{"id":29703,"date":"2023-09-12T12:38:17","date_gmt":"2023-09-12T16:38:17","guid":{"rendered":"https:\/\/revistamar.com\/?p=29703"},"modified":"2023-09-12T12:38:17","modified_gmt":"2023-09-12T16:38:17","slug":"siza-vieira-a-arquitetura-em-forma-de-homem","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistamar.com\/amar\/entrevistas\/siza-vieira-a-arquitetura-em-forma-de-homem\/","title":{"rendered":"Siza Vieira: A arquitetura em forma de homem"},"content":{"rendered":"

\"\u00c1lvaro+Siza+Vieira\"<\/p>\n

 <\/p>\n

\u00c1lvaro Siza Vieira, arquiteto portugu\u00eas de renome, abriu as portas do seu ateli\u00ea e falou-nos, abertamente, da sua arte ligada ao mundo arquitet\u00f3nico, antes de ter sido conhecido que foi escolhido pela Santa S\u00e9 para criar a instala\u00e7\u00e3o que ir\u00e1 represent\u00e1-la na Bienal de Arquitetura de Veneza, que decorre entre 20 de maio e 26 de novembro.<\/strong><\/p>\n

Manuel DaCosta sentou-se \u00e0 mesa com o arquiteto Siza Vieira, considerado um dos grandes nomes vivos da arquitetura e urbanismo moderno no mundo e um dos mais importantes profissionais na hist\u00f3ria da arquitetura em Portugal. A simplicidade aliada \u00e0 sofistica\u00e7\u00e3o relativamente \u00e0 conce\u00e7\u00e3o e realiza\u00e7\u00e3o dos seus projetos arquitet\u00f3nicos renderam a Siza Vieira amplo reconhecimento mundial e grande influ\u00eancia sobre o urbanismo atualmente.<\/p>\n

Acha, que de certa forma, n\u00e3o inventou certas coisas para que a realidade fosse conseguida, visto ter escrito \u201cArchitects don\u2019t invent anything, they just transform reality\u201d?<\/strong>
\nInventei ou chama-se inventar. Quando eu disse essa frase \u00e9 porque acho que essa inven\u00e7\u00e3o n\u00e3o vem assim do c\u00e9u. No fundo vem da informa\u00e7\u00e3o que n\u00f3s vamos tendo do ver, que \u00e9 fundamental para o arquiteto e, portanto, vamos acumulando coisas. Tamb\u00e9m trouxe muita coisa, na cabe\u00e7a, do Canad\u00e1, claro. Tanta coisa, na forma\u00e7\u00e3o de um arquiteto, que a certo ponto n\u00e3o podemos usar conscientemente. Se n\u00e3o, n\u00e3o sabemos onde ir buscar as ideias, s\u00e3o tantas. Mas elas ficam no subconsciente e este \u00e9 um bom amigo porque quando n\u00f3s precisamos aparece. E o que eu quero dizer com isto \u00e9 que inven\u00e7\u00e3o sim, mas essa inven\u00e7\u00e3o em fun\u00e7\u00e3o de tudo o que conhecemos, ampliando esse conhecimento, e que nos apoia mesmo inconscientemente.
\nDurante estes anos de carreira, desde que come\u00e7ou, a evolu\u00e7\u00e3o da sua arquitetura e do seu desenho mudou claramente com o passar dos anos. Onde \u00e9 que est\u00e1 hoje e como \u00e9 que v\u00ea hoje o desenho e a arquitetura?
\nAntes demais, a arquitetura, pelo menos para n\u00f3s, europeus, atravessa um momento muito dif\u00edcil. Houve altera\u00e7\u00f5es e uma indefini\u00e7\u00e3o das normas do exerc\u00edcio da nossa profiss\u00e3o que est\u00e3o a ser criadas na europa, pelo menos problemas terr\u00edveis. Para citar alguns, j\u00e1 n\u00e3o h\u00e1 normas quanto \u00e0 remunera\u00e7\u00e3o do arquiteto, decis\u00e3o da comunidade europeia, cujo todos os pa\u00edses aceitaram, menos a Alemanha, onde lhe foi imposto, devido a uma den\u00fancia, suponho eu, o cumprimento dessa mesma decis\u00e3o (e j\u00e1 est\u00e1 a cumprir). E isso cria condi\u00e7\u00f5es, antes demais, de concorr\u00eancia desleal e eticamente inaceit\u00e1vel. Quer dizer, h\u00e1 quem n\u00e3o trabalhe por nada, e depois receba de construtores, de fornecedores de materiais\u2026 o que \u00e9 no fundo a abertura para a corrup\u00e7\u00e3o. E, portanto, na Europa, de acordo com essas novas regras, a obra p\u00fablica tem que ser por concurso, a n\u00e3o ser com um limite de pagamento irris\u00f3rio. Mas nas normas dos concursos h\u00e1 um artigo que diz que um dos crit\u00e9rios para a sele\u00e7\u00e3o ser\u00e1 o custo do projeto, por conseguinte vai dar ao mesmo. Isto est\u00e1 a ter umas consequ\u00eancias terr\u00edveis e o que acontece neste momento \u00e9 que no meio de uma aparente euforia, porque h\u00e1 muitos eventos internacionais, workshops, publica\u00e7\u00f5es, livros, quem estiver fora do of\u00edcio penso que poder\u00e1 at\u00e9 pensar que \u00e9 um momento \u00f3timo para a arquitetura, mas n\u00e3o \u00e9.<\/p>\n

