Afortunada Rebeldia
Psicologia

Afortunada Rebeldia

Somos ávidos pela estima social e nos esforçamos por conquistá-la frequentemente. A sua dependência atinge graus exorbitantes na escala das posições sociais, pois a simpatia, sua filha, é um poderoso instrumento que abre as portas e dá acesso ao que tanto se anseia para benefício próprio. Contudo, se de um lado somos incontroláveis consumidores do apreço alheio que pode nos beneficiar convenientemente, de outro, não se pode tapear a própria origem animal da qual somos reféns desde a origem mais primitiva cuja informação genética – modificada e adaptada – faz resultar, ainda nos dias atuais, nos mais variados tipos de comportamento afeitos ao egoísmo e às indelicadezas tão facilmente identificáveis no cotidiano. É o confronto entre a natureza rústica e a roupagem civilizatória.

O que não se enxerga, entretanto, é que paga-se um alto preço por cada cota de investimento que se faz socialmente à espera das “espontâneas” retribuições que se seguem peculiarmente através das relações de troca de favores. Tal custo se deve ao enquadramento a que nos submetemos a fim de atender ao que os outros esperam, sobretudo aqueles por quem temos especial interesse. Assim, se um dado benefício pessoal acena-se possível, ainda que vagamente, nos esmeramos em adequar-se à moldura daquilo que se espera de nós na contrapartida de recebermos o merecido prêmio. Para tanto, passamos da cara fechada ao sorriso amistoso e da crítica severa à desmedida bajulação com vistas ao rendimento de tal aplicação. Em incontáveis casos, chegamos mesmo a nos convencer de que assim o fazemos naturalmente e sem segundas intenções. É o aliviador autoengano ao afastar o mal-estar que tenta impor a verdade em vão ao se intrometer onde não foi convidado.

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O enquadre da submissão pessoal em troca da aceitação social exige do seu autor o bloqueio da autenticidade, razão pela qual leva a média de pensamentos a se aglutinar ao redor da aparência e a limitar o uso da inteligência criativa que, basicamente, é estimulada frente ao diferente e não ao comum. Porquanto ganha-se na convivência com o ajuste socializável – credite-se também o fato de ele ser um importante agente civilizatório – e perde-se, significativamente, com o bloqueio da criação e da inovação. Ora, se um dos requisitos mais essenciais do mundo contemporâneo, em destaque a área profissional, é justamente a criatividade, capaz de fazer enxergar além do vulgar e propor saídas alternativas para os problemas que se avolumam por sua natureza crescentemente complexa em decorrência da acirrada competitividade, então muitos andam, inequivocamente, a lentas passadas, retardando a progressão que poderia ocorrer mais estimulante e velozmente.

É de convir, pois, que o enquadre imposto pela necessidade de estima social geralmente dá resultado naquilo que se propõe fazer. Todavia, ao fixar-se nesse modelo de convivência a pessoa tende a restringir tanto o exercício da criatividade e do autodesenvolvimento quanto o campo de atuação pelo simples motivo de ela se acomodar submissamente como forma de se satisfazer com o seu lugar ao sol. Mas não percebe, tristemente, que é atingida por uns poucos e fracos raios da luminosidade e quentura, em contraste à abundância que lhe aguarda ao preço de romper, dosadamente, com o enquadre social autoimposto.

Afortunada é a rebeldia da autenticidade ante tal enquadre; ela é uma poderosa chave para mudar a crença aprisionadora e abrir porta bem maior do que se supõe existir, pois verdadeiro portal é aberto àquele que ultrapassa criativamente os limites da mesmice e resolve questões até então insolúveis a despeito da simpatia social, pois na hora do “vamos ver” o que conta é o resultado.

Armando Correa de Siqueira Neto

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