À conversa com VHILS
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À conversa com VHILS

Revista amar - Vhils_Feature
Créditos © Direitos Reservados

 

A Dundas Street West tem a partir de agora um mural gigante de homenagem às imigrantes portuguesas que trabalharam como empregadas de limpeza nas torres de escritórios no centro de Toronto e no Queen’s Park.

Nos anos 70 um grupo de mulheres criou o movimento que ficou conhecido por “Cleaners Action” e lutou por melhores salários e mais condições de trabalho.

O mural, da autoria do graffiti e street artist português VHILS, é o primeiro do género em Toronto. VHILS, nome artístico de Alexandre Farto, é conhecido por criar murais em grande escala em todo o mundo e criou a sua própria técnica que recorre ao uso de explosivos.

Revista Amar: Como se sente por ter o seu primeiro mural em Toronto?
Vhils: Muito bem… é uma cidade super interessante. Metade do meu trabalho foi fazer um pouquinho de pesquisa e uma aproximação ao assunto que eu ia trabalhar no mural, o que me deu alguma forma para relacionar com a cidade de uma forma um pouco diferente, mas muito especial… e fui muito bem recebido também, não só pela comunidade como também pela cidade, por isso estou bastante contente.

RA: E qual é a mensagem do mural?
Vhils: Eu tento sempre trabalhar com histórias ou pôr luz em histórias que de alguma forma não têm muita atenção. Através de pesquisa, de uma colega no atelier, depois de ter falado com o Gilberto (Fernandes) e uma série de outras pessoas locais que nos ajudaram, soubemos da história das Unidas, que foi um movimento nos anos 60/70, em que foi de alguma forma a iniciação das Cleaners Action, que basicamente lutaram pelos direitos de melhores condições de trabalho, algo que respeito muito, porque está relacionado com a primeira vaga de emigração portuguesa em Toronto. Perceber toda essa história tocou-me bastante, e achei que esta era a história importante de se contar e ao mesmo tempo, homenagear toda essa geração que fez um caminho inicial muito importante, que não só se envolveu no ativismo na sociedade como também abriu portas para melhores condições de trabalho. A partir daí e depois de toda a pesquisa que foi feita e (…) depois de teremos entrevistado também a senhora Idalina, quem retratámos no mural, e depois todos os arquivos onde fomos buscar as imagens e fotografias do momento, criei assim um mural que é um bocado o trazer ao de cima, por de trás dos edifícios, a história de todas estas pessoas que de alguma forma marcaram a cidade. E a ideia foi fazer isso… trazer essa história ao de cima, pôr luz nela e ao mesmo tempo homenagear não só a senhora Idalina como todas as pessoas que estiveram envolvidas neste movimento.

RA: isso é muito importante para o Little Portugal. (…) E quanto tempo demorou a fazer o mural?
Vhils: Nós tivemos esta situação da Covid-19, que atrasou bastante o projeto, mas já tínhamos trabalhado e pensado muito sobre o projeto… foi um convite por parte da Embaixada e da Rita (Sousa Tavares) que nos fez esse convite há algum tempo e isso acho que foi há cerca de 1 ano e meio a 2 anos que falámos a primeira vez. Desde então, a parte de conceção foi uma questão de 3 a 4 meses e depois o mural em si, foram 2 semanas de trabalho.

 

Revista amar - Vhils_Feature
Créditos © Direitos Reservados
Revista amar - Vhils_Feature
Créditos: Carmo Monteiro

 

RA: A sua técnica é um pouquinho diferente do normal. Como define essa técnica?
Vhils: Bem, eu comecei por pintar na rua e o grafíti foi quase a minha escola, muito diferente de uma escola tradicional de artes, mas desde pequeno que sempre tentei inovar e tentar puxar um pouquinho os limites e houve um dia que me lembrei “porque é que estou sempre a adicionar e toda gente está a adicionar camadas à parede e a pintar uns em cima dos outros? Porque não havia de em vez de adicionar, ir à parede e retirar e pintar com as camadas dos históricos que já existiam naquele mural?”. Foi basicamente assim que comecei e uso martelos pneumáticos, às vezes explosivos, outras vezes ácido, bleach e uma série de outras coisas que vou utilizando, mas sempre com este intuito de usar material que destrui, porém que ao mesmo tempo cria de alguma forma.

RA: É pioneiro nesta técnica?
Vhils: Hmmm… as primeiras gravuras foram feitas nas grutas no início da humanidade, que eram muitas vezes gravadas (risos)… por isso não sou bem pioneiro (risos), ou seja, a técnica de gravar em pedra é algo que já aconteceu na História, mas no contexto urbano… sim, acho que fui das primeiras pessoas que usou esta técnica. Daí também o tema do conceito Scratching the Suface, que é um bocadinho partir a superfície das paredes e com isso criar histórias.

RA: Na sua infância, algum dia pensou que os seus trabalhos seriam apreciados mundialmente?
Vhils: Não! (…) Mas, felizmente as coisas aconteceram e estou contente, claro.

RA: E depois deste mural, para onde vai?
Vhils: Depois deste mural volto a Lisboa, onde tenho o atelier e onde estamos a trabalhar numa série de projetos, que dado a esta história da Covid-19 ficámos com alguns projetos parados e por isso estamos com o calendário um bocado preenchido… contudo, estamos com vários projetos e temos agora, em março, uma exposição num museu em Lisboa, mas que ainda está a ser trabalhada. Também temos projetos que vamos fazer em várias cidades… no Kuwait e , espero eu, em Miami também com a Art Basel.

Stela Jurgen/MDC

Transcrição: Carmo Monteiro

 

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