Porque \u00e9 que acha que esta gente, que pede os nossos servi\u00e7os de arquitetura, o nosso talento, a nossa vida de estudo, n\u00e3o acha que merecemos um certo valor pelo nosso talento?<\/strong>
\nNo caso da Europa, aparece uma norma que satisfaz muitos pol\u00edticos. Porque ela dirigisse sobretudo \u00e0 obra p\u00fablica, porque satisfaz e porque acham que pagam pouco e como t\u00eam dificuldade de verbas agarram-se logo a isso. De resto, atualmente \u00e9 imposs\u00edvel um presidente de c\u00e2mara escolher um arquiteto. Tem que ser mesmo por concurso ou com pagamento irris\u00f3rio que n\u00e3o permita a ningu\u00e9m fazer o trabalho. E, portanto, entra no tal regime de concurso que eu j\u00e1 descrevi. No entanto, nos privados, ainda se encontra um ou outro, mas normalmente \u00e9 pequena obra, uma moradia, qualquer coisa assim. Quando a obra \u00e9 mais importante, os privados quando veem o exemplo do estado, n\u00e3o querem ficar atr\u00e1s, acham que s\u00e3o tolos se ficarem atr\u00e1s, mas percebem na mesma. Esta \u00e9 uma situa\u00e7\u00e3o completada por coisas, no fundo que concorrem na mesma dire\u00e7\u00e3o, como \u00e9 por exemplo, j\u00e1 n\u00e3o h\u00e1 direitos de autor, mas h\u00e1 direitos de autor para os m\u00fasicos, para os pintores, para os cineastas, para os escritores, no entanto para os arquitetos n\u00e3o h\u00e1. Coisa que antes havia. Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 situa\u00e7\u00e3o anterior, \u00e9 um desastre, porque isto \u00e9 recente e corresponde \u00e0 entrada na comunidade europeia e a uns burocratas que n\u00e3o sabem o que \u00e9 a arquitetura, que fazem normas nesse sentido.<\/p>\n

 <\/p>\n

\"pf22_CAUNY_SizaVieira-013_2000x\"<\/p>\n

 <\/p>\n

Agora falando especificamente de Toronto, onde estamos a construir torres e mais torres de vidro quadradas para acomodar muita gente l\u00e1 dentro, \u00e0s vezes sem condi\u00e7\u00f5es, principalmente condom\u00ednios. Como sabe, o Canad\u00e1 ainda \u00e9 um pa\u00eds relativamente novo, grande e muito espalhado, e a arquitetura muda de cidade para cidade. Mas, realmente, estamos a fazer muitas “caixinhas de vidro” que para mim \u00e9 um desastre para o que vai acontecer mais tarde. Neste sentido, porque \u00e9 que acha que esta arquitetura de conveni\u00eancia est\u00e1 a ser adotada em tantas partes do mundo?<\/strong>
\nAs cidades, na sua limita\u00e7\u00e3o territorial, t\u00eam escassez de territ\u00f3rios, e creio que essa \u00e9 uma das raz\u00f5es, pois h\u00e1 uma enorme atra\u00e7\u00e3o para os grandes centros urbanos, onde h\u00e1 mais oportunidades de trabalho, mais qualidade de vida, etc, e em vez de se fazer um alargamento de territ\u00f3rio, ou uma associa\u00e7\u00e3o de territ\u00f3rios, h\u00e1 casos em que a aglomera\u00e7\u00e3o \u00e9 tal que s\u00f3 construindo em altura \u00e9 que se consegue meter as pessoas que acorrem \u00e0 cidade. Depois h\u00e1 torres de vidro belas e torres de vidro horr\u00edveis, como cheguei a ver quando ia ao Canad\u00e1, especialmente em Toronto.<\/p>\n

