Sara Isabel Vieira
Entrevistas

Sara Isabel Vieira

revista amar - sara isabel vieira
Créditos: Carmo Monteiro

 

“Falem aos vossos filhos das coisas fundamentais sobre Portugal, sobre histórias da vossa infância e dos avós… mantenham essas histórias vivas! Muitas dessas histórias, são histórias que se repetem na comunidade e que são poderosas e guardiãs de vidas, da História, da língua e da cultura portuguesa.”

 

 

Nascida em Toronto em 1989, é a filha mais nova de Álvaro e Olinda Vieira, imigrantes portugueses da zona de Leiria. Com o companheiro, Boris Osório, que conheceu quando ainda anda na escola primária, são pais de Álvaro de três anos e meio.

Formou-se em Sociologia e Antropologia na Universidade de York, em Toronto, e em 2011, fez o mestrado em Sociologia Crítica na Universidade de Brock, em St. Catharines. O doutoramento em Estudos Interdisciplinares, concluído recentemente, foi tirado na Universidade da Colúmbia Britânica. Sara estudou o Transnacionalismo, Migração e Comunidade e para a sua tese pesquisou e entrevistou luso-canadianos a viver em Portugal e no Canadá. Durante a pesquisa descobriu o valor do serviço voluntário e neste momento faz parte da direção da Federação de Empresários Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP). A sua participação maior é no concurso anual “Portuguese Heritage Essay” que foi relançado em 2019 e no “Women´s Day Event” juntamente com Melissa Simas.

Atualmente, trabalha como aprendiz interina de planeamento na Universidade da Colúmbia Britânica e como instrutora no Alexander College naquela província canadiana.

Nos tempos livres, gosta de ler, rollerblading, mas, principalmente, criar memórias com o filho.
Fique a conhecer a luso-canadiana Sara Isavel Vieira.

Revista Amar: A Sara já ganhou alguma visibilidade na comunidade portuguesa de Toronto, contudo pouco se sabe… então fica a questão, quem é a Sara Vieira?
Sara Vieira: Pois bem… sou a filha mais nova de três, tenho uma irmã e um irmão que são mais velhos. Os meus pais são de uma aldeia chamada Chainça, na freguesia Stª Catarina da Serra, distrito de Leiria. Os meus pais vieram como a maioria, ou seja, o meu pai, Álvaro, veio primeiro em 1985 e a minha mãe, Olinda, e os meus irmãos ficaram em Portugal e só vieram em 1986. Eu já nasci cá, em Toronto, em 1989. Eu e o meu companheiro, Boris, conhecemo-nos na escola no 5º ano, há 15 anos… ele é o meu “High School sweetheart” (risos) e temos um menino de 3 anos e meio, Álvaro. A gravidez coincidiu com a época da minha pesquisa para a minha tese de doutoramento, quando vim para Toronto em agosto de 2016. Eu estava a estudar na Colúmbia Britânica com o Professor José Carlos Teixeira, que foi o supervisor da minha tese de doutoramento. A minha pesquisa requereu que eu viajasse muito, entre o Canadá e Portugal, mas com a gravidez fiquei limitada e isso mudou a trajetória da minha pesquisa, mas acabei na mesma a pesquisa em março de 2019. Depois passei um ano a escrever a tese e, entretanto, entrámos em confinamento… isso sim, mudou muito o que eu tinha planeado como mudou para muitas pessoas e tive que adaptar-me às circunstâncias, como, por exemplo, em novembro do ano passado, tive que defender a minha tese online que foi um pouco dececionante. Em dezembro enviei tudo e passei e só falta a graduação, que vai ser em junho, mas online e ainda não sei se vou participar porque não é a mesma coisa e já estou farta do online… e sou a primeira da minha família a fazer o doutoramento.

RA: Quando disse que nasceu em Toronto, a que área se refere?
SV: Na área da Davenport…. Nasci e cresci até aos 9 anos na Dupont.

RA: E agora, continua nessa área?
SV: Sim, vivo na zona da St. Clair, com exceção do tempo que fui estudar para St. Catharines e Colúmbia Britânica.

