Aga Khan, entre Toronto e Lisboa
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Aga Khan, entre Toronto e Lisboa

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O Museu Aga Khan, inaugurado há menos de 10 anos em Toronto, é o primeiro museu na América do Norte totalmente dedicado à arte e cultura islâmicas. Temos afinidades com o povo árabe, dado que os “mouros” ocuparam durante oito séculos parte do que é hoje Portugal. A história que nos foi ensinada nos bancos da escola foi escrita para os olharmos como não-batizados e, por isso, suspeitos, inimigos e em tudo diferentes de nós, cristãos.

Quem sabe se, visitando o museu, ficamos a compreender melhor a cultura muçulmana.

Localizado no número 77 do Wynford Drive, North York, a primeira impressão positiva que recebemos deste museu é a sua arquitetura da responsabilidade de Fumihiko Maki, vencedor do Prémio Pritzker. Inaugurado em 2014, o edifício é todo branco, de linhas modernas, e rodeado de jardins públicos com espaços floridos, relva e espelhos de água, obra do paisagista libanês Vladimir Djurovic. Destaca-se igualmente o Ismaili Centre, uma instituição religiosa ligada à família de Aga Khan, em forma de pirâmide, e integrada num dos jardins.

O edifício é constituído por dois andares, estando a coleção permanente localizada no rés-do-chão e as exposições temporárias no primeiro andar. Com milhares de valiosas peças nas suas coleções, a exposição permanente é-nos apresentada por temas. Esses também vão variando para que todas elas possam ser admiradas pelo público. Peças muito antigas e valiosas da antiga Pérsia, do Irão, da Síria e outros países permitem-nos apreciar a cultura de povos e impérios que nos são menos familiares, mas parte integrante da História Universal.

 

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A exposição temporária que me atraiu, uma vez mais, é dedicada a Rumi e à filosofia sufista. Rumi é um poeta turco do século XIII, traduzido em dezenas de línguas e cujas mensagens são universais. Destacam-se as ilustrações e relevância dos praticantes do sufismo, conhecidos por Dervixes, que rodopiam sem parar numa dança prolongada para dessa forma entrarem em contacto com o divino.

Há alguns anos conheci a cidade de Koyna, na Turquia, donde Rumi é originário e vim impressionada com o que aprendi sobre o poeta e sobre os sufistas. A cidade de Koyna encanta-nos, não só pelo imponente mausoléu de Rumi, mas também pelo Museu Mevlana com objetos ilustrando a história de sua vida, mas especialmente pela presença de centenas de peregrinos muçulmanos. Os dervixes impressionam todos os que os observam por longo tempo. É quase hipnótico ver aqueles homens a dançar num rodopio imparável até entrarem num transe espiritual.

É evidente que não é necessário viajar para esse país longínquo e exótico para conhecer Rumi e a sua herança poética e religiosa. Na exposição do Museu Aga Khan em Toronto aprende-se imenso através dae imagens, objetos, vídeos e instalações. A obra do poeta, nascido há mais de oito séculos, continua a ser lida, estudada e respeitada.

Na exposição é demonstrado, através de vídeos e entrevistas, como alguns artistas norte americanos contemporâneos têm sido influenciados pela filosofia sufista, integrando conceitos e imagens do poeta nos seus trabalhos. São dados os exemplos de Madonna, Brad Pitt e mais recentemente a cantora Beyoncé que deu o nome Rumi a um dos seus filhos para, dessa forma, homenagear o poeta que muito admira.

 

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Como eu, muitos se interrogarão sobre a origem do nome Aga Khan. O nome é o do príncipe Aga Khan IV, líder espiritual da comunidade ismaelita há mais de 60 anos. Nascido na Suíça, educado no Quénia e nos Estados Unidos, tem fortes ligações com outros países, nomeadamente o Irão, o Canadá e a França, país de onde mudou a sede para Lisboa há cerca de cinco anos. A Fundação Aga Khan investe, estimula e apoia projetos em diferentes áreas e nos quatro cantos do mundo, sendo relevante, há décadas, o seu papel em Portugal.

Aga Khan IV escolheu Portugal para morar e foi-lhe atribuída nacionalidade portuguesa no ano de 2019. É do Palacete Mendonça, em Lisboa, que dirige a comunidade de mais de 15 milhões de seguidores ismaelitas para quem ele é “Deus na Terra”.

Manuela Marujo

 

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