Mário Monteiro
Entrevistas

Mário Monteiro

Mario Monteiro shot by byMike Neal at Guelph University

 

Mário Artur de Sales Monteiro nasceu em Lisboa, mas a sua vida, identidade e percurso foram profundamente moldados pela Serra da Estrela, onde cresceu a partir dos dois anos de idade. Filho de pais oriundos de diferentes regiões de Portugal, a sua história é marcada pela migração, pela adaptação e pela superação de desafios. 

Desde a infância em Aldeias, Gouveia, passando pela chegada a Toronto, aos 14 anos, onde se reencontrou com os seus pais, até à sua carreira brilhante no campo da ciência, Mário Monteiro tem sido testemunha e protagonista de uma jornada fascinante. Sempre com uma indelével ligação à sua terra natal, foi no Canadá que se tornou cientista e académico, muito graças à sua determinação e entrega ao estudo. 

Mário Monteiro é um exemplo de como valores familiares e culturais, aliados à paixão pela aprendizagem, podem transcender fronteiras geográficas e pessoais. O menino serrano transformou-se num cientista reconhecido pelos seus pares, tendo sido considerado uma das 50 figuras mais influentes do mundo no desenvolvimento de estudos na área das vacinas. Percorrendo a sua história, percebemos as influências da Serra da Estrela e admiramos a transição para a vida urbana de Toronto e outras grandes cidades do Canadá e não só. 

Mário Monteiro vive hoje em Guelph, com a sua mulher e dois filhos, cidade onde prossegue o seu trabalho de investigação científica num dos laboratórios da Universidade, arranjando sempre tempo para se libertar do rigor da ciência, com umas quantas pinceladas nas telas que mantém bem perto de si, no seu gabinete de professor universitário.

 

As marcas da Serra

A memória que tem de si próprio já é a viver em Aldeias, Gouveia…

Sim eu não sou alfacinha, quer dizer sou alfacinha de nascimento, mas sou serrano, sinto-me serrano.

E o que é que a Serra fez na construção da sua personalidade? Até que ponto sente que tem ainda a Serra da Estrela dentro de si?

Há um isolamento, é diferente de Lisboa ou do Porto, ou de uma grande cidade. Naquela altura, não se tem a consciência desse isolamento, mas… acho que não havia televisão, salvo erro, começava muito tarde e não havia tecnologia como há hoje. Então, especialmente naquele ambiente rural, tem-se muito tempo para olhar para as coisas, para observar. Eu acho que desenvolvi o poder de observação muito rápido quando era novo e isso ajudou-me na ciência. E na arte também. O poder da observação é muito importante para o cientista.

Querer saber mais sobre aquilo que se observa…

Sim, observar e colocar questões. Às vezes eram questões imbecis, não é? Mas, no entanto, eram perguntas que surgiam porque tínhamos que forçar o interesse em qualquer coisa. O ambiente rural é diferente de uma cidade e eu acho que quando uma pessoa cresce lá, o “produto final” é diferente.

Tem memórias boas dessa fase da sua vida?

Sim, sem dúvida, boas, mas depois também havia aquele lado negativo do isolamento. De vez em quando íamos a Lisboa porque tínhamos lá familiares e eu olhava para as luzes, para as lojas, e tinha pena de não estar a viver em Lisboa. E então havia sempre esse lado de querer ir para a cidade. No entanto, somando tudo, ao fim do dia, acho que foi talvez mais positivo a minha criação num ambiente pequeno, onde a igreja também era grande parte da nossa formação. Era a Igreja e a escola primária. Portanto, eu costumo dizer que tudo o que aprendi foi até a quarta classe e o resto foi fugir de mim. E eram escolas primárias de uma só sala para quatro classes. Foi um ambiente acolhedor em que me sentia muito querido. E então eu acho que a minha carreira e a minha maneira de ver as coisas tem muito a ver com o meu crescimento na Serra.

Depois da quarta classe, com certeza que continuou os estudos, mas já em Gouveia…

Sim, sim, notei uma grande diferença, mas pelo lado positivo. Quer dizer, era outro ambiente, outras paisagens, não era? E quando uma criança sai do ambiente de uma aldeia e vai para uma vila (era ainda vila, naquela altura), nota um certo choque. Na realidade, posso dizer que senti mais o choque da passagem de Aldeias para Gouveia do que quando fui de Gouveia para o Canadá.

