IPMA cada vez mais perto de si
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IPMA cada vez mais perto de si

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Créditos: Carmo Monteiro

 

… no futuro, consigo “ver” o espetáculo em várias cidades…

 

Os IPMA (International Portuguese Music Awards) nasceram com o objetivo de celebrar e homenagear os artistas luso-descendentes e portugueses espalhados pelo mundo. David Saraiva e José Xavier (mais conhecido por Zack), são dois dos cofundadores e produtores que continuam a impulsionar o projeto que se formou depois de dois eventos de beneficência.

Sobre a pandemia, para os cofundadores, nem tudo foi negativo e segundo David Saraiva até trouxe coisas positivas “porque (…) possibilitou um “intervalo” para que pudéssemos autoavaliar-nos…”. A reorganização forçada resultou em dois espetáculos virtuais – 2020 e 2021, respetivamente.

2021 marca a formalização da parceria entre os IPMA e a Camões Entertainment. Entre outros, esta ligação tem como objetivo chegar a mais artistas e a outras cidades, incluindo Toronto.

No dia 23 de abril de 2022 celebra-se o 10º. Aniversário dos IPMA, que vão realizar-se no The Providence Performing Arts Center em Providence (PPAC), Estados Unidos da América.

Revista Amar: O David e o José, são cofundadores do já conhecido International Portuguese Music Awards (IPMA). Apesar dos prémios já serem conhecidos entre os luso-canadianos, pouco sabemos dos organizadores… então, quem são o David Saraiva e o José Xavier?
David Saraiva: Sou filho de emigrantes portugueses da Beira Alta, mas nasci nos Estados Unidos da América. Vivi em Rhode Island até recentemente, mas mudei-me com a minha família para Tampa, em Miami. Sou casado e tenho dois filhos. Sou Técnico de Informática, mas a música é a minha paixão e comecei aos 10 anos. Toco na banda do Jorge Ferreira há cerca de 17 anos. E foi por estar sempre envolvido na comunidade portuguesa e nos eventos portugueses ao longo dos anos, que cheguei aqui.
José Xavier: Sou mais conhecido por Zack. Nasci em Massachussets, nos Estados Unidos da América. Os meus pais são da ilha das Flores, Açores. Sou casado e pai de uma menina e dois meninos. Sou Engenheiro Civil. Como o David, também comecei muito novinho na música… tinha 5 ou 6 anos quando comecei a aprender teclado. Toquei em várias bandas e viajei à volta do mundo. Estou com a banda Eratoxica há 20 anos e já tocámos em Toronto.

RA: Há quantos anos é que se conhecem?
JX: Já somos amigos há pelo menos 25 anos.

RA: Como é que nasceram os IPMA?
DS: De facto, é uma boa pergunta. Os IPMA nasceram com 4 membros cofundadores (o Zack, o Floriano Cabral, Gary Sebastião e eu), mas antes disso trabalhámos em 2 concertos de beneficência – em 2005 para as vítimas do furacão Katrina e em 2010 para as vítimas do terramoto no Haiti, que foram transmitidos na televisão ao vivo. Como correu bem, o Floriano juntou-nos e falou que tinha uma ideia (IPMA) e, como tínhamos alguma experiência, historial, dávamo-nos bem e cada um de nós com um estilo próprio porque não tentar? E foi assim que começou!
JX: Começámos os IPMA há cerca de 9 anos… tem sido uma paixão! Fomos melhorando a qualidade dos IPMA, desde o primeiro evento. É importante estarmos sempre a reorganizar e rever os detalhes para melhorar.

