Angie Câmara
Entrevistas

Angie Câmara

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Angie Câmara nasceu a 14 de setembro de 1955 em Água d’Alto, concelho de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, Açores. É mãe das gémeas Pauline e Angie e de Andrew. Angie Câmara tem 2 netas. A filha Pauline, casada com Jamie Zambrano, são pais da Sofia e da Olivia. Em 2013, Angie Câmara perdeu o marido, José Fernando Câmara, com quem casou em setembro de 1974. O Câmara, como era e ainda é conhecido, faleceu vítima de doença em 2013.

Depois do seu casamento e ainda no mês de setembro de 1974, Angie e o marido imigraram para o Canadá e assentaram raízes na área de Streetville, Mississauga, área onde vive até hoje. Angie Câmara sentiu as dificuldades da imigração quando chegou, mas rapidamente se adaptou.

O voluntariado entra na vida de Angie Câmara por acaso, mas desde que decidiu levar o filho para a escola portuguesa no Centro Cultural Português em Mississauga – ainda na Dixie Road – nunca mais parou. Há quase 40 anos começou como vice-tesoureira. Em 1996, assumiu o cargo de secretária, que mantem até hoje. Em 2000, assume também o cargo de diretora do Rancho Folclórico do Centro Cultural Português de Mississauga – para sua alegria, pois o seu sonho de criança era dançar, mas a “minha mãe não deixava.”. Além do cargo de diretora, Angie ainda faz parte do grupo de cantadores do rancho e é com muito orgulho que vê o filho e as netas envolvidos no mesmo rancho.

40 anos de dedicação e sacrifícios pessoais pela sua “segunda casa”, amor e paixão pela divulgação da cultura e tradições portuguesas são motivos mais do que suficientes para receber o PCCM Community Spirit Award.
Parabéns Angie Câmara pelo serviço comunitário prestado à comunidade portuguesa.

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Revista Amar: Angie, conte-nos um pouco de si…
Angie Câmara: Nasci em São Miguel, na freguesia de Água d’Alto, concelho de Vila Franca do Campo. Vim para cá, para o Canadá, em setembro de 1974. Casei lá, no princípio de setembro e vim nos fins de setembro e sou a mais velha de três irmãs e tenho três filhos. Quando cheguei, o meu marido, José Fernando Câmara, mas que todos conhecem só por Câmara, mandou-me logo para a escola para que eu aprendesse o Inglês (riso), tive sorte que a professora era espanhola… o que facilitou tudo! Tenho 3 filhos: as minhas filhas mais velhas são gémeas, a Pauline e a Angie e o mais novo é o Andrew. Tenho 2 netas, a Sofia e a Olivia, filhas da minha filha Pauline. Sou viúva… infelizmente, o Câmara faleceu há 10 anos.

RA: Como foi a adaptação?
AC: Foi uma fase muito difícil para mim… sendo a mais velha de três filhas e sair daquele ambiente familiar não foi fácil, mas encontrei aqui outra família, que era a família do meu marido. Eles eram oito: dois vivem nos Estados Unidos e seis vivem aqui. E pronto, agreguei-me àquela família.

RA: Que passou a ser a sua família.
AC: Sim, é a minha família de cá. Depois, em 1977, tive as minhas filhas gémeas. Como deves calcular, foi uma fase difícil também, porque tinha logo duas crianças de uma vez para criar… se tivesse tido primeiro uma criança e depois as duas, já tinha mais prática e seria mais fácil, mas enfim, Deus é que comanda, não sou eu. Nove anos mais tarde tivemos o Andrew que veio para nos dar ainda mais alegria, pois o Câmara queria um menino.

RA: E em que altura é que começa a envolver-se no Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM)? E porquê?
AC: Quando cheguei cá, o meu marido, já andava a fazer voluntariado na Igreja de São José, na Durie Road, aqui na Streetsville, Mississauga. Ele e outros voluntários angariaram fundos e trouxeram de Portugal uma imagem da Nossa Senhora de Fátima e começaram a fazer as festas da Nossa Senhora da Boa Viagem… mas isto já foi há muitos anos. Eles faziam uma festa religiosa enorme na Vic Johnston Arena com procissão a sair da Queen Street. Faziam a festa religiosa típica de lá. Depois decidiu angariar mais fundos para comprar uma imagem de São José, porque a Igreja é de São José, como oferta dos paroquianos portugueses da Igreja de São José. Quem se integrou primeiro no CCPM, ainda no prédio antigo na Dixie Road, foi o Câmara e eu fui atrás. Para responder à tua pergunta, não me lembro bem o ano, mas foi por causa do meu marido e a partir daí foi como uma bola de neve. Depois, eu sempre tive o desejo e o objetivo que as moças falassem português, mas naquela altura não tinha possibilidades de as levar porque não tínhamos dois veículos, mas quando o Andrew nasceu, o desejo e o objetivo eram para se concretizarem e decidi registá-lo na escola portuguesa do CCPM. Porém, da minha casa ao CCPM eram 20 a 25 minutos de carro, três vezes por semana… ora, eu ficava lá à espera do moço porque não me convinha vir para casa e comecei a pensar que a situação assim não tinha jeito nenhum e decidi envolver-me enquanto esperava pelo Andrew. A partir daí comecei a envolver-me cada vez mais até ter cargos nas direções.

RA: Lembra-se do primeiro cargo que teve?
AC: Recordo-me que eu passei por vice-tesoureira da Zélia da Silva, que era a tesoureira. Em 1996 fui secretária, a Luísa De Sousa vice-secretária, mas depois a Luísa passou a tesoureira e a Michelle De Pinho passou a minha vice-secretária e desde então que continuo a fazer secretariado.

