{"id":24661,"date":"2020-08-22T19:26:16","date_gmt":"2020-08-22T23:26:16","guid":{"rendered":"http:\/\/revistamar.com\/?p=24661"},"modified":"2020-08-22T19:33:44","modified_gmt":"2020-08-22T23:33:44","slug":"miguel-angelo-o-delfim-da-novapop","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistamar.com\/entretenimento\/musica\/miguel-angelo-o-delfim-da-novapop\/","title":{"rendered":"Miguel \u00c2ngelo: O Delfim da NOVA(pop)"},"content":{"rendered":"

Al\u00e9m dos Resist\u00eancia e do regresso dos Delfins, Miguel \u00c2ngelo abordou e foi abordado por v\u00e1rios nomes da nova pop nacional para gravar NOVA(pop), um trabalho resultante da interac\u00e7\u00e3o a n\u00edvel da produ\u00e7\u00e3o e composi\u00e7\u00e3o com novos nomes da m\u00fasica portuguesa, refletindo at\u00e9 um pouco das 3 d\u00e9cadas de carreira.<\/strong><\/p>\n

\"miguel<\/p>\n

Revista Amar: Vamos aqui falar um pouco da tua vida, mais art\u00edstica, claro. Dispensa qualquer apresenta\u00e7\u00e3o, Miguel \u00c2ngelo. Antes de tudo, quero-te agradecer em nome da MDC, o teres gravado um v\u00eddeo para a menina Eva. Foi um momento um pouco mais pessoal da tua parte porque at\u00e9 a tua filha apareceu no v\u00eddeo, o que foi engra\u00e7ado. <\/strong>
\nMiguel \u00c2ngelo:<\/strong><\/span> \u00c9 verdade.<\/p>\n

RA: Come\u00e7o esta conversa por perguntar como est\u00e1 a correr a tua quarentena, como artista.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Bem, eu comecei cedo. Comecei em mar\u00e7o, uma semana antes de ser obrigat\u00f3rio aqui em Portugal porque tamb\u00e9m a creche da minha filha mais nova acabou por fechar mais cedo e tivemos logo que ficar em casa. Foi uma \u00e9poca de muito trabalho curiosamente, eu acho que acabei por ter mais trabalho, n\u00e3o remunerado, aqui na quarentena do que se as coisas estivessem a correr normalmente. Isto porqu\u00ea? Duas coisas muito espec\u00edficas: uma delas tem a ver com, \u00e0s vezes, as coisas mais tr\u00e1gicas fazem com que as pessoas se unam, ent\u00e3o este meio dos m\u00fasicos, dos agentes musicais em Portugal sempre esteve muito desligado, cada um a fazer o seu neg\u00f3cio e foram muitas semanas assim. A mulher tamb\u00e9m est\u00e1 no neg\u00f3cio, \u00e9 agente e manager de artistas, especialmente ela esteve a tentar juntar as pessoas, a organizar pr\u00e9-associa\u00e7\u00f5es para depois poderem ir falar com os ministros, com os secret\u00e1rios de estado, poder exigir para toda esta gente como eu mas n\u00e3o s\u00f3 os artistas, pensamos nos t\u00e9cnicos tamb\u00e9m, de luz, de som, roadies. Toda a gente que em mar\u00e7o ficou sem trabalho, ficou sem faturar nada. Portanto, foram semanas dif\u00edceis de tentar falar com pessoas, juntar e registar pessoas, ouvir hist\u00f3rias da boca de muitas pessoas a falar das suas situa\u00e7\u00f5es, bancos alimentares que se organizaram e que est\u00e3o no ativo neste momento, para ajudar algumas pessoas em situa\u00e7\u00f5es mais desfavor\u00e1veis porque isto acontece numa altura em que aqui em Portugal a esta\u00e7\u00e3o dos concertos ia come\u00e7ar. Todas aquelas poupan\u00e7as que as pessoas fazem no ver\u00e3o, nos concertos, estava-se a acabar, estava a acabar o inverno ia-se come\u00e7ar finalmente a ir para a estrada fazer concertos e teatros ao ar livre… foi mesmo numa altura muito cr\u00edtica. Tamb\u00e9m ligado ao meu ramo, eu desde h\u00e1 alguns anos estou ligado a uma escola de produ\u00e7\u00e3o e cria\u00e7\u00e3o musical e sou coordenador de um curso de tr\u00eas anos, duma licenciatura em produ\u00e7\u00e3o e cria\u00e7\u00e3o musical e tivemos que adaptar, em duas semanas, todo o curso, todas as cadeiras para on-line. Come\u00e7\u00e1mos logo no fim de mar\u00e7o a dar aulas on-line. Digamos que houve muito trabalho, em casa, feito em casa, no confinamento mas, ao menos, \u00e9 bom haver ocupa\u00e7\u00e3o da cabe\u00e7a, n\u00e3o \u00e9? Sen\u00e3o arriscamo-nos a ficar mais let\u00e1rgicos e parados. E claro, que aproveitei tamb\u00e9m, sempre que tinha uma hip\u00f3tese, para escrever can\u00e7\u00f5es e para gravar no meu home est\u00fadio algumas coisas.<\/p>\n

