Tony de Sousa
Entrevistas

Tony de Sousa

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Tony De Sousa (†26 de maio de 2021, Mississauga) nasceu em Toledo, vila do concelho da Lourinhã no distrito Lisboa, a 7 de junho de 1957, onde cresceu até cerca dos 6 anos, mudando-se com os seus pais para Torres Vedras, a “cidade grande” como gostava de contar, onde viveu até aos 13 anos.

Em 1970, Tony e os seu pais imigraram para Toronto, Canadá e rapidamente procurou trabalho. Foi a família Mirvish que lhe deu o primeiro emprego no Royal Alexander Theatre e onde chegou a ser “head usher” (chefe) do teatro.

Foi em Toronto que Tony De Sousa conheceu aquela que viria a ser sua esposa, Luísa, tendo-se casado a 14 de janeiro de 1978. No mesmo ano mudaram-se para Mississauga.

Tony e Luísa foram pais da sua única filha, Michelle, em 1980, com a qual estivemos à conversa nesta edição sobre este reconhecimento comunitário a Tony De Sousa. Michelle casou com Bruno De Pinho em 2002 e foram pais da Jessica em 2008.

Através de familiares, entre os anos 80 e 90, Tony De Sousa inicia aquela que viria a ser uma vida dedicada ao voluntariado quando começa a frequentar o Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM). Depois de ter passado pela portaria e de ter tido o cargo de diretor do bar, em 2006 é convidado para vice-presidente pelo então eleito presidente do CCPM, Gilberto Moniz – cargo que despenhou por 9 anos.

Em 2015, Tony De Sousa concorre e vence as eleições para presidente do CCPM. Durante os cerca de 6 anos da sua presidência, Tony deu continuidade ao que tinha herdado das direções anteriores com o objetivo de melhorar o que existia e proporcionar coisas novas e diferentes aos sócios.

Dos quase 40 anos dedicados à comunidade, como presidente do CCPM, Tony De Sousa esteve envolvido em vários projetos: o primeiro Arraial do CCPM; evento virtual ao vivo no Facebook chamado Lembranças do CCPM durante a pandemia; o hastear da bandeira portuguesa pela primeira vez na Câmara Municipal de Mississauga pelo Dia de Portugal; Guinness World Record, etc…

Como presidente, Tony De Sousa entregou vários Community Spirit Awards a individualidades da comunidade portuguesa que se destacaram no mundo político, empresarial ou filantropia.

No dia 4 de novembro, coube a Jorge Mouselo e Ricardo Santos, atual presidente e vice-presidente respetivamente do CCPM, distinguirem Tony De Sousa com o CCPM Community Spirit Award por todo o serviço comunitário prestado ao CCPM e outras organizações. Distinção esta que foi entregue à sua filha Michelle De Pinho.

Parabéns Tony De Sousa e… o nosso eterno bem-haja!

 

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Revista Amar: Michelle, conte-nos um pouco da história do teu pai, Tony De Sousa…
Michelle De Pinho: O meu pai nasceu em 1957, numa vila pequenina chamada Toledo, no concelho da Lourinhã, onde viveu com os pais até aos cinco, seis anos. Depois, como ele costumava dizer, mudaram-se para a “cidade grande” Torres Vedras (risos), onde viveram até ele ter 13 anos. Em 1970, ele e os pais vieram para aqui, para Toronto e começou logo à procura de trabalho e foi trabalhar para o Royal Alexander Theatre, para a família Mirvish… para quem não sabe quem é, eles eram também os donos do Honest Ed e chegou a head usher (chefe) do teatro. Entretanto, o meu tio, irmão do meu pai, abriu uma padaria, a Sousa´s Bakery e ele foi trabalhar para lá. O meu pai e a minha mãe, Luísa conheceram-se em Toronto e em 1978 casaram e mudaram-se para Mississauga… e eu “cheguei” em 1980. Em 1987, os meus pais decidiram abrir uma companhia de jardinagem.