RA: E tiveram algumas dificuldades?
DS: Nós desde o início sempre tivemos uma equipa incrível, com mais de 100 pessoas e trabalhamos juntos há tantos anos, que já somos como uma família! Dificuldades? Como em tudo que comece… não se sabe se vai ser bem-sucedido, se vai ter inscrições, se vai atrair o público – é um tiro no escuro, porque não sabemos o que vai acontecer. E depois, como é óbvio, há o aspeto financeiro o projeto tinha que poder sobreviver.
JX: O financiamento é, basicamente, feito por patrocínios e a venda de bilhetes. Nos últimos 7 a 8 anos temos esgotado o Zeiterion Theater em New Bedford. Todos os anos temos 5 a 6 novos patrocinadores e os patrocínios têm aumentado, quer seja patrocínio Gold ou mais elevado. Tem resultado todos os anos e nunca estivemos numa posição em que não podíamos continuar. O nosso compromisso com os artistas começa com muitos meses de antecedência sem termos o financiamento necessário para concretizar o quer que seja, mas no fim tudo acaba por acontecer.
DS: O segredo é agradecer a boa comunidade que temos, por ser como é e pelo apoio. Quando conseguimos 90 patrocinadores, isso diz-nos que eles valorizam e querem que os IPMA sobrevivam e continuem.

RA: É prova que acreditam no projeto…
DS: … sim.

RA: E quando é que assumiram a produção dos IPMA sozinhos?
DS: Em 2019.

RA: Na época, foi fácil selecionar as várias categorias (Music Video of the Year, Instrumental, World Music, Traditional, Fado, Dance, Rap/Hip-Hop, Rock, Pop, Música Popular e Song of the Year)?
DS: No início nada foi fácil e nós nem sabíamos, na época, o que ia acontecer. Vimos o que outros eventos deste género faziam e escolhemos os géneros musicais principais, tanto que o Music Video of the Year foi adicionado alguns anos mais tarde.
JX: No fundo está na linha dos concursos tradicionais por categorias, só generalizamos um pouco. Temos aquela categoria especial para os portugueses – Música Popular – que foge ao padrão, mas que obviamente resulta muito bem aqui. Para além desta, temos Fado que ainda é mais portuguesa do que as outras categorias… de resto, as outras são bastante comuns. Não se pode considerar que a seleção de categorias tenha sido terrivelmente difícil. Mudámos um pouco algumas coisas, contudo temos sido bastante consistentes ao longo do tempo, desde o primeiro ano.

 

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Créditos: Nelly Saraiva/IPMA

 

RA: Qual é a categoria que faz a diferença?
JX: É a People Choice Award, porque qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode votar. Houve um ano que tivemos pessoas a votar de 79 países. O número de países tem vindo a aumentar tremendamente.

RA: Foi fácil encontrar participantes?
JX: No primeiro ano até tivemos muitas candidaturas, o que nos surpreendeu e o número tem vindo a aumentar substancialmente todos os anos por causa das redes sociais, que leva os IPMA a toda parte do mundo.

RA: A seleção e as nomeações das canções por categoria e depois a canção vencedora em cada uma delas é feita por um júri fixo ou rotativo? E quem são?
DS: O júri é constituído por um painel de profissionais da indústria que nós admiramos e respeitamos. Nós decidimos manter o júri confidencial. Alguns membros do júri têm feito parte da maioria dos concursos e outros vêm e vão, depende porque é um compromisso que precisa de tempo na altura das avaliações. Agora, entre eles não sabem que fazem parte do mesmo júri… nós mantemos tudo muito confidencial.

RA: A língua de Camões é a 5ª. mais falada no mundo. Nunca pensaram ter uma categoria específica para canções só em português? Porque nas outras categorias as canções podem ser em qualquer língua desde que os compositores e cantores sejam portugueses ou luso-descendentes, certo?
DS: Certo e muito honestamente nunca pensámos nisso. Não é uma má ideia e nós gostamos de ideias novas… somos flexíveis (risos). Quem sabe no futuro? O que nos perguntam frequentemente é o oposto, ou seja, porque deixamos participar canções em diferentes línguas.

RA: E o que respondem?
DS: A resposta é simples… quando se começa uma coisa nova, não nos podemos limitar. Queremos ser abrangentes, queremos muitas inscrições, queremos toda gente, principalmente dos países que têm muitos imigrantes. O que quero dizer é que a imigração já parou há muito tempo, agora nesses países temos a 2ª. e a 3ª. geração que aos poucos está a perder a língua portuguesa, então temos que celebrar a herança – sê és português, não importa em que língua cantas. O que importa é que és um(a) cantor(a) e um(a) artista e é isso que vamos celebrar!

