Herói do século XX
CidadaniaHistóriaSolidariedadeToronto

Herói do século XX

norman bethune - uft - revista amar
Estátua de Dr Norman Bethune na U of T
Créditos © Greg

 

A primeira vez que fui a Gravenhurst, uma localidade junto ao lago Muskoka, no Ontário, fiquei surpreendida ao saber que era a terra de origem do Dr. Norman Bethune. Ali se encontra a Bethune Memorial House, um “Lugar Histórico Nacional” – distinção que lhe foi atribuída pelo seu contributo humanitário. O médico canadiano é venerado, em particular, pelos chineses que não esquecem a assistência que dele receberam, num período conturbado da história da China.

Voltei várias vezes a Gravenhusrt, e deixei de me surpreender por encontrar autocarros de turistas chineses que vêm de todo o lado prestar homenagem a Bethune. A pergunta que me ocorre com frequência é a seguinte: quantos serão os canadianos que conhecem a história de vida deste médico?

Norman Bethune nasceu em1890, filho do pastor presbiteriano Malcom Nicolson Bethune. Estudou na Universidade de Toronto, formando-se em Medicina no ano de 1916. Ao longo dos anos, influenciado certamente pela doença de que padecia – tuberculose – dedicou-se ao estudo da cura. Inventou instrumentos e técnicas cirúrgicas torácicas conquistando lugar de destaque na comunidade médica internacional. Defendia tratamento gratuito para todos, sendo considerado por muitos, pioneiro no sistema de saúde pública de que o Canadá se orgulha nos nossos tempos.

 

NORMAN BETHUNE - REVISTA AMAR (1)

 

Ocupou o lugar de Chefe de Medicina Torácica no Hospital Sacré-Coeur em Montreal entre 1932-1936. Todavia, por se ter inscrito no partido comunista, não foi ouvido nas campanhas em que se envolveu de defesa de saúde gratuita para todos, e acabou por deixar o Canadá, indo oferecer-se como médico voluntário na Brigadas Internacionais antifascistas da Guerra Civil em Espanha. Em 1936 montou um serviço móvel de transfusão de sangue, algo único até essa altura e que contribuiu para salvar muitas vidas.

Em 1938, Norman Bethune decidiu ir para o interior da China, como chefe duma equipa médica, ao serviço do Exército Vermelho, que lutava contra os japoneses, na Segunda Guerra Mundial. No meio de montanhas rochosas, em condições extremamente precárias, construiu um hospital improvisado e treinou jovens chineses em serviços médicos e de enfermagem. Com a saúde bem debilitada, morreu de septicemia um ano depois, ao operar um doente, sem proteção adequada. Foi sepultado no cemitério dos Mártires Revolucionários Shijiazhuang, na província de Hebei, na China.

Bethune foi reconhecido internacionalmente quando Mao Tsé-Tung, Presidente da República Popular da China, publicou “Em memória de Norman Bethune” que contava a vida dos seus últimos meses na China e era leitura obrigatória nas escolas primárias nos anos de 1960. O país dedicou-lhe estátuas em vários lugares, sendo ele um dos raros ocidentais a receber esse tributo. A medalha Bethune, criada em 1991, é a condecoração médica de maior prestígio na China.

 

NORMAN BETHUNE 2 - REVISTA AMAR (1)

 

Em Montreal, Quebeque, foi dado o seu nome a uma praça pública – Norman Bethune Square – e foi-lhe erguida uma estátua. Os seus arquivos estão guardados na Universidade de McGill, Biblioteca Osler da História da Medicina. No ano de 1972, o médico canadiano foi considerado “Pessoa de importância histórica nacional”. Em Toronto há, em sua homenagem, um liceu com o seu nome e na York University, o Norman Bethune College.
Gravenhurst, onde se vai pelos passeios de barco no Lago Muskoka, merece também uma outra visita. Vale a pena ir à casa da família Bethune que alberga o museu, tem ao lado um centro de exposições e documentação, e adjacente a eles um parque temático dedicado à Segunda Grande Guerra.

Percorrer a casa mobilada ao estilo da época, olhar para as fotografias, os vários documentos e testemunhos ajudam a recriar a vida deste herói canadiano do século XX. Bethune não foi político, nem militar – foi um médico altruísta defensor dos direitos à saúde pública para todos. Este é um herói que eu admiro.

Manuela Marujo

Redes Sociais - Comentários

Botão Voltar ao Topo