Pequena viagem ao grande mundo dos chás de inverno
As flores e as folhas da Camellia Sinensis contêm um sem número de possibilidades. Porque os dias frios convidam a parar, eis cinco propostas para quem quer desfrutar do chá certo, a sós ou em boa companhia.
Num bule transparente repousam flores da planta Camellia Sinensis. Pouco depois já flutuam na água quente, dando-lhe cor. Lá fora, a noite quase pede licença para chegar. E assim começa o ritual. É verdade que o relógio se aproxima das cinco, mas isso nada tem com o que se segue.
Nina Gruntkowski, gerente da marca Chá Camélia, possui uma plantação biológica de chá em Fornelo, Vila do Conde. O Florchá foi a primeira de cinco sugestões, precisamente porque é nesta época que a flor da Camellia Sinensis desabrocha. O produto da época respeita o ritmo da natureza e consequentemente traz benefícios ao corpo e à mente. Uma infusão delicada com as bonitas flores desidratadas que aquece o estômago com aromas frescos, verdes e taninos delicados. E é livre de cafeína. “Devíamos consumir mais produtos de época”, defende Nina.
Num segundo momento, as taças de cerâmica enchem-se com chá verde. O Mindshake Tea nasceu da fusão entre a tradição japonesa da Camellia sinensis e a Mindshake, um projeto inovador da Na’Mente para o desenvolvimento do pensamento criativo. A base é o chá verde com arroz tostado, uma mistura típica do Japão e com toque português graças ao uso de aquileia e flor de sabugueiro. É digestivo, antioxidante e pode ser bebido em grandes quantidades.
Segue-se o chá branco Yue Guang Bai, produzido na província chinesa de Yunan com as plantas centenárias de chá Qing Mao. Os rebentos maiores com cabelo branco são colhidos à mão na primavera e postos a secar ao ar livre. O palato desta bebida é familiar aos europeus e encaixa bem na época, muito por causa do clássico “tea time” que convida a acrescentar doces. Ideal para conviver e partilhar. Esse é, de resto, o verdadeiro espírito do chá. Nina alerta para a existência de “muitos chás vendidos como sendo branco, mas que não passam de chás verdes lavados para ficarem mais pálidos”.
E quando estamos quase a terminar, chega um Assam da Índia. Ou, como todos o conhecem, chá preto. O único que se prepara com a água a 100 graus (os restantes requerem água menos quente). A tradição inglesa transformou-o no clássico chá das cinco. Perante esta rigidez, Nina riposta que “cada um pode e deve encontrar o seu horário para tomar chá. O importante é que a toma mexa com os cinco sentidos. Desfruta-se mais do chá quando a experiência é multidimensional”.
“Tea bags” retiram cerimonial
Os “tea bags” vieram desvirtuar o papel do chá. Se por um lado generalizam a bebida, por outro retiram o cerimonial que o momento pedia. A experiência do chá convida a contrariar a agitação do dia-a-dia. O que nem sempre é fácil. Nina Gruntkowski diz que somos um povo mais de café porque ele é de toma rápida. O chá, pelo contrário, obriga a parar. “Tudo o que tem a ver com chá tem a ver com paciência. Mas não é tempo perdido. O chá acaba sempre por nos devolver a dedicação”, assegura.
E chega-se ao fim da viagem com uma sugestão única. E se existisse um casamento perfeito entre chá e o vinho do Porto? O Pipachá celebra essa união entre sabores distintos. Trata-se de um chá oolong biológico, semi-oxidado, mel e pouca cafeína, completado com aromas complexos de frutos secos e taninos. Como se chega a esta combinação? A dúvida desfaz-se rápido. As folhas de chá secas tendem a adquirir em poucas horas o sabor e o odor dos produtos com que estão em contacto. O que Nina e o marido Dirk Niepoort, produtor de vinho, fizeram foi colocá-las durante seis meses numa pipa de vinho do Porto. O resultado é surpreendente. Cheira e sabe suavemente ao néctar.
Comprovadamente o chá faz bem. A sensação de bem-estar provém, como explica a nutricionista Ana Ni Ribeiro, das “propriedades medicinais” dos “compostos biologicamente ativos que compõem os chás”. Cada tipo de planta tem as suas características e benefícios, da diminuição da ansiedade à melhoria da digestão, do controlo da pressão à aceleração da queima de calorias. Tudo isto depende dos flavonoides, das catequinas, dos polifenóis, das alcaloides, das vitaminas e dos sais minerais. Substâncias que, reforça a especialista, “ajudam na prevenção e no tratamento de inúmeras doenças”.
Ainda que Portugal seja um dos países europeus que menos frequentemente consome chá, Ni Ribeiro acredita que o consumo da categoria de chás e infusões está a aumentar. Porque “quanto mais stresse tem a população mais o chá agrada” e porque se abandona cada vez mais “a ideia de que só se bebe chá quando estamos constipados”. Embora começar no inverno, precisamente a altura das gripes, seja uma boa ideia.
De que flores e folhas vêm os chás
- Flor de chá da Camellia Sinensis. Estimula o sistema nervoso central. É antioxidante e antialérgica.
- Chá Branco da Camellia Sinensis. Aumenta o metabolismo, combate a retenção de líquidos, alivia o stresse.
- Chá Verde da Camellia Sinensis. Facilita a digestão, combate o colesterol, retarda o envelhecimento das células.
- Chá Preto da Camellia Sinensis Assamica. Estimula o cérebro, diminui o apetite e ajuda a emagrecer.
Filomena Abreu – NM
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