Helen Filipe
Entrevistas

Helen Filipe

helen filipe - Revista Amar

 

Helen Filipe, casada e mãe de 2 filhos, nasceu nas Caldas da Rainha, Portugal, há 52 anos, mas os pais são da Atouguia da Baleia, uma freguesia do município de Peniche. Em 1974 chegou a Toronto com apenas 4 anos acompanhada pelos pais que, como tantas outras famílias, procuravam uma vida melhor. A sua a infância e juventude ficaram marcadas pelas várias relocalizações entre Portugal e o Canadá, considerando ambos países a sua “casa”.

“Portuguesa de raiz”, Helen soube desde muito cedo que queria ter um curso superior e frequentou e formou-se na Universidade de Toronto, com bacharelato em Ética, Sociedade e Direito, tirando mais tarde o mestrado em Educação. Trabalhou em algumas das principais universidades do Canadá, incluindo a Universidade de Toronto, em ambos os campus: St. George e Mississauga; Humber College; University of Guelph-Humber; Central Michigan University (EUA). Também trabalhou em projetos com o Ministério da Educação e Treino, Cidadania e Imigração, e Desenvolvimento de Recursos Humanos do Canadá.

Através da família, fez voluntariado em várias associações e clubes, tais como: o Peniche Community Club de Toronto, a Federação de Estudantes Luso-Canadianos, o Congresso Luso-Canadiano, a Portuguese Canadian Coalition for Better Education e o Abrigo Centre.

Em 2020, fundou a Azul, Education Services com o intuito de pôr em prática a experiência profissional que adquiriu, ao longo de 25 anos de carreira como professora e educadora, para ajudar jovens estudantes.
Foi distinguida pela cidade de Mississauga pela “Liderança Comunitária” e agraciada com o prémio “Women of Inspiration – Raising the Bar” 2021 pela Universal Women’s Network, em 2021.

Em junho de 2022, foi distinguida pelo jornal Milénio como “Influenciadora” por Exemplo da comunidade portuguesa e eleita presidente da Federação de Empresário e Profissionais Luso-Canadianos. Razões mais do que suficientes para conversarmos com uma mulher que se tem dedicado, ao longo da sua vida profissional ao ensino, à Educação e ao voluntariado.

Revista Amar: Para quem ainda não conhece a Helen, conte-nos um pouco de si.
Helen Filipe: Eu nasci nas Caldas da Rainha, mas os meus pais são da Atouguia da Baleia, que fica a uns 2 quilómetros de Peniche. Quando tinha 4 anos, os meus pais imigraram para cá e, a partir daí, começou um cá e lá. Os meus pais queriam uma vida melhor para eles e para mim. Depois as coisas começaram a mudar… eles não tinham a intenção de estar cá para sempre. A intenção seria de voltar a Portugal. Acabámos por ir e vir 4 vezes e o regresso a Portugal mais difícil, foi quando eu tinha 13 anos e o regresso ao Canadá quando tinha 17 anos. Portanto, tinha estado cá até aos 12 anos e mudar naquela fase da adolescência, deixar os amigos foi muito difícil, mas acabei por adorar, porque passei a escola secundária lá e fiz amigos para sempre. Sou muito grata porque, apesar de não falar todos os dias em português, foi aquela época que me deu a formação. Aos 17 anos, umas semanas antes de fazer 18 anos, regressámos de novo para cá com as minhas 2 irmãs mais novas. Essa fase também foi difícil, porque em Portugal já tinha planos para estudar Relações Internacionais em Coimbra, mas é como tudo na vida e apesar de todos os planos, temos de estar prontos para tudo… então, fiz cá o último ano da escola secundária e entrei na Universidade de Toronto e assim que completei o meu bacharelato em Ética, Sociedade e Direito que é um programa interdisciplinar (…), comecei logo a trabalhar na Universidade, porque já tinha feito voluntariado como estudante e foi aí, durante esse tempo de voluntariado na Federação de Estudantes, que conheci o Alex, o meu marido. Tirei o meu mestrado em Educação e isso era muito importante para mim. E, hoje, vejo a importância que a Educação tem tido na minha vida e é esse facto que me leva a ajudar os estudantes. O Alex e eu estamos casados há quase 25 anos e temos 2 filhos e adoro a vida que tenho aqui… mas, tenho saudades de “casa”, de Portugal

