{"id":29729,"date":"2023-10-23T13:17:50","date_gmt":"2023-10-23T17:17:50","guid":{"rendered":"https:\/\/revistamar.com\/?p=29729"},"modified":"2023-10-23T13:38:30","modified_gmt":"2023-10-23T17:38:30","slug":"maria-joao-maciel-jorge","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/revistamar.com\/amar\/entrevistas\/maria-joao-maciel-jorge\/","title":{"rendered":"Maria Jo\u00e3o Maciel Jorge"},"content":{"rendered":"

\"maria<\/p>\n

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Nasceu na ilha de S. Miguel, mais concretamente em Ponta Delgada, mas foi o Faial que a viu crescer, logo a partir dos 3 anos. Criada num ambiente rural, na freguesia da Feteira, Maria Jo\u00e3o guarda da inf\u00e2ncia e juventude, a mem\u00f3ria das paisagens deslumbrantes das ilhas, sendo que h\u00e1 uma que a marca de forma muito especial \u201c\u00e0s vezes at\u00e9 sonho com ela…\u201d \u2013 a da praia do Porto Pim. Tamb\u00e9m n\u00e3o esquece as \u201ccasas assombradas por fantasmas e almas do outro mundo\u201d que preenchiam o seu imagin\u00e1rio gra\u00e7as \u00e0s hist\u00f3rias que ouvia dos mais velhos, onde n\u00e3o faltavam relatos que inclu\u00edam conceitos t\u00e3o intrigantes como o \u201cmau-olhado\u201d, o \u201cquebranto\u201d e as \u201calmas encantadas\u201d.<\/strong><\/p>\n

A prop\u00f3sito das mem\u00f3rias que marcaram a sua inf\u00e2ncia e que considera um patrim\u00f3nio valioso, Maria Jo\u00e3o Maciel Jorge disse recentemente, citando Daniel de S\u00e1 \u201ceu n\u00e3o sabia, mas sei agora, que a pior maneira de ficar na ilha \u00e9 sair dela\u201d. Mas para ser quem \u00e9 hoje Maria Jo\u00e3o teve necessidade de partir e assim libertar-se da limita\u00e7\u00e3o que a geografia da ilha lhe impunha.<\/p>\n

Aos 18 anos saiu da ilha que tem, segundo a pr\u00f3pria, a melhor vista do mundo, porque tinha consci\u00eancia que aquele mar, que a rodeava, limitava o seu futuro. Maria Jo\u00e3o Maciel Jorge saiu da Feteira, na Ilha do Faial, e veio para Toronto, corria o ano de 1989. Os primeiros anos n\u00e3o foram propriamente f\u00e1ceis, mas o voltar para tr\u00e1s nunca foi op\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A hist\u00f3ria de vida de Maria Jo\u00e3o \u00e9 marcada pela determina\u00e7\u00e3o e pela aceita\u00e7\u00e3o dos desafios que foram cruzando o seu caminho, mas tamb\u00e9m pela compet\u00eancia profissional. A recente nomea\u00e7\u00e3o da professora Maria Jo\u00e3o, que prefere ser tratada por MJ, para Associate Dean (vice-reitora) da Faculty of Liberal Arts and Professional Studies, com a responsabilidade pelo setor designado por Global and Community Engagement, \u00e9 seguramente reflexo do reconhecimento de todo o trabalho que desenvolveu, nomeadamente, enquanto diretora do Departamento de L\u00ednguas, Literaturas e Lingu\u00edstica na York University. Para al\u00e9m disso, \u00e9 bem conhecido o seu permanente empenho em promover a lusofonia e a sua proximidade \u00e0 vida comunit\u00e1ria. Basta lembrar a Associa\u00e7\u00e3o de Estudos Lus\u00f3fonos a que tanto se dedicou nos \u00faltimos anos. Na conversa com a Revista Amar, que vos apresentamos nas p\u00e1ginas seguintes, Maria Jo\u00e3o Maciel Jorge revela muito de quem \u00e9, enquanto profissional e enquanto mulher \u2013 um exemplo inspirador.<\/p>\n

Madalena Bal\u00e7a<\/p>\n

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Nasceu na ilha de S. Miguel, em Ponta Delgada, mas cresceu no Faial\u2026 voltou ou volta a Ponta Delgada ou Faial \u00e9 a sua \u201csanta terrinha\u201d?<\/strong>
\nEu quando volto vou a v\u00e1rias ilhas. Portanto, por motivos de trabalho vou, geralmente, mais \u00e0 Ponta Delgada, S\u00e3o Miguel. Ali\u00e1s, no ano passado tivemos l\u00e1 para uma confer\u00eancia na qual tamb\u00e9m fui presidente durante quatro anos da Lusophone Studies and Association, que foi de facto fundada aqui em York h\u00e1 muitos anos por um grupo de investigadores que trabalham no mundo lus\u00f3fono, mas fa\u00e7o sempre quest\u00e3o de ir \u00e0 minha ilha\u2026 a F\u00e1tima Valad\u00e3o, da Casa dos A\u00e7ores, dizia sempre que a \u201cMaria Jo\u00e3o \u00e9 a\u00e7oriana de duas ilhas\u201d e eu dizia que \u201csim, eu quero ser a\u00e7orianas de todas elas!\u201d, porque todas as ilhas dos A\u00e7ores tem a sua identidade \u00fanica, digamos, contudo identifico-me mais com o Faial, porque cresci no Faial. Portanto, fa\u00e7o sempre quest\u00e3o de ir ao Faial porque, ali\u00e1s, os meus pais vivem no Faial. Eu nunca digo quando vou\u2026 apare\u00e7o. Gosto muito tamb\u00e9m de ir \u00e0 ilha do Pico. N\u00e3o vou a algumas ilhas, como a S\u00e3o Jorge, porque a minha irm\u00e3 faleceu no acidente da SATA em 1999. Ent\u00e3o S\u00e3o Jorge \u00e9 uma ilha que me traz m\u00e1s recorda\u00e7\u00f5es e tento evit\u00e1-la, mas eu gosto de visitar as v\u00e1rias ilhas e quando posso vou.<\/p>\n