J\u00e1 que estamos no Canad\u00e1, fale-nos um pouquinho de Montreal, dos seus trabalhos na funda\u00e7\u00e3o que estabeleceu e que continuam em exibi\u00e7\u00e3o e do que o levou a estabelec\u00ea-la l\u00e1?<\/strong>
\nA primeira raz\u00e3o foi que \u00e0 medida que fui aumentando a idade e os arquivos, eu achei que tinha que encontrar uma solu\u00e7\u00e3o e por outro lado muita gente me pressionou para dar um lugar aos meus arquivos dizendo-me que era interessante para estudantes, para a gera\u00e7\u00e3o futura, e que eu tinha que cuidar disso. Simplesmente em Portugal nunca ningu\u00e9m manifestou o menor interesse. Nunca tive uma proposta para dep\u00f3sito de arquivos. E um dia apareceu-me um italiano, um dos respons\u00e1veis pelos arquivos no Canad\u00e1, e disse-me: N\u00f3s quer\u00edamos os seus arquivos e tudo. E eu fiquei surpreendido, mas pensei, eu realmente aqui n\u00e3o tenho hip\u00f3tese, isto por muito cuidado que eu tenha com os meus arquivos, etc, mas isto n\u00e3o pode ser, v\u00e3o crescendo e a minha idade j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 de prever um futuro longo e, portanto, aceitei. At\u00e9 porque muitas delas ou j\u00e1 desapareceram ou est\u00e3o mal tratadas, n\u00e3o todas, felizmente. De maneira que quando veio a not\u00edcia nos jornais, que eu que tinha destinado para o Canad\u00e1, para o CCA, eu fui tratado nos jornais como uma esp\u00e9cie de traidor \u00e0 p\u00e1tria e eu tive que fazer uns esclarecimentos para publica\u00e7\u00e3o, a explicar porque \u00e9 que estavam no Canad\u00e1 ou porque \u00e9 que estavam destinados ao Canad\u00e1, e isto porque n\u00e3o havia nenhuma iniciativa em Portugal. E depois o CCA fez uma coisa, muito simp\u00e1tica, para mim e para Portugal, perguntou-me quem eram as institui\u00e7\u00f5es que aqui teriam consist\u00eancia para uma parte dos arquivos. E eu indiquei a Gulbenkian, muito conhecida, e aqui no Porto o museu de Serralves. E o tal italiano veio e fez a proposta de uma parte dos arquivos ficarem em Portugal. E eu concordei se tal fosse poss\u00edvel, e foi, sendo para mim uma grande satisfa\u00e7\u00e3o, porque foi a abertura, ou um refor\u00e7o, pois antes houvera arquivos com qualidade em Portugal tal como a arquitetura moderna nos anos 20, 30, 40 estava a par daquilo que se fazia na Europa sendo conhecida e fazia ainda contactos internacionais. Mas depois perdeu toda a din\u00e2mica que tinha por falta de fundos e no fundo vontade pol\u00edtica, pois perdeu um grande diretor, que saiu, na impossibilidade de manter aquilo em funcionamento cred\u00edvel. O recome\u00e7o foi s\u00f3 uns anos mais tarde.<\/p>\n

Mas em Portugal, que hoje tem dinheiro da uni\u00e3o europeia, n\u00e3o era tempo de reviver esse reconhecimento e talvez aument\u00e1-lo?<\/strong>
\nN\u00e3o, n\u00e3o, mas isso acontece e sobretudo no Serralves que est\u00e1 a desenvolver fortemente o setor da arquitetura. De tal modo que o novo edif\u00edcio do complexo Serralves, que eu j\u00e1 projetei e que espero que comece em breve a constru\u00e7\u00e3o, uma parte importante desse novo edif\u00edcio destina-se \u00e0 arquitetura. Foi uma achega do Canad\u00e1, fundamental para o bem da arquitetura e para o poss\u00edvel ultrapassar desta situa\u00e7\u00e3o que \u00e9 europeia, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 arquitetura. A europa \u00e9 isto e eu n\u00e3o sou contra a comunidade europeia, mas no que se refere \u00e0 arquitetura, \u00e9 um destrate.<\/p>\n