RA: Quando é que o Tony se começou a envolver com o Centro Cultural Português de Mississauga (CCPM)?
MDP: O meu pai e a minha mãe começaram a envolver-se entre os anos 80 e 90. Os tios da minha mãe eram diretores do CCPM, ainda na Dixie Road e foram eles que os puxaram umas poucas de vezes, mas era difícil para eles porque quando eu era pequenina, eu não queria ir.

RA: Não adiantou muito…
MDP: Não… (risos) mas em 1996, começámos a vir mais vezes e foi nesse ano que eles se envolveram mais. A minha mãe foi chamada para vice-secretária e o meu pai ficou a diretor – ele e o sr. Câmara eram responsáveis pelas entradas aos sábados à noite, e o meu pai depois da entrada ia para o bar. Entretanto, a minha mãe foi para tesoureira e eu fiquei a vice-secretária com a Angie Câmara

RA: Quando o Tony se envolveu, foi porque a família o puxou ou ele tinha aquela vontade de fazer voluntariado?
MDP: Foi por vontade dele… ele tinha prazer, orgulho em trabalhar no CCPM. Ele era muito hospitaleiro e tinha tido uma vida de hospitalidade quando trabalho no Royal Alexander Theater e por isso ele adorava o CCPM.
RA: Tinha dito que não gostava de acompanhar os seus pais, mas acabou por se envolver. Foi o Tony que incutiu esse gosto pelo voluntariado, neste caso, no CCPM?
MDP: Quando era mais pequena, era rabugenta e não queria ir para o CCPM, mas depois com 13, 14, 15 anos já queria ir… já era mais entendida e comecei a gostar. Claro que foi porque ele e a minha mãe também vinham… eles é que me trouxeram – uma vez, duas vezes, três sábados seguidos e comecei a fazer amigos. Entretanto eles incentivaram-me a concorrer para Miss CCPM e concorri em 1996 e nesse tempo era vice-secretária. Depois entrei no grupo da Juventude onde desempenhei o cargo de secretária, tesoureira e vice-presidente.

RA: Como via o facto do seu pai passar muito tempo no CCPM? Ou seja, alguma vez pensou “para passar tempo com o meu pai tenho que estar com ele no CCPM” ou o tempo dedicado ao voluntariado era uma coisa natural?
MDP: Não, nunca pensei assim, porque eu também gostava de fazer voluntariado.

RA: Antes de concorrer a presidente do CCPM, que cargos desempenhou o Tony no clube? E em que ano é que o Tony decidiu concorrer a presidente?
MDP: Ele começou na porta e, entretanto, foi para o bar e esteve como diretor do bar durante um tempo. Quando o Gilberto Diniz foi eleito presidente, em 2006, ele chamou o meu pai para vice-presidente dele, cargo que ele teve durante 9 anos. O meu pai concorreu em 2015 e foi eleito presidente.

 

 

RA: E o que é que a Michelle via e aprendeu a ver o Tony a trabalhar para o CCPM e para os sócios? O que é que acha que aprendeu com ele?
MDP: Eu via o orgulho que ele tinha… a hospitalidade com que recebia todos, o orgulho em dar continuidade do sucesso da casa. Ele adorava estar aqui, adorava falar com toda a gente… nós brincávamos muito com ele a dizer que ele nunca jantava com connosco aos sábados porque ele andava pelo CCPM, mas ele andava a fazer ligações com as pessoas: com um sócio, com um diretor ou um fornecedor que estivesse por lá… e, durante o tempo dele, foi o que fez a casa. E, ao ver aquela dedicação dele deu-me mais vontade de trabalhar na restauração com ele…

RA: O Tony e a Michelle abriram um restaurante?
MDP: Não… eu queria abrir um restaurante com ele… esse era o plano! Eu vi e aprendi como ele era hospitaleiro… o carisma que ele tinha, vi desde que eu era pequenina! O carinho que ele tinha pelas pessoas e como ele lidava com elas… foram todas estas razões que me levaram a trabalhar na restauração aos 17 anos.

