Mário Silva
Entrevistas

Mário Silva

Nasceu a 11 de junho de 1966, na Ilha de S. Miguel, nos Açores. Acompanhado pela mãe e pelos irmãos, veio ao encontro do pai, que já se encontrava no Canadá, guardando assim poucas memórias da infância passada nos Açores. Dos seus pais, aprendeu a lutar por uma vida melhor, e a melhor forma de o fazer foi dedicar-se aos estudos. Apercebeu-se que vivia num pais cheio de possibilidades e oportunidades, que aproveitou sem hesitar.

A nível académico, frequentou algumas das melhores universidades do Mundo. A Universidade de Toronto e a Universidade de Sorbonne, em Paris. A Universidade Nacional da Irlanda, em Galway, e a Universidade de Oxford, em Inglaterra, onde tirou, respetivamente, o PhD e Mestrado em Direito. A Universidade das Nações Unidas, onde tiraria o Certificado de Direito Humanitário, e a Universidade de Salamanca, em Espanha, onde completaria o Certificado da Língua Espanhola. Tem, contudo, a ambição de um dia frequentar a Universidade de Coimbra, em Portugal.

Por entre os estudos, houve espaço para política, vencendo a sua primeira eleição como Vereador na Câmara de Toronto em 1994, cargo que ocupou até 2003. Com a sua eleição como Deputado Federal pela Davenport, Toronto, fez história ao ter sido o primeiro membro lusodescendente no Parlamento Canadiano. Entre junho de 2004 e maio de 2011, ocupou cargos como Deputy Minister for Labour, de Treasury Board e Foreign Affairs pelas Américas. Também desempenhou os cargos de Chair of the Parliamentary Committee on Antimerism, de Vice-Chair of the House of Commons’ Environment Committee, passando pelo International Human Rights Committee e ainda Canada Europe e Canada Africa Parliamentary Friendship Associations. Em dezembro de 2011 foi nomeado pelo Governo Canadiano para 2013 Chair of the International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA). A IHRA é um orgão intergovernamental composto por 31 países incumbido de encorajar político-socialmente líderes na procura de diretrizes nacionais e internacionais para a educação sobre o Holocausto.

Com várias obras publicadas no campo das ciências políticas e sobre assuntos de relevo na geopolítica internacional, foi várias vezes distinguido pelo seu percurso profissional. Em Portugal recebeu a Ordem de Mérito e a Insígnia da Região Autónoma dos Açores; no Brazil a Ordem de Rio Branco; no Canadá o Bridge Builder Award pelo Parliament of Canada All Party Interfaith Friendship Group e pela mão do Presidente francês, Nicolas Sarkozy, recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra.

No mês em que se celebra o dia de Portugal, Camões e das Comunidades de Língua Portuguesa, vai ser mais uma vez reconhecido pelo seu trajeto profissional e humano, quer a nível internacional, como a nível local e comunitário. Em junho, estivemos à conversa com Mário Silva, agora que vai ver o seu nome inscrito na parede do Portuguese Canadian Walk of Fame, em Toronto.

Revista Amar: Antes de mais gostaria de saber se sente que as suas raízes açorianas são realmente fundamentais na estrutura de quem é hoje o Dr. Mário Silva?
Mário Silva: As nossas raízes são sempre importantes e deixam uma marca grande na nossa vida e na forma como vemos o mundo. Eu nasci numa cidade pequena, com poucas oportunidades, e o meu pai tomou uma decisão sábia quando decidiu começar uma nova vida aqui, no Canadá. Valorizo muito a herança Açoriana e Portuguesa, o trabalho duro, e acredito que foi isso que me tornou na pessoa que sou hoje.

