À conversa com Ulysses Pratas
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À conversa com Ulysses Pratas

Este mês fomos ao encontro do empresário que, desde 1986, está ao leme dos destinos da Presteve Foods, a maior empresa de pesca, processamento e comercialização de produtos pescados de água doce da Améria do Norte, sediada em Wheatley no Ontário., empregando atualmente mais de 300 pessoas.
Nascido no Canadá, tem raízes lusitanas no distrito de Aveiro, mais concretamente na Gafanha da Nazaré, localidade de onde pai e mãe imigraram na década de 60, instalando-se em Leamington nesta província.
Mudaram de país mas manteve-se o gosto pela água e, muito em particular, pela pesca.
Formado em Marketing pela Fanshawe College e detentor da licença de pesca na categoria de capitão “Masters Class III”, ocupa vários lugares de relevo nas associações do ramo tendo recebido vários prémios de reconhecimento pelo seu empenho e dedicação na industria e comércio da pesca.
Tem como “hobby” principal o atletismo. Momentos matinais que utiliza não só pelo bem-estar físico mas também porque, diz, ajuda-o a pensar e a tomar decisões importantes a nível pessoal e empresarial. Este gosto pelo desporto levou-o a correr 3 meias-maratonas no ano passado.
A filha, Nalani e Ethan, filho mais novo, encontram-se a estudar no ensino superior, em Lisboa e Toronto, respetivamente, tendo sempre acompanhado as raízes sócio-culturais lusitanas.
Salomé, a esposa e companheira de quase três décadas, nasceu na Nazaré em Portugal e é a harmonia e equilíbrio da família.
Recentemente embarcou numa nova aventura, levando a Presteve Foods à “descoberta” da zona de Toronto, tendo sido galardoado com o prémio Business Excellence Award atribuído pela FCPBP na gala que se realizou no passado mês de março.
No mês de abril estivemos à conversa com Ulysses Pratas.

Revista Amar: Onde é que aprendeu a falar tão bem português?
Ulysses Pratas: Eu não acho que o falo muito bem, tenho aquele complexo que não falo bem. Aprendi em casa com os meus pais, aliás a minha mãe era professora de Português, mas eu não fui muitas vezes às aulas dela, só fui uma ou duas vezes e mais tarde foi com a minha esposa.

R. A.: Nascido no Canadá, o que significa Portugal para si?
U. P.: Tive sempre aquela pena de não ter nascido em Portugal, digo sempre na brincadeira que “fui fabricado em Portugal e que nasci no Canadá”. Tenho uma ligação com Portugal porque tive sorte de ter ido lá quase todos os anos desde da minha infância até os meus 17 anos. Entre os 17 e 23 anos menos vezes, devido aos estudos e de começar a trabalhar na empresa. A partir daí temos ido quase todos os anos, inclusive houve anos em que fomos mais que 1 vez num ano, e sempre que chego lá, no aeroporto, fico emocionado. A palavra Saudade não existe no resto do mundo e é uma palavra que identifica os portugueses. Portugal é de onde vem a minha origem… tenho sangue lusitano e tenho orgulho em ser português!

R. A.: Consegue-se imaginar a viver em terras lusas?
U. P.: Consigo e não consigo… (risos) Consigo pela cultura, pela ligação com Portugal e o orgulho de ser português, mas depois dos meus 32 anos de empresário aqui, não sei se era capaz de “sobreviver” no sistema burocrático português, não sei se iria ter a paciência de começar tudo de novo lá. Vontade não me falta, mas eu sou do tipo de pessoa que se é pra fazer alguma coisa, então faço agora…

R. A.: E na reforma?
U. P.: Eu não sei se serei capaz de viver uma reforma sem estar ocupado… Para mim o ideal será continuar a fazer alguma coisa, só que em vez de trabalhar 8h a 12h por dia, será 2h, 4h ou 5h, ou então 2 a 3 dias completos numa semana. Contudo, gostaria que fosse algo que quis de ter feito quando era mais novo e que não tive oportunidade de o fazer, mas tem que ser na altura e no meu tempo certo e nas minhas condições.