RA: Que legado deixou o Tony De Sousa?
MDP: Na vida pessoal… Respeito e Honra. No CCPM, o grupo da Juventude… ele adorava a juventude!!! Ele fazia de tudo para cultivar a juventude, para estar com eles. Às vezes, durante a noite, ele passava mais tempo com a juventude do que passava com os próprios pais deles e outros adultos. Ele tem um lugar no coração deles (juventude) que se reflete pelo carinho que eles têm agora pelo clube.

RA: Na sua opinião, dos quase 6 anos de presidência do Tony, o que é que marcou mais o CCPM?
MDP: Acho que ele fez muitas coisas. Ele deu continuidade a muitas coisas e fez outras. Por exemplo, a Noite de Marisco virou um marco do CCPM… já existia, mas com ele ficou de um tamanho que no ano de 2019 para 2020 ele teve que pôr uma segunda data para março 2020, porque a primeira esgotou. Infelizmente, ele já não conseguiu fazer a segunda por causa do Covid-19. Foi o meu pai que organizou o primeiro Arraial Anual do CCPM no parque de estacionamento. Também foi na presidência dele e com o trabalho da direção dele que a bandeira portuguesa foi hasteada pela primeira vez na Câmara Municipal de Mississauga, no Dia de Portugal. Foi, durante o Covid-19, que começaram as conversas entre o meu pai e o Andrew Câmara para o Guinness World Record. Ainda durante o Covid-19 o meu pai, o José Hélio, o Andrew Câmara, entre outros fizeram um evento virtual ao vivo no Facebook chamado “Lembranças do Centro Cultural Português de Mississauga”. Ele fez tantas coisas… no outro dia estive a ver uma entrevista que ele deu, onde disse que quando ele entrou no clube não apreciava a Noite de Fado…

RA: … ele não gostava de Fado?
MDP: No princípio não, mas com a continuação da Noite de Fado e depois na presidência dele, ele trouxe certos fadistas ao CCPM que estavam a começar a carreira e começou a apreciar. Quando o meu pai faleceu, era uma coisa de que ele tinha tanto orgulho… organizar a Noite de Fado, escolher os fadistas que vinham e passar tempo com eles.

RA: É caso para dizer que foi o CCPM que fez o Tony gostar de Fado… o clube ensinou o seu pai a gostar de fado?
MDP: Sim, sem dúvida! E ele adorava trazer os fadistas ao CCPM e depois andar com eles um bocadinho, um dia ou dois antes de eles irem embora. Ele teve um grande orgulho do mural da Amália Rodrigues que foi feito na parede do clube… isso foi ele também.

RA: Voltando a falar em juventude… a sua filha, Jessica, também faz parte do CCPM.
MDP: Sim, está no grupo da Juventude e anda no Rancho Folclórico do Centro Cultural Português de Mississauga.

RA: Que é que acha que o Tony diria a ver a neta tão envolvida no CCPM?
MDP: Isso então não se fala… era uma coisa que ele quis sempre. A Jessica nasceu à noite e se não foi nessa noite, foi no dia seguinte (riso) que ele mesmo a fez sócia do CCPM… ela ficou sócia com 24 horas! (risos) Ele gostava que nós tivéssemos no clube, que ela estivesse no clube. Ela ainda era bebé e já frequentava o clube, a dormir no carrinho ou na cadeirinha durante os bailes. Quando a Jessica ainda era pequenininha – com um 1 e meio, 2 anos – e ouvia a música do rancho punha-se logo em pé na cadeira ou a puxar a cabeça para cima para os ver a dançar e o meu pai ficou todo contente, todo orgulhoso e começou a dizer-me “Oh, ela vai para o rancho!” e eu respondi “Tu estás doido? Eu não tenho tempo para isso. Eu não tenho tempo para o rancho, nem de estar aqui… depois de trabalhar no restaurante 10, 12 horas por dia, não temos tempo estar aqui.”, mas ele disse sempre que “quando chegar a hora, nós estamos cá e ela vem.”. E assim foi, ele é que se aproximou da Angie Câmara e disse que estava na altura da Jessica entrar no rancho e encomendaram a roupa toda. Ela entrou com 5 ou 6 anos no rancho e ele chegou a vê-la a dançar muitas vezes. E quando o CCPM começou a escola portuguesa, a Jessica também foi a primeira aluna a ser inscrita por ele e ando até ao ano passado. Agora ela também está envolvida no grupo do Juventude. A Jessica anda no Liceu e, na escola dela, no ano passado esteve envolvida numa noite multicultural com a comunidade portuguesa e este ano já está a dizer que ela é que vai ficar à frente daquilo e que a vai planear para este ano.

