Alegrou-me a notícia recente de que Évora foi a cidade selecionada, entre muitas outras candidaturas, para ser a Capital Europeia da Cultura em 2027. Ainda me causou mais alegria o tema escolhido – VAGAR – esse modo cultural de ser e de estar na vida que integra a identidade dos alentejanos.
Foi numa “visita de estudo”, enquanto estudante do Liceu de Beja, que conheci Évora, a cidade-museu, como me foi ensinado na escola. Recordo vivamente terem-nos levado a ver o Templo de Diana, a Sé e a Capela dos Ossos, e a impressão que tudo me causou. A viagem durou menos de um dia, mas bastou para compreender o porquê do epíteto dado à cidade. Havia aquedutos, palácios, conventos, fontes e muitos outros monumentos – impossível englobar tudo numa visita.
Tenho retornado a esta cidade do Alto Alentejo dezenas de vezes. Continuo a descobrir espaços novos e, ao regressar a lugares antes percorridos; estes continuam a proporcionar-me o mesmo prazer.
Em novembro passado, num passeio organizado e inserido no programa de um congresso, fiz a minha última visita. Começámos por uma paragem na Adega da Cartuxa, na Quinta de Valbom, propriedade da Fundação Eugénio de Almeida, a poucos quilómetros do centro da cidade.
Com cerca de 600 hectares de vinha, nos campos a perder de vista, foi-nos explicado também a importância para a região dos quase 300 hectares de olivais cultivados que produzem azeite da mais elevada qualidade. Após percorrer os espaçosos corredores, onde se encontram os potes de barro e escutar a descrição da tecnologia avançada que permite a produção das variedades de azeitonas de Cartuxa, fortemente apreciadas, houve tempo para uma agradável degustação de vinhos e prova de azeites.
O Páteo de São Miguel foi a segunda paragem. Localizado na zona mais elevada da cidade, com a planície no vasto horizonte, foi ocupado por mouros e cristãos, ao longo dos séculos, dada a sua posição estratégica. Esse conjunto arquitetónico compreende o Paço de São Miguel, Palácio-sede da Fundação Eugénio de Almeida, o Arquivo, a Biblioteca, a Coleção de Carruagens e a Ermida de São Miguel.
Foi uma bela oportunidade de entrar no Paço e me deslumbrar com a história deste lugar icónico que foi primeiro alcácer mourisco e, depois, castelo e pousada de todos os reis de Portugal, até ao fim do século XV. Presentemente, a história da família Eugénio de Almeida é-nos contada naquele espaço, através de fotografias, pinturas, mobiliário, objetos de arte, tapeçarias e muito mais.
Vasco Maria Eugénio de Almeida, o primeiro grande mecenas e filantropo do século XX em Portugal, foi o criador, em 1963, da Fundação com o nome da família “in memoriam” dos seus pais e avós e em sua homenagem. Tem a missão de promover o desenvolvimento cultural, educativo, social e espiritual da região de Évora.
A Fundação foi, juntamente com outras entidades da região, uma das promotoras da candidatura da cidade a capital da cultura europeia. Assim, em 2027, Évora terá uma oportunidade ímpar de mostrar a todo o país, aos Estados Membros Europeus e à comunidade internacional, o património que torna única esta cidade histórica.
O tema selecionado “vagar”, aqui entendido como “a consciência plena de que nós, enquanto humanos, estamos sempre em relação com tudo o que nos rodeia”, cria uma expectativa especial. Através das múltiplas iniciativas, irá proporcionar-se aos visitantes a oportunidade de gozar e partilhar o simples da vida em coexistência com o mundo, sem correrias; parar, ver e usufruir são o melhor caminho para a felicidade.
Vamos planear, com vagar, uma visita em 2027!
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