 <\/p>\n

\"CB6A9259\"<\/p>\n

 <\/p>\n

A arquitetura tem de representar o pa\u00eds onde \u00e9 feita, a cultura do pa\u00eds. Tem praticado arquitetura e tem feito pr\u00e9dios em muitas partes do mundo. O que \u00e9 que o atraiu para ir \u00e0 Coreia, ao Jap\u00e3o ou \u00e0 China, para desenhar pr\u00e9dios que realmente eram a proje\u00e7\u00e3o da arquitetura e da cultura daquele pa\u00eds?<\/strong>
\nA possibilidade de trabalho, simplesmente. Eu devo dizer que fiz parte de uma organiza\u00e7\u00e3o de trabalho, umas “brigada”s, criadas logo ap\u00f3s a revolu\u00e7\u00e3o de 74, chamadas, Servi\u00e7o Ambulat\u00f3rio de Apoio Local. Que era um servi\u00e7o de assist\u00eancia, projetos e constru\u00e7\u00e3o para as muitas fam\u00edlias em condi\u00e7\u00f5es de habita\u00e7\u00e3o tremendas. No Porto, por exemplo, metade da popula\u00e7\u00e3o vivia em Ias, nos anos 50. Depois houve uma ligeira recupera\u00e7\u00e3o, mas irrelevante. Era portanto, uma fam\u00edlia inteira a viver em 4 metros e meio por 4 metros e meio, uma tipologia de alas cont\u00ednuas no interior dos quarteir\u00f5es, em condi\u00e7\u00f5es realmente terr\u00edveis. E, portanto, o programa onde eu trabalhei destinou-se exatamente e sobretudo \u00e0s Ias, erradica\u00e7\u00e3o das Ias, que era um tema que vinha detr\u00e1s mas nunca enfrentado de forma decisiva. Esse programa infelizmente durou dois anos. Depois houve uma mudan\u00e7a pol\u00edtica em Portugal, portanto, houve um deslize, mais diretrista, n\u00e3o de direita fan\u00e1tica, mas realmente direi dos programas sociais a receber uma queda. Quem trabalhou para esse programa foram poucos arquitetos e muitos estudantes, houve uma participa\u00e7\u00e3o fort\u00edssima de estudantes, e como o assunto mexia com muitos interesses, os arquitetos foram marginalizados. Quando acabou o programa n\u00e3o tinha, pura e simplesmente, nenhum trabalho e os arquitetos que trabalharam para isso eram apontados como incompetentes, incompreens\u00edveis, etc. De certo modo isso foi-me favor\u00e1vel, porque este programa, at\u00e9 por condi\u00e7\u00f5es pol\u00edticas gerais, em rela\u00e7\u00e3o ao problema social, \u00e0 habita\u00e7\u00e3o para todas as pessoas, etc, era um tema forte nesses anos 70. Os trabalhos aqui em Portugal tiveram muita divulga\u00e7\u00e3o na Europa e por isso eu fui chamado. Veio aqui um holand\u00eas, vereador da habita\u00e7\u00e3o, que em Aia visitou um pouco do que eu tinha feito. E da\u00ed fiz um grande conjunto em Aia, mas antes j\u00e1 tinha sido chamado pela mesma raz\u00e3o para Berlim, e de maneira que tive a oportunidade de trabalho. O problema foi que depois com esta mania que h\u00e1 de especializa\u00e7\u00e3o, eu que antes e durante algum tempo estava ligado a pequenas moradias, passei a estar ligado \u00e0 habita\u00e7\u00e3o social, e at\u00e9 ouvi dizer que eu era um especialista da participa\u00e7\u00e3o e depois durou uns anos at\u00e9 passar a ter outros projetos. Mas agora ainda estou um bocado preocupado porque j\u00e1 fiz bastantes museus e come\u00e7a a haver a ideia de que eu sou um especialista de museus. Mas o arquiteto \u00e9 um especialista de n\u00e3o ser especialista. E a forma\u00e7\u00e3o de um arquiteto implica fazer obra p\u00fablica, privada, de grande e pequena escala, porque na cidade tudo isto est\u00e1 em conjunto. Eu acho que \u00e9 dif\u00edcil algu\u00e9m fazer um bom edif\u00edcio, de grande escala, se n\u00e3o tiver feito uma pequena casinha. Aqui no Porto, o grande volume do Pal\u00e1cio do Bispo do s\u00e9culo XVIII, que \u00e9 de um grande arquiteto italiano que veio para c\u00e1, e ficou c\u00e1, e morreu c\u00e1, Nicolau Nasoni, \u00e9 um grande bloco rodeado por pequenas casinhas e a dimens\u00e3o dele e a beleza e o destaque d\u00e1 \u00e0 cidade v\u00eam exatamente de estar rodeado por outra escala.<\/p>\n