RA: O Canadá é o seu país. Por cá cresceu e se formou enquanto ser humano. Onde fica Portugal na sua vida? No coração?
MS: Eu amo o Canadá e Portugal. Ambos são países incríveis. Portugal tem uma história incrível e as suas cidades têm uma beleza arquitetónica extraordinária. Tenho orgulho em ser luso-canadiano, o que me faz pertencer a uma comunidade maravilhosa. No entanto, se não fosse o Canadá, eu hoje não seria ninguém. O Canadá tornou-me naquilo que sou, e por isso, irei sempre amar este país, por tudo o que me proporcionou na vida. É a terra das oportunidades e do futuro.

RA: Que sonhos ou espectativas o Canadá lhe proporcionou?
MS: Quando vieram para o Canadá, os meus pais sonhavam com uma vida melhor para eles e para os seus filhos. Eu era uma criança quando viemos e não sabíamos o que esperar da vida. O meu pai veio para o Canadá antes de nós para preparar tudo para a nossa chegada, e eu estava feliz por ver os meus pais reunidos. À medida que fui crescendo, percebi que a educação era importante para ter uma vida melhor. Os meus pais trabalhavam muitas e longas horas. Esta é a história de muitas famílias imigrantes, que nunca tiraram férias, para eles a vida era trabalho e família. E eu queria contribuir para a minha família e, para mim, isso significava ser bom aluno e ter sucesso para um dia poder ser eu a ajudá-los.

RA: Que lembranças guarda da infância passada nos Açores?
MS: Vim embora quando era muito jovem, mas a impressão com que fiquei foi que era um meio pequeno e pobre.
Os Açores são ilhas belas e abençoadas com uma beleza natural. Nos últimos anos e, graças à adesão de Portugal à União Europeia, existiram mudanças positivas. Hoje, não é o mesmo sítio que deixei quando era criança. Adoro os Açores, a sua beleza e estilo de vida descontraído. Eu adoro todos os festivais, especialmente festivais religiosos. Há tanta beleza nas ilhas pequenas no meio do Oceano Atlântico.

RA: Ao longo da sua formação académica passou pela Universidade de Toronto, pela Sorbonne, em Paris, pela Universidade de Oxford, em Inglaterra onde tirou o mestrado em Direito e ainda passou pela Universidade Nacional da Irlanda, Galway onde também tirou o PhD em Direito. Para além de muito mundo, o que procurou nas suas escolhas académicas?
MS: Eu sempre acreditei na importância da educação. Para mim, a educação é fundamental e marcou a minha vida para sempre. Eu tinha dois empregos e paguei a maior parte da minha educação. A Sorbonne foi uma experiência que jamais esquecerei. Eu acreditava vivamente na dualidade bilingue do Canadá e queria melhorar o meu francês, por isso fiquei feliz quando a Sorbonne me aceitou como estudante. Também sonhava, um dia, fazer um doutoramento em Direito Internacional e fiquei entusiasmado quando fui aceite pela Universidade de Oxford. Fui abençoado por ter frequentado tantas universidades maravilhosas e estou feliz por hoje, estar novamente na universidade, mas desta vez como Professor Visitante Distinto na Universidade Ryerson.

RA: Tirou o certificado de Direito Humanitário pela Universidade das Nações Unidas. Quando é que sentiu a necessidade de defender e proteger as vítimas de guerra?
MS: Eu acredito fortemente no Direito Internacional e nas suas instituições. As Nações Unidas são um órgão importante no fornecimento da estabilidade mundial e no desenvolvimento do direito internacional. O curso foi apenas mais uma maneira de me informar melhor sobre as instituições das Nações Unidas.

RA: Na Universidade de Salamanca, Espanha, tirou o certificado da Língua Espanhola. Qual foi a motivação?
MS: Eu gosto de aprender novas línguas e também gosto de universidades com referência. Sorbonne, Oxford e Salamanca são ótimas universidades históricas. Um dia, espero também fazer um curso na Universidade de Coimbra. A experiência de verão em Salamanca foi muito gratificante e eu gostei da vida universitária.