 

 

RA: Não há maior legado que esse… a família dar continuidade ao amor que o Tony tinha pelo voluntariado e pelo CCPM. Razão pelo qual o Tony recebeu o CCPM – Community Spirit Award. Como receberam a notícia da nomeação?
MDP: Nós ficámos surpresos… o presidente, Jorge Mouselo, falou com a minha mãe primeiro e ela disse logo que não, porque ela não queria passar por isto, ou seja, dar entrevistas, subir ao palco para discursar e estar no centro das atenções. Depois ela contou-me o que o Jorge queria fazer e a opinião dela, mas eu discordei com ela e disse-lhe que sim, que tinha que ser feito e se o Jorge queria o fazer, nós íamo-lo fazer, que assim ele ia ficar na história para sempre e escrito nos livros do CCPM. Como ela não se queria expor, eu disse-lhe que o fazia e cá estou, não é fácil, mas estou aqui!… E eu fiquei muito contente! Durante a pandemia as pessoas não puderam aproximar-se para falar e fechar o capítulo e penso que com esta homenagem, vamos conseguir fazê-lo!

RA: Conhecendo o seu pai como conhecia, o que é que acha que ele diria a esta homenagem?
MDP: Ele ia gostar! Ele ia ficar contente, mas ele nunca fez as coisas pelo reconhecimento… para receber uma placa ou uma estátua. Ele fazia as coisas porque ele gostava… por amor! Por amor ao clube, à organização, aos seus diretores, às pessoas que já passaram por lá em festas, os fadistas… por tudo. Ele iria ficar contente e orgulhoso, mas não era uma coisa que ele precisasse para validar tudo o que fez pelo CCPM.

RA: Dos planos que o Tony tinha para o CCPM, quais já se realizaram?
MDP: Eu acho que os que eram mais acessíveis já foram, praticamente, todos realizados… o Jorge tem dado continuidade aos planos como, por exemplo, trazer o hastear da bandeira portuguesa no Dia de Portugal para o clube, o Guinness World Record, o arraial, etc.. Mas ele tinha outras ideias, sonhos… um deles era aumentar as instalações do clube e outro era fazer um lar da terceira idade para os sócios. Fazer outra vez uma equipa de futebol, nós antigamente tínhamos equipas de futebol masculino e feminino – eu também joguei na altura, mas depois acabou.

RA: O que é que a Michelle gostaria de dizer ao seu pai?
MDP: Que nós estamos bem… emocionalmente, os nossos corações não estão bem… e nunca vão estar! O vazio na nossa família nunca vai ser preenchido, mas neste pequeno período que passou conformámo-nos com o que poderíamos ou não ter feito, apesar de não termos tido a oportunidade de procurar opções pois ele passou de uma pessoa saudável, que nem apanhava uma constipação, para em 3 meses acontecer o que aconteceu e tivemos muito pouco tempo para nos preparar, para lidar com a doença. Pessoalmente e profissionalmente tivemos que lidar com muita coisa e é por isso que digo que estamos bem, pois já enfrentámos momentos muito escuros, mas enfrentámo-los unidos e superámo-los até à próxima e depois voltaremos a enfrentá-los e a superá-los… e assim vamos continuar. Gostaria que ele soubesse que estamos bem… sei que não somos os primeiros e nem vamos ser os últimos, mas dado como as coisas aconteceram, estamos bem!

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