Conte-nos um pouco da sua vida na ilha do Faial at\u00e9 \u00e0 adolesc\u00eancia.<\/strong>
\nFoi uma vida complexa, porque foi de facto um bocado contradit\u00f3ria. E porque \u00e9 que eu digo isso? Agora, que sou mais madura, consigo ver o passado com outras lentes, digamos. Eu vejo que crescer numa ilha \u00e9 uma experi\u00eancia fundamental para nutrir o que eu sempre tive, que \u00e9 o contacto com a natureza. Sempre estive rodeada de animais, rodeada do mar. Esses aspetos foram fundamentais na minha ess\u00eancia e depois tive uma cria\u00e7\u00e3o muito ligada ao mundo natural, isto antes dos ecr\u00e3s, antes dos telem\u00f3veis. E de facto, hoje em dia, vejo que tive muita sorte, porque tive a oportunidade de crescer naquele ambiente muito natural. N\u00f3s \u00edamos, como se diz nos A\u00e7ores, tomar banho, pass\u00e1vamos o dia no mar, cheg\u00e1vamos a casa com os picos dos ouri\u00e7os caixeiros metidos na pele porque, claro, n\u00e3o havia sapatos de \u00e1gua, n\u00e3o havia essas coisas todas, n\u00e3o \u00e9? E, hoje em dia, percebo que aquilo foi muito saud\u00e1vel para mim, mesmo no aspeto de exerc\u00edcio f\u00edsico. Depois houve tamb\u00e9m uma limita\u00e7\u00e3o, porque o mar \u00e9 livrador, mas tamb\u00e9m limitador. Ent\u00e3o, numa ilha rodeada do mar e naqueles tempos em que havia muitas poucas oportunidades, sentia-me um bocadinho prisioneira num ambiente e numa sociedade ainda muito retr\u00f3grada, ainda muito enfocada em ideais que j\u00e1 n\u00e3o eram os mesmos ideais que se celebrava num Portugal continental de igualdade e democracia, ou seja, uma sociedade muito r\u00edgida em termos de classe e foi crescendo em mim uma vontade de sair, de explorar ambientes mais liberais, de tecer algo na minha vida, porque numa ilha, naquela \u00e9poca, n\u00e3o havia muitas oportunidades para uma jovem. Eu era uma jovem crescida no campo e, portanto, tinha outras limita\u00e7\u00f5es que as minhas colegas da cidade n\u00e3o tinham, porque j\u00e1 tinham as fam\u00edlias um bocadinho mais liberais. Lembro-me de ter 13 anos e de pensar \u201ccomo ser\u00e1 a vida das minhas primas na Calif\u00f3rnia?\u201d\u2026 a minha fam\u00edlia \u00e0s vezes regressava, naquela \u00e9poca, da Calif\u00f3rnia e elas tinham umas vestes coloridas, t\u00e3o diferentes das nossas. Cheiravam diferente. Tudo era diferente. E eu pensava \u201cah, como ser\u00e1 o mundo delas?\u201d. E, depois, via aquelas grandes cidades como S\u00e3o Francisco, Los Angeles\u2026<\/p>\n

\u2026 e como sabia das cidades grandes?<\/strong>
\nElas traziam uns postais, tipo um acorde\u00e3o e eu passava horas infinitas a admirar aquelas cidades luminosas… era um contraste da minha exist\u00eancia e pensava \u201ccomo ser\u00e1 o mundo al\u00e9m? E qual \u00e9 o meu papel neste mundo? Ser\u00e1 que o meu papel \u00e9 ficar aqui, nesta ilha pequenita? Qual \u00e9 o meu futuro aqui?\u201d. Portanto, eu sempre, desde muito jovem, quis percorrer outras andan\u00e7as.<\/p>\n

Nunca pediu aos seus pais para emigrar.<\/strong>
\nNunca! Para j\u00e1 at\u00e9 acho que queria imigrar sem os meus pais (risos)\u2026 quando eu tinha 16, 17 anos a coisa que eu queria menos era estar ligada aos meus pais e acho que qualquer adolescente tem essa fase. Hoje \u00e9 diferente, claro, mas eu queria n\u00e3o ser controlada por ningu\u00e9m. Eu queria ser uma solit\u00e1ria estranha, num lugar estranho.<\/p>\n

Quais eram os seus sonhos nessa \u00e9poca? Que queria ser e o que \u00e9 que sonhava ser?<\/strong>
\nEu sonhava ser tudo e n\u00e3o sonhava ser nada ao mesmo tempo. De certa maneira, acho que era uma t\u00edpica adolescente. Sonhei em ser bailarina, sonhei em ser cantora\u2026 ah! Sonhei em ser hospedeira porque pensava que elas se vestiam muito bem, que elas eram assim, mulheres muito belas. Depois, quando fiz o meu primeiro voo, ali\u00e1s, o primeiro grande voo que fiz foi quando vim para o Canad\u00e1 e a\u00ed \u00e9 que comecei a perceber que afinal uma hospedeira n\u00e3o \u00e9 assim\u2026 uma profiss\u00e3o t\u00e3o glamourosa como eu tinha pensado. Acho que tinha sonhos normais e tinha sonhos um bocadinho rid\u00edculos, mas acho que faz parte da adolesc\u00eancia\u2026 ter sonhos rid\u00edculos. Para al\u00e9m disso, n\u00e3o tinha mais nenhuma ideia.<\/p>\n

Porqu\u00ea imigrar para o Canad\u00e1 e n\u00e3o para os Estados Unidos onde tinha fam\u00edlia e amigos? Ou um pa\u00eds europeu que seria muito mais f\u00e1cil a n\u00edvel de entrada no pa\u00eds.<\/strong>
\nPorque a primeira vez que me casei, aos 18, foi com um canadiano e foi assim que vim para o Canad\u00e1.<\/p>\n

Casou t\u00e3o jovem por paix\u00e3o? Ou para sair do dom\u00ednio da m\u00e3e e do pai?… Porque muitos jovens casam aos 18 para sair de casa, n\u00e3o \u00e9?<\/strong>
\nPelas duas coisas. Acho que foi tamb\u00e9m eu saber que se n\u00e3o sa\u00edsse daquela maneira, como \u00e9 que eu ia sair? Uma coisa que sempre fui – apesar de ter sonhos de carreira um bocadinho absurdos, mas que acho que s\u00e3o normais e saud\u00e1veis -, foi ser muito estudiosa e queria estudar\u2026 eu gostava de estudar, mas n\u00e3o havia planos na minha fam\u00edlia para eu ir para a universidade. Portanto, aos 16 e 17 anos tinha pouqu\u00edssimos recursos. Claro que eu gostei do meu primeiro marido, mas parte porque gostei dele era haver, tamb\u00e9m, uma possibilidade de sa\u00edda e hoje em dia consigo ser muito honesta nesse aspeto. E claro, sair, ser uma mulher liberal, completamente livre de qualquer controlo familiar.<\/p>\n

Que era o mais b\u00e1sico para as mulheres na altura, n\u00e3o \u00e9? Sair de \u201cdebaixo da saia da m\u00e3e\u201d\u2026<\/strong>
\nE eu tinha pouqu\u00edssima, pouqu\u00edssima liberdade. Se eu fosse a algum s\u00edtio, ia com um tio ou com uma tia\u2026 at\u00e9 ir para um baile, porque nem tinha liberdade para ir \u00e0 discotecas, por exemplo. Eu n\u00e3o tinha liberdade para ir para lado nenhum\u2026<\/p>\n

\u2026 quanto mais ir para o continente, para a universidade.<\/strong>
\nAcho j\u00e1 havia a Universidade dos A\u00e7ores\u2026 mas se eu n\u00e3o tinha liberdade para sair \u201cdentro\u201d ilha, como \u00e9 que eu ia ter liberdade para sair \u201cfora\u201d da ilha? Portanto, tinha que ser mesmo algo assim\u2026 dr\u00e1stico.<\/p>\n

Quando deixou a ilha, sabia no \u00edntimo que, mais tarde ou mais cedo, ia retornar os estudos? Havia uma esperan\u00e7a? Ou o facto de estar casada, estudar deixava de fazer sentido?<\/strong>
\nEu sempre pensei que um dia iria frequentar a universidade. N\u00e3o sabia quando e, quando sa\u00ed da ilha, n\u00e3o sabia de facto o que me esperava no Canad\u00e1, porque isto foi antes da internet e antes de tudo o que temos hoje ao nosso dispor. Eu n\u00e3o sabia nada de nada, apenas tinha visto os cartazes luminosos que as minhas primas levavam para l\u00e1 e as hist\u00f3rias que os imigrantes contavam como era o Canad\u00e1, como era nos Estados Unidos. Ali\u00e1s, agora j\u00e1 \u00e9 menos, mas na mente de um a\u00e7oriano, naquela \u00e9poca, n\u00e3o havia diferen\u00e7a nenhuma entre o Canad\u00e1 e os Estados Unidos.<\/p>\n