RA: Essa era a pr\u00f3xima pergunta que te ia fazer, se a quarentena tamb\u00e9m serve como inspira\u00e7\u00e3o porque tens mais tempo para escrever.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Sim, mas acabei por n\u00e3o ter assim tanto tempo porque com uma crian\u00e7a de 4 anos em casa \u00e0 solta, ali\u00e1s, como disseste, que acabou por participar no v\u00eddeo da pequena Eva porque estava ali, e deixa-me dizer-te que foi um prazer enorme dar um pequen\u00edssimo contributo para a causa da Eva. Eu acho que os artistas tamb\u00e9m est\u00e3o aqui para isso e, neste momento em que estamos todos em casa, porqu\u00ea n\u00e3o poder ajudar quem precisa mesmo remotamente desta maneira, n\u00e3o estando l\u00e1 fisicamente mas em esp\u00edrito? Portanto, foi um prazer enorme participar naquela maratona com tantos artistas.<\/p>\n

RA: Uma pergunta que chegou dos nossos telespectadores e ouvintes, porque tamb\u00e9m temos a Cam\u00f5es R\u00e1dio, uma pergunta que certamente j\u00e1 te fizeram algumas vezes: \u00e9s arquiteto de m\u00fasica? Tu que deixaste a arquitetura…<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>(Risos) Eu deixei a arquitetura l\u00e1 bem longe, em 1992 talvez, quando estive a trabalhar uns anos na C\u00e2mara Municipal de Cascais, no Departamento de Projetos e Arquitetura e fui um pouco encostado \u00e0 parede porque queriam que eu ficasse l\u00e1 a tempo inteiro e eu estava um pouco em part-time e naquela altura j\u00e1 tinha a m\u00fasica porque os Delfins j\u00e1 estavam a crescer bastante. Eu lembro-me que fizemos a primeira parte do concerto da Tina Turner no Est\u00e1dio de Alvalade para 65 mil pessoas e foi um \u00eaxito gigante. Lembro-me de ter chegado \u00e0 c\u00e2mara no dia seguinte e ter toda a gente a bater-me palmas. Portanto, j\u00e1 havia uma carreira em ascens\u00e3o nos Delfins, havia a Resist\u00eancia tamb\u00e9m a estrear-se. Eu precisei que me pedissem para ficar l\u00e1 a tempo inteiro para abandonar completamente a arquitetura. Gosto muito de arquitetura e s\u00f3 assim foi poss\u00edvel terminar o curso j\u00e1 com tantas tours e grava\u00e7\u00f5es de discos, mas a m\u00fasica \u00e9 o meu sonho de crian\u00e7a. Gosto muito de arquitetura, tenho amigos arquitetos e \u00e9 uma paix\u00e3o minha ,mas profissionalmente n\u00e3o. Tive um convite meio secreto sobre o qual n\u00e3o posso revelar muito, da Netflix para um projeto que pode estar ligado \u00e0 arquitetura devido \u00e0s voltas que a vida d\u00e1 mas, profissionalmente sou m\u00fasico, compositor, autor, produtor e \u00e9 onde eu gosto de estar.<\/p>\n

