Mário Trindade: Atleta Paraolímpico Português
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Mário Trindade: Atleta Paraolímpico Português

REVISTA AMAR - MARIO TRINDADE - PARAOLÍMPICOS
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Mário Trindade, nas suas próprias palavras. Nasceu a 25 de maio de 1975, em Vila Real. Com o mote, se soubessem o jeitinho que tenho para contar histórias…

Revista Amar: Quem é o Mário Trindade?
Mário Trindade: Considero-me um cidadão comum, com um gosto forte em competir, superar os meus limites, de estar sempre disponível para ajudar, humilde, respeito todas as outras pessoas, e acima de tudo, uma pessoa com valores.

RA: Quando é que toda esta aventura começou… Conte-nos um pouco do seu percurso de vida.
MT: Tudo começou, quando fiquei paraplégico e tive que começar a deslocar-me numa cadeira de rodas. E numa saída de casa para o café, passa um senhor de carro por mim, que ao ver-me, pára ao meu lado e me pergunta, “- olha lá, não queres jogar basquetebol?” Foi assim que tudo começou, com esta pergunta.

RA: Que recordações tem da sua infância em Vila Real?
MT: Recordo-me de uma infância de muito trabalho e de pouca brincadeira. Os meus pais eram muito humildes, vivíamos da agricultura, quer para o sustento da casa, quer para ganhar algum dinheiro no mercado. E recordo que com apenas 5, 6 anos, já ajudava os meus pais. Perco o meu pai aos 9 anos e houve ainda mais necessidade de ajudar a minha mãe, então antes de ir para a escola, levantava-me às cinco, seis da manhã, dependendo do que houvesse para fazer, lá ia eu para as terras fazer o que havia para fazer, também teria que ir abastecer a banca no mercado, para que a minha mãe, pudesse vender. Era assim todos os dias antes de ir para a escola. No regresso a casa depois da escola, lá ia eu novamente, fazer o que a minha mãe já tinha estipulado, havia sempre muito para fazer, e só depois, já tarde, é que fazia os trabalhos da escola, quando os conseguia fazer.

RA: Aos 19 anos a sua vida sofre um revés. Esse acontecimento vai transformar completamente o seu percurso de vida. Como tentou ultrapassar a situação?
MT: Pode parecer estranho, mas a verdade é que ultrapassei bem. Talvez pela a minha imaturidade, talvez por falta de conhecimento do que me esperava, talvez por não conhecer a gravidade da situação, mas a verdade é só uma, eu sempre vi a cadeira de rodas como uma aliada e não uma inimiga.

 

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Créditos © Mário Trindade MARIO TRINDADE
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RA: Nos momentos de maior desânimo, onde se apoiou para seguir em frente?
MT: Não sou pessoa de me focar na dificuldade, ou no que não correu bem, ou no azar que tive, quando um problema acontece, tento logo encontrar a solução, de como posso resolver, o que é necessário fazer para ultrapassar, para então me focar na resolução. Problemas todos nós temos, e só temos duas opções, prolongar esses mesmos problemas ou tentar encontrar a saída, eu sou mais de reagir logo na procura da saída.

RA: Qual é o segredo para a força e a determinação que o caracterizam?
MT: Se calhar o segredo está na infância que tive, em que todos os dias era chamado ao dever, à pontualidade, ao respeito pelos outros, acima de tudo à responsabilidade.

RA: Quando e como acontece o desporto de alta competição, especialmente o atletismo?
MT: Alta competição foi só mesmo no atletismo, e aconteceu em 2014 em maio na Suíça, quando vou a um meeting, e faço a marca pedida para se entrar para a alta competição.

RA: Antes de direcionar a sua carreira desportiva para o atletismo, que outra modalidade desportiva praticou?
MT: Pratiquei basquetebol em cadeira de rodas durante 10 anos, e os dois últimos representei a seleção nacional.

