O fracasso da revolta de 31 Janeiro 1891, a perseguição aos republicanos e seus ideais.
Quando este artigo for dado à estampa, alguns dias passaram sobre a comemoração dos 127 anos da revolta de 31 de Janeiro de 1891, ocorrida no Porto. Os militantes do Partido Republicano aproveitaram a instabilidade governativa, a corrupção administrativa e a subversão dos mecanismos eleitorais que beneficiava o caciquismo eleitoral, para se afirmarem como alternativa de poder, no crepúsculo anunciado do constitucionalismo monárquico. Esta primeira revolta armada contra a monarquia apoiada por alguns militares e pelos portuenses, vincou definitivamente o movimento republicano, tendo a via da confrontação armada e bombista tomado a dianteira da luta, relegando para segundo plano a outra via pacífica e da conquista do poder, pelo voto popular nas urnas.
Naquele dia, a guarda Municipal fiel à monarquia, venceu os revoltosos, tendo sido grande o número de mortos e presos entre os principais agitadores e participantes. A agitação política não vai cessar e as manifestações contra a monarquia vão suceder-se, mesmo durante o governo de João Franco, ao som da Portuguesa, onde a frase “Pela Pátria lutar e Contra bretões marchar, marchar”, era o lema dos revoltosos.
Para ultrapassar o rotativismo partidário dos dois partidos monárquicos – Regenerador e Progressista – no seio da falida Monarquia Constitucional, o rei D. Carlos I, em Maio de 1906, convida João Franco um dissidente do partido Regenerador, para formar governo. A escolha não fora inocente, João Franco era conhecido pelo seu pensamento liberal, defendendo um poder real forte e apologista de reformas que combatam os republicanos no seu terreno ideológico. Esta aposta real fica patente, nas palavras de D. Carlos I, numa missiva dirigida a João Franco. “Há muito a fazer e temos, para bem do País que seguir por caminho diferente daquele trilhado até hoje; para isso conto contigo e com a tua lealdade e dedicação, como tu podes contar com o meu auxílio e com toda a força que te devo dar.”
O mote estava lançado, a opressão e perseguição aos republicanos tinha ganho uma carta de alforria, bem como um rosto. Porém as figuras republicanas emergentes não desistiram de derrubar a Monarquia e começaram clandestinamente a preparar uma segunda tentativa de implantação da República. Quanto mais o governo de João Franco perseguia sem tréguas os republicanos, chegando este a afirmar que “Os republicanos estão precisando de sabre como de pão para a boca”, mais estes cerravam fileiras e aglutinavam apoios à sua causa, na Carbonária, Maçonaria e dissidentes monárquicos. «Isto termina, fatalmente, por um crime ou por uma revolução», advertia o monárquico Júlio Vilhena, a ideia de um regicídio violento despontava nas consciências, como reacção às acções persecutórias franquistas. Os detractores do rei enchiam o barril de pólvora da contestação ao monarca, fazendo publicar nos jornais da época não só o despesismo real, como alguns assuntos de alcova, denunciando em folhetins, os amores secretos do rei diplomata. No ano 1906, José Ferreira da Silva em co – autoria com Aquilino Ribeiro, publicam no jornal republicano A Vanguarda, o folhetim A Filha do Jardineiro, uma ficção de propaganda republicana e de crítica corrosiva às figuras do regime monárquico, tendo como principal alvo D. Carlos I.
Com o ideal republicano sempre presente, as principais figuras republicanas emergentes sentem cada vez mais a repressão policial e legislativa de João Franco, a qual tem o inteiro beneplácito do rei. A ordem é prender e expulsar do Reino os agitadores e os conspiradores. O decreto assinado por D. Carlos I, no ano de 1908, que conferia ao ditador poderes de excepção, autorizando a perseguição, prisão e deportação sumária de qualquer pessoa suspeita de republicanismo activo ou de insubmissão ao regime e ao governo. Este decreto visava todos aqueles que fossem pronunciados por delito político ou crime de imprensa. Esta decisão empurra a Carbonária para o Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908. O rei estava consciente desse facto, porque ao assiná-lo desabafou para os seus, “Assino a minha sentença de morte.”
Nesse fatídico dia primeiro de Fevereiro, o cortejo do landau real foi interrompido, pelo tiro certeiro na nuca do monarca, da carabina Winchester de Manuel Buíça. Saído do meio da multidão, Alfredo Costa sobe o estribo do landau e desfere dois tiros certeiros no príncipe D. Luís Filipe, primeiro na linha de sucessão ao trono. Este, embora gravemente ferido, consegue atirar com o seu Colt, calibre 38, tendo morto Alfredo Costa. Estamos perante os autores materiais do Regicídio, porém envolto em algum mistério restará saber quem terão sido os responsáveis morais que nos bastidores ordenaram e premiram os gatilhos à distância, mas muito presentes.
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