 

Mario Monteiro, newly arrived in Toronto
Mario, recém-chegado a Toronto

A chegada e a vida em Toronto

Quando tinha já 14 anos veio para Toronto. Os seus pais já tinham vindo antes, até que decidiram que o filho deveria vir também. Como foi para um rapaz de Aldeias, Gouveia, chegar a uma cidade como Toronto?

Na altura, tinha 14 anos. Foi exaltante. Foi uma chegada feliz. Feliz porque eu queria conhecer mais e também porque eu estive sem os meus pais uns anos. Estive num seminário, o que também era norma em Portugal. Nesse tempo, os pais emigrantes colocavam os filhos no seminário. Ao mesmo tempo que andava na Escola Secundária de Gouveia, eu residia no Seminário. E aquelas rotinas de seminários estavam sempre presentes, todos os dias. Os meus pais já tinham vindo para o Canadá um ou dois anos antes, depois vim eu. 

Ainda hoje me lembro como se fosse ontem de entrar no aeroporto de Lisboa e ver aquelas coisas massivas, aqueles aviões e até vi Canadian Pacific, que é uma companhia que já não existe, canadiana. Lembro mesmo onde eu vinha sentado e querer ir à casa de banho e não saber como perguntar. Depois o maior impacto foi quando aterrei ter de passar pela imigração. Ainda tenho o passaporte com o carimbo e a data em que cheguei. Fiquei com ele. E então lembro-me da fila em que estive, com o papel na mão… e eu tinha um nome muito grande. O meu nome completo é Mário Artur de Sales Monteiro, mas no bilhete estava só Mário Monteiro e no passaporte tinha Mário Artur Sales, portanto com estas coisas todas e quase sem inglês nenhum tive que me desenrascar. Naquela altura, as pessoas estavam muito perto da chegada, portanto eu ainda não tinha passado a imigração e já podia ver a família à minha espera, na vidraça. Lembro-me que o que mais me chocou foi o número de pessoas, porque eu vinha de um ambiente pequeno, não estava habituado a ver tanta gente junta. 

Então relativamente à chegada aqui, digamos que, para além de tudo mais, teve que se adaptar a viver com os seus pais, de novo.

Sim. Exato. Portanto, outra vez, 14 anos é uma idade sensível, mesmo no que diz respeito ao relacionamento com os pais. É um bom ponto que, geralmente, ninguém questiona, mas, acho que foi tudo normal. 

Os seus pais, quando vieram para aqui, vieram trabalhar em que área?

Em Portugal, eles trabalharam na indústria dos têxteis, porque Gouveia era conhecida como o tear da Beira. Depois do 25 de Abril, essas indústrias têxteis no interior colapsaram e eles vieram para aqui. O meu pai foi trabalhar para uma escola secundária. E a minha mãe gostava de fazer vestidos e também tinha outros trabalhos.

O que é que que é que tem na sua personalidade que vem diretamente dos seus pais?

Boa pergunta. O meu pai ensinava muito com o silêncio. Ele tinha uns valores muito altos. Não era muito de estar sempre a dizer, a repetir as mesmas coisas. E então absorvi muito isso, às vezes, sem comunicar. Acho que do meu pai foi isso, o rigor e os valores morais. A minha mãe é uma pessoa alegre e então a minha alegria acho que vem da minha mãe.

Com 14 anos, já há um grupo de amigos, já ligações estabelecidas, foi difícil para si quando soube que ia ter que deixar o seu ambiente para vir para algo completamente diferente?

Sim, 14 anos é uma idade muito sensível para qualquer mudança, especialmente quando falamos de passar do interior de Portugal, para uma cidade como Toronto nos anos 80. Mas a fundação que eu tive, de valores morais e fundação básica académica na escola primária que eu tive, ajudou-me muito na minha transição para o Canadá e, portanto, não notei muito. Não foi um choque muito grande. Eu sempre acreditei nas minhas habilidades. No entanto, quando comecei na escola em Toronto, havia os problemas com o inglês, mas sempre vinguei porque tive uma boa base da escola primária em Portugal.

 

Mario Monteiro with his parents in his mother's homeland, Trás-os-Montes
Mario Monteiro Com os Pais na terra da Mãe, Trás-os-Montes

A base de tudo – a escola primária na Serra da Estrela

Fala muitas vezes disso… concretamente, o que acha que foi mais valioso nessas bases que teve na escola primária? 