Tem feito, como disse, arquitetura de todos os modos. Eu penso que na passagem dos anos de 60 para os 70 a arquitetura mudou um pouco em Portugal ou a forma como foi praticada. Depois de 1975 penso que haveria, talvez, um pouco mais de capacidade para “experimentar” certas coisas que se faziam.<\/strong>
\nN\u00e3o se perdeu essa aten\u00e7\u00e3o, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 habita\u00e7\u00e3o, por exemplo, para o grande mundo, e em rela\u00e7\u00e3o ao contexto social, mas perdeu a for\u00e7a que teve. N\u00e3o se perdeu a influ\u00eancia desse per\u00edodo, no entanto perdeu-se a intensidade. E em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 obra p\u00fablica, sobretudo depois da entrada na comunidade europeia com os fundos que vieram na altura e que ainda est\u00e3o a vir, (tamb\u00e9m deve estar para acabar breve), teve um grande impulso. <\/strong>
\nQual \u00e9 a palavra que talvez o defina na maneira como v\u00ea a arquitetura e o desenho? Uma coisa importante para si?<\/strong>
\nUma coisa importante \u00e9 n\u00e3o apagar a d\u00favida que \u00e9 quando se encara um projeto espec\u00edfico. O que eu acho necess\u00e1rio e importante \u00e9 n\u00e3o considerar eu sei, eu disto sou especialista e para onde aplicar. N\u00e3o, \u00e9 preciso entrar nos problemas e detetar quais s\u00e3o as d\u00favidas, que hip\u00f3teses h\u00e1 de resolver aquele problema, n\u00e3o deixar nenhuma para tr\u00e1s, at\u00e9 uma escolha. E, portanto, h\u00e1 um primeiro per\u00edodo que \u00e9 de explora\u00e7\u00e3o seja qual for o projeto e seja qual for a experi\u00eancia do arquiteto, e estou a falar em rela\u00e7\u00e3o a mim. Existe assim um per\u00edodo de explora\u00e7\u00e3o onde se utilizam m\u00e9todos, por vezes, nem sempre aceites, mas que para mim fundamentais, que s\u00e3o todas as ferramentas que o arquiteto tem complementares, nenhuma delas suficiente, mas em conjunto para fazer essa explora\u00e7\u00e3o. Eu uso muito o esqui\u00e7o, por exemplo, porque \u00e9 muito r\u00e1pido. Eu posso em segundos tentar um caminho e tentar logo outro e compar\u00e1-los e fazer essa assimila\u00e7\u00e3o do que s\u00e3o as d\u00favidas e a partir da\u00ed de uma forma larga quais s\u00e3o as respostas.<\/p>\n

Que import\u00e2ncia \u00e9 que d\u00e1 aos exteriores relativamente ao espa\u00e7o verde, \u00e1rvores e \u00e0 natureza? O que \u00e9 que isso influencia nos seus pr\u00e9dios e qual \u00e9 a import\u00e2ncia que tem no desenho final que quer?<\/strong>
\nDepende. Se eu fa\u00e7o um projeto aqui no Porto, numa rua do s\u00e9culo XVIII, n\u00e3o h\u00e1 \u00e1rvores, necessariamente. Mas h\u00e1 um outro tipo de rela\u00e7\u00f5es. Quer dizer o contexto em que \u00e9 inserido um novo projeto, \u00e9 fundamental para que esse novo projeto n\u00e3o seja um capricho, uma coisa n\u00e3o adequada, mas que se insira num todo. Eu gosto que o projeto que eu fa\u00e7a aqui ou ali, pare\u00e7a no final como tendo estado l\u00e1 sempre. Isto n\u00e3o quer dizer mimetismo. A linguagem por muitas raz\u00f5es \u00e9 outra, necessariamente, mas h\u00e1 outro tipo de di\u00e1logo de conviv\u00eancia que vai para al\u00e9m da linguagem, sem defini\u00e7\u00e3o da linguagem. \u00c9 isso que eu procuro. Agora em rela\u00e7\u00e3o ao que fala \u00e9 um tema fundamental, hoje, ligado aos temas t\u00e3o falados da sustentabilidade. A rela\u00e7\u00e3o entre o urbano e a natureza, em muitos aspetos, tamb\u00e9m tendo haver com essa sustentabilidade e que s\u00e3o muito debatidos, mas muitas vezes dificilmente aplicados no Canad\u00e1. Portugal \u00e9 muito pequenino, mas tamb\u00e9m tem muito espa\u00e7o \u00e0 sua escala que est\u00e1 progressivamente com tentativas de quebrar isso mas ainda n\u00e3o eficazes, de todo. H\u00e1 territ\u00f3rios quase abandonados, em consequ\u00eancia da emigra\u00e7\u00e3o que foi t\u00e3o forte e tamb\u00e9m da concentra\u00e7\u00e3o no meio urbano ao longo da costa e n\u00e3o com muita profundidade. E depois h\u00e1 grandes espa\u00e7os, \u00e0 nossa escala, abandonados devido \u00e0 emigra\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o das aldeias e essa rela\u00e7\u00e3o s\u00e1bia com a natureza que havia vinda da experi\u00eancia, acabou. Depois v\u00eam os problemas, por exemplo, os fogos e depois v\u00eam os problemas com o mar, que \u00e9 todo o longo da costa portuguesa, como \u00e9 tamb\u00e9m com a polui\u00e7\u00e3o\u2026 E depois tamb\u00e9m que \u00e9 um problema mundial, que j\u00e1 espetacularmente se traduz nas imagens que n\u00f3s vemos na televis\u00e3o, o gelo a cair do \u00e1rtico. De maneira que h\u00e1 muito que fazer. \u00c9 dif\u00edcil encontrar realmente a vontade e a energia sobretudo a uma escala mundial. O mundo \u00e9 global, tanto se fala na globaliza\u00e7\u00e3o, mas tem que ser global no bom sentido. E a\u00ed n\u00f3s vemos na recente uni\u00e3o que houve em Washington, nos Estados Unidos, em que realmente n\u00e3o h\u00e1 acordo. Nem h\u00e1 declara\u00e7\u00f5es de desejo de acordo, mas depois h\u00e1 toda a press\u00e3o dos interesses econ\u00f3micos. E realmente passam os anos e n\u00e3o h\u00e1 nada que d\u00ea assim uma nota de esperan\u00e7a absoluta.<\/p>\n