Calif\u00f3rnia e Toronto, portanto, era tudo a mesma coisa. Era ver\u00e3o o ano inteiro.<\/strong>
\n(risos) Exatamente, exatamente. Havia uma alcunha que us\u00e1vamos para os imigrantes, que era os \u201ccalafonas\u201d devido \u00e0 Calif\u00f3rnia\u2026 mas todos eram, fossem de l\u00e1 ou n\u00e3o, \u201ccalafonas\u201d ou ent\u00e3o \u201ccamones\u201d. Para n\u00f3s toda a gente da Am\u00e9rica do Norte – Estados Unidos e Canad\u00e1 – eram \u201ccalafonas\u201d ou \u201ccamones\u201d, mas eu pensava \u201cah\u2026 aquelas pessoas vivem num mundo muito maior que o meu e devem ter muitas mais oportunidades.\u201d. E, claro, eu estava consciente que a maior parte dos a\u00e7orianos imigraram tinham, claro, muitas melhores condi\u00e7\u00f5es de vida. Eu estava muito consciente que as minhas primas viviam numa sociedade muito liberal e que eu, tamb\u00e9m, deveria de viver numa sociedade muito liberal como mulher.<\/p>\n

Teve o apoio da fam\u00edlia quando decidiu emigrar, mesmo casada?<\/strong>
\nEu acho que os meus pais sempre perceberam que havia um potencial em mim que n\u00e3o podia ser realizado nas ilhas e eles apoiaram os meus sonhos de imigrar, porque apesar de n\u00e3o haver conversas sobre se um dia iria frequentar a universidade ou n\u00e3o, sei que eles tamb\u00e9m acharam que eu iria ter mais oportunidades. Eu j\u00e1 tinha revelado desde muito jovem que era demasiado liberal para a sociedade fechada em que me inseria. Desde muito jovem, declarei que n\u00e3o acreditava na religi\u00e3o\u2026 portanto, acho que fui uma crian\u00e7a dif\u00edcil ao n\u00edvel intelectual, pois cogitava quest\u00f5es que eram assim um bocadinho fora de s\u00e9rie e, se calhar, n\u00e3o foi f\u00e1cil para eles lidar com uma crian\u00e7a assim. Eu era \u201cnormal\u201d em muitas coisas e depois havia muitas coisas em que eu n\u00e3o era \u201cnormal\u201d\u2026 digamos que eu tinha quest\u00f5es existenciais, que outras crian\u00e7as se calhar n\u00e3o tinham. Portanto, acho que eles sabiam que o melhor caminho era mesmo emigrar.<\/p>\n

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\"wewewwe\"<\/p>\n

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Que mem\u00f3rias guarda do dia em que entrou no avi\u00e3o e deixou a ilha? Ainda se lembra do que sentiu?<\/strong>
\nPara mim o mais dif\u00edcil de deixar a ilha, foi deixar o mar. O mar nos A\u00e7ores n\u00e3o \u00e9 como outros mares, porque nos A\u00e7ores h\u00e1 algo ali, daquela combina\u00e7\u00e3o da rocha vulc\u00e2nica e do mar que nos atrai, que nos cativa\u2026 s\u00e9culos de isolamento, n\u00e3o \u00e9? Os a\u00e7orianos, descendentes de a\u00e7orianos, viveram ali, entre aquele pedacinho de terra e mar. Para mim sempre foi o mar. E pensei \u201cquero levar este cheiro de mar comigo.\u201d. Mas, depois lembro-me de entrar no avi\u00e3o e sentir um grande entusiasmo que eu estava mesmo preparada para aquela aventura. Portanto, ainda mais entusiasmada fiquei quando entrei no avi\u00e3o maior – \u00e9 que no Faial n\u00e3o h\u00e1 voos internacionais e tem que se ir ou para a Terceira ou para Ponta Delgada \u2013 e acho que fui para Ponta Delgada. Foi nesse voo internacional que pensei \u201cah, isto aqui j\u00e1 cheira a Am\u00e9rica!\u201d porque, de facto, essa tamb\u00e9m \u00e9 uma mem\u00f3ria muito associada de quando eu era pequena, ou seja, quando n\u00f3s receb\u00edamos barris grandes, encomendas que vinham da minha fam\u00edlia e que quando se levantava a tampa da embalagem vinha um cheiro e n\u00f3s associ\u00e1vamos aquilo ao cheiro da Am\u00e9rica\u2026 ent\u00e3o quando entro no avi\u00e3o grande pensei \u201ca grandeza disto, \u00e9 a grandeza do que me espera. J\u00e1 \u00e9 o cheiro!\u201d e pedi logo uma coisa que eu n\u00e3o sabia o que era, Root Beer, porque eu queria j\u00e1 come\u00e7ar a minha experi\u00eancia, antes de aterrar.<\/p>\n

E gostou?<\/strong>
\nLembro-me de pensar assim \u201ca\u00ed que horror! Bebem isto no Canad\u00e1? Root Beer?! Isto \u00e9 horr\u00edvel! Esta bebida \u00e9 horr\u00edvel.\u201d. Depois experimentei tudo e claro, continuo a n\u00e3o gostar de Root Beer. Portanto, em vez de refletir no que tinha deixado, eu estava j\u00e1 a fazer planos\u2026 j\u00e1 me estava a ver naquelas cidades luminosas dos postais, j\u00e1 estava a ver-me completamente liberada, digamos.<\/p>\n

E isso leva a pr\u00f3xima quest\u00e3o\u2026 recorda-se de como foi a chegada?<\/strong>
\nCheguei a 6 de mar\u00e7o de 1989 e quando aterrei, a primeira coisa que me sobressaiu foi o cheiro, que hoje eu vejo que \u00e9 um cheiro meio sanit\u00e1rio\u2026 cada pa\u00eds tem o seu cheiro. Sou muito de me levar pelos sentidos e por exemplo, uma vez entrei no metro e havia ali um cheiro a bolas de naftalina e eu s\u00f3 pensava naquelas velhinhas, que na minha juventude, cheiravam todas \u00e0s bolas de naftalina, portanto, n\u00e3o sei se andavam com bolas naftalina nos bolsos. Portanto, o cheiro \u00e9 muito importante, especialmente para quem imigra, porque \u00e9 logo assaltado por estes outros cheiros. O cheiro e o frio! Porque eu vim em mar\u00e7o e, agora sei, que em mar\u00e7o nem \u00e9 do pior. Janeiro \u00e0s vezes \u00e9 muito pior e at\u00e9 em fevereiro\u2026 eu nunca pensei que existisse aquele n\u00edvel de frio\u2026 e, pensei que at\u00e9 vinha bem agasalhada, mas n\u00e3o! N\u00e3o vinha nada bem agasalhada e o frio foi, de facto, muito chocante para mim e continua a ser, mas eu adapto-me bem.<\/p>\n

