“Plug in” no MAAT
“As minhas expectativas são que as minhas obras despertem nas pessoas o gosto pela vida, pelo quotidiano e lhes tragam alguma felicidade, pelo menos um sorriso nos lábios e fiquem contentes de terem passado tempo num museu” – são palavras da artista Joana Vasconcelos numa entrevista realizada por F. Pinto Balsemão, a 3 junho deste ano, no “podcast” intitulado “Deixar o mundo melhor”. E explica “Sou uma artista portuguesa e o que me inspira é o nosso clima, a nossa cultura, o nosso passado, a nossa luz, as nossas cores e a paisagem onde tenho origem”.
Reconheço fazer parte do grupo das pessoas que fica de sorriso nos lábios ao observar as esculturas monumentais desta artista portuguesa. Admiro as ideias criativas que gera a partir de objetos comuns. E a minha admiração junta-se à de milhares e milhares de outras pessoas. Nos últimos vinte anos, Joana Vasconcelos conquistou o mundo com a sua originalidade, gerando peças a partir de objetos aparentemente banais que ela transforma e torna únicos.
Em 2000, a companhia EDP (Eletricidade de Portugal) atribuiu a Joana Vasconcelos o Prémio Jovens Artistas da Fundação EDP. Vinte e três anos depois, os dois edifícios da EDP que englobam o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia de Lisboa – MAAT Central e MAAT Gallery proporcionam-nos a oportunidade de admirar uma mostra sua de obras originais e outras mais icónicas.
A arquitetura do inovador MAAT e a sua localização privilegiada à beira do Rio Tejo, em Belém, são já pretextos de peso para o visitar. Na exposição “Plug-in”, inaugurada a 29 de setembro e a decorrer até dia 23 de março de 2024, o visitante pode deslumbrar-se com peças monumentais da artista expostas quer no interior, quer no exterior dos dois edifícios.
“Plug-in” é a primeira exposição individual em Lisboa de Joana Vasconcelos, depois do sucesso extraordinário no Palácio da Ajuda, há dez anos. A escolha do título deve-se à associação com a energia, e do edifício ter sido uma central termoelétrica que forneceu Lisboa de eletricidade durante mais de quatro décadas. Ao entrarmos naquele espaço industrial do MAAT Central, deparamo-nos com a “Árvore da Vida”, com cerca de 13 metros de altura que começou por ser exposta em França, na Capela do Castelo de Vincennes, em abril de 2023. Os tons predominantes deste loureiro monumental, inspirados na obra de Bernini, são o preto, o dourado e o vermelho. A árvore, com raízes longas que serpenteiam ao seu redor, é composta por têxteis de materiais reciclados do ateliê da artista e decorados com lantejoulas, missangas e bijuterias. O crochê de algodão e os bordados em ponto canutilho de Viana do Castelo completam uma árvore de 140 mil folhas bordadas em que estão embutidas 10 mil lâmpadas led que, ao piscar, nos prendem o olhar.
Na entrada do edifício adjacente, vemos o “Solitário”, o anel de noivado símbolo estereotipado dos desejos feminino e masculino, cuja argola é feita a partir de jantes de automóvel, encimada por um cristal de copos de uísque, que foi apresentado no Guggenheim de Bilbau, em 2018.
Ao entrar no interior do museu, é a peça Valkyrie Octopus (2015) que mais nos prende a atenção. A cor e a combinação de azulejos pintados, de croché de algodão, malha industrial, materiais de seda, plumas, com aplicações bordadas e muitas pedrarias encanta-nos pela sua monumentalidade e colorido. Os tentáculos deste polvo gigante envolvem o espaço e os que por ele deambulam.
A artista portuguesa tem estado presente em mais de sete Bienais de Veneza, e nos mais importantes museus do mundo. Foi, no entanto, a sua exposição no Palácio de Versailles em 2012 que lhe granjeou prestígio internacional. Foi a primeira artista de arte contemporânea a expor em Versailles, atingindo o recorde de um milhão e seiscentos mil visitantes.
Joana Vasconcelos tem continuado a produzir obras que a tornam única no panorama artístico mundial. Com um olhar crítico e cheio de humor, a artista reúne no seu Atelier Museu Aberto (AMA) uma equipe de artesãos que, com ela, se empenham em tornar o mundo mais belo.
Manuela Marujo
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