RA: “Casa” é em Portugal?
HF: É. Eu continuo a dizer que Portugal é “casa” porque nasci lá e onde comecei tudo, mas também existe a “casa” onde fazemos a nossa vida… o Canadá também é “casa”! Faz de conta que tenho 2 casas. (riso)

RA: Que relação tem com Portugal?
HF: Sou portuguesa de raiz… nasci e tive uma vida de imigrante desde criança e é-me impossível fazer qualquer coisa sem pensar em português. O meu marido e eu, no princípio da nossa relação, demos conta que tínhamos em comum ao fim de ver um filme, esperar para ver os nomes dos artistas e atores para ver se havia nomes portugueses (risos) e durante muito tempo eu contei em português na minha cabeça. Portugal nunca sai de uma pessoa e até tenho amigos que foram lá de visita e dizem o mesmo… quanto mais, quando se tem lá as raízes, a família e amigos de uma vida.

RA: Costuma ir de férias?
HF: Sim e quando os meus pais emigraram para cá acho que o meu pai fez uma promessa, a si próprio, de que não ia passar mais de 1 ano sem voltar, claro que isso era o plano… mas fomos ano sim, ano não e passávamos as férias com as minhas tias e com os meus avós. E, quando casámos, tanto o meu marido como eu, dissemos a mesma coisa – que íamos fazer de tudo para que sempre que houvesse espaço para nós dois, que iriamos e quando tivemos crianças foi a mesma coisa. Os meus sogros são de São Miguel e até já tivemos umas férias mais prolongadas, porque quisemos que as crianças passassem duas semanas nos Açores e depois duas semanas a percorrer o continente. Com a pandemia foi difícil e a última vez que fomos foi 2019… e eu devia estar contente, mas estou ansiosa para ir outra vez.

RA: E os seus filhos, que relação têm com a língua portuguesa e Portugal?
HF: Quando se tem pais que adoram Portugal e que têm lá avós e tias, foi importante para nós que eles tivessem orgulho em ser portugueses… falar português já é um bocadinho mais difícil, mas o facto de os levar de férias no verão, uma vez até foi em março, ficaram com as bases e agora que já são mais velhos, a minha filha tem 22 anos , como adulta procura aprender mais português e para descobrir mais sobre Portugal vai de férias para lá. Ela agora acabou o curso e vai lá passar uns tempos com uma amiga daqui para lhe mostrar Portugal.

RA: Com raízes portuguesas bem vincadas, como é que se tem envolvido com a comunidade?
HF: Cresci sempre com a ideia de que o que se faz na vida, também se faz pela comunidade, entende? Quando voltei aos 17 anos, pensei que seria fácil em termos de educação, mas não foi e a razão disso foi que ao vir para cá, vi que a comunidade portuguesa tinha qualquer preconceito, em relação às escolas superiores. Isso para mim foi uma coisa muito estranha, porque onde vivíamos e morávamos em Portugal, desde os 16 ou 17 anos que eu já tinha planos e estava desejosa para sair de casa para ir para Coimbra. Então, envolvi-me imediatamente na comunidade para perceber quais eram as razões. Fiz voluntariado na universidade com as associações de estudante e mesmo depois da minha graduação. Também havia umas organizações humanitárias que estavam mesmo a olhar para esse assunto – qual a razão para que as famílias, nem todas, não estarem a encorajar os filhos a ir para a escola superior – e, o que constatámos é que havia 1001 razões, mas a razão maior era falta de conhecimento de que havia tantas possibilidades. O meu envolvimento também foi na Federação de Estudantes Luso-Canadianos, no Congresso Nacional Luso-Canadiano, entre outras e quero continuar integrada na comunidade portuguesa.