E depois, do choque do frio e realizar que afinal n\u00e3o era tudo luminoso, sol, colorido como nos postais – porque em mar\u00e7o aqui \u00e9 tudo cinzento -, n\u00e3o ficou com medo do futuro? Ou seja, a realidade estava longe de ser aquilo que tinha idealizado\u2026<\/strong>
\nEu tinha, claro, uma vis\u00e3o rom\u00e2ntica de tudo, uma vis\u00e3o idealizada como quando vemos os filmes e temos aquela perspetiva. Claro que tive muitos momentos incertos sobre o meu futuro e tive muitos momentos dif\u00edceis e em muitos sentidos, como diz o prov\u00e9rbio \u201ccomi o p\u00e3o que o diabo amassou\u201d\u2026 passei por muitas cenas humilhantes, como mulher, como imigrante, ainda h\u00e1 dias estava a dizer a um colega \u201ceu literalmente limpei porcaria!\u201d. Lembro-me de que quando cheguei, a primeira coisa que tive que encarar \u00e9 que tinha que arranjar trabalho imediatamente e que os sonhos de ser algo tinham que ficar \u00e0 espera. E tive uma s\u00e9rie de trabalhos em f\u00e1bricas, tive um ano a trabalhar como ferreira e aos fins de semana trabalhava tempo extra e foi assim que paguei o meu primeiro ano de universidade.<\/p>\n

Ainda se lembra do nome dessa f\u00e1brica?<\/strong>
\nClaro que sim\u2026 FABCO, mas j\u00e1 n\u00e3o existe. Era uma f\u00e1brica que ficava em Dresden, Ontario, numa cidade muito pequenina onde eu fui viver. Portanto, n\u00e3o era aquele s\u00edtio luminoso, cidades grandes, n\u00e3o era nada daquilo. Fui viver para uma \u00e1rea muito rural, uma \u00e1rea com pensamentos um bocado retr\u00f3grados e os primeiros portugueses com os quais tive uma rela\u00e7\u00e3o aqui, foi de uma \u00e1rea chamada Chatham, Ont\u00e1rio. Esses portugueses ainda eram mais antiquados do que aqueles portugueses que eu deixei l\u00e1 tr\u00e1s\u2026 nas ilhas, portanto isso tamb\u00e9m n\u00e3o deu muito certo para mim, n\u00e3o \u00e9? Mas eu tive v\u00e1rios momentos\u2026 n\u00e3o diria que me tinha arrependido, mas fiquei por teimosia, porque eu tamb\u00e9m n\u00e3o queria dar o bra\u00e7o a torcer. Eu n\u00e3o queria regressar \u00e0 ilha 1 ano, 2 anos ou 3 anos depois, da mesma maneira que sa\u00ed, porque a ilha, naquele tempo, naquela \u00e9poca em 2 ou 3 anos, n\u00e3o tinha mudado nada. Portanto, eu fiquei por ser persistente, por acreditar que \u201cisto vai mudar, isto vai mudar\u201d e eventualmente as coisas mudaram.<\/p>\n

Ou seja, o incerto no Canad\u00e1 valia mais do que voltar para o certo que havia e a esperava na ilha.<\/strong>
\nExatamente. O que havia l\u00e1, eu j\u00e1 sabia. O que havia aqui, aquela incerteza\u2026 eu tinha sempre esperan\u00e7a, porque a incerteza permite isso quando n\u00f3s n\u00e3o sabemos \u201ce se eu for por aqui? E se eu for por ali?\u201d. Portanto, o incerto est\u00e1 cheio de possibilidades.<\/p>\n

E pior, n\u00e3o podia ficar\u2026 apenas podia melhorar.<\/strong>
\nExatamente! E eu estive mesmo, mesmo muito, em baixo.<\/p>\n

E tudo muda quando sai de Dresden?<\/strong>
\nN\u00e3o\u2026 tudo muda para mim quando me separo, porque n\u00e3o era feliz no meu casamento e sa\u00ed de casa. Eu tinha um filho beb\u00e9 e n\u00e3o tinha como o alimentar, n\u00e3o sabia de onde \u00e9 que ia vir o dinheiro para o pr\u00f3ximo saco de fraldas, por exemplo e confiei numa pessoa estranha com quem trabalhava na FABCO. Ela um dia perguntou-me o que \u00e9 que se passa comigo e eu desbobinei tudo\u2026 e ela disse-me \u201cvais vir, com o teu filho, morar comigo\u201d e n\u00e3o s\u00f3 fui morar com ela como, tamb\u00e9m, mud\u00e1mos os nossos turnos para que uma de n\u00f3s ficasse com o meu filho\u2026 nunca me esque\u00e7o dela, Caroline Hadley e ainda hoje somos amigas. Depois a\u00ed \u00e9 que comecei mesmo a sonhar! Eu comecei a perceber que os que faziam ferragens na f\u00e1brica ganhavam muito melhor que eu. Ali\u00e1s, eu estava um bocadinho aborrecida porque o trabalho de f\u00e1brica era muito mon\u00f3tono com aqueles gestos repetitivos. Ent\u00e3o, as soldagens era uma arte, mais diverso e mais dinheiro. \u00c9, tamb\u00e9m, nessa altura que come\u00e7o a pensar \u201cser\u00e1 que eu quero trabalhar numa f\u00e1brica o resto da minha vida? N\u00e3o, eu quero outras coisas e quero que o meu filho me veja a fazer outras coisas.\u201d. Ent\u00e3o consegui o treino \u201cin house\u201d para fazer as ferragens e trabalhei, trabalhei como uma escrava mesmo. Eram os fins de semana, turnos extras e quando perguntavam \u201cquem \u00e9 que quer?\u201d, eu queria sempre, porque estava a poupar dinheiro para poder pagar o meu primeiro ano da universidade, os outros anos da universidade nem me importavam, isso era um problema para depois e, de facto, em 1995 ingressei na universidade.<\/p>\n