RA: Assim sendo, então porquê deixar músicos de Portugal participar? Não deveria ser então um concurso só para luso-descendentes ou imigrantes?
DS: Na realidade foi assim que começámos. No princípio não permitíamos inscrições de Portugal e era um regulamento…
JX: … nos primeiros 3 a 4 anos. Mas depois não quisemos nos limitar e pôr restrições porque há tanta música muito bem produzida em Portugal.

RA: É uma forma de divulgarem ao mundo o que se faz em Portugal?
DS: Sim. Se reparar para o nome dos nomeados, a maioria dos artistas nem são conhecidos. Nós estamos a promover jovem talento…
JX: … e não nos importa de donde vêm ou são, o que importa é que sejam portugueses e luso-descendentes!
DS: A quem damos uma plataforma e mostramos ao mundo que existe este talento todo por aí e não importa de onde são.

 

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José Xavier – Créditos: Carmo Monteiro

 

RA: Como veem a comunidade jovem luso-descendente de hoje no Norte da América? Eles ainda apreciam música cantada em português ou preferem tudo em inglês ou é-lhes indiferente?
DS: É assim, há um ou dois géneros musicais portugueses que são mais populares, por causa da imigração. Os pais quando deixaram a sua terra e chegaram ao novo país, dedicaram-se ao trabalho e trabalhavam arduamente e a tendência é escolherem música que fale da saudade ou das festas – que é a mais procurada. Porém, é só uma certa geração. Quando falas dos jovens é diferente e preocupamo-nos em mantê-la envolvida e interessada na música portuguesa! Nós temos que entrar nas diferentes faixas etárias e perceber o que eles querem ouvir e por isso integrámos estes géneros todos nas categorias. E é por isso que, também, já vieram de Portugal grandes nomes do Hip-Hop português ao nosso palco e porque queremos que o público também seja diverso.

RA: Como é que a pandemia afetou os IPMA?
DS: Afetou pela negativa e pela positiva. Pela negativa, porque já tínhamos tudo planeado para os IPMA 2020 e tivemos que cancelar, o que não foi bom para ninguém. Para quem vive da música, desde os músicos aos técnicos, foi muito mau. Pelo lado positivo, porque temos que procurar coisas positivas dentro de situações negativas, possibilitou um “intervalo” para que pudéssemos autoavaliar-nos – onde chegámos com os IPMA? Qual o caminho que queremos seguir? – Portanto, deu-nos tempo para pensar, fazer experiências, etc.. Contudo, fomos forçados a fazer o espetáculo virtualmente e é um campo novo para nós, mas aprendemos como fazer um melhor programa televisivo, porque no fundo o virtual não é mais que isso, sem ser ao vivo. Por isso acho que é bom para os IPMA. Também nos apercebemos que tínhamos que expandir e sair da área de origem. Essa é uma das razões por que estamos aqui, em Toronto e, porque precisávamos de ajuda de fora dos E.U.A. para deixar de ser tão centrado e o Canadá era obviamente onde poderíamos dar o primeiro passo para isso, por causa da população existente na comunidade portuguesa. Como sabes, são mais de 500,000 mil portugueses.

RA: A pandemia afetou o mundo avassaladoramente e trancou-nos em casa. Contudo estão a sair singles e álbuns muito bons, à escala mundial, criados durante o confinamento. A nível criativo acham que o confinamento foi, de certa forma positivo ou nem por isso?
DS: Não há como avaliar, mas estou disposto a apostar que foram escritas mais canções neste ano e meio do que em outro ano meio qualquer. Apesar de as pessoas estarem a escrever canções, a nossa preocupação era saber se estavam a gravá-las e a lançá-las porque só assim é que as podiam inscrever. Estávamos preocupados, porque não sabíamos se íamos ter inscrições como tínhamos habitualmente e ficámos agradavelmente surpreendidos quando recebemos muitas mais do que era habitual. O que prova que os compositores ainda estão por aí e a fazer o seu trabalho, como gravar e lançar música. Os artistas estão a encontrar formas para continuarem a crescer e sobreviver.

RA: Porque decidiram acrescentar a categoria Quarantine Performance nos prémios deste ano? Era importante integrar esta categoria?
JX: Por acaso até foi uma decisão óbvia e mais para encorajar os artistas a gravar em casa com os telemóveis, caso não pudessem gravar nos estúdios. Dar a estes artistas, que não podia trabalhar com profissionais, uma oportunidade de poderem inscrever as suas músicas. Sim, era importante.
DS: Quando ficámos confinados começámos a ver nas redes sociais vídeos feitos em casa a tornarem-se virais e quisemos transmitir isso aos artistas.