Hoje continua a desenhar, continua a sua arquitetura, continua a sua arte. Desenha para o presente ou para o futuro, em tudo o que faz hoje?<\/strong>
\nDesenhar para o futuro principia em desenhar para o presente. De maneira que quando desenho hoje tenho, por exemplo no esp\u00edrito presente, que o que estou a fazer vai durar mais do que eu. Posso at\u00e9 imaginar e colher alguns dados para quais v\u00e3o ser algumas transforma\u00e7\u00f5es, mas nunca posso realmente abarcar, ter conhecimento disso. Mas esse aspeto do cumprimento das fun\u00e7\u00f5es para que somos chamados, a arquitetura \u00e9 um servi\u00e7o e quando se faz um servi\u00e7o seja para um governo, um estado, seja para um particular, tem que cumprir com um objetivo ou ent\u00e3o desiste, ou seja, se n\u00e3o reconhecer bondade naquilo que lhe \u00e9 pedido, pode desistir. N\u00e3o desistindo tem que prestar esse servi\u00e7o. E uma das coisas que tem que cumprir \u00e9 a procura da solu\u00e7\u00e3o para a fun\u00e7\u00e3o que \u00e9 pedida. E eu sou por isso um funcionalista, costumo dizer. Mas para mim a fun\u00e7\u00e3o n\u00e3o se fica no imediato. O respeito pela fun\u00e7\u00e3o, e numa fase do projeto isso \u00e9 muito importante, significa tamb\u00e9m uma esp\u00e9cie de liberta\u00e7\u00e3o da fun\u00e7\u00e3o imediata. Portanto neste aspeto pode-se dizer que estou objetivamente a pensar no futuro daquilo que estou a fazer. E fazer o melhor poss\u00edvel e a buscar os exemplos da hist\u00f3ria. Porque o m\u00e1ximo para mim \u00e9 o convento. Claro que um convento \u00e9 projetado para uma comunidade que tem uma vida muito especial, com os seus rituais. E, portanto, os conventos que atrav\u00e9s dos s\u00e9culos foram muito bem resolvidos com concess\u00f5es e condi\u00e7\u00f5es grandes, atualmente, s\u00e3o munic\u00edpios, hospitais, quart\u00e9is, casas, escrit\u00f3rios, tudo o que se possa imaginar. Quer dizer o cumprir com o empenho a fun\u00e7\u00e3o, n\u00e3o significa, ou n\u00e3o deve significar, limitar a capacidade de desempenho daquele edif\u00edcio.<\/p>\n

E umas das raz\u00f5es da minha pergunta \u00e9 que em primeiro lugar vou perguntar se alguma vez fez algum projeto em que hoje olha para ele e n\u00e3o gosta muito, e se o fizesse outra vez, se o faria diferente?<\/strong>
\nPosso lhe contar uma hist\u00f3ria sobre isso. Eu fiz no princ\u00edpio dos anos 60 um restaurante que ainda existe, aqui perto, sobre o mar, num s\u00edtio muito bonito que se chama Boa Nova. Passados 15 anos pediram-me para fazer um refrescamento do edif\u00edcio, pois \u00e0 beira-mar sofre ali com as exig\u00eancias da implanta\u00e7\u00e3o. E, portanto, fui chamado, (aquilo pertence ao munic\u00edpio de Matosinhos), para uma manuten\u00e7\u00e3o do edif\u00edcio, porque durante esses 15 anos n\u00e3o esteve muito bem tratado. Perdeu-se o h\u00e1bito, que era muito forte em Portugal, da manuten\u00e7\u00e3o, por raz\u00f5es hist\u00f3ricas, mudan\u00e7as sociais, etc. De maneira que visitei o edif\u00edcio pois j\u00e1 l\u00e1 n\u00e3o estava h\u00e1 muito tempo. Mas quando entrei comecei a ver umas coisas que n\u00e3o gostava, disse aquilo ali vou mudar, n\u00e3o gosto. E depois comecei a olhar \u00e0 volta e disse, mas se eu mudar aquilo, tamb\u00e9m tenho que mudar ali. E assim sucessivamente. At\u00e9 que conclu\u00ed, ou vou demolir o edif\u00edcio ou vou manter tudo, recuperando-o apenas. E depois pensando melhor nestas duas alternativas, disse, se quando eu pensei mudar ali vejo que tenho que mudar noutro s\u00edtio, e assim sucessivamente, quer dizer que neste edif\u00edcio h\u00e1 uma l\u00f3gica global. H\u00e1 um ambiente em que tudo funciona num determinado sentido. Portanto, n\u00e3o deve ser t\u00e3o mau quanto isso. E ent\u00e3o decidi manter o que estava, pois as ideias v\u00e3o mudando ao longo da vida, e naquela altura era outro arquiteto, mais novo, tinha 25 anos, e hoje penso de outra forma, \u00e9 normal que quisesse mudar algumas coisas.<\/p>\n