 

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RA: Qual foi o seu percurso profissional, até fundar Azul, Education Services?
HF: Eu trabalhei na Universidade de Toronto, Humber College, University of Guelph-Humber e em outras faculdades, durante quase 25 anos e como fiz o meu mestrado em Educação, o meu coração está com a juventude, com a Educação. A minha carreira inteira tem sido dedicada à Educação. Tive a sorte de, logo depois de ter acabado a Universidade de Toronto, de me terem oferecido lá um trabalho e onde trabalhei durante quase 20 anos onde desempenhei muitas funções… aos 25 anos, era como administradora, dava aulas, com o objetivo de juntar isso tudo e de trabalhar com a juventude e ajudá-los – não só em termos académicos, mas também nas suas vidas pessoais. Ajudava-os desde do primeiro ano até à pós-graduação e até nos doutoramentos. Porém, eu sentia sempre que estava a trabalhar com os estudantes que tinham um certo privilégio e que por isso podiam ir para escola superior. No entanto, o que eu fazia fora das minhas horas de trabalho era ajudar aqueles alunos que me geravam alguma preocupação de que não iam chegar “lá”. Em 2020 comecei a pensar muito no que se estava a passar, porque muitos amigos e colegas estavam a perder os seus trabalhos e até com o que estava a acontecer com os meus próprios filhos… e foi nessa altura que comecei a pensar no que me ia dar valor, porque era a minha conquista dos 50. O que é que eu ia mudar na minha vida? E senti uma vontade de começar uma companhia, dedicada à Educação, mas a trabalhar com os alunos mais novos, porque acredito que é na faixa etária mais nova, que se formam as ideias do que querem ser, do que não podem ser, etc. A Azul surgiu depois de eu fazer uma retrospetiva da minha vida, de pensar onde é que eu queria dedicar o meu tempo, o meu trabalho e também fazer um impacto em algo que eatava mais perto do meu coração… não que o meu trabalho antes não o tinha sido, mas era a oportunidade de fazer com as minhas próprias filosofias de Educação e contratar colaboradores com a mentalidade similar à minha, de ajudar estudantes. A Azul, Education Services surgiu para que eu pudesse ajudar mais, porque agora também já tinha o conhecimento – não só nas escolas onde tinha trabalhado, mas tinha também a noção de outras escolas do Canadá inteiro.

RA: E a que se dedica?
HF: A Azul, ajuda com o encaminhamento de carreiras profissionais, o que tenho estado a tentar fazer é visitas às escolas e falar de oportunidades, para o pós-9.º e 10.º ano. Uma das coisas que eu queria desde do princípio era formar mentores – jovens (um pouco mais velhos) – para os alunos, porque para mim não era só sobre o que eles iam ouvir de mim, mas também o que iam ouvir de outros jovens (…). Na equipa da Azul, também temos explicadores, pessoas que ajudam em várias áreas. O objetivo era de começar uma companhia onde eu poderia ajudar, especialmente a juventude, durante uma pandemia, numa altura em que muitos estudantes estavam a perder a esperança… e os pais também.

RA: E porque lhe chamou Azul?
HF: Para mim, Azul é infinito, é a cor do céu e a cor do mar. Azul é uma palavra portuguesa muito importante para mim, para além de ser a minha cor preferida.

RA: Hoje em dia, quais são os maiores obstáculos que os jovens têm que ultrapassar para conseguir seguir com os estudos?
HF: Os obstáculos são muitos e em todas as idades, mas acho que quem estava a perder mais eram os jovens entre os 16 e os 24 anos, porque é aquela altura em que se deve sonhar, se deve formar a sua própria independência, de decidir do que se gosta fazer e com a pandemia as aulas e o convívio com os colegas passaram a ser online… o que eles perderam com a pandemia vai além do que não aprenderam nas aulas, eles também perderam a sua vida social. Comecei a observar um desespero entre os estudantes da Universidade de Toronto, por causa da duvida se conseguiam arranjar um emprego ou não… e nestas idades, o grupo de amigos é a coisa mais importante e foi a primeira coisa que lhes foi tirada, pois não podiam estar com os seus colegas, não podiam sair, não podiam fazer nada. Nessa altura, eu estava a dar aulas online e, apesar de ser tudo por Zoom, para mim foi muito importante que tivéssemos um tempo aberto, onde pudéssemos falar de tudo, porque para mim a escola, nessa altura, tinha também que ensinar os jovens como lidar com a vida e não só as coisas académicas, pois tudo mudou num instante e ninguém sabia o que fazer.