RA: E gosta de viver na área portuguesa?
SV: Sim, gosto!

 

 

RA: A Sara fala muito bem português. Os seus pais fizeram questão que se falasse português em casa?
SV: No início os meus pais falavam só português connosco e falei até ir para a creche. Os meus irmãos é que falavam inglês comigo. Eu cresci com as duas línguas… em casa além de se falar português, também víamos as notícias de Portugal ou locais em português.

RA: E agora, está a ensinar português ao seu filho?
SV: Nós falamos em português, talvez não tanto como devia e eu sei porque esta parte fez parte do meu mestrado. Contudo, às vezes falar e explicar é-me mais fácil em inglês e como o meu companheiro fala espanhol e pouco português, ele fala mais em inglês com o menino. Infelizmente, ele aprende bem e depressa aquelas palavras menos próprias para a idade dele (risos), mas aprender as outras é mais difícil (risos). Mas ele entende português.

RA: Mas a Sara também se formou na Universidade de York, aqui em Toronto?
SV: Sim e formei-me em Sociologia e Antropologia e depois, em 2011, fui para a Universidade de Brock, em St. Catharines, para tirar o mestrado em Sociologia Crítica.

RA: Mas também é formada em Filosofia?
SV: Sim, o meu PhD é em Filosofia, mas em Estudos de Interdisciplinares.

 

RA: Para o mestrado em Sociologia Crítica, também teve que fazer uma tese?
SV: Sim, mas foi um estudo mais pequeno e falei com luso-canadianas sobre o ensino da língua portuguesa aos filhos e porquê se ensinavam ou não. Foi depois desta tese que comecei a querer saber mais sobre a nossa comunidade, em particular da GTA e daí eu ir estudar com o Professor José Carlos Teixeira, na universidade na Colúmbia Britânica.

RA: Mas foi para Colúmbia Britânica por causa do Professor ou porque era lá que se encontrava a melhor universidade para continuar os seus estudos?
SV: As duas coisas. A universidade é excelente que proporciona muitas oportunidades e fundos para bolsas. Eu inscrevi-me porque já tinha conhecido o Professor Teixeira numa conferência em Indianapolis, nos E.U.A.. Quando me apresentei, perguntei ao Professor se ele estaria disponível em ser o meu supervisor e ele disse que se entrasse, que sim. Quando entras tens que saber com quem vais trabalhar. Mas foi uma mudança difícil… fui sozinha com o meu gato (Milo), que ficou traumatizado com a viagem do avião… caiu-lhe o pelo à frente e nunca mais nasceu (risos). Mas, foi o meu companheiro e conforto porque eu não conhecia lá mesmo ninguém, só o Professor Teixeira das conferências. Foi um desafio…

RA: Que outro tipo de desafios encontrou?
SV: Agora já se vai vendo cada vez mais luso-canadianos a tirar doutoramentos, mas naltura éramos poucos luso-canadianos e sempre que encontrava alguém ficava muito animada! Eu conheci um senhor, na minha turma, que estava a fazer o doutoramento em Biologia e tinha Marques como sobrenome, mas fiquei na dúvida se era português ou brasileiro, mas ele quando viu o meu nome perguntou-me se eu era portuguesa e eu disse que sim, e ele afinal também era português (risos). E eu adoro fazer este tipo de conhecimentos. Eu tive alguns desafios quando estava a aprender e bati com a cabeça algumas vezes e aprendi muitas lições e por isso agora, se posso ajudar de alguma forma ou responder a alguma questão aos mais jovens… seja o que for… como entrar na escola, fazer a revisão de uma composição, etc. eu estou disponível para ajudar, porque sei o que custa fazê-lo e aprender sozinha.

