O Canadá é internacionalmente conhecido pelas suas belezas naturais. Os parques florestais são uma das grandes atrações para os visitantes nacionais e estrangeiros, sendo mais falados os das Montanhas Rochosas, como Jasper, Peyto Lake e Mount Robson, em Alberta.
No Ontário, o Algonquin Park, o primeiro grande parque provincial estabelecido em 1893, é um dos melhores exemplos de santuário natural ocupando mais de 7.500 km2, percorridos por rios, centenas de lagos, terrenos pantanosos e colinas elevadas. Aberto durante todo o ano, e a cerca de 300 km de Toronto e de Otava, atrai cerca de meio milhão de visitantes, que ali podem acampar, fazer canoagem, pescar, percorrer trilhas, observar fauna e flora únicas na natureza selvagem.
Vivi muitos anos em Toronto sem nunca ter ido até Algonquin. Apenas o conhecia através das pinturas de Tom Thompson e dos artistas do “Grupo dos Sete” expostas em lugar de destaque na Galeria de Belas Artes do Ontario (AGO), em Toronto, na Coleção McMichael de Artistas Canadianos em Kleinburg e na Galeria Nacional na capital, Otava.
Comprei e enviei muitas vezes postais com as pinturas famosas de Tom Thompson como “The Jack Pine”, “Smoke Lake”, “Autumn in Algonquin Park”. Porém, só depois de percorrer alguns dos lugares que inspiraram esse artista, compreendi o que o levou a passar tanto tempo no parque, e a influência que esse lugar exerceu no seu grupo de amigos artistas de Toronto.
Sabia que o Algonquin Park é um destino favorito de muita gente na estação do outono, mas não me é fácil encontrar as palavras que retratem os tons de carmesim, ferrugem, dourados, amarelos, verdes e azuis das florestas, pântanos, montes, vales, lagos e rios.
Parei em Canoe Lake, na área familiar a Tom Thompson, exímio canoísta, e comovi-me com a lembrança da morte misteriosa do artista aos 39 anos, no dia 8 junho de 1917. Apareceu afogado no lago, a canoa à deriva. Livros, filmes e reportagens inspirados na sua vida e trágico incidente continuam a despertar interesse e a colocar dúvidas sobre a explicação encontrada para a sua morte.
Neste ano de 2020, comemora-se o centenário da formação do “Grupo dos Sete”, os pintores que nas primeiras décadas do século XX revolucionaram a cena artística no Canadá, e que, apesar de críticas duras na época, tiveram um êxito extraordinário contribuindo para o fortalecimento de uma identidade e orgulho nacionais. Pintaram o Canadá na sua beleza selvagem, inspirando-se nas paisagens únicas do país, e com as suas obras deram-no a conhecer ao mundo. Usando cores fortes e técnicas pós-impressionistas e abstratas conquistaram os mercados internacionais de arte, a par de outros pintores de renome.
As pinturas de Tom Thompson e do grupo dos sete amigos Franklin Carmichael, Lawren Harris, A.Y. Jackson, Frank Johnson, Arthur Lismer, J.E. H. MacDonald e Frank Varley imortalizaram a paisagem de Algonquin Park, e continuam a servir de inspiração a gerações de artistas.
Para festejar o centenário da primeira exposição conjunta do Grupo dos Sete, realizada em Toronto, em março de 1920, estão a realizar-se várias iniciativas pelo país. Assinalo, aqui, uma que me parece bastante original. Em Hunstville, a cidade que fica mais próxima do parque, pinturas na parte exterior de sete canoas pelo artista Gerry Lantaigne, invocando as paisagens preferidas dos sete pintores, estão expostos ao público em locais privilegiados da cidade. Está programada uma exposição do conjunto das canoas, a incluir no festival Noite Branca, previsto para 25 de julho de 2021.
Desde o início do ano cem murais na região de Muskoka foram criados por artistas locais homenageando o “Grupo dos Sete”, a que se associa a iniciativa das canoas pintadas. Esta será uma forma de dar a conhecer ao grande público os nomes desses grandes pintores canadianos e as belas paisagens naturais do Canadá.
Professora Emérita da Universidade de Toronto
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