A História também se bebe…
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História do Vinho em Portugal – IV

Revista Amar - A História também se bebe

 

Região Demarcada do Alentejo

A primavera desponta com a sua paleta de cores inconfundíveis, as searas amadurecem ondulando ao sabor do vento. Neste Alentejo cada vez mais do ouro verde – a produção de azeite – a ancestral vinha finca as suas raízes e cepas num terroir muito próprio. O Alentejo com a sua peneplanície e as vinhas a perder de vista, exibe a sua vegetação exuberante, numa espera paciente pelo tempo das vindimas. Enquanto aguardamos pela colheita, brindemos com alegria à vida.

A produção de vinho nos Séculos XV-XVII

As ligações, de longa data, entre Portugal e Inglaterra resultaram de interesses políticos e comerciais protecionistas, em relação aos países vizinhos dos dois parceiros. Com o casamento, em 1387, do rei D. João I com D. Filipa, filha dos duques de Lencastre (Inglaterra), se reforçou esta ligação que já vinha sendo praticada, por exemplo, através de apoio militar (besteiros ingleses) na Batalha de Aljubarrota (1385) ou do Tratado de Windsor (1386). No processo de cerrar fileiras comerciais, Portugal iniciou a sua exportação de vinho para o mercado inglês e, muito depois, para o mercado americano (então colónia inglesa). Desde o terceiro quartel do século XIV, havia referência ao vinho português, enviado para os países hanseáticos, ou sujeitos a influência comercial da Hansa, para a Alemanha, Irlanda, Holanda e países bálticos (Lituânia, Estónia), sendo transportado em «vat, pipas, botes, vasos ou tonéis» (Marques, 1993: 82 84). Os países ibéricos passaram então a ser de grande importância no negócio mundial de vinho (…) Os Moscatéis de Osoy, o vinho do Porto e o Madeira, o Sherry e o Málaga foram estreitamente orientados para este segmento do mercado.

A agricultura era a base de subsistência da economia portuguesa até se iniciar a expansão marítima. As caravelas e naus que partiam na diáspora transportavam vários produtos, um dos quais o vinho que lhes servia de lastro. O vinho era utilizado nas trocas comerciais com os povos do Oriente e do Brasil e aquele que não era vendido era devolvido aos produtores. O vinho fazia a viagem de regresso conservado em barricas, colocadas nos porões à mercê do movimento das ondas e, por vezes, sujeitas à exposição solar. O vinho envelhecia durante a viagem, especialmente sob o efeito do intenso calor a que era sujeito ao passar por duas vezes o Equador. Será talvez oportuno referirem-se aqui os vinhos de “Roda” ou de “Torna Viagem”. Se pensarmos quanto tempo demoravam as viagens. Eram, na generalidade, cerca de seis longos meses em que os vinhos se mantinham nas barricas, espalhadas pelos porões das galés, sacudidas pelo balancear das ondas, ou expostos ao sol, ou por vezes até submersas na água do fundo dos navios. E o vinho melhorava! Estes vinhos ficaram conhecidos por Roda ou Torna Viagem e, uma vez, em terras lusas eram vendidos a preços muito elevados.

A exportação do vinho de Portugal continental culminou com o Tratado de Methuen, o qual promoveu o acesso do vinho português ao mercado inglês, passando a ser o vinho de preferência inglesa. Por volta do século XVI, Lisboa era o maior centro de consumo e distribuição de vinho. A partir de Lisboa, o vinho português era distribuído por todo o Império.

 

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Azulejo de frades a brindar
Créditos © Peter Horree
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Casamento João I com Filipa de Lencastre – crónica de Jean Wavrin
Créditos: Direitos Reservados

Região Demarcada do Alentejo

Sub – Região de Reguengos

Além da produção nas sub-regiões DOC, o Alentejo apresenta uma elevada produção e variedade de vinho regional. Os produtores optam, muitas vezes, por esta designação oficial que permite a inclusão de outras castas para além das previstas na legislação de vinhos DOC. Assim, é possível encontrar vinhos regionais produzidos com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah ou Chardonnay.

Hoje, o Alentejo tem um enorme potencial na produção vitivinícola, todavia a região nem sempre contou com o apoio das políticas agrícolas nacionais. Devido às especificidades do clima, solos pobres e estrutura agrária (grandes propriedades) as principais produções do Alentejo sempre foram os cereais, a oliveira, o carvalho e o gado. Durante as primeiras décadas do século XX, o governo tencionava fazer do Alentejo o “celeiro” de Portugal, por isso a cultura do trigo foi amplamente divulgada. O vinho tinha uma importância diminuta e destinava-se essencialmente ao consumo local. A vinificação era realizada segundo os processos tradicionais herdados dos Romanos e a fermentação realizava-se em grandes ânforas de barro.

Nos anos 50, foi criada a primeira adega cooperativa da região com o objetivo de controlar a produção vinícola. No entanto, foi apenas nos anos 80 que o Alentejo se submeteu à grande revolução na produção vitivinícola. Demonstrando uma enorme capacidade de organização, os produtores alentejanos constituíram inúmeras associações, revitalizaram as cooperativas e encorajaram os produtores privados. Assim, o sector vitivinícola ganhou outra relevância, justificando a demarcação oficial da região em 1988.

Carlos Cruchinho

Bibliografia consultada:

  • www.infovini.com/pagina.php?codNode=18094#tab6paisageiro.com/blog/goncalo-ribeiro-telles-vida-e-obra
  • www.vinetowinecircle.com/historia/id-media-filoxera

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