O Vulcão dos Capelinhos
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O Vulcão dos Capelinhos

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Na ilha de La Palma, no Parque Natural de Cumbre Vieja as torrentes de lava incandescentes arrasam tudo à sua passagem sem contemplações. A impressionante força da natureza reduz-nos à nossa insignificância. Num mundo tecnologicamente avançado, os peritos fazem previsões para a duração da erupção vulcânica, alguns arriscam mais de 80 dias, outros pouco mais de um mês. Incrédulos os ilhéus assistem impotentes à destruição da paisagem humanizada pelo homem, enquanto outros viajam para a ilha para assistir ao inferno de Dante em direto.

Um cataclismo natural mediatizado pelas televisões e redes sociais, com a finalidade de captar imagens apocalípticas, recolher testemunhos das vítimas em choque e sem piedade ou misericórdia pelos afetados nesta tragédia natural.

Um fenómeno natural imprevisível transformador da realidade da ilha de La Palma, os principais setores da atividade a colapsar, o futuro avizinha-se negro como as fumarolas expelidas pela boca fendida do cone vulcânico.

O principal setor de atividade, o turismo estagnou com a falta de turistas, na agricultura a produção de banana das Canárias em risco, a pesca em suspenso pela contaminação das águas. O smog vulcânico torna a atmosfera irrespirável, os telhados das casas perto de sucumbirem pelo peso das cinzas acumuladas, os habitantes abandonam as áreas críticas deixando para trás o património de uma vida.

No dia de natal, o vulcão adormeceu finalmente, passados cerca de 3 meses uma normalidade estranha regressou à ilha de La Palma.

 

 

No entanto, no outro extremo do planeta, no arquipélago do Havai em pleno oceano pacífico, o Kilauea, o vulcão mais ativo do planeta, entrou novamente em erupção a 29 de setembro de 2021, pelas 15h20 no Havai (2h30 de quinta-feira em Lisboa), segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, United States Geological Survey). Por enquanto, a atividade está confinada ao Parque Nacional de Vulcões do Havai.

Após pausa de alguns dias, o vulcão Kilauea entrou novamente em erupção no passado dia 11 de janeiro estando esta, para já, circunscrita à cratera Halema’uma’u, não havendo registo de que a atividade esteja a migrar para outros locais do vulcão.

O nível do lago de lava formado na cratera Halema’uma’u aumentou cerca de 13 metros e tem vindo a descer gradualmente desde que se verificou a deflação do sistema vulcânico, bem como a diminuição do tremor vulcânico.

Esta erupção, como foi dito anteriormente, ocorre e está circunscrita apenas ao cume do vulcão Kilauea, mas representa algum perigo para as populações e visitantes do Parque Nacional de Vulcões do Havai. As autoridades apontam como principal perigo, as grandes emissões de gases vulcânicos (vapor de água, H2O; dióxido de carbono, CO2 e dióxido de enxofre, SO2) provenientes da atividade vulcânica e dependentes da direção do vento.

Poderíamos enumerar uma lista de vulcões em erupção em todo o mundo, contudo iremos falar do Vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial.

A erupção ocorreu há mais de 65 anos, a 300m da ponta do Capelo na freguesia dos Capelinhos. A erupção foi antecedida por uma intensa atividade sísmica. O fenómeno surgiu no mar, assistiu-se à emissão de vapor de água e gases em grandes quantidades e também a explosões, que lançavam jatos de cinzas e nuvens de vapor de água.

As fúrias das cinzas expelidas pelo vulcão destruíram uma grande quantidade de bens, os campos e as pastagens ficaram completamente soterradas pelas cinzas. As pessoas da freguesia dos Capelo subsistiam principalmente da agricultura e da criação de gado.

Com a acumulação de detritos formou-se uma pequena ilhota que chegou aos cem metros de altitude e ficou conhecida como Ilha Nova. Nos momentos de acalmia esta nova estrutura era devorada pelo mar e várias outras ilhotas nasceram e desapareceram durante os meses do vulcão.

 

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Vulcão dos Capelinhos
Créditos: Direitos Reservados

 

Em setembro de 2012 numa entrevista, António Inácio com 86 anos morador no Monte Pequeno, freguesia do Capelo, relembrou a erupção do Vulcão dos Capelinhos.

As projeções chegavam a atingir 1 km de altura. Segundo António Inácio tudo começou com uma “fervura no mar” e a “terra não parava de tremer”. Segundo o nosso entrevistado as populações ficaram agoniadas perante um fenómeno natural desconhecido, as explosões altíssimas provocando uma escuridão em pleno dia, os habitantes da ilha nunca tinham assistido a uma erupção, apesar de habitarem numa ilha de origem vulcânica. A grande maioria da população vivia assustada e evitava chegar perto do fenómeno. – SIARAM: Testemunhos da Erupção Submarina do Vulcão dos Capelinhos – 1957/1958 (azores.gov.pt)

O impacto da erupção do Vulcão dos Capelinhos na população levou ao surgimento de explicações para o fenómeno, umas mais científicas, outras mais sobrenaturais. O expoente máximo surgiu com a Lenda da Nossa Senhora das Dores. Segundo os populares durante a erupção do Vulcão dos Capelinhos, na noite de 12 para 13 de maio de 1958, noite em que foram registados mais de 400 sismos, toda a freguesia da Praia do Norte foi destruída, incluindo a igreja paroquial, mas imagem de Nossa Senhora das Dores ficou de pé.

 

 

Nessa noite a população foi forçada a retirar-se da freguesia, devido à total destruição das suas habitações, e deslocaram-se para a parte norte da mesma, reunindo-se no sítio do Chafariz de Cima na casa onde estava o Divino Espírito Santo. Lá a população aguardou e observou o desmoronamento de parte de suas moradias, refugiando-se posteriormente nas freguesias vizinhas a norte, nomeadamente nos Cedros, Salão e Ribeirinha.
Entretanto a igreja também foi derrubada pelos sismos, teto, paredes e altar, ficando apenas e de pé a imagem de Nossa Senhora das Dores, tendo com a trepidação dos sismos rodado ligeiramente para o Norte da freguesia, coincidentemente local para onde a população se juntou para fugir à calamidade, e onde mais tarde foi acolhida pelas freguesias referidas.

A devoção à Senhora das Dores foi reforçada significativamente em virtude desta situação. Apesar de parecer lendária, esta história é real, visto existirem fotos que comprovam este facto, no entanto existem pessoas que afirmam que a imagem foi colocada propositadamente de pé e quando a encontraram estava caída.
Após sete meses de erupção no mar abriu-se uma fenda em terra, na parte leste do cone do vulcão, onde era possível ver repuxos de lava incandescente que subiam a vários metros de altura. Cerca de um ano após do seu aparecimento o vulcão começou a perder força e em 24 outubro aconteceu a última libertação de lava.

Carlos Cruchinho

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