RA: E a tese foi sobre o quê?
SV: A minha tese foi sobre luso-canadianos transnacionais [luso-canadianos que nasceram aqui e que foram para Portugal e ficaram, luso-canadianos que vieram pequeninos para aqui e luso-canadianos que nasceram cá e que foram embora com os pais e que agora voltaram] e as suas experiências de vida ao terem vivido em dois países diferentes. Muitos que nasceram cá foram pequeninos para Portugal nos anos 90 e passaram lá a adolescência e na idade adulta regressaram, por volta de 2008/2009, por causa da crise económica, principalmente das zonas rurais. O meu interesse era nas suas experiências, como se integraram, as dificuldades que encontraram a nível de trabalho, casa, creches, etc.. Para além disto também estava interessada em saber qual é a representatividade da nossa comunidade aqui, quais eram os serviços que se encontravam disponíveis não só para os transnacionais como também para a nossa comunidade em geral e, saber qual era a opinião dos transnacionais que foram embora e que voltaram sobre a comunidade que encontraram aquando da sua chegada, como por exemplo, os eventos e os jantares nas casas associativas. Foram 2 anos de muita pesquisa e mais de um ano a escrever… e 400 páginas depois, acabei! (risos)

RA: E passou…
SV: Sim (risos). Ainda tive que editar algumas coisas, mas isso é normal. Um dos membros do júri, fora do Canadá, que avaliou a minha tese foi a Professora de Geografia Maria Lucinda Fonseca da Universidade de Lisboa e ela tem uma posição prestigiosa e foi uma honra saber que ela avaliou a minha tese, mas ao mesmo tempo muito stressante, porque ela é brilhante.

RA: Que título tem a tese?
SV: A tese chama-se “There and back in two languages: intersections of identity, bilingualism, and place of Luso-Canadians transnationals”

RA: Este interesse pela comunidade também teve algo a ver como foi criada pelos seus pais?
SV: De certa maneira, também teve. A nível pessoal, entre 2008 e 2009, fui contactada, pelo Facebook, por muitos colegas que tinha ido para Portugal e que estavam a pensar em regressar e que queriam saber como estava aqui a situação ao nível de trabalho, se ainda vivíamos na mesma área de Toronto, etc.. Eram pessoas que estavam a acabar ou já tinham acabado a universidade e que não tinham emprego… e isso fez-me pensar nas causas que levam à imigração. Os que entrevistei vieram para cá ou porque nasceram aqui ou porque têm cá família.

RA: E qual era o seu envolvimento na comunidade?
SV: Eu antes não estava envolvida na comunidade portuguesa.

RA: Então pode-se considerar, que também houve alguma curiosidade da sua parte em conhecer melhor a nossa comunidade.
SV: Sim! Eu não fui “criada” nas casas comunitárias ou nos ranchos como muitos jovens foram e são. Eu sou luso-canadiana e falo português… e quando fui às casas comunitárias receberam-me bem, aceitaram-me e nunca me senti rejeitada por ninguém. Quando falava com pessoas sobre a minha pesquisa, chegaram-me a dizer “boa sorte!”, porque às vezes é difícil. Eu tenho orgulho pelo facto que ninguém me tenha dito que não. Alguns, os que não entendiam o porquê da minha pesquisa, foram um pouco relutantes, mas depois de explicar ajudaram-me e na minha opinião, acho que isso é muito próprio da comunidade portuguesa. Além de ser luso-canadiana, eu não fazia a mínima ideia como as casas funcionavam, ou seja, não sabia se as pessoas eram pagas para trabalhar ao fim de semana nos eventos, as horas que disponibilizam do seu tempo, como eram pagas as rendas e as “mortgages”… para mim tudo isso era um mistério e quando aprendi fiquei chocada…

RA: … e impressionada?
SV: Completamente impressionada.

RA: E o que aprendeu?
SV: Que as pessoas têm emprego, algumas até mais do que um e depois dão o seu tempo às casas comunitárias onde estão envolvidas por pura paixão e interesse genuíno… isso é muito poderoso e não acontece muito em outras comunidades étnicas.