Na Western, que fica…<\/strong>
\n\u2026 em London. E porqu\u00ea a Western? Para j\u00e1, a universidade era muito bonita e depois porque havia muitos apoios para m\u00e3es solteiras e eu tinha um filho pequenito e precisava daquele tipo de apoios. Tive uma \u00f3tima experi\u00eancia. Mas, a minha vida acad\u00e9mica depois aconteceu acidentalmente. Eu n\u00e3o sabia bem o que \u00e9 que eu queria. No primeiro ano ingressei em v\u00e1rias disciplinas para ver onde \u00e9 que me encontrava, mas desde que eu tinha uns 13, 14 anos sabia que eu era aluna de l\u00ednguas, portanto fiz uma licenciatura em Franc\u00eas e Espanhol. Depois fiz um mestrado em Espanhol, mas abordei a parte espanhola e portuguesa porque trabalhei em Gil Vicente e concentrei-me no Renascimento e depois o doutoramento foi na mesma \u00e1rea do Renascimento, mas numa concentra\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m do ponto de vista Ib\u00e9rica. Portanto, foi tudo assim um bocadinho acidental, porque quando estava prestes a acabar a licenciatura eu tinha uma professora, com quem tirei muitas disciplinas, que me perguntou o que \u00e9 que eu ia fazer a seguir e eu disse-lhe que n\u00e3o tinha a m\u00ednima ideia, ent\u00e3o ela sugeriu \u201cporque \u00e9 que tu fazes um mestrado? E por que \u00e9 que n\u00e3o estudas Gil Vicente? Gil Vicente \u00e9 pouco estudado e eu posso ser a tua diretora de tese.\u201d, porque Gil Vicente tamb\u00e9m era a \u00e1rea dela. O Gil Vicente \u00e9 pouqu\u00edssimo estudado, mas poderia abrir, tamb\u00e9m, portas em Portugu\u00eas e em Espanhol. E eu pensei \u201cporque n\u00e3o?\u201d. Acho que essa foi a pergunta que sempre me fiz relacionado a tudo. E, depois, sempre tive uma habilidade de pensar assim\u2026 \u201cporque n\u00e3o? E se as minhas respostas todas t\u00eam a ver com inseguran\u00e7a ou medo, ent\u00e3o devo mesmo arriscar!\u201d, porque n\u00f3s n\u00e3o devemos travar o nosso progresso por medo. Ent\u00e3o, quando pensei \u201cporque n\u00e3o?\u201d, a seguir pensei \u201crealmente eu gosto muito de ler e gosto muito de estudar, vamos a isso!\u201d. Eu tinha tirado uma disciplina sobre aquela \u00e9poca do Renascimento com o professor Ant\u00f3nio Mart\u00ed, de quem gostava muito, mas que j\u00e1 faleceu, e tinha adorado. Ent\u00e3o\u2026 acho que quando cheguei ao fim do mestrado, a mesma professora perguntou-me \u201ce o que \u00e9 que vais fazer agora a seguir?\u201d, eu disse \u201cah, n\u00e3o fa\u00e7o a m\u00ednima ideia\u201d\u2026 de seguida pergunta \u201cporque n\u00e3o vais fazer um doutoramento?\u201d e eu nunca tinha pensado nisso. Ela queria que eu fosse para a University of Madison, em Wisconsin, contudo, eu j\u00e1 tinha formado nova fam\u00edlia, mas n\u00e3o tive mais filhos. Ela tinha sido uma mulher de outra gera\u00e7\u00e3o e como nunca teve filhos, para ela seria completamente normal se eu abandonasse o meu marido, os meus filhos – eu tenho uma enteada que vive comigo – para ir para os Estados Unidos, mas eu disse-lhe que n\u00e3o e que n\u00f3s, como casal, nunca ir\u00edamos concordar nisso. Eu n\u00e3o podia abandonar a minha fam\u00edlia. Ent\u00e3o, candidatei-me na Universidade de Toronto. Se eu n\u00e3o entrasse, \u00e9 porque n\u00e3o era para mim. Ela aceitou. Olha, eu entrei e fiz o doutoramento.<\/p>\n

A licenciatura e mestrado foram feitos na Western?<\/strong>
\nForam, mas a licenciatura fiz em duas universidades\u2026 The University of Western Ontario, que agora se chama s\u00f3 Western e University of Waterloo. Fui aluna tamb\u00e9m no University of Waterloo, depois regressei \u00e0 Western para fazer o mestrado e depois ingressei na Universidade de Toronto para o doutoramento.<\/p>\n

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E sempre a trabalhar ao mesmo tempo que tirava o doutoramento?<\/strong>
\nSempre, sempre. Lembro-me de um trabalho que tive, que tamb\u00e9m foi muito influente na minha decis\u00e3o de continuar a estudar, onde trabalhei numa f\u00e1brica\u2026 j\u00e1 n\u00e3o me lembro do nome dessa f\u00e1brica, mas em que trabalhava 12 horas \u00e0 noite, num barulho absurdo e, apesar de n\u00f3s termos todos aqueles cursos, constava em p\u00f4r pe\u00e7as nas m\u00e1quinas. Era uma f\u00e1brica especializada em construir aqueles canos de pl\u00e1stico r\u00edgido que n\u00f3s temos debaixo das bacias, das sanitas\u2026 um trabalho horr\u00edvel\u2026 eu at\u00e9 tenho aqui, na m\u00e3o, uma cicatriz que foi desse trabalho, porque n\u00f3s toda a noite and\u00e1vamos com uma faca na m\u00e3o e o meu trabalho era abrir a m\u00e1quina e limpar o excesso do pl\u00e1stico, tirar a pe\u00e7a para o controlo de qualidade e voltar a meter outro peda\u00e7o de pl\u00e1stico na m\u00e1quina e ir para a pr\u00f3xima m\u00e1quina. Portanto, toda a noite aquela faca andava aqui e deixou-me esta cicatriz que, de certa maneira, as nossas cicatrizes s\u00e3o a evid\u00eancia das nossas vidas. Portanto, n\u00e3o me importa nada de ter isto aqui. Tenho, tamb\u00e9m, algumas marcas nos p\u00e9s devido \u00e0s fa\u00edscas, do tempo que trabalhei nas ferragens e que, \u00e0s vezes, se metiam entre uma gretinha que t\u00ednhamos nas botas\u2026 mas fazem parte da minha hist\u00f3ria. Lembro-me de ser treinada por uma senhora que me dizia assim \u201ccrimping and trimming, it’s all we do\u201d e nunca mais me esque\u00e7o que pensei assim \u201cesta senhora j\u00e1 faz este trabalho h\u00e1 mais de 20 anos. Eu estou aqui h\u00e1 4 meses e mal posso esperar para sair daqui.\u201d, portanto, todos os ver\u00f5es eu tinha trabalho, \u00e0s vezes, at\u00e9 durante o ano letivo. \u00c0s vezes, durante setembro e mar\u00e7o trabalhava com um professor como Research Assistant, porque como \u00e9 que eu paguei o resto da minha educa\u00e7\u00e3o? Foi com empr\u00e9stimos do governo, claro! Depois levou-me anos a pagar aquilo e quando fiz o \u00faltimo pagamento tive uma festa muito grande. Foi um grande al\u00edvio. E, depois quando fui aluna de mestrado, eu dava aulas tamb\u00e9m e a\u00ed fazia algum dinheiro. Quando eu estava a fazer o doutoramento e ainda h\u00e1 dias disse a um colega \u201ceu n\u00e3o sei como \u00e9 que eu fiz isto tudo!\u201d, eu estava na Universidade de Toronto a fazer o doutoramento, mas duas noites eu ia \u00e0 Western dar um curso, dar uma aula l\u00e1. Portanto, a vida era assim. Eu tamb\u00e9m era mais jovem, tinha mais paci\u00eancia e energia.<\/p>\n

