Page 11 - Revista Amar - Edição Online - Novembro 2015
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O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO Ortografia
DA LINGUA PORTUGUESA
A ortografia da língua portuguesa
NOTA DO AUTOR POR ANTÓNIO SILVA* é determinada por normas legais,
muito ultimamente discutidas de-
Este artigo resulta de uma pesquisa levada blica de 16 de maio de 2008 e ratificado por vido à entrada em vigor do Novo
a cabo pelo autor para apresentação a outros Decreto do Presidente da República de 21 ju- Acordo Ortográfico da Língua Portu-
profissionais, no âmbito do seu serviço, uma lho do mesmo ano. guesa. Mas, independentemente do
vez que o mesmo se aplica ao Governo Portu- acordo, algumas dúvidas persistem
guês e a todos os serviços, organismos e enti- Depósito dos instrumentos de ratificação no discurso diário dos lusófonos,
dades na dependência do Governo, desde 01 do AO: algumas práticas, quer pela força
de janeiro de 2012. do uso, quer por falta de esclareci-
- Brasil e Cabo Verde – 12/06/2006; mento, insistem em reaparecer. A
Não tendo formação específica na área da - São Tomé e Príncipe – 06/12/2006; presente crónica pretende relem-
língua portuguesa, e sendo apenas alguém - Portugal – 13/05/2009. brar algumas regras gramaticais,
que gosta de estar informado e de partilhar escrutinar algumas alterações re-
com os outros os seus conhecimentos e apren- PRINCIPAIS ALTERAÇÕES sultantes da entrada em vigor do
dizagens, pede-se atenção para o seguinte: O AO só estabelece a grafia de palavras (a Acordo Ortográfico da Língua Portu-
guesa e esclarecer algumas dúvidas
não se pretende com este artigo emitir opi- forma como se escrevem). Não muda pro- de uso corrente, tais como a forma
nião, pró ou contra o Acordo Ortográfico; este núncias ou significados, não cria nem elimina correta de escrever alguma palavra
artigo não dispensa a consulta mais aprofun- palavras. ou expressão ou a confusão entre
dada de outros documentos. palavras que se escrevem de forma
O AO não unifica totalmente a ortografia semelhante.
Espera-se que no final se tenha contribuído da língua. Faz a unificação possível, uma vez Para começar vamos esclarecer
para que os leitores fiquem mais e melhor in- que, como vamos ver, continuam a existir pa- uma dúvida corrente no português
formados sobre esta problemática. lavras com dupla grafia. escrito, uma vez que falado o som
é igual.
UM POUCO DE HISTÓRIA O QUE MUDA ENTÃO? Qual a diferença entre: com tudo
A questão da unificação ortográfica da lín- 1. ALFABETO ou contudo.
2. INICIAL MAIÚSCULA/ MINÚSCULA A expressão “com tudo” é cons-
gua portuguesa arrasta-se desde 1911, data em 3. CÊS e PÊS tituída pela preposição “com” e
que foi adotada em Portugal a 1.ª grande re- 4. USO DO HÍFEN pelo pronome invariável “tudo” e é
forma ortográfica. A partir de um decreto de 5. ACENTUAÇÃO equivalente a “com todas as coisas”.
12 de setembro de 1911, deixou de escrever-se, Podemos usar esta expressão no
por exemplo: Phosphoro; Affirmar; Prohibido; 1. ALFABETO seguinte contexto: Estadia de sete
Epocha; Lagryma; Castello; Typo; Anno; Ar- O alfabeto português passa a contar com noites com tudo incluído.
cheologico; Hypothese; Emquanto, etc. Por sua vez, “contudo” é uma con-
vinte e seis letras (maiúsculas e minúsculas), junção equivalente a “mas”, “po-
Durante todo o século XX foram várias as pela introdução de K, W e Y; rém”, “todavia” ou “no entanto”, po-
tentativas, entre Portugal e o Brasil, para se dendo ser substituída por qualquer
chegar a uma ortografia comum. Essas tenta- A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K (capa ou cá), uma destas palavras, sem que se
tivas ocorreram em 1931, 1943, 1945, 1971/1973, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W (dáblio), X, perca o sentido da frase proferida.
1986 e 1990. Nas duas últimas tentativas já Y (ípsilon), Z; Podemos usar esta conjunção no
participaram os novos países africanos de ex- seguinte contexto: Eu comprei os li-
pressão portuguesa. Além destas letras, usam-se: ç, rr, ss, ch, lh, vros, contudo não os trouxe comigo.
nh, gu e qu;
O novo Acordo Ortográfico (AO) foi pre- Boas leituras e boa escrita…
parado por delegações da Academia das A introdução do k, do w e do y não aumen- em português!
Ciências de Lisboa, da Academia Brasileira de ta o seu uso. Por exemplo, kilograma ou kilo
Letras e dos cinco países africanos lusófonos: não passam a ortografias corretas, apesar de SUZI SILVA
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçam- kg ser a sua abreviatura. LQA - Técnica
bique e São Tomé e Príncipe. Foi aprovado de ensaios
politicamente pelos ministros ou secretários As três letras (K, W, Y) usam-se nos seguin- linguísticos
de estado da cultura dos sete países, numa tes casos:
reunião efetuada em Lisboa, em 16 de dezem- 11
bro de 1990. Devia ser posteriormente ratifi- • Nomes próprios originários de outras lín-
cado por todos os parlamentos para poder en- guas e seus derivados, como Kant, kantismo,
trar em vigor em 01 de janeiro de 1994. Porém, Byron, byroniano, Darwin e darwinismo;
só Portugal, Brasil e Cabo Verde o ratificaram.
• Nomes de lugares originários de outras
Em julho de 2004, numa reunião da Co- línguas e seus derivados, como Malawi, ma-
munidade dos Países de Língua Portuguesa lawiano, Kuwait e kuwaitiano;
(CPLP) e já com a participação de Timor-Les-
te, foi aprovado, por unanimidade, um proto- • Unidades monetárias: kina, kwanza, won,
colo modificativo do AO, segundo o qual este yuan;
entraria em vigor, desde que ratificado por
apenas três países e estabelecia o prazo limite • Siglas, símbolos e abreviaturas de uso in-
de seis anos após o depósito do instrumento ternacional, como KLM, kg, km, yd (jarda),
de ratificação, para se conformar a ortografia W (oeste, watt) e WC;
em todos os atos, normas, orientações, docu-
mentos… • Desportos e desportistas: windsurfe,
windsurfista;
O protocolo modificativo do AO foi apro-
vado por Resolução da Assembleia da Repú- • Termos de outras línguas de uso corrente,
como kit e software.
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