RA: E no entanto, no final dos anos 80 e na primeira metade dos anos 90, os Delfins foram a refer\u00eancia maior no panorama portugu\u00eas.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Foi um percurso que demorou o seu tempo, hoje em dia vivemos muito na era dos concursos de TV de talentos onde as pessoas aparecem e querem logo ser famosas, e algumas s\u00e3o, mas infelizmente mais de metade delas passado um ano, j\u00e1 ningu\u00e9m as conhece… vivem muito do imediato.<\/p>\n

RA: Talvez o programa \u201cChuva de Estrelas\u201d foi aquele que funcionou melhor n\u00e3o?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Sim, mas isso j\u00e1 foi h\u00e1 muitos anos. Come\u00e7ou em 1993\/1994 e, desde essa altura, todos os anos h\u00e1 concursos de talentos, temos o \u201cThe Voice\u201d aqui em Portugal, \u201cGot Talent Portugal\u201d… sei l\u00e1, tantos modelos americanos e ingleses que se copiam. Na realidade h\u00e1 tanta gente todos os anos e, se reparares, h\u00e1 uma d\u00fazia de artistas que est\u00e3o no ativo que vieram desses concursos, apenas uma d\u00fazia de centenas e milhares de mi\u00fados(as) que v\u00e3o a esses concursos. De qualquer modo, os Delfins s\u00f3 come\u00e7aram a ver grandes resultados passados 10 anos, mesmo econ\u00f3micos. Demorou tempo, foi passo a passo, disco a disco, tour a tour. \u00c9 muito importante os concertos j\u00e1 que \u00e9 neles que se consegue ganhar f\u00e3s novos , pois boca a boca falam a outros. Se o concerto correr bem, quando se volta \u00e0quela terra temos o dobro das pessoas a assistir. \u00c9 tudo feito passo a passo para ganharmos uma estrutura que nos permita aguentar o embate quer do sucesso, quer de algum fracasso tamb\u00e9m.<\/p>\n

RA: E essa estrutura que tamb\u00e9m \u00e9 suportada pelas tuas participa\u00e7\u00f5es nos Resist\u00eancia, participa\u00e7\u00f5es quer escrita quer a cantar nos Polo Norte, verdade? E at\u00e9 fundaste um movimento que fazia vers\u00f5es antigas da m\u00fasica portuguesa.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Sim , verdade! Com o Miguel Gameiro. Sim, eu n\u00e3o consigo estar quieto, como te disse h\u00e1 pouco, mesmo no confinamento havia coisas para fazer. Eu dentro desta \u00e1rea que tem a ver com a m\u00fasica diretamente, que vai tamb\u00e9m at\u00e9 \u00e0 televis\u00e3o, ao teatro, m\u00fasica para filmes s\u00e3o campos que eu gosto de experimentar, at\u00e9 para lan\u00e7ar desafios a mim pr\u00f3prio. Acho que se s\u00f3 ficamos sentados a fazer s\u00f3 aquilo que sabemos fazer bem \u00e9 bom mas, podemos ficar um pouco para tr\u00e1s. Lembro-me quando me convidaram para fazer dobragens de anima\u00e7\u00e3o, que era um territ\u00f3rio desconhecido para mim, fiz primeiro o John Smith no Pocahontas e depois fiz o Woody do Toy Story que me deu um grande sucesso e ainda hoje o \u00e9. Foi um desafio grande, uma aprendizagem, gosto deste tipo de desafios que me fazem ir mais longe, conhecer pessoas diferentes e sair um bocado da minha bolha para depois poder voltar \u00e0 guitarra, ao piano e fazer can\u00e7\u00f5es novas.<\/p>\n