A disciplina! E também eu, quando tinha dois ou três anos, o meu pai colocou-me com um professor universitário que se tinha reformado, nessa altura, na aldeia e eu comecei a ler aos dois, três anos. Portanto, quando fui aos seis anos para a primeira classe, também já tinha uma grande base pré-primária. Isso foi muito importante e também a Igreja foi importante. Eu, aos seis, sete anos, já lia a primeira leitura e a segunda leitura nas missas, usava um banco para ficar mais alto e então por isso é que não tenho receio de hoje dar aulas a 500 ou 1000 estudantes. 

Como é que foi a integração na escola canadiana?

Em Portugal, na escola secundária, eu já tinha aulas de inglês, francês, alguns estudavam alemão. O inglês é uma língua fácil, e naquela altura, quando vim para o High School, fui integrado numa escola ESL – English Second Language, com vários imigrantes de todas as partes do mundo.

Para onde foi viver quando chegou a Toronto?

Vivíamos na Caledónia, hoje uma zona também muito portuguesa, mas naquela altura era muito italiana.

Mas de qualquer maneira convivia com outros portugueses, nesse tempo?

Não. Eu não tinha muito tempo disponível devido aos meus trabalhos de casa, responsabilidades escolares. Andei na escola portuguesa do clube transmontano e depois no First Portuguese também, mas para além disso não havia tempo para me associar ou ligar a clubes. E eu também nunca fui muito deste andar à procura de clubes e grupos para continuar contacto com os portugueses. 

Estudar era o centro da sua vida?

Era, era, 100%! 

Isso veio a ser determinante para a escolha de vida profissional, porque como cientista vai estudar eternamente?. 

Sim, sim. Exato. Estudar é um hábito que se cria – o querer aprender e questionar as coisas. Apesar que a minha paixão não é bem a ciência, eu gosto de pintar quadros. 

A determinada altura, teve que decidir o que fazer a seguir ao High School. Pensou sempre em prosseguir os estudos?

Todos os trabalhos são importantes, mas eu sempre quis fazer coisas que os outros não fazem, talvez as pinturas me ajudem a fazer isto também. Quando fui para a universidade, tirei cursos de ciência, muito por causa do meu inglês fraco. Quando assim é, penso que é normal, não irmos para História, nem para Literatura. No primeiro e no segundo ano da universidade não estava muito certo qual era a área que iria seguir e mudei muitas vezes de opinião e até pensei ir para Belas Artes, mas não fui por esse caminho. 

Porquê? O que é que pesou na decisão de não ir?

Acho que fui pragmático. Uma pessoa pode ser artista, mas talvez monetariamente não seja a melhor opção. Entretanto, no quarto ano da universidade, era o último ano antes de tirar o bacharel, ganhei o primeiro prémio no Ontário, no curso de pesquisas. E isso motivou-me. Além disso o professor onde eu fiz este curso do quarto ano, convidou-me para ficar para o mestrado e depois nem tirei o mestrado, tirei o doutoramento sem fazer o mestrado. Foram essas as escadas que fui subindo, às vezes sem planear bem as coisas.

 

Mario Monteiro and his wife, Joanna
Mário e a esposa, Joanna

Rigor pintado de liberdade e criatividade

A ciência exige rigor. A pintura é mais sintoma de liberdade. Será que procura o equilíbrio, quando pinta?

Sim! Se for ao meu escritório, lá verá o cavalete e algumas pinturas. Sim, é um equilíbrio que eu preciso mentalmente e fisicamente também. Às vezes só me sinto bem quando pinto e a ciência até fica mais para trás.

 

Mario Monteiro at his Profession of Faith in the church in Aldeias
Na Profissão de Fé, na igreja de Aldeias

A ciência e a religião, lado a lado

Como está hoje a sua relação com a Igreja e com a religiosidade?

Nunca houve nenhum conflito na minha mente entre a religião e a ciência. Como eu costumo dizer aos estudantes a religião era a ciência dos antepassados, não é? E então não sinto nenhum conflito. Desde que casei que não vamos à missa com a frequência de outros tempos, não é? Mas, de vez em quando, faço questão de ir com a família à igreja para manter aquele contacto, é bom ir fisicamente à Igreja. Mas sim ainda hoje a Igreja é um fator importante na minha vida.