RA: O que é que a chocou mais durante a pesquisa?
SV: O que mais me chocou foi descobrir que as pessoas que trabalhavam nos clubes e associações eram todos voluntários, tanto que nas minhas primeiras entrevistas que fiz no mesmo dia, algo que não aconselho, fiquei de tal maneira estupefacta, que tive que rever as minhas anotações… eu não conseguia acreditar que estas pessoas estavam todos os fins de semana nos respetivos clubes e associações, entre 5 a 6 horas… e depois ainda têm que limpar tudo e não ganham nada com isso. E depois quando falei com as pessoas que não estavam envolvidas na comunidade e lhes expliquei esta realidade , a atitude foi de relutância, tipo: “porque razão é que estas pessoas fazem isso? Se não são pagos, não entendo!” ao qual eu dizia que eles não eram pagos e que faziam voluntariado por paixão e que estão a contribuir e fazem parte de algo com importância. Também fiquei chocada pelo facto de todas as pessoas me terem recebido muito bem nas casas e deram-me o seu tempo, alguns foram horas, para as minhas entrevistas. Nunca me disseram “não”!

RA: E em relação aos moradores em redor das casas comunitárias portuguesas?
SV: Tem havido muitas mudanças. As pessoas que agora compram casas não gostam da nossa música, do barrulho e têm ideias muito diferentes das nossas e isso é um pouco problemático para os centros comunitários que querem continuar com os seus eventos. Há pouco tempo houve numa Portuguese Town Hall Meeting onde moradores se queixaram. Inclusive eu entrevistei pessoas que se queixaram do mesmo. Eu sou apologista que devemos usar a nossa voz e o nosso poder comunitário… nós somos muitos portugueses! Muitos, os que nos representam bem, devem falar com os políticos e lembra-lhes que é na área da Davenport e área circundante que se encontra a maior comunidade lusófona do Canadá e que, também, já temos comunidades portuguesas grandes em Mississauga, Brampton, Oakville, Hamilton, etc. Se estes novos moradores têm conhecimentos e poder, nós também temos e só temos que mostrar a nossa força.

 

 

RA: Os luso-canadianos que regressaram de Portugal que obstáculos encontraram quando chegaram?
SV: As pessoas que entrevistei, têm muita dificuldade em saber onde podem procurar emprego, onde podem traduzir um documento, não sabem e têm muita dificuldade em ter acesso a informações como se podem inscrever na universidade, etc.. É um desafio!!!

RA: E a que conclusão chegou na sua tese?
SV: Eu dividi a pesquisa em grupos diferentes. Comecei por entrevistar os luso-canadianos que foram para Portugal (Lisboa, Leiria, Coimbra) e que não regressaram ao Canadá e depois os que tinham regressado e os que estão cá. Peguei nas respostas e comparei as diferenças. No 1º grupo, os que não regressaram, ficaram pela estilo e qualidade de vida; no 2º grupo, os que regressaram, vieram à procura de melhores condições de vida (trabalho) e têm uma opinião própria e conceitos diferentes sobre o que é a portugalidade, porque muitos que estão à frente da comunidade aqui, são de 1ª geração, ou seja, vieram há muitos anos e consequentemente as suas ideias são antiquadas, nacionalistas e problematizadas e os luso-canadianos que regressaram já são muito cosmopolitas e eles gostam de concertos, de comer sushi… eles têm ideias muito diferentes e modernizadas, porque Portugal está na moda e eles cresceram nessa modernidade. E são estas as razões que os leva a não se envolverem e a voluntariar nas casas comunitárias, apesar da maioria viver na GTA porque querem estar perto da comunidade…

RA: … isso deve-se porque não se identificam com o que as casas representam ou porque a ideia do que é a portugalidade é diferente? Ou seja, os ranchos, festa da matança do porco, etc.
SV: Porque a ideia do que é a portugalidade é diferente. Eles não estão interessados em ver ranchos ou em se voluntariarem nas casas comunitárias, contudo foram ao fim de semana de Portugal e ver o concerto dos Xutos & Pontapés (risos)… Alguns até têm os filhos na escola portuguesa ou nos clubes de futebol portugueses, mas envolverem-se ou ir a jantares, isso não.

RA: E qual é a faixa etária deste grupo?
SV: É dos 18 aos 50 anos.