RA: E quando é que o rancho entra na sua vida?
AC: O rancho só entrou na minha vida em 2000, mas o CCPM tinha o Rancho da Nazaré e o Andrew dançava nesse rancho. Entretanto, o rancho dispersou-se e nós queríamos continuar… recordo-me bem do Horácio Domingos, o padrinho do rancho, dirigir-se a mim a dizer “como tu estás a fazer o secretariado, podias ficar como diretora do rancho” e assumi a responsabilidade de contactar os ranchos, de organizar os ranchos para virem para as nossas festas e para o Carassauga. E foi assim que me dediquei e me dedico de amor e com vontade a esta secção que pertence a este centro…

RA: … porque diz com “amor”?
AC: Porque dançar era uma coisa que eu adorava fazer quando era pequena, gostava muito e queria muito dançar, mas a minha mãe não deixava.

 

 

RA: Fazer parte do rancho é a realização de um sonho?
AC: É! Um sonho de criança que eu adorava. Havia um rancho muito lindo em Vila Franca, mas a Sua Excelência minha mãe não me deixou entrar no rancho.

RA: Quantos anos tem de voluntariado no CCPM?
AC: Quase 40 anos!

RA: E nesses 40 anos nunca se sentiu cansada? Ou, como diz o ditado, “quem corre por gosto não cansa”?
AC: É assim… cansaço há, porque não é fácil fazer a vida de casa, os filhos e ainda ir para o CCPM fazer tudo o que é preciso, mas como tu acabaste de dizer, quem corre por gosto não cansa, porque quando chegou ao CCPM deixou de estar cansada, pois sei o que tenho que fazer e entretanto ficou a rotina do meu dia a dia e se não venho ao clube, sinto falta.

RA: O CCPM é a sua segunda casa?
AC: É a minha segunda casa!!! Mas, não é só para mim, é também para a minha família.

RA: Nestes anos de voluntariado, de tudo o que já fez pelo o CCPM e pela comunidade, o que é que lhe dá mais orgulho?
AC: Orgulho-me de promover a nossa cultura através desta casa e cada dia que eu passo aqui, sinto mais vontade de fazer mais e mais, porque é muito gratificante.

RA: Se pudesse voltar atrás, mudava alguma coisa nestes 40 anos em relação ao seu voluntariado?
AC: Eu não vejo nada que podia ter feito diferente, porque o que fiz foi dar horas ao CCPM porque eu gostava… só se tivesse aqui mais tempo. (risos)

RA: O CCPM – Spirit Community Award, um prémio que normalmente reconhece indivíduos que se destacam no mundo empresarial, político, etc., é pela primeira vez entregue a voluntários da casa… a si e ao saudoso Tony de Sousa, ex-presidente do CCPM. Quando soube, o que é que pensou?
AC: Quando soube que me iam atribuir este prémio, pensei que estavam a brincar porque o Spirit Community Award foi criado com um propósito e não acreditei, tanto que nunca levei a sério… até que, nas últimas semanas, o planeamento e os preparativos começaram a acontecer.

RA: Apesar desse propósito, não acha que o Spirit Community Award deveria ter começado a ser atribuído a voluntários há mais tempo?
AC: É assim… este evento é um evento anual que traz muitos fundos para o CCPM. Quando a direção pensa numa pessoa da comunidade a ser dinstinguida, não pensa só na pessoa, mas pensa no impacto que esta pessoa tem na comunidade e por acréscimo trás um “rendimento” para o CCPM que partilhamos com instituições sem fundos lucrativos, como a Luso, a Magellan, etc.… e isto foi sempre o propósito. O nosso presidente, Jorge Mouselo, que disse que já tinha isto em mente e no coração há muito tempo, decidiu que este ano era a altura certa para o fazer. Nunca pensei que ele estivesse a falar a sério, mas acho que ele pensou bem, porque são anos da vida de uma pessoa passados aqui, dentro destas paredes sem esperar nada em troca… nada, nada, nada em troca. O Jorge tinha aquela visão, e a visão vai concretizar-se.

RA: O seu filho também é muito ativo no clube e na comunidade… isso é motivo de orgulho.
AC: Muito orgulho. Ele desde pequeno que anda comigo a fazer voluntariado. Primeiro começou na escola, depois começou a dançar no rancho e andava sempre comigo… ele dormia em cima das toalhas e nas cadeiras… ele foi criado neste ambiente e nunca deixou. E, como sabem, o Andrew é muito ativo na comunidade e tem prazer e orgulho de o fazer. Ele também tem paixão pelo rancho.

RA: É um exemplo para a comunidade e para os jovens.
AC: É, mas há muitos jovens na nossa comunidade que têm a mesma paixão e que desenvolvem certas atividades dentro das associações, só que nós devíamos ter mais jovens a fazer o mesmo, pois só assim é que a cultura portuguesa nunca vai morrer.

RA: Como voluntária há 40 anos, que mensagem deixaria aos jovens?
AC: A minha mensagem para os jovens e para as gerações vindouras, é que se envolvem nas associações… pois vão ver como é gratificante andar dentro de uma associação. As nossas vidas são beneficiadas, porque é andar dentro de uma comunidade que nos diz respeito, aos nossos pais e avós que aprendemos a dar valor ao que é ser português e só assim é que podemos dar continuidade à nossa cultura e tradições aos nossos filhos e netos.

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