E como foi o percurso acad\u00e9mico at\u00e9 chegar \u00e0 cria\u00e7\u00e3o da Associa\u00e7\u00e3o de Estudos Lus\u00f3fonos, da qual chegou a ser presidente?<\/strong>
\nO meu percurso acad\u00e9mico foi acidental, tal e qual como os meus estudos. Quando eu estava prestes a acabar o doutoramento, acho que foi a Manuela Marujo que me disse \u201colha, v\u00e3o abrir uma vaga na York e tu devias candidatar-te\u201d mas, de facto, eu tinha imaginado que o meu futuro iria ser nos Estados Unidos, ali\u00e1s, eu tinha imaginado que o meu futuro ia ser na \u00e1rea de Espanhol, como eu estava a fazer as duas e como havia poucas op\u00e7\u00f5es em Portugu\u00eas, tinha pensado que iria para uma universidade nos Estados Unidos. Quando ela me lan\u00e7ou aquele desafio, pensei \u201cporque n\u00e3o?\u201d\u2026 outra vez aquela mesma quest\u00e3o e pensei \u201cah, mesmo que nada surja disto, \u00e9 uma boa experi\u00eancia, \u00e9 uma entrevista de trabalho, eu j\u00e1 fico mais capacitada, talvez, para outras entrevistas que vir\u00e3o.\u201d, e vim aqui em maio de 2005 para uma entrevista de trabalho para uma posi\u00e7\u00e3o de 3 anos e da\u00ed a 2 dias ligaram-me a oferecer o trabalho. E foi assim que comecei na York, depois de pensar que nunca ficaria aqui, no Canad\u00e1. Primeiro foi uma posi\u00e7\u00e3o tempor\u00e1ria de 3 anos e ainda n\u00e3o tinha completado o PhD e lembro-me de um colega meu – de quem gostava muito que, tamb\u00e9m, j\u00e1 faleceu -, que me perguntava todas as semanas \u201ccomo \u00e9 que vai o PhD?\u201d e todas as semanas dava uma \u201cmentiradazita\u201d porque ele era muito insistente e ele dizia-me assim \u201cse houver outra vaga aqui, tu n\u00e3o te poder\u00e1s candidatar sem ter doutoramento\u201d e isso motivou-me muito. Depois abriu uma vaga em 2008, fui uma de muitos dos candidatos e fui contratada a tempo inteiro, com todos os benef\u00edcios, n\u00e3o \u00e9? Mas, j\u00e1 2005, tinha conhecido um colega que est\u00e1 quase a reformar-se no fim deste ano letivo, de quem ainda sou amiga e que me tem ensinado muito tamb\u00e9m, que \u00e9 o Professor Jos\u00e9 Curto que d\u00e1 a Hist\u00f3ria angolana e ele fez parte do comit\u00e9 que me contratou. Portanto, comecei a perceber que havia aqui gente a trabalhar a lusofonia, n\u00e3o s\u00f3 Portugal, mas que havia um mundo maior e comecei a conhecer essas pessoas todas. E depois come\u00e7\u00e1mos a perceber que o Fernando Nunes est\u00e1 agora em Halifax e trabalha na \u00e1rea de Sociologia que depois come\u00e7ou a trabalhar com um colega aqui na York, o Rob Kennedy, que tamb\u00e9m faz parte da associa\u00e7\u00e3o. Depois apercebemo-nos da colega Simone Bohn, brasileira que est\u00e1 no departamento de Pol\u00edtica, mas que tamb\u00e9m estuda e faz investiga\u00e7\u00e3o sobre o Brasil. Portanto, come\u00e7\u00e1mos a perceber que havia aqui uma sinergia e foi dessa sinergia, deste grupo de gente, que se d\u00e1 muito bem e que vinha de v\u00e1rias \u00e1reas, que surgiu, de facto, a Associa\u00e7\u00e3o de Estudos Lus\u00f3fonos. O primeiro presidente da associa\u00e7\u00e3o foi o Fernando Nunes, depois foi o Jos\u00e9 Curto e eu fui presidente de um mandato de quatro anos e sai no fim de junho deste ano.<\/p>\n

E dos objetivos que tinha na agenda durante o seu mandato de presidente, qual \u00e9 o balan\u00e7o? O que \u00e9 que se concretizou?<\/strong>
\nBem, acho que n\u00e3o s\u00f3 os meus objetivos. Para j\u00e1 \u00e9 uma associa\u00e7\u00e3o muito diferente, porque \u00e9 uma associa\u00e7\u00e3o muito interdisciplinar, o que n\u00e3o \u00e9 muito a norma na academia. Esta associa\u00e7\u00e3o re\u00fane todos os acad\u00e9micos que estudam qualquer aspeto da lusofonia. Portanto, de certa forma, \u00e9 uma associa\u00e7\u00e3o diferente, porque n\u00f3s aprendemos muito uns dos outros, porque eles, as pessoas de v\u00e1rias \u00e1reas, trazem as suas perspetivas e aquelas perspetivas ajudam muito a que haja um di\u00e1logo nutrido de v\u00e1rias fontes e de v\u00e1rias \u00e1reas. Depois, o que eu sempre quis fazer e acho que fizemos todos muito bem, foi ter sempre um di\u00e1logo muito amistoso, muito aberto. Temos uma revista associada \u00e0 associa\u00e7\u00e3o, isto de certa maneira \u00e9 \u00fanico porque estamos associados \u00e0 Portuguese Studies Review. A revista \u00e9 a \u00fanica revista acad\u00e9mica no Canad\u00e1 e que \u00e9 gerida por uns colegas que est\u00e3o em Trent. At\u00e9 j\u00e1 doamos revistas \u00e0 Galeria dos Pioneiros! Somos um grupo de acad\u00e9micos, mas, de facto, somos mesmo \u00e9 um grupo de amigos sempre com um debate aberto, respeitoso. Ent\u00e3o, o que fazemos \u00e9 a cada 2 anos temos uma confer\u00eancia, mas por causa da pandemia tivemos uma confer\u00eancia 2 anos seguidos. No ano passado, tivemos uma nos A\u00e7ores, j\u00e1 tivemos uma no Brasil, j\u00e1 tivemos uma em \u00c9vora. Gost\u00e1vamos muito de ter uma confer\u00eancia na \u00c1frica lus\u00f3fona, talvez em Macau, em Goa, mas isto s\u00e3o planos a longo prazo. Este ano fizemos a confer\u00eancia aqui na York. Um bocadinho regressar \u00e0s ra\u00edzes e foi sobre o mundo lus\u00f3fono e as suas di\u00e1sporas e nas v\u00e1rias partes da confer\u00eancia fizemos, de facto, a nossa homenagem aos 70 anos da imigra\u00e7\u00e3o portuguesa no Canad\u00e1.<\/p>\n

Quem \u00e9 que pode ser membro da vossa associa\u00e7\u00e3o?<\/strong>
\nQualquer pessoa pode ser membro da associa\u00e7\u00e3o. Estamos abertos a qualquer pessoa, geralmente s\u00e3o acad\u00e9micos, n\u00e3o \u00e9? Mas aceitamos qualquer pessoa e estudantes. Ali\u00e1s, este ano inaugur\u00e1mos tamb\u00e9m 2 pr\u00e9mios de 1,000.00 d\u00f3lares cada um, patrocinados pelo Manuel DaCosta. Um pr\u00e9mio \u00e9 para um aluno de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o e outro para um aluno do p\u00f3s-doc. Portanto, tamb\u00e9m temos alunos. Qualquer aluno de licenciatura, pode vir \u00e0s nossas confer\u00eancias se quiser, que n\u00e3o paga nada. Temos um pre\u00e7o reduzido para os alunos de mestrado e de doutoramento e temos tamb\u00e9m um pre\u00e7o reduzido para os acad\u00e9micos que trabalham a tempo parcial, porque sabemos que n\u00e3o \u00e9 a mesma coisa. Ainda temos o nosso pr\u00e9mio Branca Gomes para honrar uma pessoa que se destaque na nossa comunidade e para mim pareceu-me importante ser um nome de uma mulher (\u2026), para n\u00e3o se esquecerem que nos pioneiros tamb\u00e9m h\u00e1 pioneiras.<\/p>\n