RA: Foi o primeiro Deputado Parlamentar Federal luso-canadiano. Ainda se lembra da repercussão desse feito?
MS: A minha eleição foi um março e uma conquista importante na comunidade luso-canadiana e senti-me honrado por ser eleito Deputado pela Davenport, em 2004. Foi uma eleição difícil e servi três mandatos em circunstâncias muito difíceis. Tive o prazer de ser solicitado pelo Primeiro-Ministro Paul Martin para ser o primeiro Membro a falar na Câmara dos Comuns. Durante o período que passei no Parlamento, servi em muitas comissões e fui porta-voz do partido em variadas questões. Acredito que enquanto Membro do Parlamento fiz a diferença.

RA: A política é uma paixão? Daquelas que nunca se apagam completamente?
MS: A política sempre foi uma das minhas grandes paixões e é uma honra ter servido os eleitores, durante os meus 18 anos de vida política. Seja durante o meu mandato enquanto Vereador da Cidade de Toronto ou como Membro do Parlamento, representar as pessoas, a comunidade e as suas preocupações, ao mesmo tempo que tentava fazer mudanças positivas é um grande privilégio. A política é importante para a vida de todos. E eu gostaria que mais pessoas fossem apaixonadas pela política e pelo papel que esta desempenha nas nossas vidas.

RA: Considera a hipótese de reentrar na vida política ativa?
MS: Eu não digo nunca. Foi uma honra servir e estou satisfeito com o trabalho que fiz, contudo por enquanto estou feliz com o meu trabalho na Ryerson University.

RA: Politicamente falando, como vê o Canadá, neste ano de eleições federais?
MS: Acho que o atual governo Liberal enfrentará um grande desafio nas próximas eleições e terá dificuldades em vencer as eleições. A atual controvérsia e a demissão de dois ministros importantes foram um golpe para a reputação da marca Liberal. O Partido Conservador tem um líder novo e jovem, já trabalhei com o Andrew Scheer, ele é um homem muito pensativo e inteligente. Acredito que ele tenha uma boa hipótese de se tornar o próximo Primeiro-Ministro do Canadá.

RA: Esteve na Rússia recentemente. O que o levou a um país tão longínquo?
MS: Tive a oportunidade de viajar para vários países, mas nunca para a Rússia, e queria aproveitar a oportunidade para ver esse país. Eu só vi Moscovo, mas foi uma viagem incrível. A Rússia é um país muito fascinante.

RA: Que sentiu quando soube que ia ser distinguido pelo Portuguese Canadian Walk of Fame?
MS: É sempre uma grande honra quando a comunidade reconhece o nosso trabalho árduo e as nossas conquistas. Sinto-me honrado, de uma forma humilde, pela nomeação que o comité me concedeu. O Walk of Fame já homenageou outras figuras importantes da nossa comunidade, por isso é uma grande honra estar na lista com outros luso-canadianos reconhecidos.

RA: Este tipo de reconhecimentos na comunidade portuguesa são importante para si? São um alimento para reforçar as raízes?
MS: A comunidade marcou-me e eu sinto que nela também fiz a diferença. É uma conquista e reconhecimento importante. Também permite que conheçam um pouco mais sobre a comunidade luso-canadiana. Temos muitas pessoas talentosas na comunidade, que o público em geral não conhece, e ter um evento como este permite que sejam descobertos.

RA: Gostaria de o convidar a deixar uma mensagem aos nossos leitores, à nossa comunidade, nesta altura em que celebramos a portugalidade no Canadá.
MS: Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer à comunidade pelos muitos anos de apoio e desejo a todos um Dia de Portugal feliz e alegre. Vamos celebrar com orgulho a nossa herança e, ao mesmo tempo, nunca nos esqueçamos do quão abençoados somos por vivermos num país como o Canadá, onde podemos celebrar a nossa herança luso-canadiana de forma orgulhosa e livre.

Fotografias gentilmente cedidas por Mário Silva

 

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