A Páscoa que hoje celebramos, com maiores ou menores tradições que ainda se cumpram, desde a abstinência de carne na 6ª feira Santa, à oferta, do folar pelos padrinhos aos afilhados, ao incontornável prato de cabrito no almoço de Domingo de Páscoa, cumpre acima de tudo e ainda, o seu papel cimeiro, o seu significado sagrado para os cristãos. Todos sabemos que a Páscoa comemora a Ressurreição, a Vida, o Cristo humanado que ressuscitou ao Terceiro Dia.
Não é por acaso que a Páscoa se comemora ou em março ou em abril, é esse o período em que a primavera desponta e com ela também a nova vida. Pensa-se que a palavra Páscoa tem origem na Deusa pagã Ostera, de onde a palavra inglesa Easter, cujo mito encerra em si a celebração da vida renascida, a fertilidade. Ora podemos já ver aqui uma relação com o delicioso coelhinho de chocolate da Páscoa, que não é mais que a representação da fertilidade, da multiplicação, tal como o ovo que fazemos questão de oferecer às crianças e que, com sorte, também alguns adultos o recebem!!! O mesmo representam as amêndoas, coloridas, alegres e gulosas!!! Até o cordeiro ou cabrito que não pode faltar no Domingo de Páscoa, remete para o episódio bíblico em que o Faraó manda matar todos os filhos primogénitos dos hebreus, mantidos em escravatura e cativeiro, sendo salvos só aqueles cuja porta de casa estivesse pintada de vermelho com o sangue do anho, ou cordeiro. É o cordeiro da salvação, da vida, por isso em todas as casas se cumpre esta tradição. Por todo o país, múltiplas expressões da comemoração da Páscoa merecem destaque, ressalvando de entre elas a travessia do Compasso em barco no Rio Homem em Amares, até à Procissão das Tochas Floridas em São Brás de Alportel, no Algarve.
É, no entanto, na cidade de Braga que a Semana Santa é vivida com o maior fervor, o que confere à cidade o epíteto de “Cidade dos arcebispos” e “Roma portuguesa”.
De todas as celebrações que se realizam em Portugal, a Semana Santa de Braga é a mais imponente e a mais divulgada, atraindo milhares de turistas à cidade. Os visitantes procuram essencialmente as grandes procissões noturnas com centenas de figurantes e onde harmoniosamente se conjuga a liturgia e a religiosidade popular com antigas tradições. Desde a Procissão dos Passos, aos cortejos bíblicos, todas estas manifestações culturais envolvem os bracarenses e acolhem os forasteiros. São um verdadeiro postal bíblico.
Ainda a norte se mantém muito vincada a tradição da visita Pascal ou Compasso, como anúncio festivo da Ressurreição do Senhor. A visita pascal representa um dos momentos mais esperados e festejados da Páscoa, onde se acolhe em casa o Compasso, padre e leigos, que, pelas ruas, anunciam que Jesus ressuscitou. As mulheres, dias antes, fazem uma limpeza profunda à casa para receber então pela mão do padre a Cruz florida, dando-a a beijar a toda a família, como símbolo de proteção.
Não podemos acabar sem falar da tradição do folar, inicialmente chamado de folore, bolo pouco açucarado, decorado com ovos inteiros e com flores dispostas à sua volta. Tem origem numa antiga lenda de amor entre uma rapariga, Mariana, e dois pretendentes, um rico e um pobre. A sua história, contrariando o esperado, tornou-se numa celebração de amizade e de reconciliação entre todos, simbolizada pelo bolo, pelos três ovos e pelas flores. Manda a tradição que os afilhados levem, no Domingo de Ramos, um ramo de violetas à madrinha de batismo e esta, no Domingo de Páscoa, oferece-lhe em retribuição um folar.
Adoro todas estas tradições que fazem do nosso país um tesouro!
Eu, depois de vos escrever e lembrar tanta coisa boa, só quero que a Páscoa chegue depressa!!
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