R. A.: O que lhe ensinaram os seus pais?
U. P.: Os meus pais ensinaram-me o que é “trabalho árduo”. Naquela época, nos anos 50 e 60, como pode imaginar não foram décadas fáceis em Portugal, tinham pouco ou nada e vieram para um país em que quem trabalhasse muito conseguia ter “alguma coisa”, e eles lutaram por isso. Eu fui criado naquele ambiente e fui habituado ao “escola-trabalho-casa” e isso deu-me disciplina, a continuar sempre a ser melhor e passei, e passo, isso aos meus filhos. Agradeço aos meus pais por me ensinarem, desde de pequeno, quem eu era e de onde vinha.

R. A.: Quando os seus pais chegaram ao Canadá, porque decidiram criar raízes em Leamington?
U. P.: O meu pai quando cá chegou tinha um irmão em Hamilton e trabalhou entre Hamilton e Toronto. Em Leamington, vivia a irmã do meu pai, desde 1953 e naquela época o destino do emigrante já estava decidido, pela Emigração, para onde iria e neste caso o meu tio foi trabalhar para lá nas quintas. Os meus pais são da área das Gafanhas, Aveiro, zonas mais pequenas e quando foram visitar a minha tia, gostaram daquilo, arranjaram trabalho e ficaram por lá. Pouco depois o meu pai começou a empresa de construção.

R. A.: Quem esteve presente na Gala da Federação de Empresários e Profissionais Luso-Canadianos pôde assistir, no passado dia 24 de março, a cumplicidade que existe entre si e a sua família. Estes valores também foram incutidos pelos seus pais? E o que significam para si?
U. P.: Foram, porque nós naquela altura também eramos uma família pequena e o meu pai trabalhava muitas horas extraordinárias o que não dava para estar sempre com os meus tios e primos, juntávamo-nos em festas e pouco mais, mas fora isso eramos só os 4 em casa. E eu sempre imaginei que se um dia tivesse uma família que fosse assim unida.

R. A.: Como e quando conheceu a sua esposa?
U. P.: Foi um acaso, num domingo em que tinha ido trabalhar de manhã, e como era verão fui andar de carro à tarde quando vi esta jeitosa (risos), pela primeira vez, a passear com uma moça que eu já conhecia de vista, e a partir dai pouco a pouco tentei aproximar-me dela, mas não foi fácil pois não sabia o nome dela. Depois aventurei-me e comecei a falar com ela.

R. A.: Estão casados há quantos anos?
U. P.: Celebramos este ano o nosso 29º aniversário.

R. A.: É caso para se dizer que “por de trás de um grande homem, está uma grande mulher”?
U. P.: É, no meu caso é. Eu estou sempre a pensar, e às vezes tenho ideias boas e outras menos boas, e a Salomé é quem me trás o equilíbrio e a calma que preciso para tomar certas decisões.

R. A.: Têm 2 filhos, Nalani e Ethan. Que idade têm?
U. P.: A Nalani tem 24 anos e o Ethan 21 anos.

R. A.: Como descreve a vossa relação, pais e filhos?
U. P.: Nós somos uma família chegada. Os jovens quando atingem esta idade têm uma tendência de quererem ser independentes, o que é normal… nós deixamos que eles tenham essa independência e respeitamos o espaço deles, sempre vigilantes, o que de vez em quando é difícil. Temos tido sorte, não tivemos problemas de maior com os nossos filhos. Damos conselhos, como por exemplo em relação aos estudos… tentamos guiá-los sem os sufocar e tem resultado. Sabem que podem sempre falar connosco e quando precisam de alguma coisa falam mais para a mãe, claro que mãe é sempre mãe. Eu estou mais ocupado e eles entendem isso e respeitam, mas obviamente sempre que necessitam de mim e se me for possível deixo tudo da mão. Eu também sei quando eles precisam de mim, um pai reconhece isso, nessas alturas paro tudo e dou-lhes o tempo que eles necessitam para falarmos.

R. A.: Achou importante partilhar com eles a língua de Camões e as tradições portuguesas?
U. P.: Eu acho muito importante. No caso da nossa filha, ela fala, lê e escreve. Adora as nossas tradições, a nossa cultura, tem orgulho em dizer que é portuguesa e com esta experiência que está a viver, por estar a estudar em Portugal, os laços ficaram ainda mais fortes. No caso do nosso filho é um pouco diferente, pois ele já foi criado noutro ambiente com menos portugueses ao redor dele, numa comunidade mais multicultural e já não teve aquela necessidade de falar em português, mas claro que gosta de Portugal, sabe e compreende as nossas tradições e a nossa cultura. Sabe dar valor e gosta das festas religiosas ou socioculturais e não esconde que é português. Acho que tem a ver com o ambiente escolar, que o influenciou e que é natural porque nasceu cá. A Nalani teve a vantagem de ter ido a Portugal mais vezes em pequenina e a primeira língua que aprendeu foi o português.

