O recanto de Mona Lisa
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O recanto de Mona Lisa

Centro histórico de Bobbio - Piacenza - Itália

 

Quem diria que a pintura mais famosa do planeta, a Gioconda, pintada por Leonardo da Vinci, sempre cercada por mistérios e dúvidas, chegasse à sua mais interessante revelação? Naturalmente era de se esperar que em algum momento a sua identidade seria trazida à luz das revelações, pois um sem número de estudiosos sempre esteve debruçado sobre o manto de incompreensão que a cobriu ao longo dos séculos.

Por que o famoso artista (e especialista em tantas outras áreas, portanto um polímata) não deixou qualquer claro registro que contasse à posteridade a identidade da Gioconda ou mais popularmente conhecida como Mona Lisa? A resposta, nunca simples, nos obriga a estudar um pouco os comportamentos de Leonardo, pois a sua introversão e o seu jeito próprio de fazer as coisas, além do espírito enigmático, talvez o tenham levado a encobrir o fundo de suas obras com o véu mágico dos segredos, deixando tão somente à vista a superfície dos rostos e lugares que compunham suas telas.

 

La Gioconda - Mona Lisa

 

Um verdadeiro quebra-cabeças sempre a provocar os mais interessados em descobrir cada detalhe de seu precioso patrimônio artístico, promovendo-lhe a constante fama com que o fez chegar à contemporaneidade mais conhecido e mais valioso do que quando era vivo desde Vinci, Florença e Milão, por exemplo. Mas eis que, vez por outra, abre-se o zeloso cadeado do sigilo e o engenho humano salta cofre afora em reluzentes tesouros a se mostrarem em sua autenticidade e brilho.

A modelo que posou então para Leonardo era a jovem Bianca Giovanna Sforza, de modestos catorze anos, idade com a qual deixou o mundo em suposto envenenamento, pouquíssimo tempo depois de ter se casado com o nobre Galeazzo Sanseverino e de ter tido o reconhecimento e a legitimidade de seu pai, Ludovico Sforza (o duque de Milão e também conhecido por Il Moro), haja vista ser filha ilegítima (era a mais velha). O seu retrato, que lhe dá a aparência mais velha, foi produzido alguns anos depois de sua morte.

Ludovico Sforza era o filho de Francisco Sforza, o duque de Milão anterior que reconstruiu o magnífico e imenso castelo Sforzesco, no século XV, garantindo à sucessão familiar o poder que detinha econômica e militarmente. Il Moro era não apenas um herdeiro, mas um homem inteligente e sensível (além do perfil combativo moldado naquele contexto) voltado devotamente às artes, cujos patrocínios chegaram a alguns artistas de renome. Leonardo da Vinci muito bebeu dessa fonte com o seu trabalho.

Não obstante às surpreendentes descobertas que descortinavam a jovem no centro da obra, ainda surgiu novo desafio ao caso. Só que se tratou de descobrir que lugar estampa-se ao fundo do ainda enigmático quadro. Então novos turnos de dedicada pesquisa se puseram em marcha ao longo dos últimos anos, envolvendo a investigadora Carla Glori, Andrea Baucon, da Universidade de Gênova e Gerolamo lo Russo, do Museu de História natural de Piacenza.

 

Centro histórico de Bobbio - Piacenza
Centro histórico de Bobbio – Piacenza
Créditos © Armando Neto

 

Finalmente, chegou-se a conclusão de que o cenário em foco se trata da pequena cidade medieval de Bobbio (com 13 pontos em comum à obra), na Província de Piacenza (já o fora de Pavia), sob o controle do duque de Milão à época, ou seja, seu pai. Ela ficava ali instalada no Castelo Malaspina dal Verme (século XIV), cuja torre permitia deslumbrante vista para a cidade, o rio Trebbia e a ponte Vecchio (ponte do Diabo ou ponte Gobbo).
A mesma vista utilizada por Leonardo da Vinci ao retratar o fundo de A Gioconda ou Mona Lisa ou ainda Bianca Sforza. Um dos treze pontos estudados comparativamente é a ponte, cuidadosamente pincelada próxima ao ombro da jovem.

 

Vista do castelo Malaspina utilizada por Leonardo da Vinci
Vista do castelo Malaspina utilizada por Leonardo da Vinci
Créditos © Armando Neto
Castelo Malaspina dal Verme - Bobbio - Piacenza
Castelo Malaspina dal Verme – Bobbio – Piacenza
Créditos © Armando Neto

 

Finalmente foi possível perceber não apenas a técnica e o talento às mãos do génio, mas o seu jogo misterioso e sedutor em relação à modelo e ao local tão difundidos através das fotos e, de anos para cá, das redes sociais, da obra até hoje em exposição no Museu do Louvre, em Paris.

Quem não a conhece? Quem ainda não a viu sob os seus muitos formatos, sejam eles estilizados, sejam nos modos mais irreverentes quais as muitas criações e montagens que circulam pelo globo e sempre surpreendem pelas inovações que superam o que se viu anteriormente, sempre.

 

Vista do castelo Sforzesco - Milão
Vista do castelo Sforzesco – Milão
Créditos © Armando Neto

 

O castelo de Bobbio era o recanto de Bianca, e nele lhe era possível deliciosos passeios nos alísios jardins que o margeiam, um significativo exercício ao subir e descer as escadas que dão acesso ao último andar e às janelas da vista local, um deslumbre sem precedentes tanto pela posição estratégica típicas das fortificações quanto pela natureza exuberante. A vida bucólica se desenhava a cada manhã naquele pequeno éden de quinhentos anos atrás.

O recanto também compartilhado por Leonardo da Vinci, o artista patrocinado pelo duque de Milão, o pai da jovem que faleceu tão precocemente sob o manto da dúvida; um novo mistério que se fez e ainda não alcançou solução.

Armando Correa de Siqueira Neto

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