 <\/p>\n

\"Siza<\/p>\n

 <\/p>\n

Falando agora um pouco de Portugal e das suas obras fant\u00e1sticas que tem feito c\u00e1. Quando v\u00ea o pr\u00e9dio acabado e a funcionar, vai ver como funciona e se est\u00e1 a funcionar como deve ser, etc \u2026 \u00e0s vezes os cr\u00edticos v\u00e3o depois fazer os seus coment\u00e1rios e nem sempre s\u00e3o bondosos com o que dizem. Costuma tratar disso?<\/strong>
\nEm alguns casos, olhe neste, por exemplo do restaurante, chamam-me passados uns anos, mas isso acontece cada vez menos. Porque uma outra caracter\u00edstica do nosso tempo era o desejo da novidade, do diferente, etc \u2026 quando um edif\u00edcio qualquer, que tenha projetado um arquiteto, precisar de uma interven\u00e7\u00e3o, as pessoas e \u00e0s vezes a pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o j\u00e1 quer outra coisa. Tenho tido casos, alguns recentes em que me chamam, gente que reconhece a qualidade do edif\u00edcio, e que tem o cuidado de me mandar, coisa que antes era obrigat\u00f3ria, direitos de autor, mas hoje n\u00e3o \u00e9. Em muitos casos querem outra coisa. \u00c9 um sinal de que tenho aspetos positivos e aspetos negativos. Repare, no tempo do meu bisav\u00f4 e at\u00e9 do meu av\u00f4, as fam\u00edlias eram grandes. E quando morria o patriarca, designava o filho mais velho, que era o morgado, e ficava o novo propriet\u00e1rio. Isto por gera\u00e7\u00f5es. Portanto, a preserva\u00e7\u00e3o \u00e9 garantida com base numa injusti\u00e7a grande em que os outros filhos ficavam todos dependentes do morgado. E isso acabou, mas era bom. L\u00e1 est\u00e1, tem o lado positivo. Mas por outro lado, hoje h\u00e1 muita gente a morar s\u00f3 e as fam\u00edlias s\u00e3o pequenas. Ali\u00e1s vi no outro dia um programa na televis\u00e3o sobre a preocupa\u00e7\u00e3o da baixa natalidade em Portugal e da perda de popula\u00e7\u00e3o. Nos \u00faltimos 10 anos Portugal perdeu 210 mil pessoas.<\/p>\n

Tem dedicado tantos anos da sua vida a esta arte que realmente \u00e9 um esp\u00f3lio incr\u00edvel. Tem tamb\u00e9m ganho v\u00e1rios pr\u00e9mios de reconhecimento do seu trabalho, incluindo o Pr\u00e9mio Nobel da Arquitetura, o Pr\u00e9mio Pritzker. Acha que isso \u00e9 um reconhecimento do seu trabalho ou a vis\u00e3o que algu\u00e9m teve do seu trabalho. Estes pr\u00e9mios t\u00eam reconhecido todo o esfor\u00e7o que tem feito na sua vida ou ainda n\u00e3o representam tudo o que pensa que devia ser reconhecido?<\/strong>
\nOs pr\u00e9mios s\u00e3o uma satisfa\u00e7\u00e3o, sem d\u00favida, e al\u00e9m disso, eventualmente, abrem possibilidades de trabalho. Agora e nesse aspecto fico muito satisfeito de ter esses pr\u00e9mios. Depois estou plenamente consciente que poderia ter tido muitos outros, porque a atribui\u00e7\u00e3o dos pr\u00e9mios depende do contexto, do momento, quer dizer, depende do j\u00fari, depende do que anda no ar, aqui ou ali, no geral. Portanto eu n\u00e3o durmo sobre os pr\u00e9mios, j\u00e1 tenho tudo o que queria, sou grande. Eu sei muito bem o momento em que isso acontece, independente de ter que haver algum reconhecimento, n\u00e3o estou a armar ao modesto, mas sim a reconhecer. Quando eu obtive o Pr\u00e9mio Pritzker, havia n arquitetos que na minha opini\u00e3o podiam perfeitamente ter sido eles a obt\u00ea-lo. \u00c9 muito contextual.<\/p>\n