RA: E a pandemia, ao fim ao cabo, até mudou a maneira de estudar?
HF: Sim. Nos últimos 10 anos, tenho trabalhado com alunos de ciências e durante a pandemia não houve acesso a laboratórios para fazer as coisas que são essências para aprender com os químicos como fazer experiências… e isso foi muito difícil! Nós sabemos todos que os estudos mostram que se pode aprender online, mas há muita coisa que se perde. Depois, uma coisa é quando se decide estudar online, outra é, de repente, ser-se forçado a fazer uma aprendizagem completamente diferente, uma interação diferente com os professores, com os colegas e isso tudo mudou.

RA: Qual é o maior conselho que tem para jovens estudantes?
HF: Mantenham-se curiosos… uma das coisas que tenho visto é que todos nós em criança, somos curiosos e queremos saber coisas novas e perguntamos o porquê disto e daquilo. Quando ficamos mais velhos ou por natureza ou porque alguém nos diz que algo não vai funcionar, essa curiosidade, esse interesse de aprender e saber mais começa a diminuir. Porém, tem que se tentar manter a curiosidade que se tem aos 4 ou 5 anos, ou seja, manter aquela curiosidade de saber coisas novas, sítios novos, porque é isso que quase abre as janelas para os jovens quererem saber mais. Quando deixa de existir aquele infinito, aquelas possibilidades é quando começam a pensar que não há mais nada e só resta ir trabalhar, mas trabalhar também é aprender e temos que estar sempre a aprender.

RA: Em junho foi distinguida pelo Milénio Stadium como uma “Influenciadora” por Exemplo… não só pelo seu trabalho na comunidade portuguesa, mas também a comunidade em geral. O que significou para si essa distinção?
HF: Primeiro fiquei muito surpresa porque não estava à espera. Eu costumo ver o jornal online e um colega tinha dito que estava como um dos influenciadores no Milénio e estava surpreso e fui ver essa pessoa e depois comecei a ver os outros escolhidos e vi a minha foto… (risos)… fiquei bastante honrada. Já no ano passado tinha tido uma surpresa enorme, ao ganhar um prémio que também não estava à espera… mas esta surpresa foi maior, porque agora era da comunidade portuguesa! Depois comecei a olhar e a perguntar-me quem me tinha feito isto, chamar-me uma pessoa influenciadora… eu não me considero uma influenciadora, considero-me uma dinamizadora, portanto, uma pessoa que tenta fazer impacto, mas sem ter aquele nome de influenciadora. Ver nas páginas do jornal, em português e depois mostrar aos meus pais – foi um orgulho enorme! Fiquei sem palavras porque não sabia de onde tinha vindo isso, mas ao mesmo tempo fiquei tão orgulhosa… mas sim, porque não? (… risos) e era uma fotografia enorme (risos) e ri, e depois telefonei aos meus pais e eles foram logo à padaria buscar vários jornais, porque eu não tinha ainda visto em papel. Depois, quando vi, aconteceram 2 coisas: fiquei ainda orgulhosa, mas também comecei a pensar “agora tenho que fazer ainda mais, porque se alguém decidiu pôr-me nesta lista tem que haver mais que eu possa fazer”… e há muito mais coisas que quero fazer.