R.A.: A Nalani está a tirar o mestrado de Business Management na Universidade Nova de Lisboa. Porquê tirar o mestrado em Portugal?
U. P.: Voltando ao que já tinha referido, a decisão foi dela pela ligação que tem com Portugal e se sentir portuguesa. A Nalani podia ter ficado por aqui e inclusive foi aqui em Toronto, na Ryerson University, que se formou em Business Managment. Depois andou a pesquisar sobre universidades no Canadá para fazer o mestrado, porém também queria sair e então seria fácil ir para um país onde tem raízes e fala a língua. Foi isso que a motivou.

R. A.: O Ethan, por sua vez veio para a Universidade de Toronto, estudar Física. Por alguma razão em especial?
U. P.: Foi por causa do curso que ele queria. Também fez uma procura e a universidade que lhe proporcionaria o que ele queria era a de Toronto. Na época a Nalani ainda estava a estudar cá e isso talvez também pesou na decisão dele.

R. A.: Quando é que se mudaram de “malas e bagagens” para Toronto?
U. P.: De vez foi no inicio de março, contudo começámos a vir com mais frequência desde do Natal.

R. A.: Presumo que não tenham tomado esta decisão de ânimo leve, contudo o que vos levou a tomar essa decisão?
U. P.: Bem, é uma boa pergunta… não foi fácil tomar esta decisão e não foi de um dia para o outro, foi uma decisão muito ponderada que levou anos a ser tomada. Eu quis sempre mudar-me para uma cidade grande, tinha a ideia de vir para esta área desde criança. Para além do gosto de um dia viver aqui, achava que também era uma área para novas e boas oportunidades de negócio… ainda não sei quais, mas com o tempo vou descobrir.
Depois de 32 anos a trabalhar em Leamington concretizei os meus sonhos e objetivos, chegar onde cheguei é um marco a nível pessoal e profissional… eu podia lá ficar, mas também é importante dar aquele salto para não ficar estagnado, novos objetivos tinham que ser, sem dúvida, num novo ambiente e já que tinha que ser noutro ambiente, então fosse numa área que eu sempre gostei e que é esta. Agora estou na fase de “descoberta”, mas ainda só passaram 3 semanas, já tenho algumas ideias porque eu estou sempre a pensar no que vem a seguir e no futuro, acho que é uma característica dos empresários, de nunca parar… se por um lado como empresário tem que se arriscar e dar aquele salto, por outro lado é um salto para o incerto, uma pessoa nunca sabe o que pode acontecer, mas se os resultados viessem antes da ideia a vida seria muito fácil. Porém, acreditar em nós próprios é essencial e é o esforço que faço todos dias… acreditar em mim e nas pessoas que me rodeiam.
Necessito ter a confiança das pessoas e do apoio delas para alcançar os objetivos e os sonhos que tenho, é o que me dá aquela força de vontade de manhã de arrancar e fazer. É muito bom chegar a casa descansado porque consegui fazer durante o dia o que tinha projetado… claro que deu e dá aquele “frio na barriga”, mas “quem não arrisca não petisca”, obviamente que tenho uma ligação especial, é uma paixão e tenho muito orgulho no que consegui alcançar e fazer na minha vida e como disse na Gala não o consegui sozinho, apesar de ter tido as minhas ideias também aceitei ideias de quem me rodeava e para conseguir fazer o que era necessário.
Torna-se fácil tomar certas decisões quando sei que as pessoas à minha volta são boas e que fica lá uma equipa que para além de saberem como gosto que as coisas funcionam, também têm as ideias deles e juntos chegaremos ao ponto onde precisamos chegar. Deixar completamente não vou, afinal são 32 anos da minha vida.