RA: E tamb\u00e9m \u00e0 escrita porque editaste a tua autobiografia.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span> \u00c9 verdade, eu comecei nos anos 90 a escrever fic\u00e7\u00e3o, editei alguns romances. \u00c9 um s\u00edtio onde eu tamb\u00e9m gosto muito de estar… o lugar da escrita. \u00c9 um sitio solit\u00e1rio, mais que a m\u00fasica j\u00e1 que nela h\u00e1 o est\u00fadio, os outros m\u00fasicos da banda, as viagens onde estamos todos juntos, os jantares antes dos concertos, h\u00e1 sempre um ambiente de festa e a escrita \u00e9 uma coisa mesmo solit\u00e1ria onde estamos frente ao computador, com o ecr\u00e3 vazio a inventar hist\u00f3rias, algumas autobiogr\u00e1ficas outras n\u00e3o, mas tamb\u00e9m quando se chega ao fim dos livros (e falaste na autobiografia foi uma coisa diferente, foi um bocadinho um olhar sobre os 25 anos de carreira dos Delfins) principalmente duma hist\u00f3ria ou fic\u00e7\u00e3o, \u00e9 uma sensa\u00e7\u00e3o incr\u00edvel uma sensa\u00e7\u00e3o de c\u00edrculo que se fecha e que se calhar vale a pena aqueles oito meses, dez meses, ano e meio em que se est\u00e1 a tentar escrever o livro e a acabar a hist\u00f3ria. Mas s\u00e3o s\u00edtios diferentes para estar, eu confesso que nos \u00faltimos anos tenho tido menos tempo para isso devido \u00e0s atividades que tenho. Tive tamb\u00e9m uma filha h\u00e1 quatro anos, j\u00e1 tenho filhos crescidos e ocupam muito espa\u00e7o da minha vida familiar e n\u00e3o h\u00e1 aquele recolhimento que \u00e0s vezes \u00e9 preciso ter \u00e0 noite para se estar ali um bocadinho \u00e0 1h ou 2h da manh\u00e3 a escrever, cada vez \u00e9 mais raro na minha vida e por isso a escrita tem ficado um bocadinho para tr\u00e1s neste momento.<\/p>\n

RA: A solo, editaste o teu primeiro trabalho \u201cTimidez\u201d, em 1998, depois de terminar a carreira nos Delfins, 25 anos, sentiste que o caminho a solo era o caminho a seguir? O que trouxeste dos Delfins para a tua carreira a solo?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Acho que s\u00e3o as can\u00e7\u00f5es. Eu sou apaixonado por can\u00e7\u00f5es, embora o arranjo possa ser diferente, possa ser mais ac\u00fastico, mais el\u00e9trico, mais teclas, mais guitarras, mais calmo, mais r\u00e1pido, o que une toda a minha carreira com mais de 35 anos s\u00e3o as can\u00e7\u00f5es, \u00e9 escrever can\u00e7\u00f5es com que as pessoas se identifiquem, que as pessoas possam ouvir e possam dizer olha esta can\u00e7\u00e3o foi feita para mim e, se houver muita gente a pensar isso, acho que \u00e9 a melhor recompensa que um autor pode ter. No fundo, o segredo \u00e9 continuar a escrever coisas \u00edntimas que depois possam ser adotadas pelo p\u00fablico. Portanto, eu quando come\u00e7o a solo… digamos que eu j\u00e1 sabia que ao acabar dos Delfins iria fazer qualquer coisa a solo e aceitei o projeto de que falaste, o chamado \u201cMovimento\u201d, que eram vers\u00f5es de can\u00e7\u00f5es portuguesas dos fins dos anos 60, onde conheci pessoas como a Selma Uamusse, que hoje est\u00e1 com uma grande carreira em Portugal, a Marta Ren tamb\u00e9m… e era para tamb\u00e9m lavar um pouco a cabe\u00e7a. Tive 25 anos de Delfins e queria fazer uma coisa diferente, com pessoas diferentes, mas depois j\u00e1 sabia que ia continuar a solo e voltar ao est\u00fadio para gravar can\u00e7\u00f5es e voltar \u00e0 estrada. Comecei duma forma mais ac\u00fastica, o \u201cPrimeiro\u201d, disco de 2012, onde saiu o single \u201cPrecioso\u201d, que foi um grande \u00eaxito por aqui, era um single mais de guitarras ac\u00fasticas, de violino que era um instrumento que nunca tinha usado muito na minha carreira, o violoncelo… queria sonoridades que se desmarcassem um bocadinho daquilo que os Delfins tinham feito. Mas depois o percurso continua e a guitarra el\u00e9ctrica volta e acaba por ser o ADN do qual n\u00e3o se pode fugir, n\u00e3o \u00e9?<\/p>\n

