes e séries. Serei aluna para a vida.

RA: Como chegou a Los Angeles? E como surgiu a oportunidade de se tornar a Agente Kensie Blye?
DR: Em 2009 estava a viver em NYC, a estudar no Lee Strasberg e a fazer networking, dentro dos possíveis na altura. Entretanto, conheci uma agente que acreditou em mim e me mandou o casting para um spinoff chamado NCIS Los Angeles. Fui passando as diversas fases de castings até chegar aos produtores da CBS e… correu bem! Vamos começar a 14ª temporada este ano e continuo com a mesma agente!

 

 

RA: Recentemente, à parte da sua carreira de atriz, tem também assinado a realização de alguns episódios da série. Como se tem sentido nesse papel?
DR: Sinto-me em casa neste papel. Foi uma paixão que surgiu com a oportunidade e não um sonho de longa data. Não fazia ideia que realizar seria para mim, mas junta tantas coisas que adoro – a colaboração, a criatividade, o problem solving, a construção de ideias, o trabalhar com actores, o contar histórias. Tudo começou quando me apercebi que o NCISLA seria o espaço mais seguro para experimentar esta nova vocação – rodeada de amigos e colegas em quem confio e que me apoiaram desde o primeiro momento.

RA: Disse numa outra entrevista que ganhar um Óscar já não é uma meta, como era quando começou a sua vida artística. Sendo assim, qual é hoje o seu objetivo profissional?
DR: Qualquer prémio seria bem-vindo! MAS, o mais importante hoje em dia é a longevidade profissional. Quero poder continuar a fazer aquilo que adoro durante muito tempo, e que os meus filhos vejam que trabalhar pode ser um prazer e não uma constante obrigação.

RA: A par da representação e agora realização, a Daniela tem também o lado de apresentadora de grandes eventos. Em Portugal coapresentou o Festival da Eurovisão e todos os anos a vimos num dos momentos de maior audiência televisiva Super Bowl Greatest Commercials, agora vai apresentar a Gala dos International Portuguese Music Awards. Que significado tem, para si, apresentar uma gala onde se celebra a música portuguesa?
DR: Fico tão feliz por participar no IPMA e de celebrar a nossa música portuguesa. O Paulo Gonzo, por exemplo cantou o tema Jardins Proibidos, na minha primeira novela, com o mesmo nome, e isso traz-me tanta nostalgia. Acho que vai ser uma noite lindíssima cheia de energia e amor pela nossa música “Tuga”.

 

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Créditos © Bruno Jorge/Turbilhão Magazine

 

RA: A Daniela Ruah tem mostrado nas suas páginas de redes sociais ser uma mulher preocupada e atenta em relação ao que se passa no país onde vive, no seu país de onde é natural e no resto do mundo. Sente que faz parte da sua missão como figura pública ter este lado de “ativista social”?
DR: As redes sociais tornaram-se uma plataforma para o bem e o mal. Tento ao máximo ser activista de uma forma positiva, sem tentar agredir aqueles com opiniões diferentes, e apoiando causas que me são importantes. Mas não sinto que seja uma “missão”.

RA: Apesar da fama, do sucesso, a Daniela Ruah parece ser uma mulher que não se deixa inebriar e continua a ser uma pessoa que tem uma vida “normal”. Como lida com a popularidade e o que a faz manter os pés bem assentes na terra?
DR: Creio que ter uma vida “normal” é mais comum do que se pensa. Sei que tenho muita sorte em poder fazer aquilo que mais gosto, mas ainda mais sorte em ser mãe e mulher do David. Agradeço muito a dedicação dos fãs e se inspiro alguém de uma forma positiva, fico de coração cheio. Sem os fãs, o meu tentar não existe e não me esqueço nunca disso. Mas quando me olho ao espelho, sou só eu. A miúda reguila, cheia de energia que adora a vida.

Madalena Balça

MDC Media Group

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