Um homem de Matosinhos, a viver em Portugal, a ver um pa\u00eds desenvolver, uma carreira longa, produtiva, que vai deixar impacto neste pa\u00eds e no mundo para sempre, nomeadamente em Serralves, na Gulbenkian, no Canad\u00e1 e noutros s\u00edtios. Est\u00e1 satisfeito com o que fez at\u00e9 hoje e com o que quer ver no futuro da arquitetura em Portugal?<\/strong>
\nO que fiz at\u00e9 hoje \u00e9 o mesmo, digo eu. \u00c9 muito diferente, evidentemente. N\u00e3o gosto daquela obra, e gosto desta, e aquilo \u00e9 um desastre, e isto, sim senhor, est\u00e1 bem. Para mim cada arquiteto est\u00e1 sempre a trabalhar num projeto, podem ser diferentes obras, mas h\u00e1 um projeto. E a\u00ed h\u00e1 uma evolu\u00e7\u00e3o que depende muito do contexto, da \u00e9poca, da pr\u00f3pria intensidade da sua forma\u00e7\u00e3o ao longo dos anos. E, portanto, eu n\u00e3o rep\u00fadio nenhuma obra, uma pe\u00e7a \u00fanica, que faz parte de um projeto. E estou a falar com sinceridade, daquilo que penso. Agora umas s\u00e3o melhores, outras piores. \u00c9 outra coisa, mas \u00e9 um percurso e depende dos contactos que temos. Em rela\u00e7\u00e3o a isso, deixe-me dizer alguma coisa sobre o Canad\u00e1. A primeira vez que estive l\u00e1 foi em 1983, num congresso, organizado por uma universidade, em que havia v\u00e1rios organizadores e o tema era \u201cArquitetura e Identidade Cultural\u201d. Primeiro tive a oportunidade de visitar pela primeira vez o Canad\u00e1 e gostei muito. Depois tive muitos contatos e conheci arquitetos, porque haviam muitos convidados no congresso, era bastante gente, e vi alguns que conhecia. Foi uma coisa interna, mas tamb\u00e9m aberta ao p\u00fablico. Foi importante e foi-me feita uma entrevista e publicada numa revista de arquitetura. Mas uma coisa de que me lembro bem \u00e9 de visitar uma rua em Montreal, uma rampa longa, com casas de dois ou tr\u00eas pisos, e a arquitetura fez-me lembrar do que tinha visto na Holanda e vivia ali muito portugu\u00eas. E lembro que na altura contaram-me que a comunidade portuguesa fez a recupera\u00e7\u00e3o dessas casas e teve o pr\u00e9mio da cidade e julgo que ainda estive com algum portugu\u00eas. Viajei muito, agora j\u00e1 n\u00e3o posso, e concluo que visitei 40 pa\u00edses. Umas das experi\u00eancias \u00e9 que estando fora est\u00e1-se muito mais atento, aberto e consciente do que \u00e9 o pa\u00eds de origem. E, portanto, n\u00f3s devemos muito \u00e0 forma como fomos tratados, nem sempre bem, mas falando no geral enquanto emigrantes. E por isso uma coisa que me impressiona \u00e9 quando tenho alguma not\u00edcia de emigrantes mal recebidos no meu pa\u00eds. \u00c9 preciso que n\u00e3o tenham mem\u00f3ria ou no caso dos mais jovens que n\u00e3o estudem.<\/p>\n

Manuel Da Costa<\/span><\/p>\n

Transcri\u00e7\u00e3o: paulo Perdiz<\/p>\n

 <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  \u00c1lvaro Siza Vieira, arquiteto portugu\u00eas de renome, abriu as portas do seu ateli\u00ea e falou-nos, abertamente, da sua arte ligada ao mundo arquitet\u00f3nico, antes de ter sido conhecido que foi escolhido pela Santa S\u00e9 para criar a instala\u00e7\u00e3o que ir\u00e1 represent\u00e1-la na Bienal de Arquitetura de Veneza, que decorre entre 20 de maio e …<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":29704,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[36,8],"tags":[1601],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/revistamar.com\/wp-content\/uploads\/2023\/09\/AlvaroSizaVieira.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/29703"}],"collection":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=29703"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/29703\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/29704"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=29703"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=29703"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=29703"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}