RA: Queres partilhar connosco, o sentimento que tiveste no \u00faltimo concerto dos Delfins? Aquele em que pisaste o palco sabendo que seria a \u00faltima vez.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Foi uma mistura de emo\u00e7\u00f5es, passou tudo t\u00e3o r\u00e1pido. N\u00f3s t\u00ednhamos um tour bus atr\u00e1s do palco na Baia de Cascais, t\u00ednhamos vindo de um outro concerto, de outro s\u00edtio, n\u00e3o par\u00e1vamos na altura. Lembro-me que foi um grande stress porque o tempo come\u00e7ou a ficar muito mau, come\u00e7ou a vir uma tempestade enorme, chuva e n\u00f3s t\u00ednhamos tudo preparado para fazer um DVD ao vivo, que foi feito e que foi editado, mas quando o tempo piora, est\u00e1vamos no dia 31 de dezembro de 2009; quando as condi\u00e7\u00f5es climat\u00e9ricas come\u00e7am a piorar e come\u00e7a a por tudo em risco, n\u00e3o s\u00f3 o espect\u00e1culo em si porque j\u00e1 tinha dezenas de milhares de pessoas a assistir, mas a grava\u00e7\u00e3o de som profissional, a grava\u00e7\u00e3o de imagem, as multic\u00e2maras tudo ficou em risco. Parecia quase uma profecia para n\u00e3o irmos embora. N\u00f3s t\u00ednhamos de estar conscientes que o p\u00fablico estava ali e que t\u00ednhamos de dar o melhor espect\u00e1culo e ainda por cima era o \u00faltimo, mas ao mesmo tempo n\u00e3o pod\u00edamos deixar de estar preocupados com problemas t\u00e9cnicos, aquilo foi abaixo por causa da chuva, depois a imagem iria ficar mal por causa de todo o temporal; foi assim muito estranho. Lembro-me que toc\u00e1mos 2:30h e de ter tirado o telem\u00f3vel do bolso porque ia haver fogo-de-artif\u00edcio \u00e0s 24h e n\u00f3s t\u00ednhamos feito tudo sincronizado para acabar perto dessa hora… a terminar a \u201cBaia de Cascais\u201d que era a \u00faltima can\u00e7\u00e3o, tirei o telem\u00f3vel do bolso e vi que faltavam 10 segundos para as 24h e eu come\u00e7o fazer o countdown com ao microfone e assim terminou o \u00faltimo espect\u00e1culo dos Delfins.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