R. A.: Atletismo é um hobby ou uma paixão?
U. P.: Esta é outra boa pergunta. Durante anos não pratiquei desporto. Era de casa para o trabalho e do trabalho para casa, sem horários para fazer as refeições, à noite compensava… a comida era boa, a Salomé cozinha muito bem e nunca tive aquela preocupação de cuidar de mim, até ao dia que um primo meu faleceu aos 39 anos que foi, como se diz em inglês, um “wake up call” e comecei a pensar e na mesma altura o meu médico também me chamou à atenção para os meus níveis do colesterol que estava um pouco altos e depois aconteceu uma coisa interessante que nunca hei-de esquecer. Numa das minhas viagens de negócio, no avião estava assentado ao lado de um senhor e começamos a conversar porque o voo estava atrasado, e eu sem saber que ele era médico só me o disse mais tarde. A conversa foi à volta da medicina e o que era bom para o nosso corpo. No meu pensamento, achava que estava bem, quando aquele senhor me diz que “se perdesse alguns “pounds” não lhe fazia mal”… comecei a pensar no que tinha acontecido com o meu primo, o que este médico me tinha dito, o meu colestrol estava alto, o meu pai era diabético… cheguei aos 40 e decidi cuidar de mim. Eu comecei a correr às 5:30h da manhã, o que no inicio era pouco, até me sentia envergonhado porque nem conseguia correr 1km, mas isso deu-me vontade de continuar, porém tinha que ser na manhã seguinte pois ao fim do dia estava cansado e também precisava descansar. Entretanto apercebi-me que aquela corrida matinal não só me fazia bem ao corpo como eu podia aproveitar aquele tempo de 1h a 1h30m para pensar, o que era fantástico. Aproveito este tempo para pensar no que vou fazer durante o dia, em projetos e objetivos. Uma coisa ao qual eu nunca tinha dado valor quando era mais novo. Antes saía de casa com uma ideia ainda não muito bem amadurecida e chegava ao escritório para a pôr em prática. Comecei pela minha saúde, mas trouxe-me outros benefícios e sem nunca ter intenções de competir. Entretanto a Nalani quando veio para Toronto tentou-me convencer a correr com ela na sua primeira corrida de 5km pelo Natal. Não me conseguiu convencer, mas no fim da corrida disse para mim mesmo que se houvesse uma próxima vez iria com ela, mais para estar com ela e partilhar algo que temos em comum, e acabei “viciado” naquilo… (risos). No ano seguinte fiz 5 ou 6 corridas de 10km, umas com a minha filha e outras sozinho. Fui melhorando e no ano passado entre as corridas de 10km, fiz 3 meias-maratonas. Não o faço pela competição, faço-o pelo meu bem-estar e para provar a mim mesmo que consegui riscar mais um objetivo da minha “Bucket List” e agora tento melhorar o meu tempo corrida após corrida, mas por mim mesmo.

R. A.: E o futebol tem espaço na lista de desportos?
U. P.: Naquela altura, em casa com os meus pais, não tivemos acesso à media que temos hoje em dia. A televisão só tinha um programa português e era só uma vez por semana, ao domingo e era de Toronto. Posteriormente é que veio a televisão a cabo e as coisas mudaram. O meu conhecimento pelo desporto português só veio uns anos depois de ter casado, quando comecei ir mais frequentemente a Portugal. Hoje aprecio o nosso futebol, tanto a seleção como a nível de clubes.

R. A.: E Fado?
U. P.: Adoro! Adoro Fado… sem preferências, porque normalmente gosto de tudo o que ouço.

R. A.: A Presteve Foods celebrou este ano o seu 38º aniversário. Como é que começou e quem escolheu o nome?
U. P.: O Presteve Food foi fundado em janeiro de 1980. O investimento foi entre o meu pai e um sócio. O nome é a junção dos nomes de família do meu pai, Pratas e do sócio, Sr. Esteves… PR + ESTEVE. A sociedade não durou muito, mas o nome ficou. De 1980 a 1986 a Presteve Food era uma empresa virada só para a pesca, tinha uns barcos e umas cotas e o meu pai ainda tinha a companhia de construção. Entretanto foi necessário investir porque a Presteve começou a cescer. Curiosamente o último trabalho da empresa de construção do meu pai foi precisamente uma área pequena da nossa fábrica na sede da Presteve. Nessa época já tinha quase o ensino superior completo, então quando abrimos em dezembro de 1986 comecei a trabalhar lá e a estudar ao mesmo tempo até abril de 1987, aquando finalizei o último semestre e estou lá até hoje, já são quase 32 anos.