Se n\u00e3o tivesse entrado naquele primeiro emprego na Universidade de York, gra\u00e7as \u00e0 dica da Manuela Marujo, acha que teria tido as mesmas oportunidades de crescimento profissional?<\/strong>
\nN\u00e3o sei. De facto, a York \u00e9 especial porque os meus valores como mulher, como imigrante, como cidad\u00e3 do mundo aliam-se muito com os valores da universidade. Depois a York, tamb\u00e9m, \u00e9 especial pois algo que senti logo desde o in\u00edcio… uma parte dos nossos alunos s\u00e3o a primeira gera\u00e7\u00e3o na universidade, tal como eu, que tamb\u00e9m sou a primeira gera\u00e7\u00e3o na universidade e muitos dos meus colegas tamb\u00e9m. Depois, a maior parte dos nossos alunos v\u00eam de fam\u00edlias pobres e migrantes, no qual eu tamb\u00e9m me identifico. Portanto, h\u00e1 aqui algo especial em que me sinto inclu\u00edda, em que me sinto como parte da comunidade. Teria eu esta experi\u00eancia noutra universidade? No Canad\u00e1, n\u00e3o sei\u2026 nos Estados Unidos, depende… n\u00e3o sei. Mas de qualquer maneira, sinto-me bem aqui e isso \u00e9 que \u00e9 importante.<\/p>\n

Sente-se realizada?<\/strong>
\nSim! Sinto-me realizada porque tive a oportunidade de aprender com muita gente. Ali\u00e1s, a universidade tem um programa de mentoria em que a minha mentora, que tamb\u00e9m j\u00e1 se reformou, foi muito influente de como cresci como acad\u00e9mica e como mulher na academia. E depois tive, outra vez, o grande privil\u00e9gio de estar num departamento\u2026 agora eu n\u00e3o tenho o departamento, mas at\u00e9 h\u00e1 bem pouco tempo estava no Department of Languages, Literatures and Linguistics, que \u00e9 um departamento muito diverso, com gentes de todo o lado do mundo. Portanto, eu tive o privil\u00e9gio de aprender muitas compet\u00eancias interculturais que me ajudam muito como ser humano, a ver o meu lugar no mundo, a ver como v\u00e1rias culturas expressam coisas muito diferentes umas das outras. Fui diretora desse departamento nos \u00faltimos 4 anos e aprendi muitas das li\u00e7\u00f5es que agora me s\u00e3o necess\u00e1rias.<\/p>\n

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Que fun\u00e7\u00f5es ou cargos desempenhou na York?<\/strong>
\nBem, eu comecei em 2005 com um contrato tempor\u00e1rio como Assistant Professor, que era uma posi\u00e7\u00e3o de 3 anos e fui encarregada de desenvolver um curr\u00edculo para um programa de estudos portugueses. Portanto, eu aprendi imenso daquela experi\u00eancia, muito trabalho, mas aprendi muitas das bases curriculares que depois me serviram muito bem. Em 2013 fui convidada para um dos Colleges como Academic Advisor\u2026 porque a York tem um sistema de Colleges que n\u00e3o \u00e9 como os outros Colleges. \u00c9 um modelo brit\u00e2nico que at\u00e9 acho que n\u00e3o se adequa muito \u00e0 nossa realidade, contudo os Colleges na York s\u00e3o comunidades mais pequenas, em que os alunos podem fazer parte de uma comunidade mais pequena, onde existe a York, que \u00e9 a grande universidade e depois cada aluno pertence a um College e a\u00ed o aluno pode ver que recursos acad\u00e9micos tem, pode fazer parte de v\u00e1rias associa\u00e7\u00f5es de estudantes, portanto, \u00e9 o mundo da comunidade mais pequena dentro da grande comunidade. Como Academic Advisor o meu trabalho era, claro, aconselhar alunos em termos de recursos acad\u00e9micos e esta experi\u00eancia foi fundamental para perceber os problemas que os nossos alunos t\u00eam, os problemas acad\u00e9micos, os problemas sociais e, talvez, foi tamb\u00e9m mais influente ainda porque comecei a perceber quem \u00e9 que trabalhava em que \u00e1rea, porque isto \u00e9 um mundo enorme. Portanto, um aluno que come\u00e7a aqui o primeiro ano n\u00e3o sabe bem o tipo de recursos tem e tive que aprender como podia ajudar e comecei a trabalhar em parceria com outros colegas de outras \u00e1reas. Tudo isso foi muito, muito importante. Em 2019 fui eleita diretora de departamento que era uma posi\u00e7\u00e3o de 3 anos. Fiz o meu primeiro mandato e nessa posi\u00e7\u00e3o criei um certificado de compet\u00eancia global que se chama Grobal Languages and Culture Certificate, que \u00e9 uma mais valia ou como se diz em ingl\u00eas, um \u201cadded value\u201d, em que um aluno que, por exemplo, est\u00e1 a tirar um curso de administra\u00e7\u00e3o de neg\u00f3cios e que quer trabalhar, digamos, na Europa pode faz\u00ea-lo. Com este certificado tira disciplinas espec\u00edficas de v\u00e1rios pa\u00edses europeus, de v\u00e1rias culturas e depois quando se licencia tem mais este certificado, que permite que o aluno possa profissionalmente funcionar melhor em certas culturas. Tamb\u00e9m comecei a cria\u00e7\u00e3o de uma licenciatura nova, que n\u00e3o \u00e9 uma licenciatura em Alem\u00e3o, em Espanhol ou em Portugu\u00eas\u2026 \u00e9 uma licenciatura de culturas e l\u00ednguas internacionais. Claro que n\u00e3o poder\u00e1 ser fluente em v\u00e1rias l\u00ednguas, mas o que pode \u00e9 ter flu\u00eancia numa e ter o conhecimento interm\u00e9dio noutra. Entretanto comecei o meu segundo mandato porque fui eleita novamente chefe de departamento em 2022 e mal tinha acabado o meu primeiro ano de chefe de departamento e faltavam 2 anos para acabar, fui convidada pelo reitor a integrar a equipa.<\/p>\n