 <\/p>\n

RA: Este regresso \u00e9 um ponto de viragem na hist\u00f3ria dos Delfins?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Isto surgiu tudo por acaso. N\u00f3s fomos convidados pela C\u00e2mara de Cascais, no ano passado, que j\u00e1 andavam atr\u00e1s dos Delfins h\u00e1 alguns anos para fazer um espect\u00e1culo exclusivo e n\u00f3s diz\u00edamos sempre que n\u00e3o, que n\u00e3o havia raz\u00e3o para o fazer. Mas, no ano passado, fomos convidados para fazer uma coisa diferente que nunca t\u00ednhamos feito: tocar com uma orquestra sinf\u00f3nica de quase 100 elementos em palco, onde eles fariam os arranjos para a orquestra dos temas emblem\u00e1ticos do grupo. N\u00f3s achamos que era uma ideia diferente porque, em 25 anos de carreira, nunca o t\u00ednhamos feito. Assim, reunimos de prop\u00f3sito em agosto do ano passado para fazer nas Festas do Mar essa reuni\u00e3o do grupo com uma primeira parte onde convidamos cantores para cantarem can\u00e7\u00f5es dos Delfins juntamente com a orquestra e tivemos o Olavo, dos Santos e Pecadores, o Miguel Gameiro, o Tim, o Jo\u00e3o Pedro Pais, depois tivemos gente nova como o pessoal dos HMB, o Heber, a Joana Espadinha, a Ana Bacalhau… quisermos ter a nova gera\u00e7\u00e3o a cantar can\u00e7\u00f5es dos Delfins e foi muito interessante. Aquilo correu t\u00e3o bem que apareceram logo ag\u00eancias a querer fazer alguma coisa com os Delfins, houve uma proposta que foi aceite e \u00e9 uma proposta que \u00e9 finita no tempo, ou seja, n\u00e3o haver\u00e1 um regresso dos Delfins \u00e0 sua carreira porque acho que n\u00e3o faz sentido mas, h\u00e1 sim, um regresso para uma tourn\u00e9e onde se vai celebrar as can\u00e7\u00f5es dos Delfins, e da\u00ed o nome da tour ser Celebra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

RA: Ent\u00e3o quer dizer que, no futuro, n\u00e3o vai existir uma continuidade dos Delfins, do projeto?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>N\u00e3o. H\u00e1 esta proposta duma tourn\u00e9e naquelas datas, ia ser este ano mas, devido \u00e0 Covid-19, acabou por ser tudo anulado; ter\u00e1 uma data nova no Rock in Rio que tamb\u00e9m foi adiado para o pr\u00f3ximo ano; mant\u00e9m-se a Feira de S\u00e3o Mateus que tamb\u00e9m j\u00e1 estava confirmada… mant\u00eam-se algumas datas e outras aparecer\u00e3o. Mas \u00e9 uma tour para celebrar as melhores can\u00e7\u00f5es, os singles de grande \u00eaxito dos Delfins com toda a banda; n\u00e3o vai haver um regresso dos Delfins a gravar coisas novas e nem novos discos. Eu sei que \u00e9 dif\u00edcil dizer que desta \u00e1gua n\u00e3o beberei porque, \u00e0s vezes qualquer coisa muda e pode acontecer.<\/p>\n

RA: Pode acontecer, como aconteceu com os Resist\u00eancia.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Pois, por exemplo. Mas os Resist\u00eancia \u00e9 um caso diferente porque na sua primeira vida tiveram apenas 3 anos de carreira mais ou menos, depois acabaram e agora j\u00e1 estamos juntos h\u00e1 8 anos, desde que volt\u00e1mos em 2012. As coisas correm muito bem, acho que at\u00e9 melhor que nunca e \u00e9 um caso diferente. Os Delfins foram 25 anos, um quarto de s\u00e9culo… \u00e9 muito tempo, portanto \u00e9 dif\u00edcil. Como te disse, n\u00e3o se pode dizer que desta \u00e1gua n\u00e3o beberei mas, n\u00e3o estar\u00e1 previsto um regresso \u00e0 atividade regular. N\u00f3s todos temos coisas a solo, todos estamos ocupados. Faz sentido sim, porque as pessoas pedem-nos, voltar a celebrar as can\u00e7\u00f5es que s\u00e3o conhecidas do grupo e que s\u00e3o essas que as pessoas querem ouvir. Isso acontece com toda a gente, os Rollings Stones e at\u00e9 U2, lan\u00e7am um disco novo, fazem um concerto as pessoas v\u00e3o, mas querem ouvir os grandes \u00eaxitos. Podem ouvir o single novo porque at\u00e9 gostam, mas est\u00e3o ali para ouvir os grandes \u00eaxitos e \u00e9 isso que pretendemos. Toda a gente est\u00e1 muito bem, n\u00e3o houveram grandes diverg\u00eancias, mesmo no fim do grupo toda a gente ficou bem.<\/p>\n