RA: A comunidade jovem portuguesa tem, segundo as estatísticas e dentro dos grupos étnicos, um dos maiores números de abandono escolar. A quê é, que acha, que se deve isso?
HF: Quando voltei para o Canadá, eu vim fazer o 12.º ano e já tinha em mente que queria ir para a escola superior e continuar os meus estudos, mas fiquei com a língua inglesa como a minha segunda língua, porque tinha feito a escola secundária em português e automaticamente não podia tirar as aulas regulares para alcançar a escola superior… e fiquei muito chateada com isso. E quanto mais me envolvia na comunidade, mas eu via que as estatísticas estavam ultrapassadas, isso era mais nos anos 90. Então, eu e a minha colega Catherine, fomos todos os sábados à noite aos clubes… às vezes 5 clubes, porque estávamos a fazer uma petição para enviar para o Toronto District School Board e para o governo Provincial, queríamos saber porque tinham saído essas estáticas onde duas comunidades, uma delas a portuguesa, estavam rotuladas como comunidades sem futuro e esperança em alcançar estudos superiores. Ao ir aos clubes por causa da petição, aprendi muito… tive uma aprendizagem profunda e alcançámos 2 mil assinaturas e ninguém dizia que não queriam que os filhos fossem para a escola. Então, só queríamos tentar perceber qual era a razão para as estatísticas refletirem o contrário, mas os pais não davam nenhuma razão. A surpresa é que estamos em 2022 e estas estatísticas continuam as mesmas e continuo a pensar qual será a razão e vou ter que voltar ao passado, ao meu tempo de voluntariado quando tinha vinte e tal anos… ou seja, aos cinquenta e tal vou voltar às minhas raízes e fazer voluntariado é a minha missão para fazer a diferença, porque se ainda existe um número elevado de alunos a não completar a escola secundária, onde é que eles estão? Ou o que é que está a acontecer? (…) Olho para a minha própria experiência e lembro-me de chegar e irmos viver na Brook Ave. e Dundas St., portanto, na comunidade portuguesa e havia aquela noção de que muito poucos portugueses – os pais – tinham estudos e isso era verdade, mas não era um estereotipo, não eram todos e também não significava que por os pais não terem Educação, que não a queriam para os filhos. Fico sem palavras, porque me incomoda saber que, hoje, uma comunidade com pessoas bem-sucedidas e que alcançaram muitas coisas tem esta nuvem de que os jovens portugueses não querem saber da escola e…

RA: … é algo que vamos, a comunidade toda, ter que lutar contra…
HF: … sim, sim! E vou voltar à “influenciadora”, porque depois de ter ficar em choque por 1 dia, pensei num impulso que tenho que fazer mais, porque mesmo que exista abandono escolar, não deveria de continuar a existir. Há tantos grupos, tantas pessoas que não gostam nada dessa definição da nossa comunidade e que podem fazer a diferença e podemo-nos juntar e não pode ser só os pais ou a escola, tem que ser uma coisa comunitária.

 

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Créditos © Mariane Azeredo

 

RA: Agora sim, vamos falar sobre a sua eleição a presidente da Federação de Empresário e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP)… como é que se deu a nomeação?
HF: Eu já era membro porque quando comecei a minha empresa um dos diretores tinha entrado em contato comigo para me inscrever. Para mim, ser membro da federação significou voltar de novo à comunidade portuguesa e porque quando eu tinha 20 e tal anos e andava na escola, para mim, a FPCBP era um sonho, era uma instituição que tinha criado bolsas de estudo e tinham feito muitas coisas. No entanto, devido à minha família e à minha carreira tinha-me distanciado um pouco da comunidade e estava na altura de voltar. Acontece que, ao juntar-me à FPCBP, nunca pensei em ser presidente, era só para estar na comunidade e fazer networking. E naquela semana aconteceu tudo… a nomeação foi uma semana depois de ter sido indicada como influenciadora no jornal (…). Eu já tinha sido premiada com a Women of Inspiration e tinha muito orgulho disso. E, agora, era a comunidade portuguesa a puxar-me ao dizer que “aqui também és uma influenciadora” e uma semana e meia depois há esta reunião para o qual fui convidada a assistir e fui nomeada para ser uma diretora e nada mais e pensei “vou ajudar”. A nomeação para presidente, não estava à espera, tanto que quando fui nomeada eu disse que não imediatamente, porque achava que deveria ser um membro que estivesse com a FPCBP há mais anos. Mas ao rever a minha empresa e ver que muitos dos líderes da comunidade continuam a ser parecidos com os de há 20 anos, então pensei, “não são identidades novas, são pessoas que conheço e agora também já aprendi algumas coisas e quero trabalhar com eles”. E fiquei surpresa até porque pensava que já havia alguém que ia ser presidente, mas depois fiquei a saber que não há muitas pessoas que gostam de ser presidentes, (risos) porque dá muito trabalho, são muitas decisões e muitas horas de dedicação, mas qualquer coisa passou por mim e pensei “eu estou pronto para isto!”. Vou ter que ter muita ajuda de ex-presidentes, mentores e outros… mas no meu coração, eu queria, realmente, assumir o cargo e foi tudo muito, muito rápido, desde que comecei a empresa à qual eu me queria dedicar e também ajudar a comunidade, porque eu tenho os meus serviços que são pagos, mas também tenho serviços de voluntariado, que estão incluídos desde que fiz o meu “business plan”. (…) Mas agora é altura de fazer coisas incríveis pela comunidade portuguesa. Continuo a pensar como é que eu cheguei aqui… como é que fui considerada uma influenciadora e para mim há qualquer coisa por aí… mas é uma mensagem forte, uma mensagem que aceito e é uma mensagem com a qual quero fazer a diferença.