RA: Quais as principais dificuldades que encontra ainda hoje para praticar desporto adaptado? Existem apoios suficientes?
MT: Uma grande dificuldade que eu ainda encontro e que muito me entristece, é o facto de o desporto adaptado ainda não ser visto como um desporto de alta competição, a verdade é que o é, eu sou atleta de alta competição, mas ainda não é visto por todos como tal. Não somos um país de cultura desportiva, não consumimos desporto, (a não ser futebol), e isso reflete-se nos apoios, aos patrocinadores, que querem um retorno, numa visibilidade. O estado tem apoiado, mas não chega, precisamos de patrocinadores, como qualquer outro desporto.

RA: Em termos pessoais, quais têm sido os seus maiores apoios?
MT: O meu maior apoio é sem dúvida a Teresa, minha esposa e Eduarda Coelha, minha treinadora e amiga.

RA: Que hábitos tem um atleta de alta competição?
MT: Hábitos simples como uma rotina. Com treinos bi-diários, as deslocações para o mesmo, o descanso de extrema importância, para que o corpo possa recuperar adequadamente, para estar à altura do próximo treino, uma alimentação adequada. Há que conciliar todos estes horários e respeitar os mesmos, e isso só se consegue com uma rotina virada para a disciplina. Ter também a capacidade de se adaptar ao imprevisto, pois acontecem, quer seja relacionado com o treino, com o espaço ou mesmo com o surgimento de uma lesão.
Hábitos como, focar só naquilo que realmente posso controlar, entusiasmar-me face à dificuldade, para assim me superar, rever os resultados e tirar ilações dos mesmos, para assim melhorar.

RA: Nas últimas duas décadas, o Mário Trindade tem concretizado imensos sonhos. Medalhas, recordes, participações em Campeonatos da Europa e do Mundo e Jogos Paraolímpicos. Qual o sonho que ainda falta concretizar?
MT: Não tenho nenhum sonho para concretizar, tenho sim objetivos, como estar nos próximos jogos em Paris em 2024, e voltar a ganhar ouro no próximo campeonato da Europa.

 

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Créditos © Mário Trindade
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RA: Representar a Seleção Nacional é certamente um motivo de orgulho para qualquer atleta, seja em que modalidade for. Como tem sido essa experiência? Como é ser atleta paraolímpico?
MT: Tem sido uma imensa realização pessoal, representar o meu país e todos aqueles que me apoiam e acreditam em mim, é uma satisfação enorme, é um orgulho imenso, algo indescritível.

RA: O que o move?
MT: O gosto pela vida, as dificuldades ultrapassadas, as metas conseguidas, os meus objetivos, as pessoas que amo, o respeito por todos aqueles que acreditam em mim, no meu trabalho, e o esplendor da natureza e toda a sua diversidade.

RA: Quais são os objetivos que faltam ainda conquistar?
MT: Como já mencionei numa das perguntas anteriores, gostava de estar nos próximos jogos em Paris em 2024, e voltar a ganhar ouro no próximo campeão da Europa.

RA: Das seguintes palavras persistência, coragem, resiliência e tenacidade. Qual delas escolheria para definir a sua carreira desportiva?
MT: Persistência é a melhor palavra que define a minha carreira, foram vários os sobressaltos e dificuldades que surgiram e continuam a surgir ao longo da mesma, mas em momento algum pensei em desistir, por mais difíceis que pudessem parecer. Sou persistente e esforçado, focando-me nos meus objetivos, não sou de me deixar abalar facilmente por qualquer crítica ou adversidade.

RA: Costuma dizer que “o único limite que tenho será quando eu disser, eu não consigo”. Quando colocar um ponto final na sua carreira desportiva, tenciona num futuro próximo ficar ligado ao atletismo adaptado?
MT: Ainda é prematuro falar sobre o fim da minha carreira, uma vez que ainda tenho intenção de fazer mais umas coisas. Mas não descarto a possibilidade de ficar ligado de alguma forma ao atletismo adaptado, só não sei ainda em que moldes.

Carlos Cruchinho

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