RA: Ent\u00e3o a set list desses concertos est\u00e1 feita porque os sucessos s\u00e3o praticamente todos…<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>\u00c9 para cantar do princ\u00edpio ao fim, eu acho que vai ser bom.<\/p>\n

RA: Agora mais recente, lan\u00e7aste no final de 2019 o \u00e1lbum a solo \u201cNova Pop\u201d escrito com uma nova gera\u00e7\u00e3o de m\u00fasicos portugueses. Como \u00e9 que foi essa tua adapta\u00e7\u00e3o, a esta nova escrita destes novos talentos portugueses?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>L\u00e1 est\u00e1, h\u00e1 pouco falava-te em desafios, n\u00e3o \u00e9? Foi mais um desafio porque foi algo que eu nunca tinha feito. N\u00f3s estamos habituados a fazer colabora\u00e7\u00f5es tipo duetos, convidar aquele cantor, aquele grupo, mas isto \u00e9 diferente porque implicou que desde o in\u00edcio da escrita da can\u00e7\u00e3o houvesse uma parceira. Portanto, eu trabalhei desde o zero com o Filipe Sambado, com os D\u2019Alva, com a Surma, com os Chinaskee… artistas muito jovens.<\/p>\n

RA: E em cada concerto da tour tinhas um convidado, n\u00e3o era?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Sim e vou recuperar. A tourn\u00e9e foi interrompida por causa do Covid-19, mas vai ser recuperada a seguir ao ver\u00e3o j\u00e1 com algumas datas e a ideia \u00e9 ter sempre um convidado diferente em cada concerto. Vou fazer agora uma coisa para a RTP com todos os convidados, que s\u00f3 sair\u00e1 a partir de setembro, mas a ideia \u00e9 fazer espet\u00e1culos com a colabora\u00e7\u00e3o deles. Isto foi bom porqu\u00ea? Porque foi bom chegar a uma nova gera\u00e7\u00e3o da pop portuguesa, ver como trabalham, aceitar sempre as ideias deles. Eles eram tamb\u00e9m produtores em algumas can\u00e7\u00f5es, portanto eu tinha a minha opini\u00e3o, mas a decis\u00e3o final era sempre deles, pus-me um bocadinho nas m\u00e3os deles. Isso foi uma sensa\u00e7\u00e3o boa ver que h\u00e1 uma nova gera\u00e7\u00e3o que gosta daquilo que eu fiz e que se identifica comigo e que est\u00e1 em palco comigo. Curioso, um dos nomes que \u00e9 o mais alternativo, Chinaskee, foi meu aluno h\u00e1 5 anos, passou pelas minhas turmas da escola da ETIC e agora, passado um tempo, estive em est\u00fadio e em palco com ele, acaba por ser uma sensa\u00e7\u00e3o incr\u00edvel.<\/p>\n

