Terra do bacalhau
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Terra do bacalhau

revista amar - Terra do bacalhau
Créditos © GGW

 

A Terra Nova e Labrador, província atlântica do Canadá, ocuparam um enorme papel no meu imaginário infantil e, tenho a certeza, no de muitas gerações de portugueses – era a terra do bacalhau.

É provável que as primeiras imagens que eu tenha visto do Canadá fossem do porto de St. John’s onde a tripulação da “frota branca” desembarcava tendo icebergues como pano de fundo. A longa travessia do Atlântico era uma grande aventura, registada nos jornais portugueses. Guardo, na memória, imagens dos pequenos “dories” balançando no mar de vagas altas rodeados de um nevoeiro intenso. Ouvia falar da coragem dos bacalhoeiros que, de tão longe, nos faziam chegar esse peixe abundante que era preciso carregar para o navio, ser escalado e salgado para, no regresso, ser consumido em Portugal.

 

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Porto de St. John’s – Créditos © Manuela Marujo
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Porto de St. John’s – Créditos © Manuela Marujo

 

S. John’s é a cidade mais antiga da América do Norte, e o seu nome vem de São João Baptista por ter sido o explorador italiano Giovanni Caboto (John Cabot) a chegar às margens da Terra Nova, em 24 de junho de 1497.
Um lugar de visita obrigatória é a colina onde fica a Cabot Tower, construída em 1897, para comemorar os 400 anos da fundação da colónia, em 1997. A vista panorâmica desse ponto elevado da cidade dá-nos de imediato uma boa perspetiva do porto e da paisagem circundante.

Para quem, como eu, estudou as viagens dos portugueses pelo mundo, aprende na escola que se atribuem os nomes dados a essas paragens aos irmãos açorianos – antes da chegada de Cabot – João Vaz Corte-Real, Terra Nova (1472), João Fernandes Corte-Real, Labrador (1492).

St. Jonh’s, a capital da província, é uma cidade com muitas colinas e as ruas da zona mais antiga, com as casas de madeira coloridas, encantam-nos, especialmente as da rua Holloway, a que se dá o nome de “Jellybean Row”!
Mais abaixo fica o porto, que se situa numa enseada protegida por grandes rochedos. Voltamos a subir a rua para apreciar os vários lugares de interesse turístico como a Catedral Anglicana, a Catedral Católica, o Museu Provincial da Terra Nova e Labrador (“The Rooms”), e a Galeria de Arte. Não se pode deixar de subir ainda um pouco mais até Signal Hill National Site, onde Marconi conseguiu, em 1901, o primeiro sinal de comunicação transatlântica. As vistas deslumbrantes de qualquer destes lugares para a costa recortada, primeiro com as casas e, depois, com os barcos a passar são merecedoras de todas as caminhadas.

 

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Cemitério de Portugal Cove – Créditos © Manuela Marujo
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Cabot’s Tower – Créditos © Manuela Marujo
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Casas coloridas – Créditos © Manuela Marujo
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Porto de St. John’s – Créditos © Manuela Marujo

 

Graças a uma amiga, natural de St. John’s, entrei no Convento das “Presentation Sisters” (ordem de freiras católicas irlandesas) onde, em salas ricamente mobiladas, pude admirar duas peças de arte extraordinárias: uma escultura em mármore de Carrara do artista italiano Giovanni Strazza (1818-1875), intitulada “The Veiled Virgin”, deveras comovente por ser tão perfeita e parecer real; a outra, uma caixa de música em carvalho, de cerca de um metro de altura, com discos metálicos dentados, cuja complicada engrenagem, uma vez acionada, gera sons celestiais.

 

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Estátua de Gaspar Corte-Real – Créditos © Manuela Marujo
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Abundância de marisco – Créditos © Manuela Marujo
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Largo das Catedrais – Créditos © Manuela Marujo

 

Para melhor apreciar a beleza dessa grande ilha Terra Nova é preciso sair da cidade. Cape Spear, o ponto mais oriental da América do Norte, faz parte obrigatória do itinerário. Os portugueses chamaram a este local Cabo da Esperança, que se tornou “Cap d’Espoir” em francês e, finalmente, “Cape Spear”. Lá, um farol de 1835 é agora um pequeno museu. O moderno farol, no alto dum rochedo, orienta os navios, avisa-os do perigo de icebergues na costa, alerta sobre a proximidade das baleias, etc.

 

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Portugal Cove – Créditos © Manuela Marujo
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Cape Spear – Créditos © Manuela Marujo
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The veiled virgin – Créditos © Manuela Marujo
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Baleias na costa – Créditos © Manuela Marujo

 

Apanhar um barco na aldeia piscatória Bay Bulls e tentar avistar baleias que passam naquela parte do Atlântico faz parte da experiência. Ver surgir a cabeça e um pedaço da cauda de dois daqueles animais magníficos trouxe-me lágrimas aos olhos. Também é singular ver milhares de papagaios-do-mar nos rochedos que lhes servem de abrigo.

A curiosidade levou-me a Portugal’s Cove, uma das pequenas enseadas povoadas na costa, todas com poucos habitantes, que vivem da lida do mar: pesca da lagosta, bacalhau e outros peixes. Avista-se Conception Bay (Baía da Conceição), nome que lhe foi atribuído por Gaspar Corte-Real que ali chegou no dia 8 de dezembro de 1500.
Não consegui ir a Gros Morne National Park, com fiordes, desfiladeiros e cascatas – a mais conhecida atração turística da Terra Nova e Labrador. Estou com muita vontade de voltar para conhecer o parque e visitar a ilha do Fogo cujo nome lhe foi dado pelos exploradores e tripulação de pesca portugueses no início do século XVI, visitar a cidade e o porto e ficar instalada na sua estalagem.

Manuela Marujo

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