Ribeirão da Ilha, beleza sem par
Turismo

Ribeirão da Ilha, beleza sem par

revista amar - manuela marujo - ribeira da ilha

 

Uma das três mais antigas freguesias da Ilha de Santa Catarina, o Ribeirão da Ilha, encanta-me pela sua beleza e pelo cuidado na preservação da herança “manezinha”, deixada pelos “manéis” açorianos e continentais. Fica localizada no sopé dum morro elevado, banhada pelas águas da baía sul, na face interna da ilha e de costas para o oceano Atlântico.

Para chegar ao centro da freguesia, vale a pena percorrer de carro, a velocidade reduzida, uma estrada calcetada e cheia de “quebra-molas”. Os vários anúncios de restaurantes, ao longo do caminho, preparam-nos para o que vamos encontrar nessa baía abrigada – dezenas de fazendas de ostras. O distrito orgulha-se de produzir 90% da totalidade das ostras consumidas no Brasil.

 

 

No centro do Ribeirão, a igreja e as casas de arquitetura colonial recordam-nos a origem portuguesa. A igreja, inaugurada em 1806, com os seus altares em talha policromada e subtilmente dourada, semelhante a muitas igrejas portuguesas, é dedicada a Nossa Senhora da Lapa e constitui património nacional. Ao lado dela, encontra-se um pequeno “império” onde se celebra a Festa do Espírito Santo, testemunho da devoção açoriana de que o Ribeirão muito se orgulha e que mantem até hoje.

Alguns quilómetros adiante, a visita à Pousada/Ecomuseu Ribeirão da Ilha em muito nos elucida sobre a história local. O proprietário, Professor Nereu do Vale Pereira, transformou o casarão da família, construído em 1921, num pequeno museu e expõe, em salas próprias, mobiliário, objetos de cerâmica, artesanato e outros, preservando igualmente um engenho de farinha de mandioca e peças dum antigo alambique de cachaça. Dessa forma é contada a história da chegada dos 6 000 açorianos entre os anos 1748-1756. Alunos das escolas públicas fazem visitas de estudo e aprendem sobre os primeiros povoadores do século XVIII, consultam a biblioteca e participam em atividades lúdicas.

Se continuarmos de carro, sempre junto ao mar, a estrada termina na Caieira da Barra do Sul. Aí surge-nos uma alternativa: caminhar numa trilha até à Ponta dos Naufragados, em zona florestal preservada, ou contratar um barqueiro que nos leve à praia do mesmo nome. Já fiz a trilha várias vezes e sempre achei que vale a pena descer e subir pedregulhos, saltar troncos quebrados de árvores e atravessar pequenos riachos. Leva cerca de uma hora para percorrer uns quatro quilómetros e alcançar essa praia isolada numa pequena enseada, ladeada por um farol.

O nome da Praia dos Naufragados foi atribuído a este lugar como lembrança do fatídico naufrágio, em 1753, de duas embarcações (sumacas) que levavam 250 açorianos para o Rio Grande do Sul. Devido a grande tempestade (“forte pampeiro do vento sul”), ali pereceu a maioria, após viagem tão morosa e difícil, sem ter usufruído da alegria da chegada. Salvaram-se apenas 77 pessoas.

A praia isolada dos Naufragados é muito calma, boa para mergulhar e descansar durante algumas horas. Nela podemos admirar “oficinas líticas” que nos transportam a tempos pré-históricos, estimados em mais de cinco mil anos. Há, geralmente, um barqueiro que nos pode levar de regresso até à Caeira da Barra do Sul. No caminho, dá para admirar as ruínas da antiga Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1742, na ilha de Araçatuba, a pousada da Ponta dos Papagaios, ponto turístico muito afamado, e, ainda, o longo areal da Praia do Sonho, do outro lado da baía, já no município vizinho, de nome Palhoça.

 

 

No final da tarde, é quase obrigatório parar no centro do Ribeirão e entrar num dos inúmeros restaurantes de ostras, uma das atrações que ali levam turistas e catarinenses. Ir ao Ribeirão na hora do jantar vale pela gastronomia única e a beleza do entardecer. Nesse antigo povoado, cedemos à magia da hora e do lugar, à frescura e variedade de marisco servido no Ostradamus, no Rancho Açoriano, no Muqueca da Ilha ou noutro restaurante, acompanhado de caipirinha ou “chope” fresquinhos.

Para apreciar tudo isso, basta percorrer devagar os cerca de vinte quilómetros de estrada, sempre na beira do mar. Para os amantes do pôr do sol, uma ida ao Ribeirão da Ilha nessa hora mágica deixa-nos deslumbrados perante a beleza ímpar da paisagem.

Manuela Marujo

Redes Sociais - Comentários

Ver também
Fechar
Botão Voltar ao Topo