RA: Para terminar, que objetivos tens ainda por alcan\u00e7ar?<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>(risos) Gostava de ir \u00e1 lua, vou pedir ao Elon Musk para me levar, mas eu \u00e0s vezes tamb\u00e9m ando na lua por isso n\u00e3o \u00e9 preciso o Espace X para isso. Escrever can\u00e7\u00f5es e fazer discos \u00e9 sempre um desafio porque estamos sempre a querer gravar um melhor que o anterior e isso \u00e1s vezes n\u00e3o acontece, como \u00e9 \u00f3bvio! Mas eu acho que pelo menos tentamos. Portanto, eu estou sempre a pensar no pr\u00f3ximo disco, no pr\u00f3ximo projeto, no pr\u00f3ximo concerto; n\u00e3o tenho assim uma ambi\u00e7\u00e3o gigante porque o meu sonho de crian\u00e7a \u00e9 aquilo que eualcancei, que \u00e9 ser m\u00fasico, viver da m\u00fasica em Portugal que, se calhar, no princ\u00edpio dos anos 80 era ainda um sonho distante e consegui fazer isso, j\u00e1 o fa\u00e7o h\u00e1 35 anos, \u00e0s vezes duma maneira, outras vezes de outra, mas sempre ligado \u00e0 m\u00fasica. Esse foi o meu grande sonho, um sonho que eu realizei e que estou satisfeito. Tive a sorte de ter uma banda, que foi a mais famosa da pop portuguesa e que vendeu mais discos de sempre… o qu\u00ea \u00e9 que eu posso pedir mais? N\u00e3o preciso de pedir mais nada.<\/p>\n

RA: Miguel agora eu \u00e9 que te pe\u00e7o para deixares uma mensagem a quem est\u00e1 no Canad\u00e1.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>O meu voto s\u00f3 pode ser um: que a gente se possa encontrar fisicamente num espect\u00e1culo, por a\u00ed, quando c\u00e1 vierem porque todos sentimos falta desse cantinho. Est\u00e1 a haver muitos concertos on-line, eu sei, muitas atua\u00e7\u00f5es, mas aqui em Portugal j\u00e1 come\u00e7ou a arrancar aos poucos, os s\u00edtios j\u00e1 est\u00e3o a encher com metade da lota\u00e7\u00e3o; o Campo Pequeno j\u00e1 reabriu para espect\u00e1culos; as pessoas t\u00eam cuidado, v\u00e3o de m\u00e1scara, est\u00e3o afastadas 1,5 m de cada; os lugares que s\u00e3o vendidos t\u00eam sempre lugares espa\u00e7ados. Eu acho que \u00e9 um princ\u00edpio para voltarmos a esta vida e para as pessoas deixarem de ter receio, temos de ser todos muito cuidadosos para isto n\u00e3o voltar para tr\u00e1s, mas acho que todos temos de trabalhar e estar perto uns dos outros. Portanto, o meu voto \u00e9 que todos n\u00f3s estejamos mais perto num futuro pr\u00f3ximo.<\/p>\n

RA: Miguel \u00c2ngelo obrigada por esta grande conversa, obrigado por tudo aquilo que j\u00e1 fizeste e vais fazer pela m\u00fasica portuguesa.<\/strong>
\nM\u00c2<\/strong>:<\/strong> <\/span>Muito obrigado. Grande abra\u00e7o.<\/p>\n

Paulo Perdiz<\/strong><\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Al\u00e9m dos Resist\u00eancia e do regresso dos Delfins, Miguel \u00c2ngelo abordou e foi abordado por v\u00e1rios nomes da nova pop nacional para gravar NOVA(pop), um trabalho resultante da interac\u00e7\u00e3o a n\u00edvel da produ\u00e7\u00e3o e composi\u00e7\u00e3o com novos nomes da m\u00fasica portuguesa, refletindo at\u00e9 um pouco das 3 d\u00e9cadas de carreira. Revista Amar: Vamos aqui falar …<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":24662,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[98],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/revistamar.com\/wp-content\/uploads\/2020\/08\/miguel-angelo-revista-amar-portugal.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24661"}],"collection":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=24661"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24661\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/24662"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=24661"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=24661"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=24661"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}