Assumiu, recentemente, a fun\u00e7\u00e3o de Associate Dean. Em que consiste esta posi\u00e7\u00e3o?<\/strong>
\nEsta posi\u00e7\u00e3o consiste de v\u00e1rias coisas. Para j\u00e1, como indica o nome, a minha posi\u00e7\u00e3o \u00e9 Associate Dean of Global and Community Engagement. Dean significa reitor e Associate Dean \u00e9 reitor associado. Portanto, h\u00e1 um componente global internacional e quando v\u00eam, por exemplo, delega\u00e7\u00f5es de outras universidades visitar a York para estabelecer protocolos, para ver se h\u00e1 \u00e1reas de investiga\u00e7\u00e3o em comum, para ver se h\u00e1 mobilidade de professores e de alunos, eu represento a minha faculdade nestas reuni\u00f5es. Na primeira semana de outubro vem c\u00e1 uma delega\u00e7\u00e3o do Reino Unido e eu vou representar a faculdade nessas reuni\u00f5es. No meu portf\u00f3lio tamb\u00e9m faz parte estar encarregada dos alunos internacionais, que \u00e9 hoje em dia um grande problema nas universidades e a mim incomoda-me v\u00e1rios aspetos. Para j\u00e1 tenho uma vis\u00e3o muito hol\u00edstica de como n\u00f3s devemos tratar os nossos alunos internacionais. Os nossos alunos internacionais, n\u00e3o s\u00e3o apenas potes de dinheiro, ali\u00e1s muitos dos nossos alunos internacionais v\u00eam tamb\u00e9m de fam\u00edlias pobres. S\u00e3o fam\u00edlias que trabalham arduamente, muitas delas que vivem em casas ou habita\u00e7\u00f5es muito prec\u00e1rias, que poupam tudo para conseguir que estes alunos tenham um futuro melhor e estudar no estrangeiro. Tamb\u00e9m trabalho na \u00e1rea de proteger os nossos alunos internacionais contra, por exemplo, o problema de haver companhias que, de certa maneira, s\u00e3o companhias predadoras que v\u00eam aqui dizer aos nossos alunos internacionais para contratar os seus servi\u00e7os, porque como o ingl\u00eas n\u00e3o \u00e9 a primeira l\u00edngua deles, eles dizem que os v\u00e3o ajudar com tradu\u00e7\u00f5es, com coisas que n\u00e3o s\u00e3o muito leg\u00edtimas, muito acad\u00e9micas. Portanto, tenho a \u00e1rea dos alunos internacionais e atualmente o que a mim me preocupa agora \u00e9 a quest\u00e3o do alojamento, porque mesmo quando um aluno \u00e9 aceite e venha para a universidade, o aluno ou n\u00e3o encontra lugar para viver ou tem que pagar um bal\u00fardio e muitas vezes \u00e9 completamente explorado pelos senhorios, que de certa forma usam estrat\u00e9gias para controlar os alunos. Por exemplo, h\u00e1 casos em que 10 alunos vivem numa habita\u00e7\u00e3o pequena com uma casa de banho ou em que o senhorio n\u00e3o quer arranjar certas coisas e depois amea\u00e7a os alunos com a imigra\u00e7\u00e3o. Portanto, n\u00f3s tamb\u00e9m trabalhamos com os nossos colegas do departamento York International, que ajudam muito os alunos, mas n\u00f3s criamos e temos recursos acad\u00e9micos para os integrar socialmente na comunidade e essa parte \u00e9 um trabalho enorme por si s\u00f3. A juntar a isso ainda sou respons\u00e1vel pelo programa de ver\u00e3o que \u00e9 o Exchange Program. No ver\u00e3o de 2024, vamos oferecer aos nossos alunos 7 disciplinas no exterior e Portugal \u00e9 um deles. Temos uma disciplina em Lisboa de Antropologia e temos outra em Espanha, em It\u00e1lia, na Coreia do Sul, na China\u2026 de todos os programas que tenho, os quais com que me identifico mais, s\u00e3o os Bridging Access Programs.<\/p>\n

E para quem s\u00e3o os Bridging Access Programs?<\/strong>
\nS\u00e3o para pessoas que nunca pensaram que a universidade podia ser para eles. Temos 4 programas na faculdade: um programa para LGBTQ, um para mulheres, um que se chama Sanctuary Scholars – que \u00e9 um programa para qualquer pessoa que esteja no Canad\u00e1, mas com uma situa\u00e7\u00e3o de emigra\u00e7\u00e3o prec\u00e1ria – e ainda outro que se chama Internationally Educated Professionals – que \u00e9 um programa que ajuda as pessoas que v\u00eam de outros pa\u00edses j\u00e1 formadas, muitas delas t\u00eam mestrados e doutoramentos, e \u00e9 um programa que ajuda as pessoas a se integrar nas comunidades aqui, a terem experi\u00eancia de trabalho canadiano, porque \u00e0s vezes n\u00e3o conseguem nenhum trabalho sem ter a tal experi\u00eancia e, tamb\u00e9m, liga estes alunos a parceiros profissionais e a maior parte dos alunos neste programa conseguem trabalhos. Depois tem o outro lado, que \u00e9 representar as comunidades, ou seja, quando sou convidada a ir \u00e0 comunidade italiana, \u00e0 comunidade portuguesa ou qualquer outra comunidade, represento-as como, tamb\u00e9m, nos eventos da universidade em que n\u00f3s acolhemos as comunidades. O Advancement tamb\u00e9m faz parte do meu trabalho, que \u00e9 pedir dinheiro \u00e0s pessoas para dar mais oportunidades aos nossos alunos.<\/p>\n

Que conselho daria aos jovens lusodescendentes que t\u00eam d\u00favidas se h\u00e3o de ou n\u00e3o continuar com os estudos e, qui\u00e7\u00e1, ingressar numa faculdade?<\/strong>
\n\u00c9 que n\u00e3o tenham medo!!! O que acho que acontece quando n\u00f3s chegamos a uma certa idade \u00e9 que come\u00e7amos a pensar \u201cah, e se eu tivesse feito?\u201d\u2026 portanto, quando n\u00f3s somos jovens, n\u00e3o temos essa capacidade de rever o passado, porque n\u00e3o temos um passado. Mas, acho que temos que arriscar, porque vai chegar o dia em que n\u00f3s vamos pensar \u201ce se eu tivesse feito aquilo, talvez tinha dado certo\u201d, talvez poderia n\u00e3o ter dado certo, mas n\u00f3s nunca sabemos se n\u00e3o enfrentarmos ou se n\u00e3o formos mais aventureiros.<\/p>\n

E uma mensagem \u00e0 nossa comunidade e leitores?<\/strong>
\nQue se libertem dos sexismos das tradi\u00e7\u00f5es. Que se abram a pertencer mais a este pa\u00eds, a celebrar a dualidade. Acho que a nossa dualidade n\u00e3o \u00e9 celebrada suficientemente. Eu j\u00e1 escrevi que a coisa mais bonita a apreciar aqui \u00e9 as sopas do Esp\u00edrito Santo e o Maple syrup e se calhar experimentar as sopas do Esp\u00edrito Santo com o Maple syrup tamb\u00e9m n\u00e3o deve ser mau. Vejo muitos imigrantes a viver aqui, mas continuam a pensar como se estivessem em Portugal, mas ent\u00e3o porque \u00e9 que vivem aqui? Temos que encontrar coisas aqui que nos satisfa\u00e7a essa dualidade. Eu acho que as gera\u00e7\u00f5es mais jovens j\u00e1 s\u00e3o muito duais, portanto temos que celebrar isso e ser mais inclusivos com as outras express\u00f5es da lusofonia e fazer mais eventos em conjunto com a comunidade brasileira, com a angolana\u2026 acho que isso \u00e9 que \u00e9 importante, celebrar a diversidade.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  Nasceu na ilha de S. Miguel, mais concretamente em Ponta Delgada, mas foi o Faial que a viu crescer, logo a partir dos 3 anos. Criada num ambiente rural, na freguesia da Feteira, Maria Jo\u00e3o guarda da inf\u00e2ncia e juventude, a mem\u00f3ria das paisagens deslumbrantes das ilhas, sendo que h\u00e1 uma que a marca …<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":29735,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[8],"tags":[],"jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/revistamar.com\/wp-content\/uploads\/2023\/10\/wewwe-1.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/29729"}],"collection":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=29729"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/29729\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/29735"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=29729"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=29729"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/revistamar.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=29729"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}