RA: 2021 marca a parceria com a Camões Entertainment Group. O que é que se pode esperar desta parceria? Que objetivos pretendem alcançar?
DS: Unir forças e chegar mais longe! Há coisas que fazemos bem, mas há mais pessoas a fazer outras coisas bem, então vamos juntar-nos e ajudar-nos mutuamente! É preciso tempo para nos conhecermos, mas penso que estamos num bom caminho. Como por exemplo, nós nunca tínhamos tido uma “Viewing Party” e hoje estamos a ter uma. Tudo é possível.

 

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David Saraiva – Créditos: Carmo Monteiro

 

RA: Para o ano celebram o 10º. Aniversário. Já têm data fixa e local para o evento?
JX: Sim, está marcado para o dia 23 de abril de 2022. Como o Zeiterion Theater só tem 1,220 lugares, vamos mudar de localidade, mais concretamente para o coração da capital de Rhode Island que é Providence e escolhemos o PPAC (The Providence Performing Arts Center) porque tem capacidade para 3,000 pessoas. Já há muito que queríamos dar este salto e o 10º. Aniversário é a altura certa para o fazer. Penso que levar os IPMA para Providence é mais uma etapa alcançada… melhores condições, melhores hotéis e restaurantes e a sala também é muito melhor.

RA: A Gala já vai poder ser presencial?
JX: Sim.

RA: Podem desvendar um pouco do que podemos esperar?
DS: Posso adiantar que não vai ser só entrega de prémios porque vamos também homenagear alguma parte da história dos IPMA… estamos muito entusiasmados com o que estamos a preparar.

RA: Todas as Galas são especiais, mas celebrar uma década de música portuguesa e luso-descendente é um marco histórico. Haverá alguma surpresa ou surpresas?
DS: Claro que vamos ter surpresas, mas para já não vamos revelar porque estamos a finalizar os pormenores…
JX: … e na Festa de Apresentação, que se vai realizar já no dia 20 de novembro em Providence, vamos anunciar o que estamos a preparar.

RA: Através desta parceria com a Camões Entertainment Group, há a pretensão de trazer os IPMA até ao Canadá?
DS: Por causa do Covid-19 não tínhamos locais para fazer o espetáculo e forçou-nos a fazê-lo virtualmente, que automaticamente é como se tivéssemos relocalizado o evento e, portanto, a partir daqui podemos realizar os IPMA em qualquer parte. Se já falámos sobre essa hipótese? Sim. Para já, no próximo ano vai ser em Providence e no ano a seguir ainda não sabemos. Contudo, no futuro, consigo “ver” o espetáculo em várias cidades…

RA: … cidades onde a diáspora portuguesa está representada?
DS: É possível. Teremos que começar onde haja uma comunidade forte, por causa do apoio… pois torna tudo mais fácil. Portanto, iremos para onde houver mais portugueses, como quando começámos. New Bedford é o epicentro da comunidade portuguesa de Massachussets como do Canadá é Toronto.

RA: Gostaria de vos convidar a deixar uma mensagem aos nossos leitores.
DS: Continuem a apoiar os artistas, pois não é uma carreira fácil e porque temos todos uma coisa em comum – somos portugueses! Vamos ajudar-nos uns aos outros, honrando e celebrando a nossa cultura. Eles têm o sonho de fazer da música uma carreira e nós estamos aqui para os apoiar. Nós todos os anos ficamos admirados com os músicos e os seus trabalhos… quando ouvimos é “wow!”. Por isso, vamos juntos apoiámo-los! Enviem-nos as vossas ideias e feedback, pois gostaríamos de ouvir a vossa opinião. Gostaria de convidar os patrocinadores a juntarem-se a nós e procurarem-nos para qualquer esclarecimento.
JX: E não deixem de seguir os IPMA nas redes sociais através de www.ipmaawards.com. Inscrevam as vossas canções até ao próximo dia 30 de novembro.

 

 

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