RA: E o que tinha este grupo a dizer sobre a comunicação social da comunidade?
SV: Alguns disseram que o interesse era nos classificados à procura de emprego.

RA: Antes de passarmos a outro assunto, está a pensar em publicar a sua tese em forma de livro?
SV: Eu estou a pensar em escrever um livro. A tese já está publicada e disponível na livraria da Universidade da Colúmbia Britânica e como a tese era grande, ainda escrevi um resumo para aqueles que não gostam de ler muito (risos).

RA: Para quem não cresceu no meio da comunidade, a Sara acabou por se envolver na comunidade ao aceitar um lugar na direção da Federação de Empresários Profissionais Luso-Canadiana (FPCBP). Como é que surgiu este envolvimento?
SV: Aquando das entrevistas para a minha pesquisa, a pessoa que entrevistei na federação convidou-me a assistir ao Encontro Geral Anual e como não fazia a mínima ideia do que era, fui. Ao fim foi-me dito que me iam propor para fazer parte da direção e eu aceitei. Como antes já tinha ganho uma bolsa de estudo da federação, eu também quis retribuir. A minha maior participação é no concurso anual “Portuguese Heritage Essay” que nós relançámos em 2019 e no “Women´s Day Event” com a Melissa Simas.

RA: As inscrições para o concurso foram em março, certo?
SV: Sim e já acabaram. Neste momento já temos os professores a avaliar os trabalhos. Os professores são todos voluntários e como reconhecemos que por causa da pandemia e o facto de haver mais participantes houve atrasos, então demos mais tempo aos professores para acabarem as avaliações e classificarem as composições. Em 2019 só tivemos 15 ou 16 participantes e este ano tivemos perto dos 40. Este interesse por parte dos participantes, dá-me mais força para continuar, apesar de que dá muito trabalho.

RA: Quantos vencedores vão ser contemplados com o prémio de $250.00?
SV: Nós para já temos prémios para 12 participantes, mas estamos a tentar chegar aos 15, contudo isso vai depender se conseguimos ou não mais patrocinadores.

RA: E para quando está previsto a apresentação dos vencedores?
SV: Agora em junho, mas ainda não há uma data fixa porque depois dos professores classificarem os trabalhos, a Melissa e eu, temos que pôr por ordem, avisar os participantes e como gostaríamos que fosse um evento no exterior – com distanciamento social – temos que esperar para ver se, entretanto, desconfinamos e a tempo…. Não sei se vamos conseguir.

RA: Talvez consigam, pois os números de novas infeções por Covid-19 por dia têm vindo a baixar todos os dias e as pessoas também se estão a vacinar… falando em vacinar, qual é a sua opinião sobre este assunto?
SV: Eu ainda não levei a minha, porque eu vivo à frente deste computador e porque também estou com uns problemas de saúde, nada de grave, contudo quero primeiro ficar boa antes de ser vacinada. Os meus pais já levaram a 1ª dose e a 2ª está agendada para agosto. Eu sou a favor das vacinas, mas respeito as pessoas que a rejeitam. Não sou a favor que a vacinação seja mandatória ou imposta. A minha opinião é que as pessoas devem-se vacinar, não só para se protegerem a si mesmas, como também os outros… mas obrigar a vacinação pode trazer alguns problemas e deve-se pensar muito bem antes de a impor.

RA: Agora com a tese, acha que se vai envolver mais na comunidade para além da FPCBP?
SV: Com a minha tese eu envolvi-me o mais possível que pude na comunidade. Fui convidada para muitos eventos… a muitos fui e outros não pode ir, por diversas razões. Eu sei que quero continuar com o meu envolvimento na comunidade, só ainda não sei como!

