York: a antiga Toronto
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York: a antiga Toronto

Sempre que caminho na zona antiga de Toronto – “Old Toronto”, como indicam as múltiplas placas-, não posso deixar de pensar em como é recente a história da cidade. Foi apenas em 1805 que John Graves Simcoe, o primeiro governador britânico da região denominada Upper Canada, ratificou o tratado de compra da área aos povos autóctones Anisshiaane, dando o nome de York à pequena cidade que se iria desenvolver junto ao Lago Ontário. Para evitar confundir-se com “New York”, nos EUA, o nome mudou em 1834 para Toronto, palavra de origem Mohawk que significa “onde há árvores dentro de água”.

Para tantos de nós, canadianos oriundos de países e localidades com histórias milenares, deveria ser motivador e fácil aprender a história do país que nos acolheu. A Província do Ontário, de que Toronto é a capital, por exemplo, foi assim denominada quando se formou a Confederação, em 1867. A história desta cidade reduz-se a duzentos anos, isto é, duas gerações – o tempo em que viveram nossos bisavós.

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Vista geral – Créditos © Manuela Marujo

 

Vivo muito perto da Front Street onde a cidade começou e, das minhas janelas, vejo claramente a fachada do St. Lawrence Market. A Front Street construída em 1796, é uma das ruas originais da cidade de York. Foi desenhada ao longo da costa do Lago Ontário, tal como existia naquela época. Depois de tanto aterro e construção nos terrenos retirados ao lago, quem vai associar o nome à sua origem primitiva se não souber um pouco de história?

Quando visitei Toronto pela primeira vez, tive a sorte de ser levada ao St. Lawrence Market e, desde essa altura, o Mercado tornou-se num dos meus lugares favoritos da cidade. O edifício atual, datado de 1904, foi contruído no local onde se localizava a primeira Câmara Municipal de Toronto, em 1844. A galeria do segundo andar do Mercado exibe uma exposição permanente de fotografias da história da cidade, e uma parede dessa época foi preservada e integrada no edifício. Do lado oposto da rua, está a ser reconstruída uma extensão do mercado, no local conhecido como Market Square, onde se sabe que, desde 1803, se aglomeravam vendedores e habitantes da antiga York para ali fazer comércio de mercadorias.

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Painel pintado por Dereck Besant na traseira do Flatiron – Créditos © Manuela Marujo
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Fachadas do Flatiron – Créditos © Manuela Marujo

 

Da porta principal do St. Lawrence, avista-se o edifício “Flatiron”, com aspeto triangular, nome que lhe foi dado pela semelhança com o arranha-céus de Nova Iorque, talvez o prédio mais fotografado da cidade de Toronto, datado de 1892. O prédio de tijolos e pedra foi mandado construir pelo presidente da famosa destilaria de uísque, Gooderman and Worts, em estilo neo-gótico, e é da autoria do arquiteto David Roberts. A traseira do “Flatiron”, com um painel pintado por Dereck Besant, integra-se no atraente parque Berzy, com espaço para mesas e cadeiras, um fontanário, relvado e canteiros de flores, refúgio do bulício da Front Street e Wellington.

Ao lado do meu prédio na antiga George Street, ao atravessar a rua, avisto na Adelaide Street o “Primeiro edifício dos Correios” de 1833, colado a um outro, uma antiga escola católica para rapazes – La Salle Institute Building, de 1871. Caminho uns minutos e deparo-me com o aprazível St. James Park onde se erigiu, em 1853, a primeira catedral anglicana, datando a paróquia de 1796, a mais antiga da cidade.
Do lado oposto da rua, situa-se o emblemático St. Lawrence Hall inaugurado em 1850, em elegante estilo renascentista italiano, o primeiro grande salão para atividades públicas com lugar para mil pessoas sentadas, e que durante muitos anos foi o centro de entretenimento da elite com bailes, concertos, ópera, ballet, receções e reuniões políticas relevantes.

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Créditos © Manuela Marujo

 

Na cidade moderna e de arquitetura arrojada como é a cidade de Toronto, um olhar para os antigos edifícios nesta área conhecida como “Old Toronto” permite-me refletir sobre o desenvolvimento, a estética, e os valores da sociedade em que me integro. Creio firmemente que o respeito pela herança cultural daqueles que nos precederam é um sinal de civismo, de educação e de cultura.

 

Manuela Marujo

Professora Emérita da Universidade de Toronto

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