RA: É presidente apenas há 2 meses e, obviamente, ainda não houve tempo para dar início ao trabalho. Porém, do que conhece da FPCBP, o que gostaria de mudar?
HF: Não é tanto mudar. A FPCBP já fez muita, muita coisa ao longo dos anos e, para mim, uma das coisas que é de rever é o que foi bom, refletir no que realmente funcionou ou não, para depois ir em frente. Gostava de ir em uma direção completamente nova, mais diversa, com homens e mulheres, com pessoas de diferentes idades, de sítios diferentes, etc. e penso que não podemos esperar (…) porque 1 ano passa num instante. Estou muito animada porque estamos muitos na mesma página, estamos muitos a pensar a mesma coisa e não queremos mudar muito. O que queremos é que haja mais envolvimento porque há pessoas que conhecem a FPCBP, mas também ainda há muitas pessoas que não conhecem e ao termos uma direção tão diversa, podemos encorajar outros a ajudar. Penso que, nos últimos 25 anos, aconteceram coisas boas e coisas que aprendemos e agora é altura de eu, como presidente, e também da direção inteira de vermos o que há de bom e de ir para frente com isso, para não passarmos tempo a debater com o que não aconteceu e o que a gente deveria ter feito. Para começar já, a estratégia é formar comités e de ter alguma coisa todos os meses. A pergunta era sobre o que eu gostaria de mudar, e a resposta é que haja mais envolvimento, mais participação dos membros, dar mais valor aos membros e também dar mais valor à comunidade, porque ao se reunir pessoas que pensam o mesmo e a colaborar… alcança-se muito mais! Juntos podemos ver quais são as “melhores práticas” para os profissionais, a comunidade e os estudantes. Tenho confiança que a minha experiência como professora e educadora, vai ajudar quando houver muitas opiniões diversas e para que possamos chegar a uma conclusão que seja amigável e que seja uma solução em vez de um problema.

 

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RA: No mês de julho, houve uma assembleia da direção… quais foram os objetivos a que se propuseram?
HF: Vamos já regaçar as mangas e pôr as mãos à obra, porque não quero esperar até setembro. Queremos já preencher o calendário. Está certo, que sou uma sonhadora (risos), mas eu disse logo à direção que gosto de ver para além, apesar de ser uma sonhadora e, talvez não vá conseguir fazer tudo, mas disse que queria ouvir as opiniões de todos. Para mim, ser presidente é ser motivadora para que as coisas se concretizem. Queremos ter um networking entre empresários experientes e de sucesso e novos empresários, porque existem muitos novos empresários portugueses.

RA: E todos só têm a ganhar com a troca de ideias…
HF: … exatamente. Também todos concordámos, que vai ser um desafio 12 pessoas concordarem sempre em tudo. Outro desafio é que a direção não é feita por 2 pessoas, o presidente e o vice-presidente, mas por 12 pessoas. Para mim, para uma direção poder evoluir e ganhar força, tem que colaborar com os outros clubes e colaborar com pessoas de outras áreas. Desta forma, o sonho começa a se concretizar, porque não seremos poucas pessoas. Estamos todos contentes, porque a direção tem representantes de diferentes áreas e vou encorajar todas essas ideias da direção (…).