RA: Que planos é que tem para o futuro?
SV: Antes da pandemia tinha tudo planeado (risos)… eu tinha a ideia que ia ensinar numa universidade e ter um emprego permanente, porque já ando há muito tempo à base de contratos e já estou um pouco farta da situação. Como mãe, quero ter mais estabilidade e ter tempo para o meu filho. Mas por causa do Covid-19, tudo mudou! Agora estou a contrato a dar aulas de antropologia, sociologia e geografia online, através de uma faculdade privada da Colúmbia Britânica, a estudantes que ficaram retidos na Índia por causa das restrições de viagem que o Canadá impos à Índia. Desde do ano passado, por causa do Covid-19, também tenho um contrato com a Universidade da Colúmbia Britânica onde ajudo os Professores a mudar as matérias e criar programas acessíveis para as aulas online. Os meus planos para o futuro, são ter um emprego permanente ou fazer pesquisas e de falar com pessoas sobre as suas experiências porque é algo que também gosto de fazer.

 

 

RA: Qual é a sua relação com Portugal?
SV: Essa é uma boa pergunta… Eu adoro Portuga! Já fui de férias com o meu filho e inclusive gostava de o batizar lá, na igreja onde eu fui batizada e toda a minha família. Gostava de continuar com essa tradição.

RA: A Sara consegue-se imaginar, um dia, a trabalhar em Portugal?
SV: Sim… aliás eu estive para me inscrever numa posição de pós-graduação na Universidade de Lisboa, mas por causa do Covid-19 eu tive que pensar na minha família. Mas no futuro, com certeza! O tipo de vida que eles têm lá é diferente… nem que seja pelo clima. Mas mesmo que não consiga viver lá, pelo menos quero que o meu filho tenha contacto com a minha família e isso também é bom.

RA: Um dos objetivos, é ir muitas vezes a Portugal…
SV: … Sim.

RA: Tem algum conselho para aqueles, em geral, que não estão ou não querem se envolver nas casas comunitárias?
SV: Só tenho uma coisa a dizer… ide ver antes de falar. Tirem um pouco de tempo só para verem como é ou voluntariem-se, participem e depois podem ter uma opinião, porque se ficam só a observar de fora e/ou a criticar não estão a ajudar! E qual é a solução? A solução é envolverem-se, participar e façam-no vocês… eu recomendo isso a todos!

RA: Fala-se muito na criação da Casa de Portugal em Toronto. Que acha dessa ideia?
SV: Acho que para isso acontecer vai ser necessária muita colaboração, união e debate. (…) Em teoria a Casa de Portugal seria fantástico, porque podíamos ter tudo e todos juntos num espaço só e seria idílico, mas é um desafio! Por outro lado, há o perigo de se perder a diversidade cultural. Nós somos um povo regionalista que gosta de dizer de onde é… seja das Beiras, de Lisboa ou de Barcelos.

RA: Parto do princípio que já tenha ouvido falar do novo Centro Comunitário de Magalhães.
SV: Claro que sim…

RA: É um centro que faz muita falta a comunidade, concorda?
SV: É imperativo a construção deste centro. Já deveria estar contruído há muito tempo. As pessoas que estão por de trás do projeto estão a fazer um excelente trabalho, garantido que os nossos futuros seniores tenham um lugar onde se possam sentir em casa. É bom saber que a comunidade portuguesa também vai ter o seu espaço como outras comunidades têm.

RA: Queria deixar-lhe o convite a deixar uma mensagem aos nossos leitores.
SV: Apesar de estarmos em pandemia e de estar a ser muito difícil para os nossos centros comunitários, devemos manter a união. O que os centros representam, com os seus voluntários, são motivo de orgulho e não são muitos os que têm a disponibilidade para o fazer. Temos que encontrar maneiras para nos apoiarmos uns aos outros, para nos mantermos fortes. Apesar deste ano ser outra vez diferente, espero que todos possam desfrutar do Dia de Portugal e que tenham orgulho. Falem aos vossos filhos das coisas fundamentais sobre Portugal, sobre histórias da vossa infância e dos avós… mantenham essas histórias vivas! Muitas dessas histórias, são histórias que se repetem na comunidade e que são poderosas e guardiãs de vidas, da História, da língua e da cultura portuguesa. Devemos todos fazer por manter isso, mas sempre e não só no mês de junho. Desejo a todos um feliz Dia de Portugal.

 

Revista Amar - junho 2021 (66)
Créditos: Carmo Monteiro

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