R. A.: É formado em Marketing. Foi uma escolha de coração ou foi já a pensar que poderia ser útil no futuro da Presteve Food?
U. P.: É uma pergunta interessante. Eu comecei a andar na pesca aos fins de semana, nos feriados e nas férias de verão e se me tivesse perguntado naquela altura “o que queres ser na vida?”, eu tinha 2 opções e respondia que queria ser arquiteto ou advogado. A razão poque queria ser arquiteto é que eu via os desenhos das casas que o meu pai desenhava, não desenhava todos mas a maioria foi, enquanto teve a companhia de construção. Eu gostava de ver o meu pai a desenhar no escritório de casa. Advogado não sei explicar muito bem de onde é que eu tinha tirado a ideia, mas era um gosto… gostava. Porém com a compra do nosso primeiro barco, as minhas ideias mudaram para ser mestre de barco, tanto que o sou. Quando acabei o High School eu já queria fazer mais do que ser mestre de um barco, depois apanhei algumas alergias de pele nas mãos, o meu pai começou a pensar em fazer a fábrica, então, como eu gostava de Marketing, de vender e daquele estilo de vida decidi-me por ter uma formação que me pudesse ajudar nessa área. Esta foi a razão porque me formei em Marketing, foi já a pensar no futuro… e porque também foi a disciplina com a nota mais alta, 100%, que tive no High School… (risos).

R. A.: Era essencial tirar o mestrado de Capitão?
U. P.: Pela lei era essencial e para viver na casa do meu pai também… (risos), mas fiz enquanto estava no Grade 12, tive que me ausentar por mais ou menos 2 meses e consegui fazer ambos ao mesmo tempo.

R. A.: O que mais o fascina quanto se encontra ao leme?
U. P.: Hoje em dia não tenho muito tempo, contudo quando vou ver os barcos e entro na casa do leme… eu gosto daquela vida, lembro-me dos anos que passei nos barcos, no tempo de estudante e não sei explicar porquê… gosto porque talvez compreenda aquela vida.

R. A.: Como está a pesca nos grandes lagos canadianos? E quais os lagos que dão o melhor peixe?
U. P.: Está bom para a pesca porque o Ministro da Pesca está a fazer um bom trabalho para que haja uma pesca sustentável para que a indústria possa ficar por muitos anos, o que é importantíssimo porque não podemos pensar só no presente. É reciso pensar nos recursos renováveis e, neste caso, as próximas gerações têm aqui uma indústria com futuro, o que me deixa feliz. Em relação ao melhor lago, considero todos lagos bons, porém o Lake Erie é o mais produtivo, porque como é mais raso a água aquece mais no verão o que é favorável ao aumento de alimento para o peixe, ou seja, o ambiente deste lago é o ideal para a reprodução e crescimento do peixe. Agora todos os lagos têm bom peixe e de variadíssimas espécies.

R. A.: Que tipo de peixes estão disponíveis na Presteve Foods?
U. P.: Os principais e os mais procurados são: o Lake Perch/Yellow Perch, o Pickerel, o White Fish, o Lake Smelt, o White Bass e o White Perch.

R. A.: Os portugueses ainda gostam de consumir peixe?
U. P.: Sim, gostam… só que o português gosta mais do peixe “dele” que é o peixe do mar, o que é normal. O peixe da água salgada é muito diferente do peixe de água doce, e nota-se que são os portugueses que vieram e vêm do litoral e das ilhas que preferem o peixe do mar e isto não quer dizer que não gostam do peixe do lago, mas claro que o sabor do peixe é diferente.

R. A.: Na sua opinião, que peixe é que prefere e recomenda?
U. P.: Eu prefiro e recomendo o Yellow Perch.

R. A.: Quem são os seus maiores consumidores/clientes?
U. P.: Vou voltar à parte do Marketing, nós temos muitos perfis demográficos, ou seja, uns são culturais e outros regionais isto numa área de 250km à volta dos grandes lagos. Assim sendo, o peixe é obviamente conhecido e o mercado é fornecido através de Food Service, que leva o peixe até aos restaurantes e ao retail. Na América do Norte os consumidores são mais “culturais”. Na Europa, o nosso peixe é conhecido porque têm as mesmas espécies. Nós dizemos que são “primos” dos nossos e, devido à escasses destes nos lagos europeus, proporcionou-nos a exportação. Nós exportamos para a: Suiça, Itália, Alemanha, França, Holanda, Finlândia, Suécia, etc… e nestes casos são consumidores “regionais”. Também temos espalhado pelo mundo os consumidores “culturais” que tem mais a ver com a religião, como por exemplo a comunidade judaica. O Certificado de Coacher Fish House, do CRQ de Toronto, facilita-nos a exportação do peixe para esta comunidade em Miami, Brooklyn, Los Angeles, Chicago, Toronto, etc.