Dos carboidratos ao desenvolvimento de vacinas

Optou por esta área da química, que é a sua especialidade e em determinado momento dedicou-se a um estudo mais vocacionado para as vacinas. O que é que o estimulou para esta área de estudo? 

Em química há várias áreas de estudo, eu sou de hidratos de carbono, carboidratos, muito influenciado pelo meu professor na universidade com quem tirei o doutoramento, ele era especialista nesta área, um dos melhores do mundo. Depois de tirar o doutoramento, fui para Otava, para o National Research Council, quatro, cinco anos e expandi um pouco a minha visão. Fui mais um pouco para biologia e mineralogia e depois convidaram-me dos Estados Unidos para trabalhar na área das vacinas, usando os meus conhecimentos em carboidratos. Fui para os Estados Unidos três ou quatro anos e quando fui para a indústria é que comecei a concentrar-me nas vacinas.

Foi nessa altura que começou a desenvolver a investigação na vacina, cujo estudo ainda não está completamente desenvolvido?

Sim, essa história é interessante. Convidaram me para ir para estudar a bactéria que causa cancro no estômago, a Helicobacter pylori, mas é interessante, isto vai explicar o sistema americano, seis meses depois de eu começar, cancelaram o projeto porque dá mais lucro tomar antibióticos do que ter uma vacina. E também não era possível fazer uma vacina contra aquela bactéria e então cancelaram logo o projeto após seis meses da minha estadia. E eu pensei, bem, tenho que ir para o Canadá. Depois convidaram-me para voltar outra vez para o Canadá, para esta nobre cidade de Guelph e voltei. 

Aqui continuou o desenvolvimento de investigação de vacinas, mas já numa outra área, mais relacionada com doenças gastrointestinais. Em que ponto está essa investigação?

A ciência é vagarosa. Não se fazem vacinas em seis meses. Eu cheguei aqui em 2004 e, naquela altura, a Marinha dos Estados Unidos convidou-me para desenvolver uma vacina contra uma bactéria que causa diarreia. Isto porque os marinheiros, e não só, quando viajam, têm problemas gastrointestinais. E, então, aquela bactéria era muito importante para eles. Portanto, já há 20 anos que estou a estudar os carboidratos e desde aí já fizemos, desenvolvemos, desenhamos uma vacina baseada nos carboidratos. Já houve um primeiro ensaio. O segundo ensaio acabou agora, recentemente, e também já houve um terceiro ensaio que tinha uma outra aplicação que não era diretamente injeção no braço, mas através da ingestão de um comprimido. Esses ensaios foram feitos com o apoio do governo americano. Até posso dizer que todos os avanços nesta investigação, têm tido o apoio do governo americano. 

Sem dia, nem hora e muita frustração

A noção que eu tenho da vida de um cientista é que o trabalho não tem dia nem hora. Se for necessário acompanhar uma experiência pode ter que estar no laboratório a meio da noite ou a um domingo. Esta ideia está correta?

Sim, principalmente na minha área. As bactérias não sabem se é domingo, ou se é dia ou noite. Tenho que ser sincero, já fiz mais isso do que faço agora, porque atualmente tenho estudantes e colegas que já podem fazer isso, mas sim, quando eu comecei passei muitos fins de semana no laboratório e a minha esposa que o diga. 

E o pior é quando ao fim de tanto esforço o estudo não dá o resultado esperado…

É uma frustração permanente a nossa profissão, se calhar por isso é que eu gosto de pintura, porque gera uma satisfação imediata. Eu pinto e vejo. Apesar da pintura ser um pouco como um projeto de ciência, nunca se acaba, pode sempre adicionar-se qualquer coisa. A ciência é uma arte, mas é preciso controlar a ansiedade. É preciso controlar muito. E às vezes não é fácil, especialmente quando há pressão, quando há datas que temos de cumprir. Todas as experiências dão sempre um qualquer dado útil, mesmo quando não funcionam. A gente aprende sempre qualquer coisa. Seja qual for o resultado, eu leio sempre qualquer coisa nos dados que a experiência me dá. E então, é preciso não se desiludir, não é? 

 

Mario Monteiro and his sons, Marco and Alex, at the church in Aldeias
Mário e os filhos, Marco e Alex, na igreja de Aldeias

Portugal no coração

Tantos anos depois, desde os 14 anos até agora, fala muito bem português. A cultura portuguesa permaneceu sempre na sua vida, apesar de tão distante?