RA: Qual vai ser o primeiro evento ou iniciativa da FPCBP e para quando?
HF: Em setembro já vamos ter o nosso torneio de golfe, que já era costume na nossa comunidade.

RA: Como sabe a Magellan Community Charities está a passos largos de ser uma realidade, mas para tal precisa da ajuda de todos nós. A FPCBP vai fazer algo como, por exemplo, um evento de angariação de fundos para ajudar?
HF: Ainda não tivemos tempo para falar sobre isso, mas uma das coisas que vi é que há uma força de vontade de fazer uma coisa maior pela Magellan e a Magellan é realmente isso… uma coisa maior, até porque me lembro como há uns anos se falava em se fazer coisas diferentes, como um lar para os nossos seniores ou campo de férias e tantas outras, mas agora, chegar ao ponto que chegámos, já há a esperança de termos um edifício próprio e de ter serviços. (…) A FPCBP tem que dar essa ajuda, porque para mim a FPCBP é para ajudar todos e nós todos temos que nos ajudar uns aos outros, porque quando eu digo “nós” quero dizer organizações, empresários, associações… a comunidade é rica em muitas coisas, mas uma das coisas que falámos muito, em julho, foi que temos que fazer mais em conjunto… mais colaboração. A Magellan já tem a força, já está a andar para a frente, porque não dar uma mão?

RA: Até porque é para todos nós.
HF: Pois e os jovens também vão envelhecer um dia. (risos)

RA: A FPCBP tem desempenhado um papel relevante, através de concursos e bolsas, na vida dos estudantes. De que forma pretende reforçar este papel da FPCBP?
HF: A FPCBP tem esse objetivo desde do início e vai continuar a ter porque, pessoalmente e para a direção existem coisas que são pilares na comunidade e as bolsas de estudo foram criadas há muitos anos e têm que continuar e também vimos, e não há dúvidas, o impacto que têm. Uma das coisas que queremos fazer é encontrar as pessoas que ganharam bolsas no passado para saber onde estão profissionalmente e para darem visibilidade ao acesso a essas bolsas de estudo nos diferentes clubes e associações. Falámos muito sobre esta coisa tão boa que a FPCBP tem e que tem ajudado bastante, mas nós concordámos que nem toda a gente sabe sobre as bolsas e divulgar as bolsas de estudo é um dos objetivos da nossa estratégia deste ano… quer nas redes sociais, mas também ir aos clubes e associações (…), estamos a fazer coisas boas, mas têm que ser espalhadas pela comunidade e não só numa área específica.

 

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RA: Gostaria de a convidar a deixar uma mensagem aos nossos leitores.
HF: Há muitas coisas que eu gostaria de dizer, mas se tivesse que escolher uma coisa, seria que: como uma pessoa que nasceu em Portugal ou como os meus filhos que já nasceram aqui, no Canadá ou os luso-descendentes que nasceram pelo o mundo, sinto que perdemos muito tempo a procurar quais são as nossas diferenças e, no entanto, somos todos iguais. Todos nós queremos o bem dos nossos filhos, que os nossos pais sejam bem cuidados… é, pelo menos, a minha opinião! O que gostaria de dizer à comunidade é que temos que conversar mais. Por exemplo, como presidente da FPCBP, planeio convidar os ex-presidentes para conversar, seja em pessoa ou pela internet, porque se não houver esse contato, perde-se muita informação, perde-se muita experiência. Uma das coisas que notei é que para a nossa comunidade avançar, tem que haver transferência e partilha de conhecimento… a comunidade trabalha arduamente em diferentes setores, mas não podemos só fazer e depois ir embora. Eu encorajo que a comunidade seja recetiva e abrace qualquer pessoa que queira ajudar e que também convide pessoas, porque isso é mais do que ser português, é ser uma boa pessoa e a nossa comunidade está cheia de boas pessoas, só temos que nos unir, pois vamos conseguir fazer coisas incríveis.

 

 

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