R. A.: Está envolvido em vários “comités/boards” relacionados com o ramo da pesca. Como consegue conciliar estas tarefas com o seu trabalho diário?
U. P.: Eu tenho dias complicados, porque é difícil estar em dois lugares ao mesmo tempo. Porém é essencial que eu esteja envolvido em certos comités e boards por motivos profissionais. Tenho que fazer aquele esforço adicional de estar presente e por mais que tente balancear as coisas, é complicado conseguir, mas tento fazer o melhor possível.

R. A.: Tem sido reconhecido várias vezes pelo seu empreendorismo, dedição e sucesso empresarial. Este prémio e reconhecimento pela Federação foi diferente?
U. P.: Os meus objetivos profissionais nunca foram para ganhar prémios. Ganhei alguns grandes reconhecimentos que, como foi este da Federação, chegaram de surpresa. São prémios que valorizam e reconhecem o meu trabalho nesta indústria. Depois recebi prémios que têm mais a ver com a área na qual a sede da Presteve Food está inserida, que não são menos importantes por isso, mas são diferentes por razões óbvias. Agora, este prémio da Federação fui muito especial, pois as pessoas não tiveram tempo de me conhecer ou saber por mim sobre a minha história neste pouco tempo que vivo cá e, mesmo assim reconhecerem e valorizarem o meu trabalho quer dizer-me muito… que a Presteve Foods é realmente reconhecida pelo seu produto e dedicação. Saber que afinal até sabem quem é o Ulysses Pratas… nunca pensei que aqui soubessem e nunca fiz nada para que soubessem. Fui uma surpresa muito grande e pensei… WOW!!!

R. A.: Quantos barcos fazem parte da frota da Presteve Foods?
U. P.: Atualmente temos 8 barcos e muitas empresas independentes dos grandes lagos, cerca 60%, a trabalhar para nós.

R. A.: Que nome deu ao primeiro barco? Ainda faz parte da frota?
U. P.: O primeiro barco foi batizado de Navegate e ainda faz parte da frota. Em Aveiro havia um navio com esse nome e daí a escolha. Os outros mantiveram os nomes que tinham. Há um barco em particular, o Merri Gale, que também decidi manter o nome devido às memórias da minha juventude.

R. A.: A Salomé gostou da homenagem? Foi por alguma ocasião especial?
U. P.: Em 2010 houve uma restruturação na Presteve Foods e eu comprei a empresa e para assinalar a nova fase decidi “rebatizar” alguns barcos com nomes que faziam mais sentido para mim. O primeiro foi rebatizado com o nome da minha filha e ficou Lady Nalani. Depois também rebatizei um com o nome da minha esposa, Lady Salomé e um com o nome do meu filho, Ethan P.
Salomé Pratas: Gostei imenso, mas achei que deveria ter o nome do Ulysses por várias razões. Falámos muito sobre isso, como eu achava que o nome dele era o mais indicado, porém ele rejeitou sempre e fez questão que fosse o meu nome… não vou negar que me deixou super contente.
U. P.: Não quis o meu nome num dos meus barcos, porque nunca tive esse objetivo. Talvez porque sou uma pessoa privada e porque seria cliché.

R. A.: Falando nos seus filhos, os cursos que frequentam é uma preparação para assumirem a empresa no futuro?
U. P.: Ninguém sabe o dia de amanhã, mas tenho quase a certeza quem nenhum dos dois se venha interessar em a assumir e, honestamente, eu gostaria que eles seguissem alguma coisa que eles gostem. Tudo o que fiz, fiz por gosto e não porque já vinha do meu pai, ou seja, não foi e não é uma situação de obrigação ou de geração. Eu tinha prazer de andar nos barcos, ir à peixaria para fazer perguntas sobre a origem do peixe e só para ter a certeza que vinha da Presteve Foods ou falar com o Chefe de um restaurante… tenho imensas fotos desse tempo. Por outro lado os meus filhos viram bem os sacrifícios que tive que fazer. O que eu quero mesmo é que eles encontrem algo por eles próprios e que acima de tudo de algo que gostem e que sigam os seus sonhos.

R. A.: O que espera os torontonianos com a chegada da Presteve Foods?
U. P.: Isso ainda é um segredo… (risos) mas saberão brevemente.

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