Sim adoro a música portuguesa, adoro os filmes antigos portugueses. Gostava de ter ido mais com a família a Portugal, mas a ciência não deixava, andava em congressos aqui e ali, mas sim, Portugal está sempre presente, mesmo. A qualidade de vida em Portugal é excelente e tento envolver a família também na cultura portuguesa.

Quando alguém lhe pergunta de onde é, o que é que diz? Sou do Canadá. Sou português…

Depende de quem faz a pergunta? Geralmente, respondo sou português.

Quando pensa num prato de cozinha portuguesa o que é que lhe vem à cabeça? 

Há vários mas talvez o cozido à portuguesa.

 

O regresso a Gouveia e o Congresso ‘LUSOciência Gouveia 2024’

Foi recentemente a Portugal e levou consigo a experiência desta vida ligada à ciência. Resolveu organizar em Gouveia um Congresso vocacionado para a ciência desenvolvida por investigadores portugueses de várias partes do mundo. Qual foi a sua intenção ao fazer isso na sua terra natal?

Isso responde à sua questão da minha portugalidade. Não é? Quer dizer, não me considero nacionalista, mas ao mesmo tempo sou. A ciência em Portugal está muito desenvolvida, é muito boa. As universidades têm feito um excelente trabalho ao produzir doutoramentos. Portanto, esse é o ponto número um. A ciência é muito boa. Inclusive, presentemente, a ciência em Portugal tem mais qualidade do que a ciência aqui no Canadá. O segundo ponto é que eu, de vez em quando, vou a uns congressos em Portugal e são sempre em inglês. E há sempre aquela intenção de convidar o mandachuva daqui. E, geralmente, repetem-se. No verão anterior tinha estado com minha esposa no Hotel Gouveia e logo ao lado, a 50 metros, há um teatro, eu disse “olha, ficava bem aqui aquele congresso que eu ando sempre a falar que gostava de fazer em Portugal, ficava bem aqui em Gouveia” e ela disse “então faz”. E então foi isso. Um congresso em português para portugueses e muitos portugueses da diáspora, cientistas que trabalham e vivem fora de Portugal. Foram 40 e poucos palestrantes para dois dias. E foi diferente porque muitos dos congressos são sobre uma área específica, este foi abrangente – química, matemática, física, culinária, gastronomia, direito. Então foi muito interessante. Correu muito bem em termos do público, porque o nosso trabalho é transmitir o conhecimento. Por isso fiz questão de dizer aos meus colegas, que teriam que fazer as suas palestras numa linguagem que todas as pessoas percebessem. Às vezes, nem eu percebo o que é que estão a dizer em determinados congressos.

 

Guelph e o futuro…

Estamos em Guelph, onde vive atualmente e trabalha. Como é que é viver aqui? 

É uma cidade pequena, mas eu gosto. Não está muito perto de Toronto, mas também não está muito longe. A qualquer altura podemos ir a um restaurante em Toronto, ou em Mississauga, ou fazer qualquer compra que não podemos fazer aqui. Mas eu gosto de Toronto. Quer dizer, Toronto para mim ainda é uma cidade atrativa, embora já não seja o que era nos anos 80. 

O seu futuro passará por Portugal?

Está sempre aberta essa hipótese, não só nos meus pensamentos. Depende muito da situação familiar. Tenho dois rapazes, de 18 e 21 anos, estão a estudar aqui nesta universidade.

Estão a estudar na área da ciência?

Não. Economia. É uma coisa mais prática porque a ciência não está a ser uma área muito favorável para os jovens, que saem licenciados, encontrarem trabalho aqui no Canadá. Mas estava a dizer… Portugal talvez, depende dos condicionalismos relacionados com a família, mas de qualquer maneira, não está de todo posta de parte essa hipótese. A minha ambição, o meu querer, é ajudar o interior de Portugal. Eu acho que tem muita potencialidade. Realidade humana. E não só. Como eu disse, os cientistas portugueses, agora novos, são muito bons e penso que há muitas possibilidades de fazer qualquer coisa, como deve ser, em termos de ciência no interior. Mas há muitos fatores que é necessário que se combinem para isso ser viável.

Entrevista: Madalena Balça | Fotos: Mike Neal / Família Monteiro

 

Mario Monteiro shot by byMike Neal at Guelph University

 

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